Ao publicarmos o texto “Terminei a pós-graduação, e agora José?” muitas pessoas, embora tenham se identificado, solicitaram algumas respostas, dado o caráter de problematização do manuscrito. Vamos apresentar algumas, embora seja reconhecido a dificuldade em implementá-las.
1) Plano de aposentadoria: assunto pertinente sobretudo àqueles que não trabalham ao realizarem suas pós-graduações e ficam grandes períodos de tempo estudando. Isso deve ser uma escolha individual, mas é preciso haver maior divulgação das possibilidades de contribuição, seja como individual ou facultativo, até mesmo para garantia dos direitos legais. É importante haver algum tipo de relação entre bolsas e aposentadoria.
2) Relações de projetos de pesquisa com a constituição profissional: Reclamação muito comum é afirmar que o que pesquisamos não usaremos em nossa prática profissional. Não se trata de advogar em prol ou contra a ciência básica ou aplicada, mas é preciso que os projetos possam transpor os muros da universidade. Projetos com parcerias, relacionados com ações extensionistas podem contribuir, desde que haja valorização de outros espaços sociais para além da universidade.
3) Valorização profissional de mestres e doutores: Assunto muito debatido, mas fundamental: se o Brasil quer maior qualificação acadêmica, é preciso que mestres e doutores atuem na docência, ensino e extensão em universidades públicas e particulares. Uma das formas é aumentar obrigatoriamente o quadro de mestres e doutores no Ensino Superior, valorizando a presença dos pós-graduados com ganhos condizentes com suas formações. No entanto, em última instância, título não garante competência e nem deve ser visto como “reserva de mercado” e sim como “investimento profissional”.
4) Desmistificar o sentido de “ser professor”: O pós-graduado que se assume professor deve refletir sobre o sentido dessa profissão. Precisamos desmistificar alguns “tipos” de docentes corriqueiramente encontrados nas universidades: a) O professor que só pesquisa e não liga para a graduação; b) o professor que abre mão da pesquisa ao passar em um concurso como se tivesse assegurado uma estabilidade infinita; c) o professor que “transfere” suas aulas quase que completamente para alguns orientandos; d) o professor que acha que pós-graduação é um vínculo escravocrata com o orientando; entre outros tipos existentes…
5) Pós-Graduação e formação “indecente” de docentes: de modo geral não formamos professores nos cursos de pós-graduação, o que gera um paradoxo, pois normalmente os profissionais formados concorrerão à concursos de professor. É comum encontrarmos doutores que não sabem dar aulas, apenas palestras. Não conseguem elaborar um plano de ensino, quiçá um plano de aula! O estágio docência, por sua vez, não é capaz de suprir essa defasagem. Formamos indecentemente docentes para o Ensino Superior.
Essas, entre outras características devem se constituir como políticas públicas de pós-graduação. Alguém poderia inquirir: “Mas e o Ciências sem Fronteira, já não é uma política pública?” É claro que é (talvez a maior desse tipo no mundo), no entanto, não precisamos ir muito longe para pensar o que vai acontecer ao termos um monte de mestres e doutores formados até 2015 nas áreas prioritárias que endossam as filas de desempregados.
Por isso, precisamos pensar em políticas públicas de fomento à pós-graduação antes, durante e após sua vigência, para que Josés, Marias, e todos os pós-graduandos possam encontrar qualificação que seja efetivamente revertida em atuação profissional necessária ao futuro – e presente – de nosso país!
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Texto escrito por Luiz Gustavo Bonatto Rufino – mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias pela UNESP Rio Claro, graduado em Educação Física pela mesma instituição e membro do Laboratório de Estudos e Trabalhos Pedagógicos em Educação Física. É autor do livro: “A pedagogia das lutas: caminhos e possibilidades”.
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Valorizar-se a si mesmo(professor) e por conseguinte circundantes. Primor para êxito de ambos…Docente e discente ou orientador e orientando.
Muito bem colocado.
Um monte de coisas que todo mundo já sabe… esse texto não acrescentou nada…
Um monte de coisas que todo mundo já sabe… esse texto não acrescentou nada…
Se vc considerar como “todo mundo” os pós-graduandos do Brasil, eu concordo. Mas os “caras lá em cima” – políticos – não sabem disso. Não sei se é uma questão de estarem fazendo vista grossa pois eles só olham para o umbigo deles.
Sugestões válidas e que deveriam ser encaminhadas aos governantes!
De fato uma das maiores deficiências da pós-graduação no Brasil hoje – ao menos na que fiz – é a falta de formação em docência. Ainda que se saiba que o cientista no Brasil tem basicamente uma opção de trabalho – a universidade – não se ensina esse pós-graduando a ensinar. Sequer se ensina mais o que é ciência. Vejo muitos colegas que simplesmente parecem não lembrar das aulas de Filosofia da Ciência que tiveram na graduação em Biologia, e tratam seus projetos como uma brincadeira não muito divertida. Se sequer sabem o que estão fazendo dentro do laboratório, acho bem difícil que saibam o que fazer fora dele. Mas ainda acho que a competência conta. Conheço pessoas com mestrado e doutorado que tem uma atuação extensa, e gente com a mesma formação que é melhor nem comentar. Eu mesma terminei o mestrado a um mês e estou vivendo sob o fantasma do desemprego, pois não emendei o doutorado, embora queira fazê-lo.
