No início deste ano quando entrei para o meu mestrado e mergulhei definitivamente na vida acadêmica, deixando meu trabalho para trás para ganhar metade do meu salário com a bolsa de estudos, me senti como se estivesse entrando para um monastério.
Acredito que esta seja a sensação que muitas pessoas que entram na pós-graduação devam ter. Largar o trabalho, a família, a cidade e as vezes até o conjugue para se dedicar inteiramente a uma atividade que após algum tempo lhe fornecerá um título, tem muita semelhança com o processo de preparação dos monges.
Quem pensa que tornar-se monge é algo como aqueles filmes de Kung-Fu está muito enganado. Na vida real, os candidatos a monges precisam viajar para países na Ásia, conseguir se manter financeiramente, renovar o Visto e ainda conseguir se dedicar à nova vida por cerca de 2 anos e meio, ou até que seu “Perceptor” (fazendo uma analogia, seria o orientador deles) tenha certeza que a pessoa poderá receber a Ordenação Superior de monge.
Estes candidatos a monges precisam seguir a tradição, preparar e decorar recitações, fazer ensaios para a cerimônia de ordenação inicial. Devem obedecer o “perceptor” e ficarem disponíveis sempre que ele necessitar. Os noviços e noviças trabalham muito, e estão em constantes testes onde geralmente levam xingamentos e nunca devem responder, ficando em silêncio e obedecendo. Em alguns casos podem haver até castigos físicos, como levar bofetadas, ficar ajoelhados no pátio e puxões de nariz.
Claro que a vida acadêmica não é tão brusca com os candidatos a mestrado/doutorado como um monastério, mas digamos que temos algumas semelhanças.
Quem nunca deixou de fazer algo que lhe desse prazer para terminar um artigo, pesquisar algo, escrever, escrever e escrever? Quem nunca deixou de ver a família ou a namorada(o) para terminar algum trabalho ou estudar para uma prova das disciplinas?
A vida acadêmica, como a de monges, não é fácil. Temos que nos equilibrar no valor da bolsa durante todo o mês e ainda encarar tarefas complexas sem deixar a peteca cair! Estudar como se não houvesse amanhã. Ler artigos, livros e tentar escrever aquele artigo para publicar naquele evento de alto Qualis para ser reconhecido. Acima de tudo, aprendemos como nos posicionar diante a críticas, aceitando-as de forma positiva e relevando o que não é necessário (algumas vezes, com críticas não tão construtivas assim).
Evidentemente, estamos nos emoldurando para que ao final deste processo possamos receber o que tanto queremos: a nossa titulação de mestre/doutor! Estamos aprendendo, gerando o conhecimento e tentando recriar a sociedade baseada na razão.
Que tenhamos a mesma dedicação dos monges, para seguirmos até o final disso tudo! Só assim, saberemos o real valor da vitória!
Autor: Cleverson Lopes Ledur – Mestrando em Ciência da Computação (PUCRS)
Muito bom!
Já li o texto! Gostei! Acho que é bem assim mesmo rs.
Parece um monastério mesmo, ainda mais quando você não ganha bolsa e a universidade fica numa cidade totalmente esquisita como Seropédica… Estou quase indo para as ruas pedi dinheiro para poder continuar, mas aí eu lembro que nem para isso eu tenho tempo!
acho que sim, até meu cabelo caiu depois dela, como se eu tivesse raspado!
Com certeza! =D
Ótimo artigo!
Estou na minha segunda graduação e planejando o mestrado e como você comparou no texto são muito parecidas, mas acima de tudo são escolhas que a pessoa deve aceitar a mergulhar de cabeça para crescer ou podemos dizer evoluir como profissional e pessoa.
Fez minha convicção aumentar e já ir preparando meu psicológico para as batalhas que virão, apesar que antes tenho um TCC para fazer! 😉
Parabéns!! =)
Muito legal isso, ainda mais quando se estuda Teologia kkkk Embora a minha faculdade não seja um monastério, muitas vezes aparenta ser um, ainda mais que é Teologia.
Eu me senti muito assim no meu mestrado aqui em Portugal, principalmente porque os estudantes (daqui) usam umas capas pretas parecidas com as do Harry Potter e a minha faculdade tem uma arquitetura com traços medievais rsrs…