Por que as ciências humanas nunca estão na lista de prioridade nos investimentos para pesquisa?
O programa Ciência sem Fronteiras (CsF) está construído sobre os pilares racionalistas que atribuem à ciência instrumental o papel de transformar a realidade. O progresso técnico é considerado caminho “natural” da humanidade e o desenvolvimento científico e tecnológico é visto como o responsável pelas melhoria na vida da população. Mas…
Lá vem História…
A partir do século XV, a centralização humana como objeto de realização do mundo (ou seja, é o homem que transforma a realidade, e não Deus) alavancou a ideia de que razão e ciência são os principais instrumentos nessa transformação.
Com o passar do tempo, o sentido da vida, outrora orientado para busca pela salvação após a morte, passou a concentrar-se no progresso técnico como desenvolvimento do homem. A vida passou a ser mais importante que a morte.
Esse conjunto de ideias conduziu o ocidente ao endeusamento da ciência e da razão, da lógica matemática e empírica. A crença na superioridade deste modelo de ciência tomava força e legitimava as conquistas europeias sobre outros territórios. O progresso tecnológico tornou-se parâmetro para classificação dos povos: quanto mais próximo daquele europeu, mais desenvolvidos eles seriam.
Contudo, o século XX viu a catástrofe das guerras, o uso da mais sofisticada ciência como máquina mortífera. A ascensão do capitalismo industrial contribuiu com a hierarquização das sociedades e emergência da dependência econômica subsidiada pela desigualdade tecnológica, dentro e fora das nações.
Eis o lado perverso da ciência. A crença de que a razão era o melhor julgamento moral e que sua expansão pelo mundo levaria ao estado de paz social e progresso humano falhou. O determinismo tecnicista provou que a ciência sem reflexão é capaz das maiores atrocidades, como a medicina experimental eugênica, a indústria farmacêutica de patentes milionárias e a extrema degradação ambiental.
O que isso tudo tem a ver com o CsF?
Este projeto de nação oferece aos estudantes brasileiros de “campos estratégicos” a possibilidade de realizarem cursos no exterior e acessarem tecnologias e pesquisas de ponta. Espera-se que, ao regressarem, eles utilizem todo seu potencial informacional para transformar a ciência e (claro!) a indústria brasileira através de melhorias tecnológicas, a grande barreira na atual divisão internacional do trabalho.
Com este processo, acredita-se que a economia nacional crescerá e as pesquisas realizadas transformarão a vida da população, reduzindo as desigualdades e oferecendo mais qualidade de vida.
Entretanto, essas expectativas são amparadas em um modelo que já se mostrou falho. Progresso tecnológico não conduz “naturalmente” a progresso social nem garante melhores condições de vida.
A resposta à nossa questão inicial
O CsF exclui as Ciências Humanas porque elas não lidam com o modelo positivista e tecnicista de ciência que, levado ao extremo, reproduz a lógica da tecnologia de consumo de massa.
As humanidades investigam o papel desempenhado por homens e mulheres nas sociedades locais e global, entre estruturas sociais e subjetividades parciais. Interações entre pessoas e processos produtivos são temas de muitas disciplinas, embora nenhuma delas (ou quase nenhuma) lide com processos objetivados. As que mais se aproximam disso oferecem tecnologias sociais e metodologias condicionais, que ficam em segundo plano diante do predomínio da razão prática e técnica.
As Ciências Humanas não são as “salvadoras da pátria” e nem reivindicam para si esse papel. Elas se propõem a pensar processos, questionar técnicas, entender o uso da razão. O problema é que a lógica retardatária do CsF não concebe os processos propriamente humanos das sociedades históricas. Essa lógica se encanta com a possibilidade de inserir-se nos Tempos Modernos, de Chaplin, a um custo bem maior que as bolsas que seriam pagas aos estudantes das humanidades para contribuírem com esse projeto de nação.
Simples… as ciências humanas não movem a economia, não enchem os cofres públicos de impostos e nem matam a fome (de verdade, não de saber) de ninguém.
Tem um outro motivo também: As ciências humanas foram exclusivamente (com exceção de raras escolas de medicina e engenharia civil) os únicos cursos superiores do Brasil por mais de um século. Nas universidades mais antigas do Brasil, os cursos mais antigos quase sempre são Direito e História. Essa bagagem já coloca, no entendimento do governo, as ciências humanas em vantagem estrutural e científica em relação às ciências exatas.
Como diz o velho ditado: Ao invés de dar peixes ao famintos, ensine-lhes a pescar. Ciências Humanas não enche barriga de ignorantes. Mas ela questiona antes da ação. A linguagem vem antes da ação. A ação sem princípios não gera nada. Todas as ciências se apoiam na Filosofia. Sem ela, iremos voltar à idade da Pedras, Genocídios, experimentos cruéis, Ditaduras e etc. Esse conhecimento do ‘Só responder’ não tira ninguém do lugar. Veja a Revolução Francesa: Se não fosse os intelectuais, o povo só iria se agitar por uns dias e seriam reprimidos rapidamente. Mas os filósofos e pensadores iluministas questionaram e acharam a cerne dos problemas. Se não fosse por pensadores e questionadores dos problemas, vc estaria adorando um rei, comendo capim e dizendo Amém.
Luis, tu precisas de alguém, ou melhor, um filósofo para pensar por ti? Ou talvez tu sejas um filósofo para falar isso…
Para ser intelectual, pensador e questionador de problemas precisa ser filósofo? Acho que não.
E acho que quem pensa assim, é porque realmente precisa de alguém pra pensar no seu lugar. Mas sinto muito, nem todo mundo tem essa dependência.
E mais: tu achas mesmo que haveria uma regressão assim ou foi uma metáfora? Não tenho palavras para descrever isso, se realmente for…
À comunidade Geográfica, representada por suas principais associações, articulou uma carta de solicitação ao MCTI para inclusão da Geografia (Ciências Humanas) no Programa Ciências Sem Fronteiras.
Compartilho o link com as cartas na íntegra: http://falagrupoelo.blogspot.com.br/2013/06/manifesto-para-inclusao-da-geografia-no.html
Fica a pergunta: Não passou da hora de articularmos algo conjunto, Ciências Humanas?
Vejam a força e representatividade que possuem o CREA, OAB e outras entidades de classe.
Podemos e devemos nos fazer presentes. Que a articulação da Geografia sirva de exemplo para outras áreas do saber…
Parabéns pela notícia.
Oi, Gustavo!
Obrigado pela referência! Também penso que mais mobilização por parte das áreas não contempladas seja um caminho a ser percorrido.
Abraços.
Excepcional! Só acrescentaria à análise as ciências sociais.
Ótima reflexão, ainda mais se percebemos que essa convergência para as áreas de “inovação” (como se o pensamento e as formas como encaramos o mundo social não necessitassem de inovação) fosse totalmente contrária ao próprio princípio do desenvolvimento sustentável, que leva ao mesmo grau de importância do setor produtivo o desenvolvimento social e ambiental.
Desculpe Thiago,
mas esse post (por trás dos jargões) não faz muito sentido. Você respondeu sua própria pergunta aqui:
“Com este processo, acredita-se que a economia nacional crescerá e as pesquisas realizadas transformarão a vida da população, reduzindo as desigualdades e oferecendo mais qualidade de vida.”
Mas depois você simplesmente refuta sem nenhuma explicação:
“Entretanto, essas expectativas são amparadas em um modelo que já se mostrou falho. Progresso tecnológico não conduz “naturalmente” a progresso social nem garante melhores condições de vida.”
Qual a base dessa afirmação? Progresso tecnológico é a fonte do crescimento econômico que permite melhores condições de vida para a população. Qual é o “modelo que se mostrou falho”? Ciência? Crescimento? Acho difícil argumentar isso (e você não o faz).
“Contudo, o século XX viu a catástrofe das guerras, o uso da mais sofisticada ciência como máquina mortífera. A ascensão do capitalismo industrial contribuiu com a hierarquização das sociedades e emergência da dependência econômica subsidiada pela desigualdade tecnológica, dentro e fora das nações.”
