A vontade de medir acompanha o homem desde o começo de sua história. Temos necessidade de medir e comparar tudo o que nos cerca. As medições e as comparações são pilares importantes da construção do nosso conhecimento e sempre foram temas centrais na ciência. Logo, não era de se estranhar que tudo culminasse com a medição e comparação da própria ciência. Entretanto, medir a evolução ou a qualidade das pesquisas científicas não é uma tarefa fácil. E a matéria-prima utilizada atualmente nesta medição são os artigos científicos.
Todo pesquisador tem o compromisso com a sociedade em publicar os resultados de suas pesquisas. As descobertas precisam ser transformadas em informação acessível para a comunidade científica. Nesse sentido, a pesquisa é desenvolvida dentro de um conceito de troca. A publicação dos resultados de pesquisa tem basicamente três objetivos: divulgar as descobertas científicas, garantir a propriedade intelectual e alcançar a fama.
O Fator de Impacto (FI)
Em 1955, um pesquisador americano chamado Eugene Garfield, hoje considerado um dos fundadores da biblometria e da cienciometria, propôs um índice para avaliar a qualidade das publicações, denominado Fator de Impacto. Desde então o Fator de Impacto firmou-se como meio de avaliação dos periódicos nas mais variadas instâncias, sendo calculado anualmente pelo Institute for Scientific Information (ISI) para as revistas indexadas em sua base de dados, e publicado pelo Journal Citations Reports (JCR), uma publicação do ISI.
Para o cálculo do Fator de Impacto de um periódico, leva-se em consideração o número de citações recebidas pelos artigos publicados no periódico nos dois anos anteriores à avaliação, dividido pelo número de artigos publicados no período. Para entender melhor como é calculado, observe o exemplo abaixo.
Nem tudo são flores
Apesar de amplamente utilizado, o Fator de Impacto possui várias ressalvas. Quando consideramos diferentes áreas do conhecimento, ou até mesmo entre subáreas, vemos que o número de referências citadas por artigo (densidade das citações) mostra-se bastante diferente. Ao levar em conta somente as citações feitas nos dois anos seguintes à publicação de um artigo, o índice tende a beneficiar aqueles periódicos de áreas onde o ritmo de renovação do conhecimento é muito rápido.
Nestas áreas, os artigos são citados imediatamente após serem publicados, criando um viés de aumento do Fator de Impacto. Por esse motivo, áreas como a física e as ciências biológicas tendem a ter maior Fator Impacto que áreas como as ciências sociais e humanas, onde as citações são frequentemente mais antigas
Outra questão importante é que algumas pesquisas são de caráter mais regional do que outras, mas nem por isso menos importantes para a sociedade na qual estão inseridas. Este é o caso, por exemplo, da Saúde Pública, Ecologia, Botânica, Geologia, Agronomia, etc…
E existe ainda a questão de que um artigo pode ser citado não necessariamente por ser bom, mas para ser contestado devido a algum erro nos métodos empregados ou na interpretação dos resultados experimentais. Um dos casos mais interessantes nesse sentido é o da publicação sobre a fusão a frio. Entre 1988-1992, um dos autores ingleses mais citados foi M. Fleischmann, com 702 citações, em grande parte negativa, referente aos seus trabalhos neste assunto.
O dilema das autocitações
Mas a questão mais discutida atualmente sobre o Fator de Impacto são as autocitações em periódicos. Uma recém-criada revista de pesquisa brasileira, na área de farmácia, obteve um Fator de Impacto de 3,46, sendo este o maior Fator de Impacto entre as publicações nacionais até o momento. Para efeito de comparação, a conceituada revista internacional The Journal of Natural Products, tem o fator de impacto de 3,15 após décadas de existência e 16.000 citações acumuladas.
Ao analisar os números que levaram a esse índice tão expressivo, observa-se um percentual de autocitações extraordinário, da ordem de 90 %, o que indica ter ocorrido indução, ou seja, algo do tipo: “para ter seu artigo aceito neste periódico você precisa citar nossos artigos nele”. [Uma discussão mais aprofundada sobre este caso pode ser encontrada no blog do Prof. Marcelo Hermes]
E eu com isso?
A avaliação da qualidade dos periódicos utilizados como meio de divulgação da pesquisa cientifica já é utilizada oficialmente há algum tempo em nosso país, como uma das formas de avaliação de programas de pós-graduação, derivando daí a conhecida lista Qualis da Capes. Nela, os veículos de divulgação da produção intelectual dos programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) brasileira são classificados em A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C, a partir de valores de corte do Fator de Impacto do periódico.
A questão é que cada área de conhecimento CAPES engloba uma pluralidade de categorias (“subject categories”) do JCR. E o próprio ISI cansou de alertar: o Fator de Impacto não pode ser aplicado em absoluto, porque diferentes áreas do conhecimento atraem referências de modo diferenciado. Entretanto, o novo Qualis equaliza todas as subject categories dentro de cada área.
E o conceito do periódico na lista Qualis, com base no Fator de Impacto da revista, que será utilizado para classificar seu precioso artigo, que tanto tempo demorou para ser escrito, nas bancas de seleção, nos concursos públicos e na sua vida acadêmica afora.
Muito interessante! Bastante didático. Ana Claudia
Artigo muito bacana e esclarecedor. 🙂
Não deixei de notar a frase “no que se refere” hehehe…
Post muito bacana e de interesse geral com certeza!!!!
Muito esclarecedor. Parabéns!!
Esse cálculo tem lógica, mas não funciona! Vá no google e digite: AIEDAM bioxbio. Vc vai notar que o procedimento apresentado não funciona.
Bom, o autor disse que não era um cálculo absoluto.
Excelente artigo!
Boa explicação. Simples e didática.
Parabéns pelo espaço!
Relato muito interessante, foi de grande ajuda!!!
muito bom!!!!
Queria poder usar o texto e referenciar kkkkkkkkk