O que um pós-graduando deve ter em mente é que Mestrado e Doutorado serve pra formar cientista/pesquisador (e professor, deveria né…). Mas o que tem acontecido é que o indivíduo conclui a graduação e, pela praticidade de receber uma bolsa, tenta direto o mestrado, não vai encarar o mercado de trabalho. Ou até tenta encarar, mas acaba tomando tanto não, que estudar pra prova do mestrado é mais fácil. E sim, está fácil entrar no mestrado com bolsa. Podem reclamar do REUNI o quanto quiserem, mas conheço várias pós onde todos os alunos tem bolsa, graças ao programa. E não são poucas vagas por ano que abrem hein… Enfim, acabando o mestrado, ou o indivíduo encara mais 4 anos de doutorado com o mesmo orientador, na mesma universidade, com a mesma banca avaliando seu projeto, entrando onde der e ganhando mais uma bolsa, ou ele vai pro mercado de trabalho e descobre – finalmente – que ele não pode ser cientista somente com o mestrado, e que as outras opções não são muito atrativas. Mas se, antes de concluir a graduação e definir seu futuro profissional o estudante tiver esta noção do que é mes/doc ele pode fazer uma escolha mais acertada e menos precipitada, o que provavelmente vai lhe render um desempenho bem mais recompensador no mercado de trabalho.
Acho que depende da área de estudo… esse negócio de “é mais fácil fazer mestrado do que procurar um emprego” é bem relativo. Mais fácil por que ? Eu terminei a graduação em 2009 e agora estou no doutorado. O salário dos meus colegas que se formaram comigo variam de uns R$ 4 mil até R$ 12 mil. E eu to vivendo com uma bolsa de doutorado do CNPq e provavelmente vou continuar com ela até terminar o doutorado. Aonde que está a “facilidade” disso ?
Você acha que um engenheiro prefere ganhar R$ 1350,00 do que R$ 5000,00 ou mais. Realmente quem faz Pós-Graduação na área de engenharia é porque quer seguir a vida acadêmica. Vejo com tristeza grandes consumidores de maconha fazendo ” doutorado”, com certeza para eles é mais fácil mesmo.
Acabei de me formar na pós-graduação em logística empresarial. Li toda a matéria acima e gostaria de saber se as faculdades, ou se há alguma, que contrate professor para a graduação , apenas com po´s-graduação. Ou se agora as universidade só pegam mestres e doutores? Há ainda faculdades com professores dando aula, apenas com especialização? quero muito fazer um mestrado, mas enquanto isso gostaria de dar aulas na faculdade logo. Tenho 30 anos, completos em março e sou do RJ.
Diego, algumas faculdades ainda contratam especialistas, depende muito da necessidade do mercado.
hehe… Esqueceram de comentar sobre o “limbo” do pós doc… eu, sinceramente, não vejo oportunidades para esse nível de qualificação de acordo com o caminhar do nosso modelo econômico. Quem não faz na área de petróleo e gás, (não é o meu caso, sou da a² de oncologia) tá em desvantagem, pq o nosso país só investe pesado nisso! Daqui a pouco as pessoas vão estar tomando cápsulas de biodiesel, petróleo high purity, sei la, vão achar uma propriedade terapêutica do petróleo pra aumentar mais ainda o investimento e mais do que isso, a roubalheira. Gente, nosso país tem uma mentalidade tosca demais, e se NÓS, pós graduandos de bem, tanto moral como profissional, não entrarmos na esfera política e adminitrativa, NADA VAI MUDAR, pq são poucos que raciocinam nesse ambiente. Eu sei que está tudo muito corrido, muito difícil, muito caro viver, euque o diga, moro na cidade da moda, mas nós precisamos nos mobilizar de uma maneira mais sólida, participando mais de comissão de alunos de pós graduação, nos organizando. E está fácil mesmo, fazer uma PG, até mendigo vai pro ciência sem fronteira! hahaha!. agora, do q adianta facilitar a entrada, evoluir as mentes pensantes do país se o objetivo econômico não caminha junto com demanda de nós, especializados? Bom, temos duas opções, ou vamos embora do país, ou, lutaremos incessantemente, como dizem os hinos à bandeira, hino nacional, independência, fibra de herói, hino do Colégio Pedro II… Vejo que hj em dia, a manifestação necessária e pedido de mudanças, devem vir de nós mesmos… ninguém o fará por nós. Abraços a todos.
Fiquei ainda mais deprimida do que quando li o primeiro artigo. …e eu aqui inocentemente esperando dicas e ideias….pfffff……