Quanto custa um artigo? A pergunta não se refere ao valor intelectual das pesquisas publicadas, mas ao custo monetário envolvido nos processos de publicação, e a resposta – em cifras – varia a depender da influência do periódico, ou seja: quanto mais relevante, mais alto o custo para publicar um artigo de pesquisa, que muitas vezes ultrapassa a fronteira de mil dólares, podendo chegar a facilmente à quantia de cinco mil nos periódicos de ponta.
Os custos de publicação do periódico científico é um tópico que tem sido muito questionado nos últimos anos. Mesmo que o critério que defina a relevância de um periódico seja a qualidade dos artigos que publica, o que se reverte em maiores custos para quem submete um artigo mas também em maior visibilidade e credibilidade do conteúdo publicado, muitos questionam se os valores praticados não seriam abusivos e não iriam de encontro ao sentido primeiro do fazer científico, que é divulgar à comunidade descobertas relevantes.
Diante deste cenário, muitos têm colocado em cheque quais seriam os reais custos de publicação para periódicos e se os mesmos não poderiam ser reduzidos de modo a, consequentemente, reduzir o custo para publicar um artigo de pesquisa. O “calcanhar de Aquiles” da questão é a revisão realizada com avaliadores pagos e que aumenta em muito o custos de publicação dos artigos para os periódicos.
Uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria Outsell in Burlingame (Califórnia) em 2011 concluiu que os periódicos gastam, em média, até quatro mil dólares por artigo publicado (com margem de lucro que varia de 20% a 30%).
Neste mesmo ano uma outra pesquisa constatou que 11% de todos os artigos científicos publicados mundialmente foram veiculados em periódicos de acesso livre, nos quais é realizada a revisão por pares gratuita, fazendo os custos de publicação para periódicos e o custo para publicar um artigo de pesquisa caírem drasticamente.
Sobre a diminuição de custos em toda a cadeia do processo de publicação, os periódicos tradicionais alegam que os gastos existentes são necessários à manutenção da qualidade do conteúdo publicado, alegação que insinua um possível descuido dos periódicos de acesso livre em relação a este aspecto.
Se voltarmos os olhos para o contexto brasileiro, no qual muitos periódicos não possuem fins lucrativos e são formados por equipes voluntárias, conclui-se facilmente que a avaliação por pares voluntária não compromete a qualidade dos artigos publicados.
Para entender tal alegação é importante lembrar que estes periódicos internacionais tradicionais são empresas nas quais a circulação de capital é fundamental à manutenção do negócio.
A composição de suas receitas inclui quotas de publicidade e uma intrincada relação entre vários outros aspectos que não passam pela delicada questão da qualidade editorial.
A monetização do circuito de publicação acadêmica acaba sendo a principal questão por trás do questionamento sobre os custos de publicação para periódicos e das propostas para reduzi-los.
Outra crítica corrente no circuito acadêmico internacional recais sobre o fato de que publicar nos mais renomados periódicos seja muitas vezes o principal critério para determinar a qualidade de um artigo de pesquisa, ao invés da avaliação da contribuição do conteúdo apresentado pelo mesmo.
Neste complexo contexto, periódicos de acesso livre se multiplicam e se consolidam cada vez mais no cenário acadêmico internacional, oferecendo uma alternativa frente aos periódicos tradicionais e seus altos custos. Ainda assim, os critérios de avaliação dos artigos publicados ainda passa em muito pelo filtro dos periódicos mais renomados e a ausência de novos parâmetros de avaliação adequados a este novo cenário compromete a consolidação e popularização dos periódicos de acesso livre, que encontram muitas vezes resistências de pesquisadores renomados para neles publicar seus trabalhos.
Espera um pouco, revisão realizada com avaliadores pagos? Em qual mundo isso?
Ao menos da área de Ciências Biológicas, mais especificamente nas áreas de Ecologia e Evolução, não conheço UM pesquisador se quer que recebeu algum retorno financeiro por realizar uma revisão de artigo. Mesmo nas revistas de mais prestígio, como a Nature e a Science, nunca ouvi falar de revisores recebendo para desempenhar tal função. Ainda assim, os preços são abusivos. Conheço revistas que cobram cerca de 700 dólares para uma publicação que nem open access é, e nem revisores ou editores recebem alguma coisa. O que alegam, é que este custo está associado à diagramação, a geração dos pdfs (ora, nem versão impressa a revista tem), o que é um absurdo. A opção open access que vigora hoje em dia está longe do ideal também. As principais delas, como a Plos One por exemplo, cobram valores na casa dos 3 mil dólares. Na realidade de qual país essa cifra é facilmente desembolsada por um grupo de pesquisa? Uma revista experimental muito interessante está começando a engatinhar, chamada PeerJ. Esta sim cobra valores justos para se publicar open access (se não me engano 100 dólares a cada dois artigos, ou 300 dólares por uma adesão vitalícia). Modelo exemplar, a ser seguido.
