Pensei em várias formas de começar esse texto, mas vou começar da mais simples. Muitas coisas para estudar, muitos livros para ler, aulas para preparar e outras a cursar… Rotinas de um professor, de um aluno, de um sábio, de um aprendiz… e por que não pode ser de todos, de toda a população brasileira, por exemplo? Já ouvi falar que na França e outras partes da Europa o gosto pelo estudo é muito mais comum do que no Brasil.

Em muitos congressos e palestras que tenho ido, muitos palestrantes, principalmente quando a modalidade é “conferência” tem feito suas apresentações lendo um texto previamente escrito sobre a temática do evento. Tendência à la francesa. Muitos torcem o nariz, acham chato e enfadonho. Eu acho super legal. É claro, quando a pessoa usa recursos didáticos mais expressivos é muito mais gostoso de assistir, mas a leitura de um texto bem elaborado também nos coloca em reflexão.

Mas voltando a minha rotina de hoje, estou com preguiça de estudar! E por isso mesmo resolvi escrever sobre ela: a preguiça no estudo.

Estudar é uma mescla de saber e sabor. Em busca do saber temos que saborear o prazer do conhecimento. É como não gostar de jiló e querer empurrá-lo goela abaixo. Não desce mesmo! Mas estudar não tem o gosto tão amargo quanto o do jiló. Pode se tornar um prazer e em doses homeopáticas pode um dia se tornar alopatia e dependência, mas com sabor imenso.

Infelizmente não é o que tem acontecido na educação básica brasileira e na educação superior está ainda a engatinhar. Nas escolas de educação básica, vemos alunos desmotivados, preguiçosos, empurrados por pais e mães que cobram os deveres de casa. Alunos torcem o nariz para as tarefas, pedem ajuda de um professor de reforço, o qual acaba fazendo a tarefa no lugar do aluno, pois a preguiça de pensar é tamanha que pode-se passar mais de horas sentado com o aluno e ele te encarar como a dizer: “só saio daqui se fizer para mim”. Prática totalmente anti-pedagógica, mas que existe.

Nas universidades brasileiras melhorou-se muito o acesso, cresceu o número de pessoas das mais variadas classes sociais nas faculdades. Ao lado disso, aumentaram-se também trabalhos prontos, plágios, falta de interesse em realizar as atividades pedidas pelos docentes e o único objetivo é ter um diploma em mãos. Far-se-á o que com esse diploma?

É triste ver a preguiça assolando-nos em dias tão brilhosos, em época de vertiginosas tecnologias, de recursos cada vez mais sofisticados e ainda temos o saber como o maçante e a diversão como o sabor. Estudar é divertir-se e divertir pode ser um aprendizado.

Que educadores e pais possam trabalhar desde cedo para que a busca pela vontade do aprender, pela busca das respostas possa ser intensamente saboreada. Penso em Sócrates que com sua maiêutica não dava respostas prontas, mas fazia o próprio interlocutor ir chegando a uma resposta. Hoje tudo é pronto e enlatado. As músicas são prontas e nojentas. E engole-se tudo pronto. Fabriquemos! Assemos o pão nosso de cada dia ao invés de gastar gasolina para ir buscá-lo na padaria mais longe. Só assim estaremos saboreando o saber, pois em algumas vezes, ou em alguns dias mais cinzentos o sabor um pouco amargo pode aparecer, mas logo se adoça diante da postura tomada.