A culpa das guerras mundiais é da ciência? O imperialismo europeu é baseado em química? O nazismo advém do estudo da física? Acho difícil ver o sentido disso. A ascenção do capitalismo industrial gerou hierarquização das sociedades? Onde você fez história? Desde o Egito antigo as sociedades são hierarquizadas, não existe uma sociedade humana sem hierarquia (não é uma defesa, é um fato).
“Eis o lado perverso da ciência. A crença de que a razão era o melhor julgamento moral e que sua expansão pelo mundo levaria ao estado de paz social e progresso humano falhou. O determinismo tecnicista provou que a ciência sem reflexão é capaz das maiores atrocidades, como a medicina experimental eugênica, a indústria farmacêutica de patentes milionárias e a extrema degradação ambiental.”
Seu argumento no texto então é que o CsF está errado pois ele pressupõe uma crença na utilidade da ciência, o que você assume errado? Você preferiria viver em um mundo sem indústria farmacêutica? Sem remédios? É a própria ciência que demonstra existir degradação ambiental, sem ela você nem saberia que CO2 é ruim para o ecossistema. Ciência é o que faz hoje povos como na Europa e Estados Unidos terem taxa de pobreza abaixo de 2% enquanto outros na África tenham mais de 80% (http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_percentage_of_population_living_in_poverty).
Exatamente.
Oi, Pedro! Muito obrigado pela leitura e comentário!
Bom, acredito que o processo de picar o texto em vários fragmentos, como vc fez, tenha prejudicado a compreensão dele em seu conjunto. Não sou contra as ciências nem acho que os males da humanidade são decorrentes das investigações científicas. Por outro lado, as ciências não são boas em si e é o processo social de uso do conhecimento que determina seu impacto na realidade. A maioria dos pesquisadores desenvolve seus trabalhos em seus laboratórios ou escrivaninhas com a melhor das intenções. Agora, quando isso vem para o mundo na forma de resultado, é a aplicação que fará diferença. Talvez o comentário que fiz mais abaixo ajude na continuidade do diálogo! Novamente, obrigado pelas opiniões!
A base do argumento da ciência como causa de desconforto e medo está nos argumentos dos pós-modernistas que acreditam que a ciência falhou em dar as respostas e as soluções que a modernidade prometeu.
A bomba atômica, gás laranja no Vietnã, desastres ambientais como o de Chernobyl, aquecimento Global, são todos problemas que advém do desenvolvimento da ciência.
Então não só ela falhou em resolver os problemas do mundo como ainda trouxe uma série de novas questões a serem resolvidas.
Então Pedro o desenvolvimento tecnológico não resulta diretamente em desenvolvimento social. Temos a China e a India como exemplo. Acho que falta a você um pouco de conhecimento sobre o assunto. Recomendo Ulrich Beck e Anthony Giddes que são dois estudiosos do assunto e tem um trabalho bem interessante.
…”Desde o Egito antigo…”
A questão não é separar as ciências – a física aprende muito com a filosofia e a arte -, mas levar as “os cientistas duros” a pensarem de forma reflexiva, como já fazem os cientistas sociais sobre seu próprio trabalho. Nenhum conhecimento está fora dos contexto sociais, políticos e econômicos. Não é possível fechar o laboratório todos os dias, ir para casa, fingir inocência, e colocar a culpa em políticos dos males sociais. Pressupor que há uma ciência neutra, que é puro conhecimento, é manter-se ingênuo e, pior, conivente com os usos desastrosos que se faz dos descobrimentos científicos. Os cientistas são o resultado social de uma sociedade capitalista, eles pensam para o capital, são pagos pelo capital para pensar soluções que atendam o capital, embora pensem de forma inocente que só fazem seu trabalho neutro. A própria separação entre as ciências já é o resultado da organização capitalista que, entranhada no Estado, faz passar como natural que os recursos públicos devam ir para os cientistas duros ou que o Primeiro Mundo – com suas mazelas distribuídas pelo mundo – é o destino de todos. A questão não é constatar que “desde o Egito antigo somos desiguais”, mas transformar essa realidade e nisso as Ciências Humanas tem mais condições epistemológicas.
Tenta patentear a descoberta de um fóssil.
Tenta mudar a confusa gramática brasileira com argumentos aprendidos no japão.
Tenta tornar mais barato as técnicas de ler livros do século retrasado.
Tenta melhorar a qualidade de vida de alguem discutindo filosofia com os extrangeiros…
Não fez sentido pra vc? Seu texto também não fez sentdo nenhum pra mim…
100 Phd em humanas podem impedir que uma floresta seja cortada por alguns anos, mas foi um técnico responsávei pela invenção do flash-drive( pen-drive no Brasil), que salvou milhões de árvores.
Caro Feliciano Nunes, se eu tenho que criar um mecanismo para salvar árvores, eu estarei salvando de que mesmo? Não seria do sistema Capitalista, Neoliberal que utiliza esses recursos celulósicos aos montes sem racionalidade para mensurar a perda? Desenvolvimento Sustentável é um discurso tecnicista para enganar ‘trouxa’, e criar mais uma margem de competitividade mercadológica. E o seu “flash-drive” vai para onde quando descartado?
Ótimo texto. Sou da área de biológicas e há muita oportunidade nesta área, mas concordo com tudo o que disse!
Olá, sou de Ciências Sociais, defendendo neste mês de agosto meu mestrado em Sociologia, na UFPE. Bom outra explicação que também eu soube é que durante os anos 80 e 90 a CAPES e o CNPq financiaram a formação no exterior de boa parte dos profs que hoje são doutores nos programas de pós-graduação no Brasil, de Humanidades. Logo este área já teria um RH qualificado formado lá fora. Não sei se a explicação procede 100%, acho q as outras áreas também tiveram investimento do tipo, de qualquer forma, mesmo que a prioridade fosse para Ciências Naturais, nada impedia uma % para as Humanidades.
Muito legal o texto Thiago. Parabéns
Por que “Ciências humanas” é uma coisa que só existe em português. Humanas não é ciência pois não segue o método científico, não existem métodos de provar e desprovar o que um cara de história, publicidade ou português diz que é verdade. Nada contra as humanas, mas no nosso estágio de desenvolvimento, isto não é uma área crítica para nos tornarmos país de primeiro mundo.
Seu discurso é conhecido pela própria comunidade científica como concepção ingênua da ciência. Essa papo de que ciência condiz com a “verdade” está fora de moda a mais de 100 anos.
Felipe, o próprio “método científico” que é tão adorado e idolatrado como um deus pelos cientistas não passa de um mito científico.
Veja só. A concepção de ciência que apresenta a ideia da existência de um método científico diz que a ciência se utiliza de três princípios básicos: lógica, razão e imparcialidade.
Vejamos agora como a própria ciência não obedece tais princípios nos quais se fundamenta.
– Lógica: diversas vezes ha história da ciência os cientistas se utilizaram de procedimentos ou até mesmo conceitos contraditórios. Por exemplo: os resultados experimentais termodinâmica de mais de 200 anos atrás continuam sendo válidos mesmo que na época tenham sido concebidos a partir da ideia errônea do calor como fluido ao invés do calor como energia. O mesmo vale para vários resultados do eletromagnetismo. Outro exemplo: por quê em alguns casos “a ordem dos fatores altera o produto” e em outros casos “a ordem dos fatores não altera o produto”. Ora, se a ciência fosse tão lógica assim, estas coisas não poderiam ocorrer.
