Para começar esse debate digo logo que observo que para a maioria dos cientistas formados por uma pós-graduação acadêmica o destino final é a Universidade. Portanto, tanto quanto publicar (publicar e publicar) será requerido ensinar. E estamos sendo formados quanto a isso? Ensinar deveria ser por vocação? Se no período de treinamento científico, houvesse uma oportunidade de reflexões e treinamento, poderíamos nos formar também como professores?

Eu tive oportunidade de vivenciar duas experiências diferentes, construtivas ao seu modo.

Quando estava no mestrado fiz um estágio voluntário, queria a experiência de licenciatura. Ali a política do estágio era o relacionamento direto estudante-professor, que traçava as metas e objetivos de estágio. E assim foi. Eu deveria cumprir algumas atividades simples e ministrar algumas aulas. No meu caso havia supervisão e discussão sobre a condução da aula e preparo do material (e sim, ele assistiu as minhas aulas e me deu um feedback depois). Mas isso não era comum.

Conheço mais casos de estudantes de estágio docência em várias universidades que assumiam as atividades docentes sem supervisão ou orientações mais profundas.

Antes que haja uma condenação dessa prática, penso que ela evidencia um problema dentro das Universidades, a sobrecarga de trabalho dos professores concursados, os quais cumprem frequentemente, mais horas de trabalho docente do que é previsto. Ou seja, é uma reação em cadeia.

Eu me perguntava se o estágio realizado sem supervisão seria útil. Acredito que sim. Nada é inútil! mas provavelmente, uma prática reflexiva geraria muito mais frutos.

Mais recentemente passei por algumas horas a mais de estágio, dessa vez, obrigatório. Não queria (pra quê de novo?), mas não tinha nada que eu pudesse fazer.

Eu me deparei com uma disciplina nos moldes mais convencionais, na qual um professor (que não era o orientador) que passava atividades a serem cumpridas, textos a serem lidos e relatórios a serem elaborados. Passado o estranhamento inicial, comecei a ver os frutos dessa experiência. Era muito bom trazer os problemas e dificuldades para debate com um grupo pequeno (dos obrigados a cursar a disciplina) e com um professor interessado em formar educadores. Além de discutir somente com o orientador que conteúdos deveriam ser ministrados, pudemos aprender ir do planejamento à avaliação.

Claro que não foi uma experiência perfeita, houveram problemas e dificuldades, sobretudo para que os orientadores (de estágio e da tese) compreendessem a dinâmica e, para que nós adaptássemos nossa rotina a mais exigências e interlocutores. Mas acredito que foi muito positivo de modo geral.

 Isso me lembra de responder àquela pergunta sobre vocação. Talvez ela até exista em algumas pessoas, adormecida ou ação. Afinal, quem nunca passou por um professor na universidade e pensou “é um ótimo pesquisador, sabe muito, é muito inteligente, mas como professor… não consegue passar nada”.

Diante da minha experiência, acho que é importante ter a oportunidade de treinar o olhar e as práticas para o ensino por que esse será, em pouco tempo a profissão da grande maioria. E idealmente a realização deste como um exercício reflexivo e prático, orientado e codividido de alguma maneira.

PS: quem quiser uma dica de um bom livro sobre Estágio Docência no ensino superior, indico:

Gil, Antônio Carlos. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas. 2012.