Esta é uma questão importante e de resposta não imediata. Publiquei um artigo sobre isso que vocês poderão acessar pelo Portal Capes: MENEGHINI R ; PACKER, A. L. Is there science beyond English?. EMBO Reports, v. 8, p. 112-116, 2007.
Em geral é preferível publicar em inglês.
As bases bibliométricas mundiais estão cada vez mais dando importância à publicação em inglês para indexar suas revistas (ISI-Thomson Reuter, SCOPUS, Medline) e mesmo a base SciELO-Brasil, da qual sou coordenador científico, insiste na importância da publicação em inglês.
Como os periódicos SciELO são em acesso aberto (não pago), as visitas aos artigos pelo nosso site alcançam 10 milhões em média por mês.
Mas veja, a grande maioria dos acessos com origem em países de língua portuguesa ou espanhola. Mas observe também que como o número de artigos em inglês na base SciELO está aumentando (40% atualmente), aumenta também o número de visitas dos demais países.
Não há como escapar de uma constatação.
O inglês é hoje a língua franca como foi o francês no século 19 e o Latim há dois mil anos.
Porém a base SciELO-Brasil dá grande importância também ao uso da língua portuguesa, isto é, se possível publicar um artigo nas duas línguas, português e inglês.
Muitas o estão fazendo e algumas até incluem uma versão em espanhol. Como os periódicos no SciELO estão em versão eletrônica o espaço ocupado não é um impedimento.
A quem isto beneficia? Enquanto a maior parte da comunidade científica consegue lidar com o inglês lido e escrito, embora uma boa parte requeira uma ajuda profissional para isso, há muitos profissionais que não operam na área científica e que, porém, pretendem se manter a par das novas descobertas e avanços de suas áreas.
Tipicamente isto ocorre na área médica, onde os que a praticam tem que se manter a par dos novos progressos e não estão preparados para utilizar a versão original em inglês.
Outras áreas do conhecimento apresentam o mesmo problema.
Outro aspecto importante de escrever também na nossa própria língua é manter as palavras, jargões e expressões científicos da língua portuguesa atualizados, principalmente para benefício da própria língua portuguesa que necessita de contínua absorção de novos termos para manter-se culturalmente em dia, e também para o ensino em áreas em que novas terminologias, geralmente originadas no inglês, seja introduzidos no ensino do dia a dia dos estudantes.
Escrito pelo Dr. Rogerio Meneghini, criador e diretor do Centro de Biologia Molecular Estrutural do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, já dirigiu os trabalhos de avaliação da USP, foi adjunto da Diretoria Científica da FAPESP e co-criador do projeto SciELO de revistas científicas.
Creio que cabe espaço suficiente tanto para produzir em português quanto em inglês – as duas opções não são necessariamente excludentes. A própria viabilidade prática das publicações online é um argumento a favor disso. Ao mesmo tempo, não vejo sentido em argumentar que devemos publicar em português porque as visitas ao SciELO vêm do Brasil – isso é simplesmente um non sequitur. Agora, dizer que não se deve publicar em inglês porque os leitores de produção acadêmica brasileiros não dominam a língua, francamente, é apenas respaldar a incompetência alheia.
Penso que além de dar acesso a informação, temos que ser mediadores, facilitadores. Portanto, se há a possibilidade, devemos –sim– publicar também em português e, se possível, em espanhol.
Em primeiro lugar nossa língua mãe, não podemos ficar para trás, temos sim que fazer nossa língua evoluir junto com a ciência e tecnologia. Se houver espaço e tempo, então sim, que se publique também uma versão traduzida para outra língua, que seja o inglês e o espanhol.
Ninguém nunca pensa que se você publica só em inglês, está trabalhando para “eles”, lá fora. Todos exigem competência em inglês para os não falantes dessa língua, mas ninguém exige competência em outra língua qualquer para os falantes do inglês.