– Razão: o momentos de pico no desenvolvimento da ciência (as chamadas revoluções científicas) acontecem em muitas vezes em decorrência de decisões irracionais, logicamente incoerentes com os princípios da época, ou até mesmo pela junção de coisas incompatíveis entre si. Exemplos: Princípio da Incerteza, comportamento dual (ora partícula, ora onda), descontinuidade da matéria e da energia. Estes são alguns exemplos de teorias que representam fatos, e que são irracionais (dentro do conceito de razão tradicionalmente dado à ciencia)
– Imparcialidade: a ciência é vista como pura, algo que não sofre influencia das características humanas como preconceitos, valores, vontades. Por quê então quando um cientista renomado diz algo isso é tomado como verdade absoluta mesmo quando um outro cientista desconhecido tenha várias evidências de que isso que foi dito está errado? Isto aconteceu com Einstein e sua constante universal, quando um matematico que nao lembro o nome provou o erro de Einstein (que algun tempo depois admitiu o erro) estava errado mas foi totalmente desacreditado, apesar de depois ter sido provado estar certo. A ciência é sim parcial, e muito. Suas decisões por vezes acabam sofrendo influencia tanto social quanto economica.
Isso diminui a ciência? É claro que não. Isso só mostra que as sociais e humanas são ciências tanto quanto as exatas/aplicadas.
Apenas um último comentário: tanto as ciencias tecnologicas quanto as ciencias sociais/humanas contribuem para o desenvolvimento da nação. Veja o Japão pós guerra, durante décadas o investimento pesado foi em educação, e como resultado chegou ao desenvolvimento tecnologico atual.
Não é sensato generalizar o pensamento que o “progresso tecnológico não garante melhores condições de vida”. De fato há a degradação ambiental e outros agravantes que acompanham o desenvolvimento da tecnologia (que ela também se encarrega de mitigar), mas há centenas de exemplos onde houve melhores condições de vida sim devido à ciência e tecnologia, entre eles: vacinas, terapias e remédios exterminando doenças ao redor do mundo, tratamento e captação da água para consumo humano, mecanização da agricultura que aumentou exponencialmente a produção de alimentos, climatização e iluminação de ambientes, aprimoramento do transporte, da comunicação e até mesmo do lazer, com a gravação musical e de filmes. Todos exemplos reconhecidos de melhoria da qualidade de vida proporcionados pela tecnologia. Citar apenas exemplos negativos de uso da ciência e tecnologia é apresentar uma visão pequena demais dos processos humanos e sociais.
Não use essa premissa de modo a invalidar o Programa Ciência Sem Fronteiras, porque também é possível esperar ótimos resultados com base no histórico do desenvolvimento tecnológico humano, seguindo uma lógica semelhante. É isso que espero da minha experiência aqui na Alemanha.
Genial, só digo isso!! Obrigada por colocar em palavras tantas coisas que eu já senti.
A wikipédia responde em uma linha:
“A ciência é o esforço para descobrir e aumentar o conhecimento humano de como o Universo funciona.”
Traduzindooo: Pq humanas não é ciencia kkkkk
Bjos
Como a sociedade funciona ou a economia não fazem parte deste mesmo universo? Ou a atividade humana está localizada em um universo a parte daquele estudada pelas ciências naturais?
Seu argumento é raso lógica e racionalmente.
Um ”pouco” desbalanceado o tópico LÁ VEM A HISTÓRIA… Culpar os avanços científicos pela fabricação de armas massivamente mortíferas, e não ressaltar os grandes feitos que essa mesma ciência traz consigo chega a ser hipocrisia, essa mesma ciência é responsável pela queda na mortalidade da população mundial, pela extermínio de doenças outrora consideradas incuráveis, responsável também pelas vacinas que você toma para evitar uma morte prematura (sem elas, alguns de nós já estaríamos mortos agora). Avanços esses que permitem que você consiga se expressar através desse blog…
Também não concordo com a não inclusão das ciências humanas no plano principal do CsF, pra mim tem a mesma importância da outras áreas, mas querer elevar as ciências humanas em detrimento das outras áreas não é uma boa abordagem, não é justo.
Parece meio obvio que o que ser quer é o desenvolvimento economico e fortalecimento politico, isso não requer necessariamente uma sociedade com gente “especializada” em deselvolvimento humano.
O que se quer é ter um país que produza e venda tecnologia e ganhe dinheiro com isso e não precise gastar comprando de outros países. O Brasil é muito atrasado neste ponto. Economicamente e politicamente talvez isso seja um revés.
Parece que ultimamente, investimento em tecnologias ligadas às ciencias exatas e da terra, biomedicina, quimica, etc. tem mostrado maior potencial de retorno financeiro do que o investimento em estudos sobre “tecnologia social”.
Por alguns motivos parece mais promissor no contexto atual investir em 10 futuros engenheiros do que em 10 futuros historiadores. Vai saber* por que né?
Exatamente o que o texto expressa eu tento leva a cabo em minha vida como historiador. Afinal, o tecnicismo é uma lógica que não só exclui do CsF qualquer aspecto das áreas de Humanas, mas também do ensino regular (Fundamental e Médio). Por ironia acrescentam “Humanas e suas tecnologias” no ENEM: com ênfase em “tecnologias”. Nos corredores externos às humanidades, os burburinhos são que, afinal o pessoal da letras e história, em especial, não amarelam seus dedos nos laboratório e não “consertam carros” para os tornarem mais eficientes e, decorrente disso, não fazem ciência. Em suma, acrescentam que o observar o mundo e desdobrar um estudo não podem ser comparados à justificativa de um projeto que contenha uma aplicabilidade à utilidade prática do homem (leia-se tecnologia). Se não se faz cálculos ou se acaso não se manuseia um software complexo, não é ciência. Eu particularmente já não me importo com tais debates: a intelectualidade e o senso de percepção da vida nos dará o veredicto.
Acho que o colega não está invalidando o CsF. Nem mesmo afirmando que as ciências exatas partem do princípio destrutivo. Ele está falando de como sào apropriadas as ciências e a lógica do CsF na sociedade tecnocrata que vivemos alicerçada nos interesses mercantis, que prioriza um conhecimento específico em muitos momentos em detrimento de saberes universais tanto das ciências exatas, biológicas como humanas.
O governo não financia cursos de humanas como Filosofia, Sociologia e História pois o ensino lá fora entraria seriamente em conflito com o que é ensinado aqui pelo MEC (Ministério de Educação Comunista). No Brasil, por exemplo, o sujeito termina um curso de História achando que Cuba é um país próspero, e que seus problemas são causados pelo “embargo econômico”, que simplesmente nunca existiu. Coisas desse tipo são encontradas só no Brasil, país em que a ideologia da esquerda comunista domina as universidades a mais de 50 anos, a qual se utiliza de um revisionismo histórico criminoso, ocultando a verdade dos fatos históricos. Eu recentemente discuti com um garoto, do primeiro ano de um curso de história, e quando eu disse que o nacional-socialismo (nazismo) era um regime de esquerda, ele ficou extremamente indignado e ofendido. Ele achava que simplesmente devido ao fato de a Alemanha ter se oposto a URSS na segunda guerra faria o nazismo automaticamente um regime de direita. Ele simplesmente ignorou toda a ideologia por trás do nazismo, que tem em sua grande parte pontos em comum com um socialismo marxista. Estes são exemplos entre centenas do revisionismo que é feito. Resumindo, esta esquerdização ideológica (lavagem cerebral) é extremamente vantajosa para os partidos brasileiros, todos de esquerda. Nossas universidades criam esquerdistas à rodo, a maioria idiotas úteis como diria o próprio Lenin. Estão cegamente servindo para o projeto socialista latino-americano do Foro de São Paulo sem perceber. Enviar estes estudantes para o exterior, onde eles teriam contato com a realidade, é um perigo para a hegemonia da esquerda comunista.
Ótimo comentário.
Engraçado essa tese de que o programa não pode ser abranger as áreas humanas porque entra em conflito com o que é ensinado aqui. Provavelmente, essa pessoa nunca estudou história ou filosofia porque saberia que o que se é estudado nas areas humanas, são os homens e os seus conflitos. Por esse motivo, é essencial que alunos de Direito, Literatura, Filosofia e outros cursos tenham acesso à diferentes visões para que se possa entender o que dá certo, o que está certo e o que seria certo se aplicado aqui. D’outra forma, continuaremos assim, sem qualquer progresso social.
