Em julho de 2010, o CNPq e a Capes publicaram uma portaria conjunta autorizando os bolsistas destas agências a realizarem atividades remuneradas, desde que relacionadas à área do estudante, sem a necessidade de cancelamento da bolsa.
Com a permissão, entrou em cena o famoso “jeitinho brasileiro” e alguns programas de pós-graduação começaram a premiar com bolsas os funcionários e professores da própria instituição que estavam cursando mestrado ou doutorado na casa.
Os dirigentes do CNPq e da Capes, claro, não ficaram felizes com a situação incômoda e como solução publicaram uma nota para “esclarecer” a portaria anterior. Segundo a nova interpretação, só poderia acumular bolsa e vínculo empregatício os alunos que começaram a trabalhar durante o curso, ou seja, quem já estava trabalhando no momento da seleção ou ingresso na pós-graduação não poderia ter direito à bolsa.
Foi aí que tudo virou uma bagunça. Preocupados com a ameaça de cancelamento definitivo das bolsas irregulares, muitos programas de pós-graduação por esse Brasil afora cortaram as bolsas de todos os alunos com vínculo empregatício, independentemente se o vínculo era anterior ou posterior ao ingresso no curso.
Para tentar colocar ordem na confusão gerada, no início de 2012 foi criada uma comissão composta por representantes dos professores universitários, agências de fomento e alunos de pós-graduação para analisar os problemas encontrados e propor soluções. A comissão pode, inclusive, sugerir o cancelamento da autorização do acúmulo de bolsa e vínculo empregatício.
Entretanto, a questão fundamental desta situação toda tem sido solenemente ignorada pelas agências de fomento: como exigir dedicação exclusiva dos alunos bolsistas com os valores atuais das bolsas? O último reajuste das bolsas de mestrado/doutorado do CNPq e da Capes foi realizado em junho de 2008, quase quatro anos atrás.
No gráfico abaixo é possível observar a preocupante desvalorização da bolsa em relação ao salário mínimo. Em 2008, uma bolsa mestrado era equivalente a 2,9 salários mínimos, enquanto a bolsa de doutorado valia 4,3 salários mínimos. Com o reajuste do salário mínimo ocorrido no começo do ano, uma bolsa de mestrado hoje representa 1,9 salários mínimos e a de doutorado apenas 2,9.
Vale ressaltar que a discussão aqui não deve ser “quantos salários mínimos deve valer uma bolsa”. O salário mínimo foi utilizado apenas como um valor de referência para evidenciar a desvalorização das bolsas em relação à economia do país. Bolsa de estudos ou pesquisa não é salário.
Mas com o valor atual da bolsa de mestrado (R$ 1.200,00), torna-se difícil o estudante conseguir sustentar-se sozinho em muitas regiões do país. Se morar em cidades como São Paulo ou Brasília, em que o custo de vida é assustadoramente mais elevado, é quase impossível.
E infelizmente não são todas as famílias que possuem condições financeiras para complementar os gastos dos bolsistas que moram em outra cidade enquanto realizam seus estudos e suas pesquisas. Assim, resta a esses alunos procurar um emprego para conseguir completar os estudos. Como então é possível exigir dedicação exclusiva e integral dos alunos nesta situação?
Outra preocupação importante em relação a essa discussão sobre acúmulo de bolsa e vínculo empregatício é a possibilidade de que esta autorização seja usada como desculpa pelas agências de fomento quando pressionadas sobre o reajuste no valor das bolsas, eliminando assim a oportunidade dos alunos escolherem dedicar-se apenas à pesquisa durante a pós-graduação.
Vale ressaltar, que alguns cursos de pós-graduação, já inclusive incluiram em seus regimentos, uma proibição para o acúmulo de bolsa mais salário, caso o estudante venha a conseguir um emprego ou já tenha um. De modo que mesmo com essa portaria, o aluno já entra na pós-graduação com a obrigatoriedade de dedicação exclusiva. No fim das contas quem sai perdendo sempre é o estudante…
Perdendo? vcs estão ganhando para ESTUDAR!!!!!! =) deveriam ficar muito feliz com um salário minimo, pois na verdade esse é o minimo que uma FAMILIA deve receber para TRABALHAR e nem isso os pós graduandos fazem! =)
Meu caro, numa pós-graduação, o ESTUDAR é justamente o TRABALHO do pesquisador. Não existem noites bem dormidas, finais de semana, feriados, horário prá entrar e nem prá sair, ao contrário do que seria num exercício profissional convencional. Além disso, muitos, como eu, são pais de família e tem suas obrigações tanto quanto outro qualquer cidadão.