Portanto, eis uma grande injustiça, “eles” estão sempre em vantagem, pois já não tem o trabalho de ter que traduzir nada, nem aprender outra língua, e todos traduzem para a língua deles. Situação muito confortável, não? Já está mais que na hora da humanidade pensar em uma língua franca justa, democrática, transnacional, planejada. Ou será que esta ideia ainda é muito à frente de nosso tempo?
triste.
O inglês não foi imposição. Você gostaria de ter que traduzir alguns excelentes textos do mandarim para o português? Acho que não.
E quem não sabe inglês é que se põe em desvantagem.
Felipe, essa língua já existe, seu nome é esperanto e muitas pessoas pelo mundo fazem uso dela.
Nas minhas viagens internacionais eu uso o esperanto, como disse ao Fernando, faço uso desse idioma para diminuir meus custo em minhas viagens, até hoje nunca paguei hotel em viagens internacionais, fico sempre na casa de pessoas que como eu, falam o idioma esperanto.
Infelizmente existe um grande mercado por trás do ensino de idiomas no Brasil e no mundo, mas graças a internet as pessoas vem conhecendo o idioma esperanto cada vez mais.
Felipe Castro, isso foi tentado e se chama esperanto. Mas não deu certo.
Como assim não deu certo?
O Esperanto nasceu há apenas 124 anos, e sem ajuda política ou financeira de quem quer que seja, apenas pelo sonho e pela vontade de ver a humanidade livre do problema linguístico, promovendo a democracia e a justiça linguística, reúne cerca de 2 milhões de falantes fluentes no mundo todo, e mais 10 milhões não fluentes. É pouco? Considerando tudo que acabei de falar, não é. Além do mais, com quantas pessoas você quer se comunicar? O Esperanto é a melhor solução para o problema linguístico, que de maneira alguma é resolvido com o inglês, pelo contrário, este problema é aumentado à medida que se impõe sobre outros povos. Uma professora de inglês, a Patrícia Ryan pode nos confirmar isso: http:// www. ted.com/talks/lang/por_br/patricia_ryan_ideas_in_all_languages_not_just_english.html
Veja bem: uma professora de INGLÊS!!!
Hoje temos Wikipedia em Esperanto, com mais de 150 mil artigos, Google em Esperanto, Facebook em Esperanto, Linux em Esperanto, revistas de interesse geral e algumas até científicas.
O Esperanto só não deu certo na cabeça dos medrosos, dos submissos e daqueles a quem interessa o poder de um sobre o outro.
Estou totalmente convencido de que o Esperanto é hoje a melhor solução para o problema linguístico.
Para saber mais: O DESAFIO DAS LÍNGUAS – da má gestão ao bom senso. De Claude Piron.
Fernando, como o esperanto não deu certo?
Já viajei por 8 países da Europa apenas usando esse idioma, me hospedei na casa de vários falante de esperanto (esperantistas)pelo programa “Pasporta Servo” (Serviço de Passaporte), fiquei em mais de 10 residências quando fui aos Estados Unidos com meu pai em 1998, conheci a Austrália e a China e o único idioma que eu usei por dias foi o esperanto.
Como não deu certo?
Graças ao idioma esperanto tive acesso a várias culturas e um dos motivos por me interessar por idioma e ter tanta facilidade com eles (com certeza)é ter aprendido o esperanto quando criança.
É óbvio que o amigo não conhece a cultura esperantista (ninguém é obrigado a conhecê-la), mas convido-o a participar de um encontro de esperanto (que são muitos pelo Brasil), e ver por experiência própria que o idioma funciona e está mais vivo do que você imagina. 😉
A ciência não pode ser feita só em uma língua. Ela é universal, e não pode estar subjugada ao domínio de um povo só, de uma cultura só. Preferencialmente deve ser publicado em português, e só em segundo plano em inglês. Senão nunca sairemos de país subdesenvolvido, se não valorizarmos a ciência feita aqui. Há quem pense que o inglês é a língua internacional, puramente inofensiva. Sabe que eu tenho dó de quem pensa assim?
