Há exatos cinco anos eu estava morando na Itália. Até parece que foi ontem…

Fui parar lá por meio de um convênio entre a UFGD (Universidade da Grande Dourados – MS) e a UNITO (Università Degli Studi di Torino – IT). Na época descobri que realizar sonhos muitas vezes acontece quando menos se espera.

Estava lá. Tranquila cursando meu doutorado, quando minha orientadora soube da oportunidade de bolsa para a Itália. Como eu estava sem receber qualquer tipo de auxílio, achei que seria uma boa oportunidade. A bolsa em si, não era bem pra mim, porém foi cair nas minhas mãos e eu… bem, quase enlouqueci!

Afinal, a bolsa tinha prazo para cumprimento, e eu deveria ir em menos de três meses para Torino. Foi então que entendi que tem coisas que só Freud explica, pros mais espirituosos (como eu) só Deus mesmo! Eu não tinha fluência nenhuma em italiano, verba então, vixi … Vamos mudar o rumo da prosa. Mas tinha o tal sonho, aquele de estudar no exterior, ter bolsa sanduíche, coisa e tal. Ah, estava esquecendo. Sou casada, e o maridão NÃO poderia ir comigo.

Pra resumir, depois de muita conversa, decidi tentar. Me lembro de um professor que disse, o não você já tem! Portanto, “bora lá”. Comecei a verificar a papelada, e pra minha alegria eles aceitaram o fato de eu não falar nem italiano, muito menos inglês (aqui fica a primeira dica: vê se gasta mais dinheiro das bolsas em um curso de línguas!). Como todo o processo era documentado, e aqui quero aproveitar para te dar a segunda dica, não vá para qualquer lugar sem estar seguro do que você terá direito, depois que estiver fora de casa, as coisas são bem mais difíceis.

O projeto do qual eu participei era da própria UNITO, chamado de “WWS – World Wide Style” e eles me custearam 100%, isto é: passagens áreas, hospedagem, alimentação e até cultura e lazer em Torino. Chique mesmo! No total, a bolsa era de 1450 Euros, sendo que desse valor eu recebia 700 Euros em dinheiro e o restante servia para os demais custos. Com a documentação em mãos, tirei o passaporte com visto multi entradas para um ano e lá fui.

A minha estadia lá foi ótima, pois morava numa residência universitária, em quarto simples com banheiro, frigobar, acesso a internet e recebimento de chamadas telefônicas. E uma distância de apenas quinze minutos, a pé, da faculdade onde estagiei.

Na faculdade fui muito bem recebida. {Aqui cabe uma terceira dica: faça contatos. A professora que me recebeu já havia trabalhado com outros colegas, o que facilitou nossa comunicação. Além de que, já havia um contrato de intercâmbio antigo entre a UFGD e UNITO. O que também auxiliou no processo.}

Deu pra notar que um doutorando lá é realmente um “nível superior”. Recebia vários elogios por já cursar o doutorado, sendo vista como praticamente uma pesquisadora (me achei, depois voltei ao normal). A realidade deles é bem diferente da nossa. Os alunos de doutorado já são responsáveis por suas pesquisas desde o inicio, tendo salas próprias com nome na porta e tudo. Em Torino, exigem que o aluno fale o inglês fluente e devem fazer pelo menos seis meses do curso em outro país.

Haviam algumas semelhanças no quesito incentivo do governo, já que a Itália tem certa “similaridade” com nossos políticos e sistema governamental. Por exemplo, ao chegar na Itália você deve procurar um agência dos correios para solicitar sua permissão para ficar no país por mais do que três meses. Essa permissão é obrigatória, porém depende dos procedimentos deles, como data para comparecer a polícia federal e retirada do documento. Bem, eu fiquei oito meses no total e retornei ao Brasil sem a tal permissão. Talvez ainda chegue!

Vou encerrando com uma última dica: aproveitem ao máximo cada dia e momento. Minhas experiência aqui no Brasil com as atividades de laboratório, facilitaram meu entendimento na Itália. Assim como tudo que fiz durante o período no exterior, me auxiliam ainda hoje. Fiz muitos amigos e deixei várias portas abertas para futuros trabalhos e projetos. Sempre mantenho contato com eles, afinal, nunca se sabe quando outra oportunidade pode acontecer!

Ia me esquecendo, tive que estudar muito italiano quando cheguei lá, parecia um índio conversando com as pessoas, mal eu sabia responder um sim, sim ou não, não. A timidez para falar foi minha maior dificuldade para me adaptar. Depois de um mês eu já compreendia o que diziam, com dois meses eu conseguia conversar por uns… cinco minutos. A fluência mesmo só veio depois de quase cinco meses. Erro grave: não more ou conviva com brasileiros durante a adaptação. Tenha pessoas que te apoiem, mas evite tempos excessivos. Depois que dominar a língua e cultura, aí então divirta-se e estude, claro!

Texto escrito por Roberta Gomes – Engenheira Agrônoma, Meste em Produção Vegetal e professora no curso de Agronomia.