Entendo que as areas tecnologicas são importantes, mas isso não deve desmerecer as outras e ser tomada como a “única forma de desenvolver um país”. Isso é um pensamento errôneo e atrasado. A Arábia Saudita, por exemplo, ja tem um programa de bolsas como este por muitos anos, priorizando a formação de engenheiros. E pelo que me parece, eles ainda não são um país de primeiro mundo, pelo contrário, diferente te muitos outros países islâmicos na atualidade, eles continuam com leis e medidas conservadoras que travam o real desenvolvimento social do país.
Falou o uniesquina que não entrou em federal destilando groselha ressentida
Minha resposta é simples:
Estudos feitos nas áreas humanas são ótimos e tudo mais. Os artigos são bem escritos, articulados, racionados e geram milhares (repito: milhares) de páginas de conteúdo.
MAS
Infelizmente, isso não pode desenvolver tecnologicamente o país. Não pode fazer do Brasil um país referência em quase nada. Não melhora educação, não melhora saúde, etc.
Estudos humanos resultam em milhares de páginas, mas não em E = M.C^2
Abraço.
Só duas palavras pra esse mimimi dos ignorantes: Linguística Computacional. É da área de Letras, que é da Humanas. E este comentário só foi possível graças às Ciências Humanas, quem ensinam do básico (ler e escrever) ao sofisticado (pensar).
O seu texto não foi muito esclarecedor. Digo que ajudou a fomentar a rivalidade entre as engenharias e as ciências humanas, quando classificou as ciências exatas como tecnocratas e positivas, o que demonstra já uma visão preconceituosa . Tenho graduação na área de humanas e na área de engenharia , no qual preferi dedicar a engenharia….Claro que as ciências humanas tem a sua importância, mas o objetivo do CSF é de fomentar o desenvolvimento econômico e tecnológico, pronto….Alem disso, o pais tem um deficit de mão- de – obra na área de engenharia ……Ou seja , neste momento esta tendo um investimento maciço na área de engenharia e outras áreas das ciências exatas. Infelizmente, o autor para explicar a falta de investimento das ciências humanas…tentou rebaixar as ciências exatas…
Desculpem os desinformados, mas a História é ciência porque tem método e técnicas próprias…Ou a Física quântica não é ciência mais porque existem divergências teóricas? Só pra exemplificar o quão limitados estão sendo algumas pessoas no que diz respeito ao termo “ciência”. E não é essa a questão: as humanidades assim como as outras áreas são importantes para o desenvolvimento do país, nem mais, nem menos…afinal, como formar engenheiros, médicos e etc. se as pessoas não existirem pessoas para formar esses profissionais?
egoísmo de quem está na universidade não pensar nos futuros alunos, que só serão melhores se tivermos professores melhores, mais capacitados e melhores remunerados…tiro no pé investir somente ‘nessa’ geração de agora e não pensar a longo prazo…
no mais, uma brincadeirinha provocativa para refletirmos: o governo tem medo de pessoas de humanas, que, em geral, eles já são educacionalmente críticos demais e podem dar problemas, porque pensam muito, querem mudar as coisas, pensam sempre de uma maneira mais ampla e menos fechada…pensam além…
Acho no mínimo contraditório que o objetivo do programa seja fomentar o crescimento e o desenvolvimento econômico, mas que os acadêmicos de economia não tenham uma oportunidade de usufruir dos recursos e das oportunidades do programa CsF. Se a economia está como está no Brasil pode ter certeza que a falta de bons profissionais economistas é uma das causas! Os cursos de economia são defasados e geralmente voltados para áreas acadêmicas de pouco interesse para a população. Uma oportunidade de conhecer um curso de Ciências Econômicas em outro país pode ser o estímulo que precisamos para a melhoria dessa área e a atualização dos cursos brasileiros que formam economistas.
Concordo totalmente com seu comentário. Como um programa que busca o crescimento econômico não oferece auxilio aos alunos das Ciências Econômicas? Sou aluno desta área em uma das maiores universidades brasileiras e sinto exatamente que meu curso é voltado à área acadêmica. Temos todos os anos economistas que entendem muito sobre matemática se formando. E como você disse a parte voltada à população fica em segundo plano. Faço Economia, pois, acredito ser uma das áreas que podem impulsionar o desenvolvimento e crescimento de um país, mas me deixa triste ver que o governo não pensa dessa forma.
Para os “cientistas”, uma breve justificativa da minha fala: vocês estudaram no ensino fundamental ou médio a Revolução Industrial, e se vocês se lembram, ela afetou também o contexto social, o contexto HUMANO. Logo, a tecnologia anda lado a lado com o contexto social, sendo que, nem todas as vezes seus resultados são positivos. Acredito que ambas produzem conhecimento, cada uma à sua maneira. Não é necessário desvalorizar uma pra que outra tenha valor, elas andam lado a lado. Ambas requerem investimento e oportunidade.
Muito bom o texto. e todos os Reply a meu ver são contundentes. Parabéns a todos e principalmente ao Thiago pela publicação!
Matheus Garcia
Sou formado em História e discordo da inclusão das Humanas no CsF.
Obviamente estar em outro país amplia seus horizontes e possibilidades de estudo. Mas isso não é determinante em Ciências Humanas, especialmente considerando que a nível de graduação NADA de relevante é produzido. Portanto, a ida de estudantes de história, ciências sociais, filosofia, etc. em nada contempla os objetivos do programa.
Temos amplo acesso às informações oriundas de outros países, pois dependemos única e exclusivamente da produção escrita, isto é, livros e artigos. E este tipo de produção nunca teve fronteiras, e é por ela que devemos lutar. O CsF poderia ter uma vertente própria para as áreas de humanas, não fomentando o estudo no exterior, mas trazendo o conhecimento gringo pra cá, especialmente financiando a compra de bibliografia não produzida em português e publicada no Brasil.
Ao exigir a participação paritária no programa são ciências humanas que compram essa ideia “positivista e tecnicista”. As humanas são uma área de conhecimento completamente diferente das contempladas pelo programa, e por isso precisa de iniciativas diferenciadas para seu estímulo.
Olá, pessoal!
Fiquei muito contente com as discussões que surgiram a partir do texto. De fato, minha proposta foi trazer ao debate o papel das ciências humanas na formação e desenvolvimento da sociedade e como esse ponto é apagado pelo CsF. Gostaria de aproveitar este espaço para esclarecer alguns pontos:
1- Eu não disse e não acredito que as ciências humanas sejam melhores que as exatas, biológicas, naturais… penso que elas sejam complementares. Quero ratificar meu compromisso em gerar diálogos, não barreiras.
2- O problema em questão não são as ciências ou a tecnologia nem se elas são ou não positivistas e tecnicistas. O problema é o uso positivista e tecnicista que o CsF faz das ciências, sobretudo exatas e tecnológicas.
3- Se optei por mostrar o lado perverso das ciências e tecnologias, muitas vezes esquecido, foi porque o lado benéfico é muito claro. Contudo, os benefícios bem visíveis não são um processo natural. A energia nuclear capaz de abastecer cidades inteiras com energia elétrica é a mesma capaz de dizimar povos através de materiais bélicos. Portanto, a questão é que as ciências, em si, não são boas nem más: é o uso social que as transforma.
