“Afirmações extraordinárias requerem evidência extraordinária“.
Carl Sagan
Em Ciência, saber onde se quer chegar é o passo mais importante para que sua pesquisa seja aceita pela comunidade científica. A maior satisfação de um cientista deveria ser que seu artigo foi bem aceito pela comunidade científica e não apenas que ultrapasse a barreira dos assessores, pois a aceitação dos leitores é mais difícil e mais importante.
Quando um assessor nega o artigo, simplesmente, na grande maioria das vezes, a opção mais fácil é escolher outra revista (normalmente de fator de impacto menor), readequar o manuscrito a ela e submeter novamente. Mas será que essa deve ser a postura de um cientista sério? Logicamente, não dá para descartar simplesmente um trabalho por ele ter sido negado em uma revista de maior prestígio, ele deve ser publicado, mas o que o pesquisador deve tirar de lição é que sua pesquisa ainda não alcançou o nível que ele esperasse que seria.
Além da preocupação com a aceitação do manuscrito, outro problema que é visto na pós-graduação e muitas vezes incentivado, caracteriza-se na forma de uma pergunta: Em quantos artigos esse trabalho pode ser dividido? Atualmente é comum a pratica de “fatiar” um determinado trabalho em diversos artigos e publicar em mais de uma revista para ter o maior número de artigos científicos possível.
Mas quais as principais consequências desse processo? Ao meu ver são duas: Primeiro, o ato de fatiar um trabalho, significa que, possivelmente as diversas fatias serão publicadas em revistas de menor visibilidade assim, não valorizando a real descoberta e segundo, o leitor tem que juntar diversas partes do trabalho publicadas, na maioria das vezes em diferentes revistas para que possa ter uma visão global da descoberta científica. Mas por que isso ainda é feito? Acho que a melhor resposta é que talvez essa prática ainda seja estimulada.
Não há dúvida de que métodos quantitativos (número de trabalhos publicados e quantas vezes esses trabalhos foram citados na literatura, incluindo autocitação) podem ser úteis para avaliar a capacidade de um cientista, mas o que não se deve fazer é apenas avaliar um pesquisador apenas empregando esses métodos, pois mascara-se a possibilidade de achar um real talento no meio de tantos cientistas.
Valorizar a descoberta deve ser o mais importante e não o número de artigos. Saber reconhecer a capacidade de criar de uma maneira engenhosa para desvendar um problema de grande importância. É exatamente isso que deve ser ensinado na pós-graduação. Logo, a publicação de um bom artigo é a consequência de um bom trabalho realizado e um bom trabalho significa alta inovação científica.
Hoje em dia, no ambiente da pós-graduação me parece que a maioria está preocupada com quantos artigos foram publicados no último ano e não com a qualidade dos trabalhos que foram desenvolvidos. O mais importante deve ser onde a pesquisa foi publicada e como ela está sendo vista e aceita.
Mas ainda algo essencial não foi compreendido por muitos pós-graduandos e até mesmo alguns pesquisadores, para que uma pesquisa se transforme em conhecimento científico é necessário que ela seja aceita por uma grande parcela da comunidade científica, dessa forma, a publicação passa a ser um MEIO e não o FINAL do processo da produção de conhecimento. Um bom trabalho deve ser simples, claro, objetivo e didático.
Porém, se a regra (do sistema) é publicar o maior número de trabalhos possível, é lógico que isso será seguido! O problema é que, dessa forma, ficamos cada vez mais distante de ter no Brasil aquele(a) cientista do(a) qual podemos falar: Ele(a) descobriu… Ele(a) inovou… Ele(a) transformou nosso modo de pensar sobre…
Concordo plenamente, mas considero o “post” muito generoso com o atual sistema de estímulo à produção científica: ele todo é pensado para enfatizar a quantidade. Pesquisadores e programas de pós-graduação pouco ou nada produtivos perdem pontos junto a agências de fomento e deixam de ganhar bolsas e verbas. Parece-me que falta desenvolver critérios que ao mesmo tempo estimulem a produção científica e não a submeta à ditadura da quantidade. De fato, em ciência é difícil ter uma ideia — quanto mais várias, que é o que se supõe quando um cientista publica um artigo…
O último parágrafo não condiz com a realidade.
Tanto o Brasil como os países do exterior também almejam números. Eles possuem maior número de inovações e descobertas porque estão anos na nossa em frente com relação a tecnologia e estrutura.
Por óbvio que possuímos laboratórios de ponta mas uma grande parcela, tal como o setor florestal, fica em um marasmo de repetir as mesmas técnicas ultrapassadas, não querendo olhar para frente e competir com os outros continentes. Pesquisadores insistem em utilizar conceitos e práticas antigas ao invés de buscar o novo ou reinventar estas técnicas.
Muitos setores no Brasil aguardam as novidades chegarem do exterior após 5/6 anos de defasagem ao invés de participarem ativamente de atividades por todo o mundo, o que resultaria em uma demanda de pesquisas com objetivos e aspectos mais atualizados.
Veja bem, para toda regra existe a exceção.
Outro aspecto que não concordo é em relação ao local que a pesquisa é publicada. Saiba que hoje em dia o Qualis é uma palhaçada! Revistas que demoram 1/2 anos para ACEITAREM um manuscrito mantém seu Qualis ou elevem este, mesmo a CAPES dizendo que leva isto em consideração. A questão de quantidade é uma exigência da CAPES/CNPq para avaliação de projetos, bolsas, financiamentos, entre outras atividades concebidas pelo governo.
Para que haja uma mudança no conceito de qualidade x quantidade em nosso país, os órgãos governamentais devem tomar as rédeas e modificar as exigências para conceber estas ajudas para extensão e pesquisa.