Quanto vale o trabalho desenvolvido por um aluno de pós-graduação stricto sensu?
No dia 29 de março deste ano a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG) convocou os pós-graduandos de todo o país a paralisarem suas atividades acadêmicas em defesa do reajuste no valor das bolsas de mestrado e doutorado, que estão congeladas há quatro anos.
Talvez o termo “mobilização” ou algum outro sinônimo tivesse sido mais adequado à proposta da ANPG, já que o intuito era chamar a atenção da sociedade para a situação dos pós-graduandos e que a palavra “greve” causa discussões que na maioria das vezes fogem do contexto original da ação.
Coincidência ou não, no dia 3 de abril o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, sinalizou a intenção do governo em corrigir a defasagem das bolsas oferecidas pela Capes, embora sem citar datas ou valores para o reajuste.
Entretanto, tão interessante quanto o debate sobre a necessidade do reajuste das bolsas foi observar a reação e os comentários das pessoas que não fazem parte da academia científica em relação ao tema.
A impressão que fica é a de que fora das universidades e dos centros de pesquisas poucas pessoas parecem conhecer a importância dos pós-graduandos para a ciência brasileira, bem como a contribuição do seu trabalho para a sociedade e para o desenvolvimento do país.
Raros são os alunos que ao responderem que fazem mestrado ou doutorado nunca ouviram da tia-da-vizinha-da-prima-do-seu-cunhado um sonoro “mas você não trabalha, só estuda?“, como se toda pós-graduação se resumisse a assistir aulas, fazer provas e apresentar seminários.
O fato é que um professor universitário contratado em regime de 40 horas semanais precisa dividir seu tempo entre aulas na graduação e na pós-graduação; orientações de trabalhos de conclusão de curso, de iniciação científica, de mestrado e de doutorado; reuniões de departamentos e colegiados; cargos administrativos e uma pressão implacável por publicações. Em resumo: é quase impossível sobrar tempo para “pesquisa de bancada”, que na maioria das vezes é realizada pelos alunos de mestrado e doutorado.
Ao mesmo tempo em que ampliam seus conhecimentos e são treinados em pesquisa científica, os alunos de mestrado e doutorado desenvolvem projetos, criam soluções ou simplesmente geram conhecimentos que poderão auxiliar na solução de problemas futuros.
E sei que isso pode ser uma surpresa para muita gente, mas pesquisa dá muito trabalho. Tanto intelectual, de revisão, reflexão e análise; quanto manual, de bancada, de coleta de dados, de montagem de experimentos.
Outra confusão comum é a diferenciação entre as pós-graduações stricto sensu e a lato sensu. Com a recente transformação do ensino superior em mercadoria ocorreu uma explosão de ofertas de cursos de especialização lato sensu, infelizmente nem sempre oferecidos por instituições sérias ou comprometidas com a qualidade de ensino. Como consequência disto surgiu um sério preconceito contra esses cursos, e este preconceito muitas vezes é estendido à pós-graduação de maneira geral.
Um avanço importante nesta questão da aproximação entre sociedade e pesquisa científica foi a divulgação da intenção do CNPq em acrescentar no Currículo Lattes duas novas abas para divulgação científica. Com a divulgação das pesquisas como novo critério de avaliação da produção acadêmica, espera-se que ocorra uma maior aproximação dos pesquisadores/pós-graduandos com a sociedade.
Afinal de contas, não há arma melhor contra o preconceito e a ignorância que o conhecimento.
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BLOGAGEM COLETIVA
Gostaríamos de lançar uma campanha pela valorização dos alunos de pós-graduação e para isso estamos convidando todos os pós-graduandos para uma blogagem coletiva. Se você tem um site ou um blog, escreva sobre o valor dos alunos de pós-graduação e envie o link para a gente, para anexarmos a este post. Caso não possua um blog e também queira participar, envie seu texto para [email protected] que podemos publicá-lo aqui.
Qual é o valor do aluno de pós-graduação stricto sensu?
Roberto Takata – Gene Repórter
Pós em batata-doce frita
Leandro Santos – Leandro931
Falo sobre a greve dos pós-graduandos? A bola diz “Yes”!
Luciane Capelo – Magic Ball
A pós-graduação é irrelevante
Heideger Nascimento – Biólogo e mestrando
Algumas provocações sobre o post do Pós-Graduando
Flávio Clesio – Mineração de Dados
A valorização do pós-graduando importa?
Gabriel Cunha – RNAm
Quanto vale um aluno de pós-graduação no mundo?
Elisa de Sousa Ribeiro Pinchemel – Diplowife, Diplo life
Dos mesmos criadores de: “E as namoradinhas?”, vem ai “E você só estuda?”