Imagino que seja consenso entre nós que a vida moderna tem muitas de suas facilidades ancoradas nas investigações científicas biológicas e naturais, como as vacinas e curas de doenças; exatas e tecnológicas, por todo o processo técnico gerado, que tem potencial para transformar nossa vida; e humanas, com suas propostas para políticas públicas, formas de governo, sistemas jurídicos e econômicos, meios de compreensão e interpretação de códigos sociais…
Apesar de muitas de suas contradições estratégicas, acredito que o CsF seja uma medida muito rica na vida dos estudantes e desejo que todos os beneficiados aproveitem ao máximo a oportunidade. Não, não se trata de recalque das humanidades. Mas é preciso destacar que o processo de desenvolvimento científico deve levar em conta seus impactos sociais, coisa que muitos de nós esquecemos, seja em nossas escrivaninhas ou laboratórios, e que o CsF omite deliberadamente. Produção de riqueza não significa diretamente distribuição de renda e melhoria da qualidade de vida (afinal, já somos a quinta maior economia do mundo!). Se o projeto de nação proposto passa pela independência tecnológica, é preciso pensar meios para que ela seja real e contemple toda a população. Do contrário, o programa tem grandes chances de ser uma incubadora de elites e desigualdades. E não é isso que espero e, menos ainda, o que acredito.
Cabe lembrar que nossas áreas de estudo têm suas especificidades e, do mesmo jeito que as humanidades não se propõem a gerar tecnologias, indústrias, vacinas…, todos extremamente importantes, o principal objetivo das outras ciências não é pensar a sociedade ou contemplá-la através suas ações.
Espero que possamos continuar os debates! Abraços!
Não sou contra o CsF,acho muito válido o programa,e ainda bem que os estudantes tem essa oportunidade,mas penso sim,que o governo deveria estudar a possibilidade de incluir alguns cursos da área de Humanas e Sociais no programa,até porque penso eu que toda formação é necessária para o desenvolvimento do país.
As áreas humanas não participam por um simples motivo: Não é ciência. Pronto!
Ciência é tudo aquilo que estuda a natureza e seu funcionamento a fim de manipula-la para algum fim. As ciências humanas não o fazem, portanto, não são ciência.
Excelente (e corajoso) ponto de vista Thiago. Essa percepção errônea está presente em tudo no cotidiano. Fiquei pensando quando você disse sobre os povos, que “quanto mais próximo daquele europeu, mais desenvolvidos eles seriam”. Escuto esse tipo de coisa de quem diz que “os índios americanos eram muito menos evoluídos que os egípcios”. Lembrando que, em termos biológicos, o mais evoluído é melhor adaptado ao seu ambiente. E isso nossos índios sempre foram. Não construíram obras para captação de água! Não, aqui nunca faltou chuva. Não desenvolveram técnicas agrícolas sofisticadas. Não, aqui nunca precisaram plantar. Mas, quando se considera o desenvolvimento cultural, ninguém sabe como era por aqui, simplesmente porque as tribos foram aniquiladas e muito pouco restou. Enfim depois dessa viajada), muito necessária sua discussão sobre o assunto. Ah, só lembrando, eu faço parte dos “campos estratégicos”…não vejo lógica nisso!!
Acho engracado como no Brasil colocam Ciencia como qualquer campo de estudo. Esse campo das “Ciencias Humanas” e chamado de Arts nas universidades norte-americanas, sendo o termo ciencia (science) usado apenas para as ciencias da natureza classicas e as engenharias (applied sciences).
Esqueceu-se da famosa “Social Sciences” que, surpresa, não é ciência exata e nunca será. Mas é ciência. Pesquise um pouco sobre o que signfica “fazer ciência…”.
Prezados,
Estou surpreso com alguns dos comentários que li aqui. Alguns simplesmente refutam os argumentos do texto, sem ao menos considerá-los de uma perspectiva diferente.
Auto na área de Design de Interação e digo que não há sentido nas ciências exatas, biológicas e de saúde sem o desenvolvimento das humanas. E, sim, há método nas ciências humanas, como já provado no seu surgimento histórico.
Discordo da “demonização” das tecnologias e dos avanços nas ciências, pois, de fato, foram estes que nos trouxeram até aqui. E se ainda temos problema é, exatamente, por não ter o mesmo nível de desenvolvimento humano social.
Penso, sim, que as ciências humanas devem fazer parte do CsF, inclusive por reconhecer os avanços de países como França, Inglaterra e os próprios Estados Unidos da América, em teorias práticas ligadas ao desenvolvimento do pensamento humano.
Para quem ainda vê dicotomia, sugiro a leitura da ficção romanceada “A Revolta de Atlas”, de Ayn Rand (http://www.skoob.com.br/estante/livro/17212687), que consegue demonstrar o que acontece quando o desenvolvimento tecnológico (no sentido mais amplo possível) não é acompanhado da evolução do pensamento humano, especialmente na dimensão política, objeto de estudo das ciências humanas (que tem método e indicadores, qualitativos e quantitativos).
Talvez para o autor do texto, e alguns dos comentaristas, fica a reflexão de que não podemos tomar como verdade um argumento unilateral, pois toda a “história” tem três “lados”…
Com apreço de quem gosta de dialogar,
Rafael Giuliano
Oi, Rafael! Muito obrigado pelo comentário e pela indicação de leitura!
Com certeza, são muitos os lados nessa história, mas destaquei a “demonização” por ser o menos evidente, diante dos grandes processos científicos e tecnológicos, de todas as áreas, fundamentais à vida de hoje!
Abraço!
Sensacionalismo e conflito de interesse. Apenas isso.
Thiago parabéns pelo texto, parabéns pela “polêmica” gerada, acho que no fim das contas engrandece de alguma forma todas as pessoas que estão lendo, refletindo e respondendo.
Acredito que o CSF foi mais pragmático do que maquiavélico, creio que a ideia era de colocar estudantes brasileiros em contato com tecnologias de ponta afim de serem implementadas no nosso país, e não creio que a ideia tenha sido alijar as humanas desse processo temendo a formação de uma massa crítica.
Temos Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Florestan Fernades, Milton Santos e tantos outros pensadores brasileiros para serem digeridos, será mesmo a hora das humanas saírem, ou melhor é preciso buscar fora do país as respostas para nossa sociedade?
Oi, Marlon!
Eu também acho que a questão do CsF foi mais pragmática que maquiavélica. Ninguém precisa sair do país para pensar e, de fato, temos bons pensadores aqui. Contudo, acredito que a proposta de ampliação de horizontes intelectuais e de experiências seja fundamental para o bom debate nas humanidades. Nelas, o processo não seria aprender lá e trazer pra cá, mas algo mais próximo de olhar de fora, ver por outro ângulo, perceber que as coisas (ações, crenças, instituições, cotidianos) podem ser diferentes e, ainda assim, darem certo. Seria produzir novas ideias juntando nossos problemas, nossas forças e outros pontos de vista, outras experiências, outras abordagens. Acredito que haveria um bom debate e dele resultariam boas práticas.
Resumo da ópera (ao texto e a todos os comentários): “Abra a sua mente… pense como eu”.
Caro Thiago!
Seu artigo já gerou uma con-ciencia, a despeito das ciencias. Falta acento, nas palavras, assim como assento nos espaços de relações entre o socio-politico e economico-ambiental. As ciências são definidas, construídas, conceituadas, reconceituadas e fundamentalmente avaliadas, pelo ser humano. E pergunto, isso não é o principio das ciências todas, e para mim qq uma que foi instrumentalizada e, ou contemplada, pelo ser humano. No tempo mundial do deus Mercado, o sentido de sustentabilidade é o de que idade eu percebo o quanto participo nas discussões e realizações naqueles espaços de relações e faço ciência de meu comportamento e reforço princípios de manutenção de vida material e espiritual no planeta. Parabéns, a todos que participaram nestes e outros espaços.
Penso que o CsF ao abrir espaço para ciências humanas nos países que elas tem pouco valor seria um erro pois estar´[íamos copiando um modelo de civilização que faz da exploração dos colonizados seu motor de desenvolvimento.
A discussão foi para o lado errado da questão, não se trata dessa ou aquela ciência ser melhor ou mais útil, e sim de ter uma visão sistemática do desenvolvimento nacional, esse nível de discussão em que cada um apresenta apenas argumentos para defender sua área de interesse me preocupa, penso que uma leitura, ou até mesmo um vídeo no youtube em que Edgar Morin explique um pouco sobre a teoria da complexidade traria mais de luz a discussão. Parabéns ao autor por proporcionar a discussão..
