São 7h da manhã de uma terça-feira. Você acaba de acordar espontaneamente depois de 8 horas de sono bem dormidas. Ontem você terminou de escrever seu artigo e o enviou a seu orientador com uma semana de antecedência. Portanto, você toma seu café da manhã sem pressa, sai de casa, e em 10 minutos você está na universidade porque não havia trânsito algum.

Você encontra seu orientador na sala dele e, ao que parece, ele estava justamente esperando por você para conversarem sobre o artigo que você enviou, bem como o andamento do seu projeto. Que, aliás, vai muito-bem-obrigado! Seus experimentos estão funcionando e os resultados indicam que você pode inclusive revolucionar seu campo de pesquisa.

Por isso, seu orientador está orgulhoso e, entre os incontáveis elogios ao seu trabalho e seu profissionalismo, ele comenta que vocês deveriam submeter o próximo artigo para a Nature – ou talvez para a Science.

Após a reunião, que transcorre sem quaisquer interrupções de professores ou outros alunos, você resolve procurar alguns artigos para auxiliar na sua pesquisa. Você em seguida esbarra no artigo que vem para salvar enriquecer de vez sua tese (afinal, sua tese não precisa ser salva, lembra?)! E ele não só está escrito num idioma em que você é fluente, como também é open access!

Assim que termina de ler as 15 páginas do artigo, você subitamente se dá conta de que já é hora do almoço… e então você vai ao bandejão, que além de não ter filas hoje serve salada Caesar e risoto de camarão, com brigadeiro de sobremesa!

A tarde é o momento de ir para a aula da última disciplina obrigatória que você precisa cursar no seu programa de pós – depois disso, seu tempo poderá ser integralmente dedicado aos seus experimentos de sucesso!

O professor tem tanto carisma e didática que qualquer resquício de sono após o almoço simplesmente se esvai. Você fica vidrado na aula, e sua empolgação com o conteúdo da matéria persiste até mesmo durante a apresentação de seminário. Você sai da aula com a sensação de que prestou atenção do início ao fim, e de que aquela tarde foi bem aproveitada.

Ao chegar em casa, com a sensação de mais um dia produtivo, você resolve checar sua conta no banco e vê que sua bolsa já caiu no primeiro dia do mês: 5 mil reais, fresquinhos na conta – e isso que ainda havia sobrado dinheiro do mês anterior…!

Tranquilo e sem quaisquer questionamentos desesperadores sobre a vida que você escolheu, você deita a cabeça no travesseiro, relaxa e… cai na real.

Primeiro de abril, pós-graduando. Que este seja um “dia da mentira” para lembrar a realidade dos outros 364 e, em meio aos questionamentos desesperadores de verdade, saber que são também essas dificuldades do dia a dia (e a inerente capacidade de rir pra não chorar) que fazem da pós-graduação o aprendizado de vida que ela é.