Meu caro, um estudande de pós-graduação desenvolve projetos que em muitos casos beneficiam a nação e até o mundo. Além disso, temos um auxílio financeiro temporário, sem insalubridade (embora expostos a muitas condições insalubres), FGTS, INSS, auxílio alimentação, transporte…. e qd finalizamos a vigência da bolsa… temos q enfrentar um mundo de profissionais já qualificados… Duvido q um trabalhor assalariado tenha estudado 10 anos além da média nacional!!!! Não parece tão fácil qd olhamos de dentro!!!
Olha, hoje em dia ainda é tranquilo, faz alguns anos que as bolsas não vem com um aviso para o contemplado “dedicação exclusiva” deixando claro que você ainda não pode trabalhar e fazer mais nada, além de receber a bolsa.
Ou seja, eles contratavam pessoas já formadas que tocaram a ciência do Brasil para frente, não pagaram nem reconheceram tempo de aposentadoria a AINDA EXIGIAM DEDICAÇÃO INTEGRAL E EXCLUSIVA!
Vai fazer metade disso com uma empregada doméstica na sua casa para você ver no que vira….é pau na certa, o que é correto. Errado somos nós….
Que raciocínio pobre! Queria que você soubesse disso.
Que comentário infeliz.
Boa tarde!
Fiquei com muitas dúvidas em relação a estas novas regras. Sou funcionária pública e trabalho como servidora administrativa em uma instituição de ensino. Estou fazendo mestrado em uma universidade pública em outro estado e estou com licença remunerada por 2 anos do trabalho. Apesar de não ter pedido bolsa, a secretária do curso me procurou com uns documentos para assinar para receber a bolsa da Capes. Como a universidade tem toda minha documentação pensei q se me chamaram para assinar a papelada era porque a minha dedicação é exclusiva e todos os alunos iriam ter a bolsa… Mas agora estou na dúvida: a minha bolsa é regular ou não?? Se tenho dedicação integral posso receber bolsa apesar de continuar recebendo salário??
Muito obrigada!
É um grande absurdo o que vem acontecendo em relação às bolsas de pesquisa. A meu ver, os reajustes deveriam acontecer anualmente, assim como o salário mínimo. Tudo bem que bolsa não é salário, mas veja bem: é certo que todo ano há reajuste no salário mínimo, e todo início de ano aumentam-se as passagens de ônibus, os valores de aluguel, o preço dos alimentos; ou seja, há um reajuste em praticamente tudo todo ano, menos nas bolsas de pesquisa. É difícil acompanhar isso…
Outro problema é em relação à “permissão” da CAPES e CNPq ao vínculo empregatício. No programa que faço doutorado NÃO é permitido possuir vínculo empregatício quando se tem bolsa. Ou seja, a CAPES e o CNPq permitiram uma coisa mas o programa desautorizou isso. Me pergunto se isso é correto!
Acho que os estudantes de pós-graduação têm que se fazer ouvir, pois do jeito que está não dá. E quem vai lutar por nós?
Muito facil resolver isso para quem vai comecar no programa de doutorado. Procurar saber as regras do programa e caso exista esta clausula….nao aplicar para o devido programa.
Eu estou nesse dilema agora, entre aceitar um emprego fantástico ou ficar só com a bolsa…=/
Mano, aceita o emprego!!!
Emprego fantástico!
Se esse ‘emprego fantástico’ for como deputado, ACEITE! Infelizmente é assim…
É um cálculo interessante a se fazer, um aluno de doutorado que more sozinho nas proximidades de uma universidade – digamos da UNICAMP – almoce e jante no bandejão, tenha acesso residencial à internet (2MB) e um telefone celular pós pago tem as seguintes faixas de comprometimento de sua “renda”:
Aluguel: 650 a 1000 reais
Luz e água: ~50 a 100 reais
Internet: ~60 reais
Alimentação: ~80 reais
Celular: ~60 reais
Neste cenário, na condição mais econômica, o aluno comprometerá 50% de sua renda para existir na universidade durante a semana apenas (sim, bandejões não funcionam de final de semana). Na pior e “mais luxuosa” opção comprometerá 72% dela.