Também acho, Ivan! Clubismos não levam a nada: Humanas é melhor, exatas é melhor… O conhecimento é coletivo e, de fato, sua complexidade supera os limites disciplinares. Talvez esse seja o ponto que o CsF precise abordar: a transdisciplinaridade da ciência e o contributo de todas as áreas, incluindo as humanas (sejam elas chamadas de ciências humanas, huminidades, artes… o nome não é determinante). O produto social do conhecimento tem muito a ganhar com a integração.
Poxa, mas um campo de saber tem de excluir o outro? essa exclusão é o verdadeiro mal do mundo científico. De um lado um pessoal que se acham deuses na terra porque conseguem construir conceitos, entender subjetividades e moldar mentalidades, de outro, uma comunidade científica arrogante que acha que ciência se limita a desenvolver softwares, construir pontes e inventar vacinas. Pois bem, de que adianta ser o bam bam bam da metafísica se não se pode muda o mundo só com palavras? Porque até Marx sabia da importância da tecnologia. E de que adianta ensinar crianças a manipular robótica, a serem mestres em engenharia e em física, se eles não terão senso crítico, se não sabem da responsabilidade do bom uso da tecnologia? não serão cientistas, serão peões em um tabuleiro de xadrez porque matemática por si só não te ensina a ter crítico e a deixar de ser ingênuo .No fim, se só se olha um dos lados da ciência e ignora o outro o que se cria não são seres humanos, são escravos em uma linha de montagem sem capacidade de iniciativa, visando unicamente o próprio umbigo. Podem se dar bem na vida, mas o ideal de progresso, tão alardeado e defendido por um lado e outro, jamais será alcançado.
Interessante observar que quem está dicotomizando as ciências humanas das exatas são os leitores e não o autor. Chartier explica.rsrs
Obrigado pela observação, Marcus! Já reli o texto umas trocentas vezes: “gente, mas eu não falei isso!”
“Eu não tô incitando ódio entre humanas e exatas, será que tô sem ter notado?”
A questão é que o sentido de um texto depende mais do receptor que do emissor! Obrigado por apontar esse aspecto!
Ótimo debate que você gerou, Thiago, e admirável coragem hehe!
Gostei da complementação que você fez no comentário e especialmente a frase “Portanto, a questão é que as ciências, em si, não são boas nem más: é o uso social que as transforma.” que pode ser aplicada separadamente para as exatas, biológicas, humanas, e ao mesmo tempo as une numa mesma problemática.
Como toda proposta recém implementada, o CsF tem muitos problemas a serem resolvidos e essa priorização de algumas áreas em detrimento de outras é um deles. Assim, cabe a nós, atingidos e beneficiados pelo programa, ajudar a identificar esses pontos e demandar melhoras. Que é justamente o que seu texto mostra. Obrigada por compartilhar seu ponto de vista, eu estava um tanto distante desse debate!
Um dos problemas para esta separação ocorre já dentro da escola de ensino fundamental. Não se praticam a ciência e as humanidades na escola de forma integrada e que possa despertar nos alunos suas vocações humanísticas ou científicas. A saída seria uma reformulação no conceito de competência. As nações competentes em tecnologias dominam o mercado pela força ou pela economia (nas mais das vezes pelas duas). Os países dependentes de tecnologias são também dependentes de ciências humanas e de outros setores. As grandes massas populacionais são levadas ao consumo de tecnologias estrangeiras e não se educam para o elementar dever de casa, o conhecimento da cidadania. Somos bárbaros assistindo tvs com tecnologia digital, com engenhocas que mal sabemos usar, mas não nos preocupamos com o futuro da humanidade, porque, antes não conhecemos o nosso passado, não sabemos a nossa identidade e somos presa fácil para qualquer experimento científico a troco de migalhas.
Mas não precisa vazar do país pra ajudar os brasileiros a desenvolver senso crítico.
Deixemos os recursos mesmo para a Ciência Aplicada ^^
A possibilidade de conceder bolsas aos profissionais das áreas de Exatas e Biológicas não deveria excluir os profissionais da Humanas. Da mesma forma que há carência de mão de obra que incrementem a infraestrutura no ramo de transportes e energia, há também a necessidade de melhores profissionais que atuem melhor com políticas públicas e sociais, profissionais esses que emanam dos Cursos de Ciências Sociais, Ciências Políticas, Economia, Relações Internacionais, Geografia, História e inclusive o Direito (Direito Internacional e Direitos Humanos). Não é possível que a situação política do Brasil seja tão excepcional e incomparável, que não possa buscar em outras culturas, desde que contextualizadas, soluções para inúmeros dilemas que assolam a sociedade, alguns desses dilemas notoriamente já superados por outros países que se encontravam em condições similares. Diante disso, entendo importantíssima a extensão “CsF” à área das Humanas, com o intuito de ampliar o campo de pesquisa e desenvolvimento intelectual daqueles que atuam diretamente com as demandas sociais.
Não sou a favor do discurso humanista que diz que a ciência e a técnica são neutras, que o homem a conduz conforme pretende, ou para o bem ou para o mal. Este discurso para mim já está contaminado pela compreensão tecnicizada. O discurso científico como fundador da verdade já foi superado epistemologicamente, porém não foi substituído por outro, pois não existe nenhum discurso que seja de fato fundador da verdade. Mas no meu interpretar, o desejo de fundar a verdade ainda consome a ciência pela sua própria natureza, e duvido muito que o cientista de hoje em seu laboratório não pense que está desvendando a verdade sobre seu objeto tal como fazia os primeiros cientistas. O cientista precisa dessa ilusão, sem essa ilusão não teríamos Newton nem Einstein.
Só pra lembrar aos que dizem que “humanas não é ciência”: tecnologia não é ciência.
Complementando: tecnologia apenas se serve da ciência. Ciência é tudo que pergunta “o que é algo?”, enquanto a tecnologia pergunta “como fazer algo?”. Lembro também que, se hoje a tecnologia dá as cartas, no passado, o saber tecnológico era visto como menor, pois era apenas da ordem prática. Isso explica o preconceito que hoje se tem contra cursos técnicos e contra o fazer artesanal, que, segundo as tradições antigas, não se dedicavam às questões sublimes, mas à busca da sobrevivência. Acho interessante conhecer um pouco de história do pensamento antes de se sair ridicularizando as humanidades e esbravejar conceitos jurássicos de ciência.
Eu curso história, e quando soube logo do ciência sem fronteiras, fui pesquisar sobre e como poderia fazer. Então, me vem o baque de não ter história. Mas, percebo que não é só em programas assim, que as ciências humanas são discriminadas, até dentro da universidade onde estudo, sofremos com falta de recursos. Extremamente lamentável!
Excelente texto Thiago.
Sabe, vendo alguns comentários pude perceber o quanto o quesito interpretação é falho em algumas pessoas, leem tópicos e já partem para disparar suas “verdades”.
Eu lamento que os curso de ciências humanas esteja fora do programa ciências sem fronteiras, quem perde é o Brasil.
Acho que seria interessante se muitos pudessem desgarrar da ideia de que os cursos de exatas sejam o futuro de nosso país. É inegável que se esse ritmo for mantido, no amanhã teremos milhões de engenheiros, e outros tantos profissionais das exatas lotando o mercado de trabalho. Mas não podemos nos esquecer que o não é um amanhã “robotizado” que esperamos, e sim, mais humano!
Não estou dispensando a importância dos profissionais de exatas ou colocando-os numa condição desumana, mas sim, salientando a importância de historiados, geógrafos, antropólogos, sociólogos, artistas plásticos, designers, escritores e outros milhares que banham nossos dias com uma criatividade singular proveniente de fontes de criatividade que parecem ser inesgotáveis. É literalmente infundamentado termos um país que valoriza apenas as ciências exatas, afinal, somos humanas por natureza.
