A análise estatística exerce papel fundamental na pesquisa científica. Com ela podemos sair do plano da especulação, supomos relações de causa e efeito no nosso estudo, presumimos que nossa amostra é representativa, e acreditamos que nossos resultados são significativos (expressões que sempre chamam a atenção da banca examinadora, pronta pra pegar no pulo o aluno que tenta escapar pela tangente).
O reconhecimento da importância de mensurar os resultados, juntamente com o aumento da capacidade de processamento dos softwares estatísticos, fez com que a inclusão da análise estatística em trabalhos acadêmicos se tornasse quase obrigatória.
Infelizmente, o currículo dos cursos de graduação e pós-graduação em muitos casos não acompanha essa evolução.
Assim, pós-graduandos saem com uma formação básica em estatística, sabendo alguns testes de hipótese e se apoiando somente nos resultados do p-valor, mas sem as ferramentas necessárias pra entender os resultado da análise estatística dos artigos de referência, e muito menos para realizar sua própria análise estatística.
Mas tendo consciência dessas limitações, não é hora de entrar em desespero – e nem quando não se consegue a quantidade de amostras desejada, ou os resultados não seguem o esperado, ou o p-valor não é significativo; nada disso impossibilita que você escreva um artigo de qualidade.
Basta ter cuidado e, antes mesmo de coletar o primeiro resultado, atentar para não cometer esses três erros muito comuns, que mostramos a seguir.
Erro nº 1: Não planejar a coleta de dados
Parece simples, mas muitos trabalhos tornam-se menos completos e relevantes porque não se pensou em todas as variáveis que precisava obter pra atender seus objetivos, e em que formato elas precisavam estar, pra aplicar a análise estatística que tinha em mente.
Um exemplo típico é quando o pesquisador inclui perguntas abertas no seu questionário, tendo apenas uma ideia do que vai analisar com essas informações.
Imagine um trabalho em que o pesquisador tem como objetivo secundário conhecer a renda do seu público de interesse. Ele imprime vários questionários (imagina o trabalho pra digitar tudo depois) e entrega aos indivíduos da amostra (boa sorte tentando decifrar a caligrafia de cada um) obtendo os resultados a seguir:
Para contornar os problemas que identificamos, precisamos ter claro em mente o que queremos de nossos dados:
1. Queremos manter a pergunta sobre a renda dos pesquisados em nossos questionários;
2. Para contornar o fato de que a informação da renda é muito pessoal, vamos pedir apenas uma estimativa da renda, e tornar a pergunta opcional; e
3. Vamos dividir a resposta da pergunta em cinco categorias, e calcular posteriormente a proporção de respostas em cada uma delas.
Desta forma, nossa pergunta do questionário, cuidadosamente planejada de acordo com a análise estatística, seria:
Nosso resultado será uma variável padronizada, com mais respostas completas, de fácil análise estatística e de fácil interpretação.
Erro nº 2: Não testar os pressupostos dos testes estatísticos
Apertando alguns botões no SPSS podemos realizar análises complexas e obter resultados resumidos.
Mas o software é apenas uma ferramenta, que não substitui o julgamento, conhecimento e bom senso do pesquisador. E parte desse conhecimento envolve saber quais os pré-requisitos que nossos dados devem apresentar para que nossa análise estatística tenha resultados válidos.
Para isso, é necessário adicionar mais algumas horas de estudo para entender as estatísticas calculadas, e um pouquinho da teoria que torna necessário o cumprimento desses pressupostos. Eles variam de análise para análise (um pressuposto comum é a normalidade dos resíduos) e devem ser conhecidos e verificados (Pinto e Schwaab, 2011).
Esse trabalho será compensado no momento de submissão do seu trabalho acadêmico para aprovação, em que a pesquisa com conteúdo bem embasado se destacará em relação as outras, em que os apertadores de botão colocam tabelas e mais tabelas de resultados, mas sem pensar tanto sobre seu significado.
Erro nº 3: Limitar-se ao p-valor significativo na análise estatística
Sim, o p-valor é importantíssimo. Explicando de maneira intuitiva, ele mensura a probabilidade de que nosso resultado estatístico tenha sido identificado apenas por acaso, e queremos que essa probabilidade seja pequena para mostrar a relevância das nossas conclusões (Rumsey e Franzim, 2014).
Porém, o p-valor sofre a interferência de diversos fatores, e não pode ser analisado de forma isolada.
É comum nos concentrarmos no p-valor, e esquecermos do poder do teste, que mede a capacidade de detecção de resultados do teste (Bussab e Morettin, 2013), que é um assunto para um outro texto.
Também muitas vezes temos limitações em identificar p-valor significativo por causa do tamanho de amostra, o qual por vezes não podemos aumentar por limitações financeiras na pesquisa. Obtendo ou não o p-valor significativo, limitar as conclusões de sua pesquisa a um único resultado é deixar de explorar o que os dados tem a oferecer (Moore e Fligner, 2014).
Gostando ou não da análise estatística, ela estará cada vez mais presente na vida do pós-graduando. Para passar por essa etapa do trabalho sem (muito) sofrimento, é preciso se dedicar e, se necessário, buscar a ajuda de um profissional capacitado.
“Alguns usam a estatística como os bêbados usam postes: mais para apoio do que para iluminação”.
Andrew Lang
E pode evitar a análise estatística?! rs
Estatística é foda! Aprendi pouco de t-student, anova e tukey ??
interessante. Mas em relação ao erro1, discordo do exemplo.pq naquela forma, de resp, dado pode(+)
Estatística é uma matéria que infelizmente é mal ensinada na graduação… 🙁
Renam ´sou formado em Estatística pela UFC fui aprender quando comecei a dar curso e fazer curso….peguei professores péssimos sem didática e além do mais sem interesse de ensinar, só queriam receber no final do mês o vil metal….(rss)….você tem toda razão…..qualquer coisa que eu possa ajudar meu email é:
[email protected].
Eu, como estatístico, diria que esses são os três erros mais comuns, pois existem muitos outros. E o que me deixa triste, são alguns “erros” de má fé, em que se usa das estatísticas (leia aqui manipulação de dados) para publicação de artigos.
Para que não haja erros em sua análise estatística, contrate um Estatístico. Simples assim.