Gabriel, não entendi seu argumento. Você disse que a ciência é universal, ok concordo. Mas ao mesmo tempo defende que ela não pode “estar subjugada ao domínio de um povo só, de uma cultura só”. Quantas pessoas, fora dos países que usam o português como língua nativa, compreenderiam um artigo em português? Percebe como isso restringe a universalidade da ciência? O artigo tem que ser escrito em uma linguagem que o maior número de pessoas, no maior numero de países, consiga entender o que você quer passar. Você gostaria de ter que traduzir um artigo do russo para o português? Ou do mandarim para o português? Entende a demanda de tempo que isso tomaria?
Raul, e publicar em uma língua nacional travestida de internacional? É universalidade? Para mim não é justiça linguística. É preciso adotarmos as duas posições. Publicações em duas línguas: na língua nacional e em uma língua que seja internacional realmente, de natureza, uma língua neutra, tal como é o Esperanto. Basta analisá-lo para perceber como ele pode ser aprendido com rapidez e pode ser utilizado com eficiência jamais vistas pelo inglês como “língua da ciência”.
O mais interessante é a dificuldade que um cidadão comum tem de ir aos EUA para aprimorar o inglês. Esse tipo de atividade está jogada nas mãos das empresas privadas que cobram absurdos por uns míseros dias em terras do Tio Sam.
Sou tradutora profissional de inglês – português e posso afirmar que a demanda por traduções, inclusive acadêmicas, está crescendo.
De fato, é uma questão de escolher a quem é mais importante compartilhar o conhecimento, com o público interno, em geral monoglota, ou externo…
O fato é que como a maioria acadêmica e técnica não é fluente em inglês, em geral artigos em eventos e revistas, assim como monografias, dissertações e teses, ficam restritas à produção traduzida e local…Deste modo, o que é produzido aqui apenas em inglês atende mais ao público estrangeiro do que nacional…
Se isso é significativo para melhorar a qualidade das produções brasileiras ou divulgar e propiciar avanços ou popularizar o conhecimento aqui gerado, penso que sim, afinal, qual é o problema real de se produzir em inglês e português???
Se pensarmos em internacionalização da ciência, coisa que o Brasil só agora está começando com o programa Ciência Sem Fronteiras, publicar em inglês não apenas amplifica o acesso à nossa ciência, como abre portas para nossos cientistas. E não pensem pequenos, só em países de língua inglesa. Nas universidades do Japão, as aulas de pós são em inglês, os artigos, muitos, em inglês e só assim a ciência deles é acessível para o resto do mundo, pois eles compreendem que sua língua não é o umbigo do mundo e que para a ciência evoluir, é necessário trocas.
O Brasil é muito fechado culturalmente, tão fechado, que nem mesmo conhecemos nossos vizinhos porque eles falam espanhol. E portanto não somos reconhecidos por eles, pois falamos português, no entanto eles mantém relações culturais bem próximas entre si.
Mas tenho uma pergunta em relação aos artigos. Seguinte: você publicou um artigo em português e traduziu o mesmo artigo para o inglês, mas ainda não publicou. Ele passa a ser um artigo original para ser oferecido a outra publicação ou há uma categoria diferente para ele?
Estou em uma graduação na área de ciências naturais e é frequente a utilização de artigos, mesmo os brasileiros, em língua inglesa. Questionei, afinal estamos em graduação onde não é exigido fluência em língua estrageira, mas a resposta foi: todas as publicações obrigatoriamente devem ser em inglês. Eu vou “tateando” o texto, traduzindo partes (o que fica horrível), alguns colegas conseguem com dificuldade, mas estamos adquirindo conhecimentos totalmente novos em língua não materna, outros colegas não conseguem e desistem.
Para mim, isso dificulta a disseminação das ciências para sujeitos que não estão realizando seu stricto sensu. Muitos gostariam de concluir a graduação para lecionar, outros por possuírem cursos e atuarem na área técnica, a graduação seria um “Plus” no trabalho que já têm. Agora, parte trocou de curso para realizar licenciatura em outra área e ainda teve de ouvir: “lá na área da educação não tem isso, né?”. Lamentável!