Ao contrário do que se conhece hoje no mundo ocidental, os sete pecados capitais foram incialmente descrito como os oito males do corpo, por Evágrio do Ponto, teólogo e monge grego. O único pecado listado por Evágrio que mais tarde veio a sair da lista é talvez o pecado mais conhecido pelo pós-graduando, a melancolia.

No século XVII a Igreja substituiu o pecado melancolia por preguiça por considerá-lo um pecado “vago”. Certamente, Tomaz de Aquino, proponente da alteração nunca pisou os pés em um LAB das lamentações.

Acredito que a maioria dos leitores sabe exatamente do que se trata o LAB das lamentações, porém aqui vai uma breve descrição para aqueles em início de curso, ou I.C.’s, que têm aspirações muito maiores do que a do pós-graduando real – defender a tese.

Como em Israel, derramamos os nossos corações e contamos o que nos deprime, mas não em frente à um muro, mas sim na mesa do café. O ritual se inicia cedo (muitas vezes antes das atividades do LAB).

Nos sentamos pacientemente olhando o pingar do café na jarra e pensamos na quantidade de tarefas que deverão ser executadas naquele dia, então basta o primeiro pagão pecar: “Meu, não estou com vontade de fazer nada hoje! Não aguento mais esse projeto!”… “Cara, nem me fale, hoje é segunda-feira!!”. Pronto, está feito, o pecado da melancolia já fez morada no coração daqueles jovens.

É na mesa de café que tenho certeza que Tomaz de Aquino nunca deveria ter desconsiderado a melancolia como um pecado, e sim considera-lo como o pior, pois basta apenas um jovem atribulado para levar todo o grupo aos caminhos da perdição. Porém, mesmo sendo um pecado cometido nos LABs em grupo, pode-se elencar as formas mais comum de reclamações que incendeiam a melancolia pós-graduandesca:

1. A segunda-feira e a distância da sexta
Reclamação recorrente entre aqueles em início do mestrado e/ou doutorado… A melancolia é causada pela distância da próxima balada, do próximo boteco e do fim de semana. Com o passar da pós-graduação esse tipo de lamentação torna-se menos recorrente, já que não faz diferença se haverá fim de semana, feriado, feriadão ou copa… Você trabalhará para defender.

2. Orientador mestre-dos-magos
Reclamação muito comum entre os alunos que estão no meio do trabalho. O 8º pecado manifesta-se nesta fase através de pensamentos sobre o desastre do seu projeto e/ou da falta de publicações, fazendo com que o pecador se pergunte onde está o orientador com suas ideias para solucionar os problemas.

3. Insatisfação total
Os que sofrem com esse tipo de melancolia normalmente já estão em final de curso e costumam se lamentar nas mesas de café sobre coisas que TODO pós-graduando sabe desde que entrou nesta vida: Falta de estabilidade financeira, de 13°, de férias, de contribuição para previdência… Justíssimas reclamações, mas que parecem afetar muito mais os que estão prestes a ficar desempregados.

4. O concurso
O drama do concurso aflige principalmente os pós-docs. Cansados da vida de pós-graduando começam a se lamentar da quantidade de concorrentes, do número de vagas, da falta de estrutura nas universidades onde prestará concurso, do salário e, obviamente, dos concursos “carta-marcada”.

Certamente você já sofreu com a melancolia (muitas vezes achando até que fez o “x” errado no vestibular), portanto deve descordar de Tomáz de Aquino e conhecer intimamente o oitavo pecado, porém, como penitência, ligue o som, tome mais um café e, como diria o Xote, se avexe não.

Texto escrito por Danilo Lustosa – Bacharel em Química (Universidade Federal da Bahia) e Mestrando em Química (UNICAMP).