Qual seu objetivo quando pensa em cursar uma pós-graduação?
Outro dia vi uma palestra TED com Sir Ken Robinson. Ele dizia que nossa formação escolar tem por objetivo final formar professores universitários, e que o mercado profissional segue a tendência de absorver somente pessoas altamente capacitadas, ocasionando uma “inflação acadêmica”.
Fiquei pensando que não somente a formação escolar básica está voltada para formar acadêmicos, mas a universidade também. Por que ainda temos (em algumas áreas de atuação) que seguir o caminho da pós-graduação?
Certa vez um jovem da graduação me perguntou se a pós-graduação era uma boa escolha. A resposta esperada (eu acho) era um discurso entusiasmado e incentivador.
Algo como: ‘Claro! Você continuará aprendendo, amadurecerá, terá mais oportunidades profissionais, irá superar a si mesmo, contribuirá para o progresso da ciência’.
Mas, na fração de segundo que antecede a resposta, me veio à cabeça “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”. Então, eu o respondi com um convicto depende.
A julgar pela sua expressão, seguida de um confuso: “por quê?”, acho que eu o assustei. Eu disse, para maior espanto dele, que “nem todo mundo poderia/deveria fazer pós-graduação”.
Adicionei “Mas se você decidir seguir esse caminho saiba que será difícil! Haverá horas de desesperança e muito estresse. A pós-graduação não te garantirá nada, muitos professores não estão nem aí para você e sua formação e irão lhe cobrar o que você tem que fazer e mais 10 coisas. A estrutura burocrática da universidade vai te chatear pelo menos uma vez e dependendo de uma série de combinações você correrá o risco de não ter auxílio financeiro nenhum. Se você não quer isso pra sua vida, nem comece”.
Ao recontar esse caso, uma amiga me recriminou, dizendo que essa atitude poderia desestimulá-lo. E hoje eu penso que estava num dia muito complicado para estimular alguém para fazer pós-graduação e minha sensação ao final do discurso foi de #prontofalei, o que talvez não fosse adequado. Mas isso está muito longe de não ser real.
Não sei o que aconteceu com ele, mas eu ainda acredito que a pós-graduação não é um caminho único, nem deveria ser opção de emprego ou qualquer coisa semelhante.
Também acho que “boa escolha” continua dependendo de vários fatores. Depende do seu estado mental e físico. Depende dos sonhos que você quer seguir.
A pós-graduação é, de longe, algo cômodo. É uma opção e escolhê-la depende do que você quer para o seu futuro profissional. Todos deveriam escolher (com propriedade) passar de 2 a 6 anos de nossas (quase sempre) jovens vidas lidando com frustrações e alegrias, descobertas e inseguranças.
É certo dizer isso aos desavisados! Aconselha-los. Isso não é amedrontar. Informação é o que caracteriza uma boa escolha, é saudável e natural. Estimular a criatividade e o empreendedorismo pode reduzir essa inflação acadêmica. Pode trazer para pós-graduação alunos com expectativas reais, reduzindo seriamente o número de frustrações ao longo do caminho.
Raiana, concordo com você. Fazer Pós-Graduação não é pra qualquer um e definitivamente depende do objetivo final de vida do aluno. Tenho colegas que entraram no mestrado por medo do mercado de trabalho e não aguentaram a pressão. Abandonaram no meio do curso, estão com dificuldade para arrumar um emprego e se sentem frustados pelo “tempo que perderam” na fazendo pós.
Acredito que, como tudo na vida, a decisão pela área acadêmica deve ser feita com muito sabedoria e reflexão, conversando com outros pós-graduandos e com professores, até mesmo para entender a dinâmica do curso, que às vezes é diferente da graduação. E como toda ‘escola’, serve para desenvolver habilidades e melhorar as competências que a pessoa já possui. Ser um bom professor também depende da prática, mas a prática depende do esforço.
Melhor conselho para quem quer fazer pós e está na dúvida é conversar com pós graduandos em diferentes estágios e examinar o quão preparado para aguentar as pressões a pessoa se sentiria. Se estiver disposto a tentar, já está valendo. Se der medo, vai com medo mesmo, se for o que a pessoa quer. ^^
Muito bom o texto, Raiana! Acho que é nossa obrigação falar a real para os mais jovens. Na escola, tem aquele discurso de que quem estuda fica, realmente, melhor de vida e tal. Depois você descobre que não é apenas estudar, e sim uma série de fatores juntos que influenciam o nível de salário e o bem-estar de uma pessoa. Há gente que só tem a graduação e que ganha muitíssimo mais que eu, com mestrado. Outros, sem faculdade, ganham o mesmo que eu, ou mais. E há outros, com graduação e doutorado, que ganham menos que eu. Portanto, tudo é relativo!
Como estava enveredendo por uma área com péssimo mercado e percebi isso logo (História/Mestrado em História Econômica), decidi retornar à Graduação e estou fazendo Ciências Econômicas. Penso sim num doutorado, mas trabalhando. E não canso de aconselhar meus colegas de curso, que são mais novos, a experimentarem o mercado agora, fazer estágio em mais de uma empresa/órgão público e não se iludirem e se acomodarem com as bolsas miseráveis de iniciação científica. Aconselho que o mestrado e doutorado são legais, mas tem que fazer trabalhando. Do contrário, tu vai viver até os 30 e tantos na casa dos teus pais, ou às custas deles, até passar num concurso. E, provavelmente, quando passar, será um professor péssimo, pois nunca deu aula em outros níveis de ensino. Ou então terá dificuldades de adaptação à rotina do órgão em que for trabalhar, pois não está acostumado ao trabalho que, como tantas coisas na vida da gente, é algo aprendido.
Comentava com um colega aqui no trabalho. É por estas e por outras, que as grandes inovações, os avanços mais significativos em diversas áreas, geralmente, está na Europa, Japão e EUA, lugares onde há real valorização do ensino. Será que um egresso do MIT ou Harvard tem as mesmas questões que nós? Só presidente da República, Harvard formou vários. Até astros do basquete tem formação universitária. Agora, na terra brasilis, quem estuda é vagabundo. E quem segue carreira como pesquisador, se não tiver a “faca entre os dentes” para publicar um artigo por mês, ou as “costas quentes” para ser aprovado em concursos, tá ferrado!
Por isso, parafraseando a Raiana, quando perguntarem se vale a pena a pós-graduação, a melhor resposta é, sem dúvida: Depende…..
Julia e Ebano, que bom que vocês gostaram. É um tema inesgotável e sobre o qual muita gente tem o que falar! acho que a experiência de vocês vai ajudar também a galera que vier ler o post!
É isso ai! refletir e quando escolher ir com medo e tudo mais!
Abraços!