Sim, meu querido leitor. Você está lendo um post com título repetido. Peço a “licença poética” ao colega Tiago (que já falou sobre isso nesse post) para retomar o assunto. Assim como ele, sou historiadora e entusiasta das humanidades. Por isso, me pareceu interessante comentar algumas questões que podem nos fazer pensar um pouco mais sobre a “utilidade” (não vou entrar agora no cerne da discussão desta palavra) das ciências humanas para o tão desejado progresso de uma nação.
Minha pesquisa atual se foca no maior aproveitamento do potencial turístico da região onde vivo, buscando alternativas para o uso sustentável dos bens culturais através do turismo. Assim, pude constatar algumas coisas no Reporte Anual de Competitividade para Viagens e Turismo do Fórum Econômico Mundial:
Somos, neste ranking, o 51º país do mundo. Este estudo considera toda a estrutura de leis e atuação política para turismo e viagem, a infra-estrutura de transportes e ambiente para negócios, além dos recursos humanos, naturais e culturais do país. Atribuindo uma nota de 1 a 7 para cada aspecto é formado o ranking dos países mais competitivos. Vamos a um pouco dos resultados ( Quem tiver interesse de acompanhar tudo, tem disponível aqui):
Ocupamos o 102º lugar no que trata do que a pesquisa chama de Priorization of Travel & Tourism, e o 119º lugar no que tange a legislação e políticas públicas. Sobre a estrutura, ocupamos o 48º lugar na infra-estrutura de transporte aéreo de o 119º lugar no terrestre, além do 126º em preços e competitividade. Já no que tange aos recursos humanos, culturais e naturais, somos o primeiro país (sim, número 1) em recursos naturais e o 23º em recursos culturais, enquanto somos o 62º em recursos humanos.
Estes dados me levaram a uma reflexão, ainda mais baseada em alguns argumentos de que as ciências humanas não movem, de fato, a economia do país. Será? Eu vejo uma grande possibilidade de pesquisas envolvendo todo este potencial que temos em termos da “indústria turística”. Pergunto-me se este descompasso entre a estrutura que oferecemos e as possibilidades de exploração que temos não é um vasto campo de pesquisas, onde ciências humanas e exatas podem colaborar para que a nossa economia melhore, e muito?
Quantas vagas de emprego, quantos impostos gerados poderíamos ter se olhássemos mais para o que naturalmente nos foi dado, ao invés de correr somente atrás de um sonhado progresso tecnológico? Quanto de nossa natureza e cultura poderiam ser preservadas se apostássemos em uma exploração sustentável deste potencial? Para mim, a vocação do país vai muito além do desenvolvimento de novas tecnologias, poderíamos ser um exemplo de trabalho conjunto entre humanidades e tecnologia, aliando novas tecnologias à preservação do que temos naturalmente, se nos fosse dado mais espaço para isto.
Não tenho a resposta da pergunta inicial do post nem almejo ter, mas, como vi nos comentários do texto anterior, há esforços para que as humanidades sejam incluídas no programa. A questão que quero levantar é que sim, as ciências humanas podem trazer, e muito, um retorno econômico a um país. Ainda mais se houvesse mais oportunidades para uma possível (e benéfica) colaboração entre as pesquisas em tecnologia e humanidades.
Boa reflexão, Thaís!
Objetiva e inteligente.
Muito bom texto, Thais! Obrigada por me mostrar uma realidade tão próxima de que eu não tinha conhecimento. Concordo com você e espero que aos poucos essa realidade mude (de forma sustentável, como você bem apontou!).
Parabéns, Thais. Texto excelente! Você foi direto ao ponto realmente e apresentou dados bastante interessantes. Fica a reflexão!
Parabéns pelo texto Thais. Aqui sim há bons argumentos para defender a inclusão de cursos de humanidades no programa, sem falácias do tipo “ciências exatas causaram a guerra” ou “a ciência não tem reflexão e gera atrocidades com os humanos” para criar polêmica e só ampliar as rivalidades entre áreas do conhecimento. O país precisa muito mesmo melhorar suas políticas de recursos humanos, cultura e turismo. Obrigado por apresentar esses dados!
Muito bom texto Thais. Eu tb sou mestranda na area de humanas e concordo com vc, “as ciências humanas podem trazer, e muito, um retorno econômico a um país”.
Pena que o governo nao veja isso. Chego a pensar que o governo investe apenas nas ciencias exatas pq eles sao muito lógicos e nao discutem. Qual o interesse do governo em investir em pensadores??