Alimentação nos finais de semana agregam também custos com gás e/ou transporte e/ou mercado. Supondo que seja uma pessoa de hábitos comuns, com feijão arroz e ovo (nada de carne mocinho, você veio aqui pra estudar), soma-se ~40 reais por final de semana (entre líquidos e comestíveis – feijão, arroz, cebola, alho, tomate e ovos + transporte ida e volta).
Temos então aproximadamente 160 reais a mais na conta anterior. Agora para poder comer nos finais de semana o aluno comprometerá agora 1060 reais na opção fome extrema ou 1460 na opção Eike Batista. Resta para esse aluno a fortuna de 340 (opção fome extrema) reais divididos nos 30 dias, ~12 reais por dia – algo como 6 a 7 dólares por dia. O que nos deixa bem acima da linha de pobreza que é de 2 dólares por dia.
Todas essas reclamações portanto são uma bobagem. Correto?
E é bom que esse aluno não fique doente no período do doutoramento, faça esportes dentro da universidade e usufrua a infra-estrutura ali disponível. Lembre-se que bolsa não serve para pagamento de plano de saúde muito menos de remédio. É bom se cuidar rapaz!
Me desculpe, não posso concordar…Você provavelmente fará sua pesquisa sem comprar material algum…
Não se esqueça que voce precisa comprar livros, xerox, congressos (hospedagem, alimentação, deslocamento).
Nem fala…
80 reais alimentação? vc come o que? alpiste?
Aqui na minha cidade, eu gasto 400 reais por mês, e não como
nada de especial. Somo estudantes, precisamos de uma alimentação
decente, o que reflete no desempenho, e consequentemente, na pesquisa. Logico, isso inclui, limpeza, e semelhantes. (Ninguem merece viver num chiqueiro, é questão de dignidade humana)e a parte da saúde, como fica? e transporte?como fica?mês passado tive que fazer um exame, que custou 300 reais, gasto em media 150 reais em medicação por mes, graças ao stress da minha pós. Isso sem contar, que dentro de casa, sempre estraga alguma coisa, precisa de um dinheiro extra mensalmente. Como ser estudante nessas condições? E ae, sobra nesse orçamento, algum dinheiro pra um lazer? ou ao menos, voltar pra casa visitar os pais 1 vez por mes?
E a questão do material? Xerox, impressão, computadores (EU sou da área tecnológica, não tem como sobreviver sem um PC decente em casa), livros, que atualmente me faltam, entre outros.
Precisa rever teus conceitos
Isso não é exclusividade do Brasil não. Nos EUA onde eu fiz meu mestrado eu recebia algo em torno de US$ 16000,00 por ano de bolsa. E um fazedor de hamburguer do macdonalds recebia US$ 23000,00! Se você acha isso ruim? Imagina saber que o seguro desemprego lá paga o equivalente a US$ 18000,00! Ou seja, lá é melhor ficar desempregado recebendo seguro desemprego do que fazer pós graduação. Não é atoa que lá só estrangeiros fazem pós graduação.
Só posso dizer isso: Uma falta de vergonha dessas pessoas ignorantes que estão no poder!
Gente, que ralidade Medíocre que nos impõem… Dedicar anos da sua vida buscando desenvolvimento ‘econômico’ de um país, e sendo humilhado vergonhosamente com uma bolsa tão insignificante, as vezes tenho minhas dúvidas em relação a esta opção… Empregos fantásticos fazem toda a diferença,contudo, acho que o amor à carreira acadêmica fala mais alto no final. Mas que é uma falta de vergonha nacional, isso é inquestionável!!!
Acho que deve ser cobrado também o aumento das bolsas de pós-doutorado. É uma vergonha os valores de tais bolsas. Por isso, acho que nas discussoes devam também solicitar o aumento da mesma, que ta muito defasado!!!
