O dia possui atualmente o mesmo número de horas que havia a cinco, dez, vinte anos atrás. Entretanto, nossa produtividade acadêmica às vezes dá a impressão de que esse intervalo de tempo já não é o mesmo. Artigos que não foram entregues, revisões de literatura atrasadas, capítulos a escrever, amigos deixados em segundo plano, entre outros sintomas, nos dão a sensação que algumas horas a mais por dia iriam cair muito bem, obrigado.

Mas com certeza não resolveriam o problema, como discutido no artigo “Acabaram-se as disciplinas. E agora?”. Na música “Há tempos”, do grupo Legião Urbana, Renato Russo canta que “disciplina é liberdade”, e ele não poderia estar mais correto. Além disso, como pós-graduandos, futuros homens e mulheres de ciência, nada mais lógico do que empregar um pouco de método para organizar melhor nosso cotidiano. Afinal, métodos e procedimentos são a nossa praia, não é mesmo?

Além dos pós-graduandos, existe outra turma que precisa organizar seu tempo para conseguir dar conta dos estudos, que não possui um horário fixo e que também é pressionada por prazos: os concurseiros. E eles possuem uma técnica de organização do tempo muito interessante, desenvolvida pelos concurseiros “pop-stars” William Douglas e Alexandre Meirelles, denominada “Ciclo de Estudos”, que pode ser adaptada com facilidade para a rotina da pós-graduação.

Regra de Pareto
O primeiro passo é definir uma lista de atividades: artigos, resumos, revisões de literatura, análises estatísticas, capítulos, projetos de pesquisa. Em seguida, coloque as atividades em ordem de importância e estabeleça os prazos, ou seja, a data de entrega de cada atividade. Uma dica interessante é programar cada tarefa para dois dias antes da data final. Dessa forma é possível revisar o resultado final antes da entrega.

Coloque no topo da lista as atividades que trarão maior resultado. A “Regra de Pareto” diz que 20% do que fazemos traz 80% dos resultados, enquanto os outros 80% de atividades produzem 20% de resultados. Procure identificar os 20% melhores e coloque-os no topo da lista.

Horário fixo não funciona
Com a sua lista de atividades em mãos, fica mais fácil determinar seu ciclo de atividades. Um cronograma semanal de atividades, fixo, igual ao seu horário de aulas na faculdade, poderia ser determinado a seguir. Entretanto, provavelmente só serviria para que você ficasse com a consciência pesada por não ter conseguido cumprir o quadro da semana toda. Isso porque ele ditaria sua próxima semana como se você fosse um vidente, que sabe tudo que irá acontecer nos seus próximos dias. Mas a vida não é assim. Você acorda mais ou menos disposto nos diferentes dias, briga com a namorada ou com familiares, fica doente, alguém precisa de sua ajuda, etc.

É aqui que entra a ideia do ciclo. O ciclo é composto de atividades que devem ser realizadas na ordem em que aparece nele, independentemente do dia e da hora em que se está estudando ou trabalhando. Sendo assim, caso tenha realizado até determinada atividade hoje, amanhã você reinicia seus trabalhos a partir de onde parou no ciclo. Não importa em qual hora do dia nem quantas horas você trabalhe em cada dia, o que importa é que você tem que continuar de onde parou no dia anterior.

Construindo o ciclo
Escolhidas as atividades, divida em quantas horas será necessário para cada uma, dentro de um total de horas estipulado por você para que seja uma “rodada” do ciclo, ou seja, de quantas em quantas horas você quer rodar seu ciclo e começar tudo de novo. Podem ser 10, 12, 15, 20, 30h. O ideal é que tenha o mínimo de horas possível, que não prejudique a realização de cada tarefa, sem que se torne cansativo.

Depois divida uma folha A4, na horizontal, em duas, 3 ou 4 faixas grossas horizontais. Podemos chamar cada uma dessas faixas de “fases” ou de “linhas” do ciclo. Então se seu ciclo deverá ter 20h no total, divida em 4 linhas de 5h cada, ou até mesmo linhas de tamanhos variados, não tem problema. A divisão em linhas aqui é só porque não cabe colocar tudo numa linha só no papel, só por isso. Procure mesclar atividades com temas diferentes, ou então com necessidade de habilidades diferentes, assim você se cansa menos e, consequentemente, tem uma produtividade maior.

Exemplo de um ciclo de doze horas.

No exemplo da figura, se você conseguir fazer hoje até a revisão de literatura, amanhã você deve começar pela tradução de artigos, e assim por diante. Sei que algumas pessoas preferem pegar uma atividade e ir até concluí-la, mas esta não é a forma mais produtiva. Após duas horas fazendo a mesma coisa, a concentração e a motivação já não são mais as mesmas.

Para aumentar sua concentração em cada atividade e como garantia de melhores resultados, recomendo utilizar esta técnica do Ciclo de Atividades aliada à Técnica Pomodoro de Administração do Tempo. E com isso, quem sabe, acabar de vez com esse nosso “mi-mi-mi” de que está tudo atrasado e que não temos tempo pra mais nada.