Engraçado, pq pelos dados apresentados me pareceu que o Brasil está super bem em relação à parte recursos humanos, culturais e naturais enquanto falta base tecnológica pro resto. Isso pra mim dá mais embasamento justamente para o CsF contemplar exatas e biológicas, aonde faltam investimentos de infraestrutura etc.
Excelente, Thaís ! Sou psicólogo e também sou atravessado por estas inquietações acerca do utilitarismo na escolha das profissões contempladas no Ciência sem Fronteiras. Reconhecer a psicologia como um campo de estudos profícuo que fala da relação do sujeito consigo próprio e com o meio seria um grande avanço. Infelizmente, as representações sociais da profissão e do profissional apontam para um grande preconceito e desinformação, confinando-a ao campo das patologias e desajustes sociais
A resposta: Ciência Humana não traz soluções. Ela desenvolve problemáticas, mas não pode dar uma resposta direta a uma questão. Nenhuma ciência humana pode dizer que “resolve-se o trabalho infantil com isto” ou “evita-se a inflação com aquilo”; quando existem abordagens com estes objetivos, surgem ou já existem trabalhos tão bons quanto com argumentos diametralmente opostos e em total controvérsia ao primeiro.
Ciência humana não cura nem evita doença, não desenvolve tecnologia, não gera riqueza. Temos milhões de pessoas formadas em Pedagogia pelo Brasil e o pior ensino do mundo, milhões de profissionais de enfermagem e os priores pronto-atendimento. Ciência humana não desenvolve infra-estrutura; ela discute controvérsias. São pensadores e formadores de opinião. O Brasil não quer mandar para fora os seus pensadores; quer que eles lidem com questões pertinentes ao Brasil; que aprendam aqui e aqui fiquem (sabe-se lá que viés querem cultivar com isso), e é por isso que o pessoal da Humanas não estão no CsF: não é deles que esperamos as respostas dos problemas que o Brasil tem, hoje. O que o Brasil precisa é de pessoal técnico que saibam resolver problemas técnicos da melhor maneira ao menor tempo e custo (diga-se de passagem, que não é produzido por aqui), e não pessoal que fique discutindo capitalismo x comunismo, filosofia, ditadura militar, FHC x Lula e infinitos similares que vemos por aí.
Olá Thais, adorei a busca pelo equilíbrio do seu texto! A distância entre as humanidades e as áreas exatas existe até em nosso cérebro! Imagine fora dele e nas relações externas! O país só vai melhorar quando deter, além do conhecimento tecnológico, o conhecimento de como isso pode ser bem aplicado, pensando no global (recursos naturais, recursos humanos, consequências sociais). “estudar o passado, para entender o presente e projetar o futuro”, essa frase simples me foi ensinada no ensino fundamental, e eu a utilizo mesmo fazendo mestrado em Engenharia Elétrica !!
MIMIMIMI da humasnas, comun desde o sempre na história!!!
Eu pensaria mais por outro caminho. Por que essa escolha do progresso do país através de um crescimento econômico? Será que formar profissionais de uma área específica em universidades estrangeiras (que se engajarão, em sua maioria, no mercado privado!) é o melhor caminho para o desenvolvimento do país? Penso que muitos entraves no Brasil podem estar relacionados a escolha pelo “progresso” entendido como puramente crescimento econômico… Sendo que os campos social e político andam tão esquecidos e carentes de discussões profundas que provoquem mudanças significativas no país…
Olá, Thaís!
Fico muito feliz com a continuidade da reflexão e agradeço imensamente pela apresentação de dados bem objetivos, que apontam o uso integrado do conhecimento (ciências exatas, naturais, tecnologias, humanidades) em favor da vida. As Ciências Humanas têm muito a contribuir no desenvolvimento de processos produtivos e suportes operacionais, desde que o foco seja o investimento (intelectual, social, global) nas pessoas, em detrimento de despersonalizar os processos sociais em nome da tecnologia, como se ela fosse sujeito a se fazer a partir de objetos humanos. Continuemos o debate!
Só uma coisa que me veio a mente… o que é bom não precisa tentar se auto-promover repetidas vezes. Todo mundo percebe de longe o que é bom.
Se as ciências humanas ficam com tanto mimimi é porque no fundo não conseguiram provar seu valor ainda.
As ciências humanas podem não ter (ou querer ter) a melhor resposta para uma questão, mas podem colocar uma pergunta da forma mais clara, e honesta. E isso é perigoso para um governo que quer que o povo acredite que a sua problemática é a única possível.