Por um país que estimule o pensamento crítico, a tecnologia, priorize saúde e igualdade, e antes de tudo, priorize os seus cidadãos.
Esse é o lado bom da internet; gente que pensa discutindo assunto importante!
Quanto ao texto, muito bom! Concordo com o Rafael.
Fico muito feliz em saber que o debate segue! A questão continua pertinente. Abraços a todos.
Ciencia exata constrói prédios, Ciências humanas contrói a sociedade…
Se não fosse o iluminismo não teríamos revolução industrial, sem a filosofia grega não teríamos iluminismo. É muito raso achar que desenvolvimento tecnológico não depende de desenvolvimento humano. a própria filosofia tecnicista desse programa vem do positivismo brasileiro, alguém ouviu em algum lugar essa frase “O amor por principio a ordem por meio e o progresso por fim”, essa frase é de Auguste Conte, dito pai do positivismo que influenciou os militares que fundaram nossa republica.
Quando vejo esses pensamentos positivistas, me arrepio com o racionalismo dos nazistas que pregavam a inutilidade dos deficientes mentais, ou a propaganda soviética baseada na engenharia social de Marx.
Povo que não conhece sua historia tende a repetir os erros do passado.
Precisamos oxigenar nossa sociedade para buscar novos paradigmas, não se esqueçam que para alguém pensar em uma tecnologia para armazenamento de informação foi necessário em primeiro lugar ter algo de interessante para ser armazenado.
Quem disse que o consumismo é o melhor sistema econômico? Se encontrarmos uma outra motivação para nossas vidas criaríamos outras demandas tecnológicas. Não podemos esquecer que antes do sistema econômico baseado no consumismo, produto bom era aquele que durava muito tempo.
A tecnologia vai tentar atender as necessidades humanas e as necessidades humanas mudam de acordo com as ideias que são influenciadas por pensamentos que não vem de tecnocratas.
Se quisermos mudar algo, temos que investir em quem pensa e questiona a realidade e não somente em quem procura atender demandas.
Excluir as humanas diz muito da politica de nosso governo, mas infelizmente, poucos tem condições para perceber isso.
O erro todo não é o CsF ter ou não ter as Humanas e as Sociais Aplicadas, mas sim o programa em si está todo errado! Enquanto se joga dinheiro FORA e a fundo perdido mandando sem nenhuma contrapartida quase adolescentes passearem no exterior, a nossa pós-graduação, que é quem de fato produz Ciência e Tecnologia, tem que sobreviver em condições aviltantes. Com bolsas que, além de muito baixas para alguém pesquisar em paz, agora deram de atrasar, coisa que só acontecia nos tempos do tucanato em Brasília. Assim, a contestação é bem mais embaixo. O Brasil primeiro deveria olhar para os mestres, doutores e pós-doutores, e criar uma política séria de incentivo também à sua empregabilidade após o curso. Incentivar o CsF é um erro, seja para Exatas, Engenharias, Biológicas, Sociais Aplicadas ou Humanas. Querem Ciência e Tecnologia de ponta? Então que se estimule a pós graduação, a aproximação entre Universidades e empresas, a criação de patentes, os estágios no exterior e a contratação de pós-graduandos. Não há outro caminho!
Simples: as ciências humanas e sociais utilizam-se do método mas não são ciência, pelo menos menos não visão na mais atual, que “bebe” das postulações e visões de Popper. Não postula leis, nem é regida por experimentos replicáveis e hipóteses falseáveis. Apresentam relativismos interpretativos que nada condizem com a ciência. Não entendo essa vaidade de querer ser ciência a todo custo. Que bobagem!
Gente precisamos de estímulo financeiro dentro do nosso pais,temos exemplo de pessoas com baixo poder aquisitivo que não tem acesso a vaga gratuita e que estão indo estudar fora do Brasil por encontrar facilidades economica e burocratica e reconhecidamente temos um grande cidadão Augusto Cury e muitos outros.Uns vão por buscar mais e maiores oportunidades e por vários outros motivos pessoais culturais,socio-econômicos etc.
Parabéns por iniciar o debate a troca de experiencia é muito válida.
Lucas engraçado que na Universidade da Pennsylvania (USA) se usa Social Science para Ciências Sociais da Pós-Grad que não se classifica, segundo você, como “natureza clássica” ou “engenharia”.
Como disseram alguns posts iniciais, o programa é bem contraditório começando com sua proposta em desenvolver a economia do país a partir da inovação em tecnologia. Inovação para ser aplicada aonde? Nas lavouras de soja? Obrigada, pois neste campo já somos líderes em pesquisas. É estranho que todos os países desenvolvidos só o são porque possuem um parque industrial muito bem estruturado e o Brasil, a cada mês que passa, só diminui a produção do que existe de indústria, bem como os investimentos. E também é muito triste observar o discurso dos colegas pseudocientistas de ambos os lados se debaterem para defender o que é ciência. Devemos lembrar que o questionamento do ser humano diante da natureza subjetiva e objetiva começou com os gregos e sua filosofia e os países que lideram a economia mundial possuem TODAS AS CIÊNCIAS muito bem desenvolvidas, uma vez que a ciência é o que desenvolve o país. Se os estudos sobre planejamento urbano e desenvolvimento regional, por exemplo, fossem aplicados em nosso país pelo nosso governo, então não seríamos eternos dependentes dos manufaturados da China!!! Então, tem sim que investir em todas as linhas científicas, mas que exista um campo de realização no Brasil. Valeria a pena um relatório do programa sobre os estudantes egressos para saber se a proposta está sendo, em sua finalidade, efetivada.
Céus, já não basta o pessoal de humanas já sugar boa parte das bolsas destinadas a estudos no Brasil, agora ainda querem dinheiro público para morar fora e ficar debatendo pós-modernismo e estruturalismo nas boas faculdades da Europa. Menos, vai. Arrumem um emprego e parem de ser parasitas de dinheiro público. Em países desenvolvidos, ciências humanas estão mais para hobbie do que para um setor importante da sociedade ou da economia.
AS CIÊNCIAS HUMANAS NOS AJUDAM A PENSAR E PRINCIPALMENTE A FILOSOFIA. O GOVERNO NÃO QUER GENTE QUE PENSE! QUER GENTE QUE DEPENDA APENAS DO TRABALHO, QUE NÃO VEJAM CONSEQUENCIAS, QUE TRABALHEM, DEEM FRUTOS, QUE SEJAM ROBOTIZADOS E ALIENADOS!
Na época que filosofia era quase a única ciência, os humanos eram escravizados e queimados vivo!
Por séculos às “Humanas” foram as “únicas” ciências, na época em que pessoas eram cozidas vivas em bois de bronze!
As ciências humanas que deveriam ter o olhar mais completa são as que mais se fecham em si com a discussão bitolada em Freire, Marx, etc., e se alguém se atrever a acrescentar algo novo, mesmo que em nada afete que já foi dito pelos autores de referência, aí o mundo desaba. Os piores professores que tive se orgulhavam de ter feito licenciatura. Algo tinha de estar errado não é? Eu sei o que. Tentei fazer licenciatura duas vezes e não suportei todas as disciplinas só falarem de Marx e sexo. Não ensinavam uma cadeira de oratória (saiam professores sem saber se expressar). Não ensinavam como sobreviver DE FATO a situações hostis com alunos violentos, desrespeitosos, etc. (coisas que não faltam nas escolas e faculdades). Ensinavam a fazer teatro pra tudo, disciplina de roda, e a fazer recortes de figurinhas para alunos do ensino SUPERIOR subestimando a inteligência até de quem tem Síndrome de Down.