Marco Antonio Amaral – Njord’s Corner
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A reação da sociedade é mt estranha msm com os alunos de pós graduação. Quando falo da defasagem das bolsas com alguém que não está inserido do mundo da pesquisa/pós graduação, sinto como se me vissem como uma pessoa q mendiga um dinheiro q eles acham até mt para qm “só estuda”
Essa reação de “você só estuda, não trabalha?”, é comum também para quem é professor: “você só da aula, não trabalha?”. Ou seja, o que é relacionado ao conhecimento e à sua difusão e pesquisa é um detalhe insignificante na vida das pessoas que estão mais preocupadas com o BBB, tabela do Brasileirão e com o próximo capítulo da novela. =
Minha contribuição para a blogagem coletiva:
http://genereporter.blogspot.com.br/2012/04/qual-e-o-valor-do-aluno-de-pos.html
[]s,
Roberto Takata
Ministrando aulas: Vc só dá aula ou vc também trabalha?
Fazendo stricto-sensu: Vc só estuda ou vc também trabalha?
País/sociedade que desvaloriza a educação: Estudante é vagabundo (filme Tropa de Elite)
Muito trabalho pela frente para valorizar a profissão que será o futuro do planeta e que está relacionada com o capital intelectual, afinal vivemos em uma sociedade capitalista. O problema é que a maioria está submersa no mundo da sociedade do consumo, da embalagem e de somente coisas que podem ser vistas e tateadas. Isso é o que mais se valoriza hj, infelizmente. O uso do cérebro, ou qualquer coisa que requeira uma capacidade de imaginação um pouco maior, está de lado. Essa massa, eu diria músculo, dentro de nossas caixolas está sendo pouco utilizada pela maioria e com o tempo irá atrofiar. Lamentável realidade…
Ainda estou na graduação e já ouvi alguns comentários como esses do post por parte do meu pai. Como: “Por que tanta pesquisa? Esse povo perde muito tempo fazendo essas pesquisas que não servem para nada.” “Professor devia dar 40 horas de aula por semana, e não só essas 8.” “Fulano vai fazer mestrado para quê? Enrolar mais dois anos para trabalhar?”
Ele nem sonha que eu quero entrar na pós-graduação.
Com comentários assim, lembro da reação da minha sogra quando minha noiva e eu tivemos papers aceitos num congresso em Berlim:
“Mas vocês vão perder dia de serviço pra ir apresentar trabalho de escola? Que é isso?!”
Minha mãe até hoje fica encucada com meu tema de pesquisa. Acha bonito mas não vê muito sentido. Digo a ela que a tendencia é “”piorar””.
Em tempos atuais, esta campanha será mais eficaz por Facebook e Twitter.
Sou avó e tia de pos-graduandos, e dou Parabens a esses meninos e meninas que conseguem chegar lá. Primeiro a luta por uma vaga, um orientador, depois trabalho pesado, alem das pesquisas, auxiliam seus orientadores, dão aulas, tem por obrigação BOAS NOTAS, se querem chegar ao final, defendem TESE. Bem se alguem acha que POS-GRADUANDO não trabalha, procure chegar até um deles, VÃO APLAUDIR DE PÉ. Parabens Stephanie, Marcelo e Pedro Paulo no Mestrado e Taisa no Doutorado, tenho orgulho de voces.
Dei minha contribuição para a discussão em
http://scienceblogs.com.br/rnam/2012/05/posgraduando-educacao/. É um pouco “dedo na ferida”, mas não acho que o caminho para reverter essas situações bizarras seja valorizar os alunos de pós-graduação…
Uma boa resposta para o “Você só estuda, quando vai trabalhar?”
“Na verdade, estou esperando a seleção para o Big Brother, ou surgir uma vaguinha como dançarina de televisão, pois daí todo mundo vai achar que trabalhei duro para chegar até lá, me pedir autógrafos, vão achar que contribuo para o futuro da humanidade e não vão mais me falar que minha vida é fácil. Enquanto isso, vou estudando…”
Realmente lamentável a realidade Brasileira.
Vê se a maior potencia do mundo (EUA, ou outros países desenvolvidos) fica menosprezando os cientistas?
É graças ao incentivo que tem lá e em outros países desenvolvidos que temos tantas coisas
como temos hoje. Porque lá A PESQUISA É VALORIZADA!!!Como aqui não é (infelizmente)
ocorre a chamada FUGA DE CÉREBROS!
Eu entendo isso. Brasil EVOLUI! ACORDA! valorizando a ciência o crescimento econômico vai ser maior ainda, pode ter certeza.
Eu tive que comentar… eu vou entrar na graduação agora e falei pra minha mãe e meu irmão “é… vou me formar daqui a 4 anos, porém só quero trabalhar depois do mestrado e talvez do doutorado, mas só se eu ganhar uma bolsa…” aí choveram críticas de que eu era preguiçoso, que fulano de tal casou, comprou casa e carro, de que inteligente é aquele que ganha dinheiro sem estudar, etc. Mas aí eu pensei: minha mãe estudou até a 4ª série, meu irmão até a 8ª, eles não fazem ideia do que se faz num mestrado, e da importância de fazer ciência e ajudar a aumentar um pouco os saberes da humanidade… talvez por isso estudar 21 anos do EF até o doutorado possa valer a pena.
A unica saida para o Brasil e a educacao. Graduacao, pos graduacao, mestrado, doutorado, etc o importante e estudar. Achei interessante ter um canal voltado para pos. Trabalho p duas universidades q tem cursos de graduacao e pos graduacao.