Se a parte do “comprar uma monografia pronta” do título deste texto despertou em você sentimentos como indignação, preocupação, revolta, ou vontade de “xingar muito no Twitter”, excelente! Você pode clicar aqui e encontrar outros textos do blog mais interessantes para ler.

Mas se ao ler o título você pensou que iria encontrar a solução para o seu problema, reserve alguns minutos preciosos do seu tempo, pois esse texto foi escrito pra você!

Recebo pedidos como este com muita frequência no e-mail do blog. Também já fui abordado pessoalmente por um colega do mestrado com uma proposta semelhante. Confesso que demorei entender – e acreditar – que ele estava procurando alguém para escrever a dissertação de mestrado em seu lugar.

De maneira geral, os motivos que as pessoas alegam para buscar esse tipo de serviço são a falta de tempo, a falta de orientação, a dificuldade em escrever, a dificuldade em compreender as normas técnicas e, claro, a facilidade inerente de comprar uma monografia pronta.

A demanda por esse tipo de serviço é tanta que foi criado uma espécie de “mercado paralelo”, em que profissionais “ganham a vida” com a venda de trabalhos prontos. Com uma rápida busca na internet é possível encontrar vários sites que oferecem desde trabalhos de conclusão de cursos de graduação e de especialização até dissertações e teses.

Reparem que a discussão aqui não é sobre procurar – ou pagar – alguém para revisar, traduzir, formatar ou colocar textos nas normas exigidas. Mas em pagar alguém ou alguma empresa para escrever TODO o texto em seu lugar.

COMPRAR UMA MONOGRAFIA É CRIME?

Se a monografia é uma forma de medir o conhecimento de quem a escreveu, a apresentação de obra alheia como própria é uma fraude, não importa se o estudante pagou ou não pelo uso do direito de nominação.

Embora seja moralmente e eticamente condenável, a prática de comprar uma monografia pronta não está prevista no Código Penal e, por isso, não é considerada ilegal do ponto de vista criminal, desde que se trate de trabalho inédito, elaborado para atender a um cliente específico, com a devida anuência do verdadeiro autor.

Aquele que compra uma monografia, entretanto, poderia ser enquadrado no crime de falsidade ideológica, tipificado no Código Penal. Mas nos raros casos em que a fraude é detectada, geralmente ocorre a condescendência da instituição de ensino, que ao descobrir plágios e/ou compra de trabalhos, reprova o aluno que terá, assim, seis meses para apresentar outro trabalho ou, simplesmente, lhe dá outra chance, disponibilizando novo prazo para apresentação.

Além disso, não é raro o aluno que comprou o trabalho ser avaliado por uma “banca amiga”, composta de professores “mais chegados” do orientador e que dificilmente reprovariam o aluno. E mesmo que não seja esse tipo de banca, se o aluno ao menos estudar suficientemente o trabalho comprado, as chances de obter a aprovação são grandes.

ENTÃO TENHO GRANDES CHANCES DE ME DAR BEM?

Apesar de não ser qualificado como crime e de que, se tomados os devidos cuidados, as reprovações em banca sejam raras, quem compra um trabalho pronto corre o risco de encontrar em sua banca de defesa um professor meticuloso e correto, que pode detectar e se revoltar com a fraude apresentada.

O orientador também deve – ou ao menos deveria – estranhar um trabalho que aparece pronto “do nada”, em que não foi possível acompanhar suas etapas de elaboração. Deve ser capaz também de perceber se o estilo de redação ou o nível dos questionamentos estão de acordo com os apresentados pelo estudante durante o curso.

NA VERDADE, O PROBLEMA É OUTRO

Um trabalho de conclusão de curso, em via de regra, é algo do qual o autor pode se orgulhar, depois de tanto trabalho, dedicação e esforço. Não é o que acontece com quem apresenta uma fraude. Ao invés de um motivo de orgulho, ganha uma preocupação para o resto da vida: e se alguém descobrir? E se quiserem anular o título? E se o verdadeiro autor for descoberto ou vender o mesmo trabalho para outras pessoas?

Mas o pós-graduando que está pensando em realizar este tipo de compra precisa fazer um outro tipo de questionamento: por que estou cursando uma pós-graduação mesmo?

No caso da pós-graduação lato sensu, o profissional será considerado especialista no tema que estudou. Como alguém será especialista em algo se não consegue ao menos escrever a respeito? Qual é a ética e a moral que tem guiado seus passos profissionais? Será que você está realizando as escolhas certas na sua carreira?

Se a pós-graduação for stricto sensu, sinto informar mas a redação científica é algo inerente da profissão de pesquisador. Será que vale a pena passar o resto da vida fazendo algo pelo qual não sente afinidade? De que forma uma pessoa que defende uma fraude perante uma banca está começando sua vida profissional? Como alguém nessa situação irá cobrar moral e/ou ética de seus futuros orientados sem se sentir hipócrita?

Pense nisso.