Vocês só querem ficar eternamente nas rodinhas de conversa e eternas discussões que não levam a nada. Não tem nada preto no branco. Deveriam combater alguns exageros mas criaram uma lista maior de outros, muitos fora da realidade. Puro anacronismo sem ajuste de nível algum. Poderiam se esforçar pra pesquisar e expor essas políticas sujas e comportamento desonesto comum aos meios de pesquisa e ensino, e tentar fazer algum pra mudar essa cultura, mas vocês passam a maior parte do tempo tentando identificar se o autor de um comentário ou texto é petralha ou reacionário. Eu to quase com síndrome do pânico, sem vontade ver internet (só futilidade e notícia besta e de pseudociência, política tendenciosa, etc.), sem vontade de estudar ou de falar com as pessoas, pois nem conversar dá mais.
Pra ficar discutindo eternamente sem resolver nada, poderia fazer como o Japão tentou por uns anos:
http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/governo-japones-pede-cancelamento-de-cursos-de-humanas-em-universidades-17506865
Querem fazer turismo sem fronteira e experimentar 50 variedades de Canabis por dia? O país precisando de cérebros e vocês destruindo neurônios e perdendo tempo com paixões políticas anacrônicas importadas?
Gostam de discutir e supostamente resolver alguma coisa para as outras áreas? Resolvam essa história aqui abaixo (uma dentre milhares iguais no Brasil):
Universidade é uma farsa! Ilusão e sabemos disso! Persiste-se em pesquisa e na busca de um título de doutorado ou vaga de professor universitário por puro viés de confirmação (querer acreditar acima de qualquer coisa). Alguns suportam fazer pesquisa para rechear o currículo para concursos e outros suportam dar aulas esperando um dia entrar numa universidade federal para fazer pesquisa (baita ilusão), já que dar aulas do nível médio pra baixo é pedir pra morrer (infelizmente as crianças chegam a universidade com quase a mesma cabeça e comportamento). Fiz graduação, mestrado e doutorado numa universidade federal, um ciclo de 10 anos comendo pão, macarrão, sardinha e água em um lugar barato pra ser perto da universidade. Sofri, vivi, assisti, e fiquei sabendo de todo tipo de trapaça, mesquinharia, molecagem, fofoquinhas, difamações, perseguição pra afetar meus orientadores, que não podiam ser afetados diretamente e tiveram seus orientandos atacados, ao melhor estilo “quebrem as pernas deles”.
Tive trabalhos roubados (artigos e patentes), mesmo ajudando a tantas pessoas pelo bem do princípio da multiplicação do conhecimento e colaboracionismo. Fiz parcerias com pessoas de outras instituições federais e tudo isso é um lixo. O meio acadêmico é uma mistura de Game of Thrones com Senado Federal. Só não rola dinheiro fácil. Muita sujeira, esquemas e conspirações a troco de nada (até parece que vão ganhar o Nobel). Não adianta trabalhar sério, vão te definir pela aparência, dinheiro, poder que acham que você tem (se tiver ao lado de um pesquisador de nome), e enquanto tiver utilidade (que te fará ser muito “querido”).
O meio acadêmico universitário não é um modelo para a sociedade. Não é um ambiente mais maduro, consciente, honesto, evoluído ou respeitador. É um reflexo da sociedade. Muitos dirão “mas em todo lugar é assim”. Questão então de avaliar o custo benefício, pois, de gari ninguém quer trabalhar (embora como gari você não gere ilusões, tem essa vantagem). Não se pode esperar nada de salvador para o país vindo desses “cérebros” que estão mais para intestino grosso da nação.
Nesse ambiente tem mais respeito o professor que pega as alunas, o que exige ser chamado de doutor até pra tomar um café, o que acumula cargos pra praticar assédio moral, o que fala palavrão, o que faz festinhas e participa de grupos de whatsapp com os alunos sem finalidade científica ou acadêmica, o que rouba ideias e pesquisas até de alunos PIVIC, o que enrola a aula com recortes de figurinhas e colagem em nome da “didática” imbecilizante aprendida na licenciatura (onde por sinal boa parte do tempo se ensina a reduzir o conteúdo a 10% do total ou se faz propaganda comunista). Licenciatura que por sinal não tem cadeiras de oratória, não prepara o professor para situações hostis em sala de aula, e vive bitolado em Paulo Freire como se o modelo dele ou ele próprio fosse um deus com resposta pra tudo. Hoje tenho um currículo até bom (todos dizem e tenho criticismo pra saber) para concorrer a uma vaga numa federal, mas desisti. O resultado nunca é proporcional ao esforço muito por culpa dessas trapaças a que se é vítima quando não se aceitar entrar em esquema.
E nem falei das seleções de mestrado onde o valor da prova cai para 50% da nota (os outros 50% são de um currículo biônico montado pelos orientadores do aluno que já está na federal), tornando impossível um aluno que venha das particulares fazer mestrado numa federal.
De nada vale ganhar o mundo e perder sua alma. A cada concurso que vejo está mais concorrido. Se em 2006 eram 5 candidatos por vaga eu já cheguei a ver 80 (claro que a maior parte desiste da prova no dia). Concursos arranjados (até os professores revelam aos alunos de confiança) numa frequência que deveria ser denunciado ao Fantástico (já que tem mais visibilidade nacional) só para usarem suas câmeras escondidas e deixar os senadores brasileiros menos desamparados nesse mar de lama. Secretários que roubam bolsas, ou exigem o primeiro mês da bolsa de cada aluno do PIBIC ao doutorado e deixam alunos de mãos atadas sem poder denunciar por medo de ficar sem renda ou para evitar que um conhecido ou parente perca a bolsa. Alunos de iniciação científica imbecis que compram brigas de seus orientadores e deixam de falar com os colegas que são orientados por outros professores. E pior, acham que se não agirem de acordo com essas práticas estão sendo otários, e a coisa assim se eterniza, nascendo mais um criminoso que foi incubado para o próximo concurso montado. E aí vem mais um(a) metido(a) a esperto(a) com seus recortes de figurinhas, palavrões, paqueras, faltas, trapaças, propaganda do currículo e dos títulos.
Para sobreviver você sempre precisará de um favor, que mais tarde será cobrado por um dos muitos secretários de satã que vive nas universidades federais e te farão de otário para o resto da sua vida a acadêmica, que já dá demonstrações do inferno que pode ser ainda no estágio probatório SE você conseguir passar em um concurso. E você se verá com mais idade dizendo o que já ouvi de muitos professores: “eu devia ter seguido outra carreira”, “eu devia ter feito direito”, “eu devia ter investido na bolsa”, “eu devia ter aberto um comércio”, “eu devia ter feito medicina”.
O bem eu não sei se existe, mas o mal eu tenho certeza absoluta e não é teoria científica. Desistir dessa carreira amaldiçoada não é morrer na praia, é simplesmente não aceitar aportar em qualquer praia minada e com tubarões. Desejo ardentemente voltar no tempo e fazer outra coisa. Como eu desejo que Deus exista pra me fazer esse milagre!
Caralho, n sou do meio mas nunca vi tanta realidade
Concordo plenamente! É triste nossa realidade brasileira, onde o governo não quer investir nas Ciências Humanas. Acho que manter indivíduos abitolados sendo massa de manobra é bem mais fácil, ao invés de investir em cidadãos pensantes que estejam inteirados de seus direitos e deveres que lutam por uma sociedade mais justa e que entenda de política verazmente.
Aqui onde moro (interior do CE) já começamos a trabalhar formações de professores na área desde o ano passado. Mesmo não tendo investimento do governo do estado com programas, (como por exemplo para Português e Matemática) a secretaria da Educação deu a ideia e uma forcinha, daí passamos a trabalhar formações acadêmicas para as Humanas todas juntas (Geografia, História) e incluindo o ensino religioso também. A proposta aqui em meu município é dar oportunidades “iguais” a todas as disciplinas escolares, com ideias de aulas mais dinâmica, confecção de material didático e principalmente estimula os professores a melhorarem sua didática em sala… já que segundo cobram: “Todas as disciplinas tem o mesmo grau de importância.” Para mim confesso que seria uma satisfação muito grande que isso fosse expandido aos demais municípios circunvizinhos “a priori” e assim espalhando a todo o território.