Mais do que uma escolha, a “especialização” na pós-graduação é uma consequência de vários anos estudando profundamente um mesmo campo de pesquisa. A tal ponto que, às vezes, parece que o único lugar que valoriza essa suada qualificação é o próprio lugar onde ela foi gerada: a universidade. Certo? Nem sempre.

Existe um valioso legado deixado pela passagem numa pós-graduação que frequentemente é esquecido, ofuscado pelos holofotes de um recheado currículo Lattes. Trata-se das habilidades transferíveis, que englobam os atributos desenvolvidos durante a atuação em uma área que podem ser literalmente transferidos para áreas completamente distintas. O problema é que essas habilidades nem sempre são óbvias e geralmente são amplas. Por isso, a seguir estão algumas para você se identificar…

Habilidades intelectuais e de conhecimento
Quem diria que pesquisar sobre um único tema iria nos tornar exímios pesquisadores sobre qualquer tema? Pois as incontáveis horas lendo artigos e escrevendo projetos geram dividendos como a capacidade de buscar, filtrar, organizar e contextualizar uma grande quantidade de informação, muitas vezes dentro de prazos bastante curtos. Isso por sua vez exige propriedades cognitivas de análise e síntese que, apesar de soarem óbvias, são extremamente difíceis de dominar.

Habilidades pessoais
A cada etapa de um projeto que não funciona trabalhamos em nós mesmos a perseverança – além de como manter o entusiasmo. Ninguém gosta de “fracassos”, especialmente naqueles experimentos finais, mas aprendemos que eles fazem parte do processo e que podem ser contornados. Estamos acostumados a buscar constante atualização (vai que alguém publica nossa tese?) e a duras penas até criamos uma autodisciplina que nos ajuda a ter comprometimento, saber organizar o tempo e definir prioridades – ou quase, e nisso sabemos que reconhecer os desafios é o primeiro passo para supera-los!

Habilidades de organização
Está certo que a pós-graduação não exatamente conta como experiência no mercado de trabalho, mas existe uma conduta profissional comum a ambos. Planejamento, ética e confidencialidade são apenas alguns exemplos. E tem mais, lembra aquela vez que você precisou importar um equipamento caro ou quilos de material para laboratório? Com isso você ganhou noção de mercado, cotação de preços e, o mais importante, como diminuir os custos da compra – a famosa “pechincha”. Aliás, a habilidade de economizar dinheiro sempre que possível é bem familiar para todo bolsista, e pode ter certeza que pessoas que conseguem ser econômicas (mesmo a contragosto) são muito valorizadas pelo mercado.

Habilidades de convivência e influência
Você deve conhecer um ou outro caso de gente egoísta dentro de um laboratório e sabe qual é a reação dos demais. Pois é. Conviver todos os dias com colegas pós-graduandos e ICs num mesmo ambiente nos ensina como trabalhar em grupo. Saber colaborar, expor nossas ideias aos demais e até mesmo supervisionar alguém são habilidades importantes em qualquer local de trabalho. Disso também pode decorrer a habilidade de networking, que basicamente move o mundo dos negócios – e da pós, quando você precisa de um material emprestado, por exemplo. Por fim, escrever artigos e ministrar aulas de estágio de docência ou apresentações orais em congressos são excelentes formas de treinar (a coragem para) a comunicação para o público.

Assim, essas habilidades transferíveis não apenas o tornam um bom pós-graduando, mas um bom profissional, e podem contribuir para o seu diferencial lá na frente em qualquer área que você quiser. Agora, é preciso saber reconhecer e aproveitar o seu valor – e, é claro, saber mostrar para potenciais empregadores que eles vão precisar dessas suas qualidades.