No mundo acadêmico, ter um doutorado significa atingir o topo da pirâmide. A presunção é de que os doutores sabem mais que as pessoas em geral. Bem, a coisa não é bem assim!

Estou me preparando para a defesa de minha tese de doutorado, o último desafio para finalmente me formar. Quando iniciei meu doutorado nos Estados Unidos, há cinco anos, pensava que, ao terminar, seria uma expert na área, portadora de um conhecimento que poucos teriam. Pura ilusão!

Com o passar os anos, fui percebendo que ser doutor/pesquisador é, na verdade, lidar com o incerto, com o não-saber. É reconhecer que ainda sabemos pouco sobre nossas áreas e reconhecer a vastidão da nossa ignorância. Essa é, provavelmente, a maior lição que aprendi no meu doutorado.

Lidar com a incerteza faz parte do trabalho de um pesquisador. Ao fazer pesquisa, coletamos e analisamos dados através de bases teóricas e de estatística. Os números e os dados estatísticos apoiam nossos argumentos teóricos. Entretanto, nunca temos 100% certeza das coisas.

Os dados estatísticos não “provam” que uma teoria é inerentemente verdadeira. Eles mostram que os resultados encontrados têm, por exemplo, 95% ou mais chances de acontecer novamente, caso sejam criadas as mesmas condições. Isso é, nada é completamente “certo” ou completamente “errado” quando lidamos com ciência.

A verdade é que raramente podemos “provar”, sem sombra de dúvida, nossas teorias. Por exemplo, digamos que eu tenha essa teoria: estudantes que começam a estudar inglês quando crianças, no futuro, têm ótima fluência na língua (em comparação com estudantes que começaram a estudar inglês quando adultos).

Vários estudos têm indicado que isso acontece. Porém, não posso dizer que tenho certeza que se seu filho começar a estudar inglês quando criança, ele ou ela terá ótima fluência na língua inglesa.

Na verdade, existe a possibilidade de minha teoria ser contestada por outro pesquisador que encontre resultados diferentes. Por exemplo, digamos que um outro pesquisador demonstre que a fluência da criança em inglês vai depender da qualidade do ensino que ele/ela tem, e não exclusivamente da idade em que a criança começou a estudar.

Isso é ruim para mim, como pesquisadora? Não! Porque, para uma teoria ser válida no mundo científico, ela deve ser falseável. Isso significa que o outro pesquisador forneceu mais um “tijolinho” na construção do conhecimento. Agora, eu tenho uma outra informação importante que posso usar nas minhas pesquisas futuras. Sou, então, muito grata a esse pesquisador que, graças aos seus resultados, posso agora modificar minha teoria, tornando-a mais forte e válida.

Responder a pergunta “Quem tem doutorado sabe mais?” não é tão simples como pensamos. Aprofundamos nosso conhecimento em uma pequena área do saber, mas, também é verdade que ampliamos a visão do que não sabemos e nos tornamos muito mais conscientes da nossa ignorância diante do mundo ao nosso redor.

Para mim, ser doutor, é uma lição de humildade. Chegar ao topo da pirâmide acadêmica representa mais que uma vitória: é o reconhecimento de que o pouquinho que sabemos é apenas uma gota no imenso oceano do saber.

Texto escrito por Denise M. Osborne, natural de Araxá (MG), mestre em Linguística Aplicada (Columbia University, EUA), doutoranda pela University of Arizona (EUA) em “Second Language Acquisition and Teaching”, professora na University of Wisconsin-Platteville (EUA)