E tambem tem a questao de que, no novo programa Brasil sem Fronteiras, um Doutor formado no exterior que for fazer pos doc no Brasil, vai ganhar o dobro do que um Doutor brasileiro que for fazer pos doc no Brasil…porque esta diferenciacao????? Sera que os Doutores formados fora sao mais Doutores do que os formados no Brasil?
Uma coisa que essas agências de formento não entendem é com relação à
sua experiência profissional e pior ainda…o PIS que você nunca terá na
vida se não trabalhar antes de um strictus sensus. Todo concurso,
seleção exige mesmo doutor que você tenha alguma experiência
profissional que fará diferença de pontuação no seu currículo. Já
conheci uma doutora que teve o maior problema de pagamento por não ter
um PIS, após ter dado aulas numa faculdade particular, pois ela saiu da
graduação para o mestrado, depois doutorado e phd. Até que ponto vale a
pena?! Reflitam…há muitoooo o que ser melhorado nisso…
Eu sou da Argentina e é a mesma cosa aquí na pós-graduação. No mundo tudo a ciencia e a pesquisa não é bem paga. Nos estudamos muito y fazemos muito sacrifícios para depois ser profisionais pobres. É uma pena! Peço desculpa pelo meu portugués, só queria compartir minha opinião.
Gosto muito do site! 🙂
Parabéns Alejandra, fala melhor que a maioria dos Brasileiros.
E aí surge uma questã importante: com a aprovação do emprego junto com bolsa, daqui a pouco todo aluno de pós graduação e os pós-doutorandos (é, não se esqueçam dos PD, eles tb são bolsistas sem reajuste!) terá que arranjar um emprego para complementar renda! Aí o rendimento de todos irá cair, a qualidade dos trabalhos tb e o país reclama da falta de desenvolvimento científico…
Impossível é o trabalhador viver com 1 salário minimo e ter que sustentar uma família inteira, para um aluno sozinho, ISSO É MAIS QUE SUFICIENTE …
Briguem por coisas mais importantes!
Haaaa, vc esta se referindo aqueles que decidiram nao estudar na vida? ou aqueles que nao tiveram oportunidades de estudo? Quem ganha 1 salario minimo e tem uma familia ou e louco ou foi imprudente. Tem que ficar onde esta mesmo por colocar filhos no mundo sem condicoes de sustenta-los.
Quem foi que disse a você que um pesquisador também não tem família prá sustentar?
Estou de licença remunerada do meu serviço publico para fazer o doutorado(dedicação exclusiva)Consegui a bolsa por ter sido classificado em quinto lugar, mas me negaram por dizer que tenho salario, como fica isso?
A discussão não é só sobre o valor que deve ser pago. Deve ser reformulado também o plano de carreira de pesquisador que esses programas tem dado, pois uma vez que acaba a bolsa a pesquisa morre e o pesquisador vai procurar um “emprego de verdade”. Mas parece que da forma como está, agrada aos representantes da academia e as agencias de fomento. Muitos orientadores tratam seus orientandos como meros alunos e esquecem que eles também estão trabalhando em prol de um projeto, estão estudando (Fazendo Pesquisa), que é a atribuição funcional principal de um pesquisador.
Fazer pesquisa não é uma atividade remunerada pelas nossas agencias de fomento nem pelas nossas instituições. Se fosse, haveria salário e regime trabalhista não só para os professores mas para os alunos que os auxiliam. Acho que todo o recurso financeiro é deliberado em razão de manter os programas abertos apenas, assim como se mantem um museu aberto um projeto de extensão ou um programa social…Bolsa familia, bolsa pesquisador.
As vezes perdemos a noção do que realmente estamos fazendo e porque. Será que estamos realmente fazendo uma pós -graduação que nos dará um belo e competitivo currículo e boa formação ? ou só estamos prestando trabalho voluntario num projeto até chegar o dia que a bolsa vai acabar e ai teremos que enfrentar um mercado que não vai valorizar nosso diploma de mestrado e doutorado assim como valoriza os anos de experiências dos que viram que fazer pós-graduação era furada e foram trabalhar desde cedo?
Parabéns a todos os comentários anteriores e ao autor do texto. Esse assunto vai longe.