Achei o texto ótimo. Sou da área de economia (ciências sociais aplicadas), creio que nós estamos no mesmo barco. Contudo, tenho uma visão diferente da Thais. Acho que a escolha governamental tem a ver com o processo e os resultados da área tecnológica. Pois, quando pesquiso nessa área vejo que 1) ela está mais próxima da ciência (os experimentos podem ser replicados no Brasil); 2) o efeito transbordamento do setor tecnológico na cadeia de produtos e processos é muito maior do que dos serviços (inclusive intelectuais); 3) ao que observo, mudanças de gestão de recursos socioeconômicos e ambientais tem mais efeitos quando idealizados e executados endogenamente do que externamente. Ex: Não adianta estudar a economia da Holanda, com características históricas e institucionais diferentes da brasileira e colocar o modelo holandês no Brasil. – Não sei se tenho competência pra falar isso, mas aí vai, o Rio de Janeiro não vai ser Barcelona (pode ser melhor ou pior, porém, não igual). Acho que o debate tem que ser aprofundado, não vi nenhum comentário contra a proposta de inclusão tai uma pequena provocação a nós das humanidades e socioeconomia.
O problema talvez investir em projetos claramente úteis, mesmo que apenas a longo prazo e demandando outras pesquisas. Assim o dinheiro público seria bem empregado, o que geralmente não é, nem nas ciências exatas…
Excelente texto Thais!! Sou turismóloga e mestranda em administração e sofro bastante por falta de espeço com minhas pesquisas sobre o turismo. Os dados apresentados são de vasta contribuição para pesquisadores da área de humanas. Abs,
Amei o texto… sou formada em História e quis fazer minha monografia na época de faculdade com uma amiga da área de turismo e não permitiram, íamos agregar a historia e o turismo como facilitadores de conhecimento e geração de renda… sou técnica em turismo tb e acho um absurdo a ignorância e falta de vontade politica de enxergarem isso.
A resposta é tão simples: objetivo!
Conhecendo o objetivo do programa CsF, sabe-se pq os cursos de humanas não são considerados para tal.
“Ciência sem Fronteiras é um programa que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional.”
Ou seja, investir em humanas, NESSE MOMENTO, seria um gasto desnecessário, visto que não atende aos objetivos do programa.
E ponto!
A sua resposta é mesmo muito simples. Ela é tão simples que é redundante. Escrever ” investir em humanas, NESSE MOMENTO, seria um gasto desnecessário, visto que não atende aos objetivos do programa” é exatamente a mesma coisa de dizer “o gasto é desnecessário porque o governo definiu que ele é desnecessário”. É o que as pessoas que estudaram ciências humanas definem como TAUTOLOGIA: aqui no caso, uma resposta que se limita a reiterar os termos da pergunta de forma afirmativa como se isso a respondesse.
A pergunta é outra: por que o governo escolheu uma concepção de conhecimento segundo a qual o gasto em ciências humanas é “desnecessário”? Desnecessário para quem? Desnecessário segundo qual modelo de sociedade?
Para responder bem esse tipo de pergunta acerca de como os governos definem suas prioridades, costuma ser necessário ter estudado um pouco de ciências humanas.
Excelente, Eric!
É preciso verticalizar a discussão. “É porque é, pois o governo definiu que fosse” é a versão moderna do “é porque Deus quis” e não ajuda em muita coisa…
Bem, ao meu ver a questão é bem simples:
Precisamos de mais tecnologias! Não queremos importar as coisas sempre.
Pense em um trem bala por exemplo ou qualquer outro tipo de tecnologia que não temos aqui no Brasil. O que queremos é que no futuro possamos construir isso sem nenhuma ajuda mais estrangeira além disso, com novas implementações realizadas aqui(conhecimento gerado aqui, em outras palavras) e podendo exportar isso(conhecimento).
Simples assim pessoal.
Eu acho super importante esta outra cara social estar no programa, mas o momento não é este. Em uma segunda fase do programa será muitíssimo importante pois haverá problemas sociais, econômicos etc. acarretados por esta enxurrada de novas maneiras de se fazer as coisas.
😉
Ao que me parece, não há qualquer incentivo dos que regem a educação do Brasil ao desenvolvimento do senso crítico, do lado reflexivo do ser humano, da capacidade de pensar profundament sobre questão relevantes para a sociedade, para a humanidade. A ignorância parece ser mais adequada as suas pretensões. So isso. C’est très triste!
Iniciei o curso de Psicologia recentemente e estava pesquisando sobre o programa Ciências sem Fronteiras. Não existe a remota possibilidade de isso mudar futuramente?
Grata!!!