Pois é…Pra mim é novidade essa questão da remuneração de revisores. Qual é a fonte dessa informação?
Alguns exemplos de periódicos que pagam os revisores por pares: Lancet, Journal of Biological Chemistry (American Society of Biochemistry and Molecular Biology) e Arabian Journal for Science and Engineering (Springer).
Na boa, essas são exceção da exceção…
Na boa, Bruno Genevcius, você leu o artigo e fez críticas ácidas, chegando a afirmar em CAIXA ALTA que não conhecia UM único caso. O Crimson citou uns TRÊS e você ainda vem dizer que é “exceção da exceção”. Reveja seus conceitos, meu caro… Forte abraço.
Em matemática não sofremos com tais abusos financeiros. Entretanto nem todas as publicações possuem acesso livre. Pensando nisso, a universidade de Cornell criou o arxiv.org que funciona como um repositório para pesquisas. A física, matemática, computação, dentre outras ciências já fazem uso desta ferramenta, que tem desempenhado papel crucial na divulgação científica destas ciências.
Na área da saude, especificamente enfermagem e nutrição, NENHUM revisor é pago!!!! Tem-se que eles “contribuem” para a revista de forma gratuita e, em troca, podem colocar no seu currículo lattes que são revisores.
Eles não tem nadaaaaa a ganhar, nem mesmo preferência para publicar artigos naquela revista. É trabalho totalmente voluntário, com se estivessem fazendo FAVOR para a comunidade científica, em troca de não PAGAR para acessar a maioria dos artigos científicos.
É um absurdo o valor que cobram….visto à DEMORA para a publicação.
Nesta área, ninguem consegue publicar artigos antes de 01 ANO de submissão!!! Quando o artigo finalmente é publicado, já está DEFASADO quase!!!!!!!
Alguns exemplos de periódicos que pagam os revisores por pares: Lancet, Journal of Biological Chemistry (American Society of Biochemistry and Molecular Biology) e Arabian Journal for Science and Engineering (Springer).
A lista de exemplos tem 3 Jornais pagos? Acho que, como o Bruno falou, estes jornais são a exceção da exceção mesmo…
Além disso, acho que o texto faz uma confusão ao misturar “acesso livre” com publicação grátis. Pois existem muitos jornais que o acesso ao PDF é livre, mas temos que pagar para publicar. Já o inverso acontece com outros jornais pagos, onde deve-se pagar para acessar os PDFs, mas publicar artigos é livre.
Nesse segundo caso, muitas vezes não é um problema para nós brasileiros, pois temos o portal da capes para acessar artigos de forma gratuíta. Ele ainda não é perfeito (não temos acesso a todos os períodicos que desejamos), mas ele quebra muito o galho.
Deixo aqui minha crítica: acho que quem está precisando de uma revisão por pares é este texto do blog. E ela certamente seria feita de graça por muitas das pessoas aqui.
Parabéns para você que passa anos pesquisando, que paga para publicar seus artigos numa revista que cobra para que as pessoas tenham acesso e os leiam. Nós, das ciências humanas e sociais aplicadas, estamos, há tempo, boicotando essa prática. Não consideramos lícito que revistas lucrem às custas de nossas pesquisas. É uma contradição. Optamos por publicar em revistas de livre acesso.
Saludos
Se tem que pagar para ler um artigo, ninguem vai ler. Na boa, onde no universo existem pessoas que pagam pra ler artigos? Eu prefiro publicar onde as pessoas vão poder ler de graça meu texto, é mais democrático e dá mais visibilidade ao autor(es). Vamos dizer NÃO às ditaduras editoriais.
E eu aqui com uma pesquisa prontinha para publicação, como é na área da saúde e só conclui após 23 anos de pesquisas não imaginava que teria altos custos no compartilhamento com a população mundial.
Almejo the Lancet.