Crônica da vida no laboratório

Nessa vida de laboratório poucas questões me intrigam tanto quanto a importância da cooperação entre os usuários. Nos últimos anos tenho percebido um aumento do número de usuários dos laboratórios, o qual nem sempre é acompanhado de melhorias na estrutura e gestão. Ora, se muitas pessoas com objetivos semelhantes, mas distintos entre si pessoalmente e profissionalmente usam um mesmo ambiente é necessária uma gestão de espaços e recursos (físicos e financeiros). Obrigatoriamente.

Quem, então, é responsável por essa gestão?

O(s) professor(es) responsáveis pelo grupo de pesquisa? O técnico quando há um? O pós-doutorando ou o pós-graduando?

Fico pensando (como futura docente-pesquisadora) que é impraticável incluir na minha lista de responsabilidades, a fiscalização de um laboratório…  Será que estou errada em pensar assim?! Isso quer dizer, será que eu tenho que incluir nas minhas atividades fiscalizar bancadas, ver se ninguém está descartando os resíduos na pia ou checar se o destilador precisa ser limpo?

Se eu tiver um técnico no laboratório, é melhor que ele fique limpando e organizando o rastro dos usuários do laboratório ou me ajudando a pensar novas técnicas e reagentes alternativos para pesquisa? Eu quero um lavador de vidrarias ou um profissional engajado na produção científica?

Compete a mim como pós-graduando ou pós-doutorando ficar preocupada com alguém que guarda amostras sem identificação? Ou se as exscicatas ficaram tortas? Ou se esqueceram de colocar a data de coleta de uma espécie?

Milhares de perguntas surgem na minha cabeça e a resposta para todas elas é não… Não compete a nenhuma dessas figuras a administração do laboratório. Não sozinhas. Não existe nenhuma formação para isso. Com a velocidade que temos que trabalhar, o número cada vez maior de amostras (para atender a um padrão estatisticamente publicável) e mais pessoas trabalhando num espaço, cada vez menor (com a chegada do último aparelho mais Hi-Tec) é impraticável.

A solução ácida para esse problema está na co-gestão, ou seja, uma administração conjunta. Na minha opinião, claro. Significa que cabe a mim, deixar a bancada limpa e organizada para o próximo, colocar uma etiqueta decente e informativa no reagente preparado, não deixar vidraria suja/no banho ácido/secando por uma semana. Cabe a mim marcar na lista de reagentes o uso do mesmo e comunicar a falta, mas também observar bem as quantidades destes que serão usadas para não gerar desperdício.  Eu preciso deixar o equipamento, se possível, melhor do que eu encontrei. Preciso pensar no grupo, no próximo!!! Aprendi isso com o tempo e a experiência em grupos de pesquisas variados.

Tantas pequenas coisas que podem deixar a convivência muito mais harmoniosa, resultando até em resultados melhores da pesquisa.

Em contra partida, o que eu aprendi no grupo de pesquisa mais recente, é que os outros profissionais responsáveis pelo laboratório precisam dialogar bem e fazer sua parte de observação e acompanhamento. Estimular reuniões entre o grupo para convivência, conhecimento mútuo, para proposições de resoluções conjuntas para possíveis conflitos e ações de organização de trabalho em grupo. Isso tem funcionado muito bem para resolver problemas simples e complexos. Deixa o ambiente mais tranquilo de se trabalhar e mais cooperativo. O canal aberto e o franco relacionamento entre os responsáveis e os usuários e entre os usuários auxilia que as coisas se resolvam o mais breve possível.

As coisas são tão mais fáceis assim.

E se eu posso sugerir um começo… Reponha a água destilada nas pissetas, por favor!
E se eu esquecer me lembre, por favor.