Se uma nave espacial pousasse hoje na terra, como o ser extraterrestre ocupante da nave se sentiria?
Provavelmente seria algo muito parecido com o que sente um pós-graduando.
Só existe um tipo de ser que nos entende, que são os outros ET`s, ops, digo os outros pós-graduandos.
Pai, mãe, resto da família, amigos, conhecidos, governo, ninguém nos compreende, talvez a NASA entenda.
Quem nunca ouviu a perguntinha básica, “e aí, você estuda ou trabalha?”, segue aquele engasgo, a vontade de mandar o indivíduo catar coquinho porque é a milésima vez que te perguntam isso, e daí se você responde que estuda, vem o comentário cretino, “você vai ficar louco de tanto estudar, não viu o fulano x, ficou louco”, seguido de uma paulada, “está na hora de começar a trabalhar já faz um tempão que se formou”. Se a opção de resposta for que trabalha, vai ter que explicar em que trabalha e como trabalha, e aí “o comédia” pode até ficar com inveja de você, afinal você ganha uma bolsa só pra fazer isso, “mas que moleza hein”! Minha resposta atual é: trabalho e estudo na universidade, seguido de uma mudança rápida de assunto.
Se você tentar explicar o que está fazendo há 2, 4 ou 6 anos em poucas palavras e a pessoa não entender nada, ela vai te olhar com aquela carinha de quem não entendeu bulhufas e resmungar, “você é muito louco”, se você for bastante didático, e ela entender o que você falou, ela resmungará, “que loucura”, ou seja, de qualquer forma você é um extraterrestre para quem está fora do meio acadêmico.
Para a galera da graduação você é aquele nerd que fica trancado nas bibliotecas, salas de estudos, laboratórios e que nunca vai às baladas* que eles promovem, além disso, deve ter sido um bom aluno com um ótimo Q.I. ( nesse caso pode ser Quociente de Inteligência ou simplesmente o “Quem Indica”).
Para o governo então é até difícil entender a forma como ele enxerga esse bichinho verde que frequenta os cursos de pós-graduação. De repente você está com 30 anos, 6 anos de formado, nunca pagou uma aposentadoria, sem garantia alguma de estabilidade ganhando o que um recém-formado ganha no estágio ou no trainee e sem ter a quem reclamar. Para algumas profissões como medicina e engenharias esse descaso com os pós-graduandos terão consequências graves muito em breve.
Já chorei bastante, está na hora de voltar à nave…
*balada é uma festa regada a álcool, beijos na boca, músicas e que provavelmente você se esqueceu de como é. Caso invente de ir a uma se sentirá tão deslocado como um legítimo E.T.
Marido e filhos tbém não compreendem, agora no Pós-Doc, acham q é caso de internação….kkkkk
A melhor resposta, que ainda não testei, mas tenho boas referências é: sou cientista. As pessoas ainda admiram os cientistas apesar de não saber o que eles fazem ou conhecer algum.
Boa resposta!
Nos acham loucos e que devemos trabalhar ao invés de “só” estudar…
Ótimo texto! É exatamente assim que nos sentimos mesmo! :/
Já ouvi o seguinte: “conheço uma pessoa que ao terminar o ensino médio optou por não fazer faculdade; aí, ele foi guardando e investindo uma quantia que mensalmente seria paga como mensalidade. Hohe ele é empresário e emprega um monte de gente diplomada”.
Em terra onde Leq Leq Leq é “letra” de música, e Neymar é “herói” nacional, é melhor não explicar nada e deixar os ignorantes sem saber do que se trata uma pós!!!
Apesar de sermos admirados, ainda assim somos tidos como pessoas excêntricas… para os demais ou não conseguimos ser “pessoas normais”, ou somos “super dotados intelectualmente”, ou seja, somos extra-terrestres… rs…
Ultimamente quando me perguntam o que eu faço eu digo: “Estou tentando achar a cura para o câncer”.
Todos acham lindo e, tecnicamente, eu não estou mentindo… hahaha!
Marlon! Que bom desabafo, hehe! No meu caso, sou a única do meu círculo social que ainda estuda, sem vínculo empregatício e uma vida longe de ser “estável”, nos conceitos normais. Quando me perguntam o que faço, respondo simplesmente que estou trabalhando na minha dissertação de mestrado. E sim, vivo com meus pais, E sim, já me formei há mais de dois anos. Mas quem se importa? Ainda temos o nosso círculo de ET´s onde um entende ao outro, quando a vontade maior é voltar pra nave e viajar pra beeem longe! Parabéns pelo texto!
A gente ouve cada coisa! Dia desses, quando disse que fazia doutorado, a pessoa perguntou “em quais turnos da semana?”. Parece fácil… 🙂
Olha, eu estou no ultimo ano de doutorado. Num desânimo gigante. Não tenho mais a menor vontade de terminar a tese. Só de pensar nela me deprimo. E olha que sempre fui muito empolgada e feliz com minhas escolhas acadêmicas. Mas estou com 33 anos. Dois divórcios (separações), um no mestrado e outra no doutorado, meus amigos me acham louca, pq estudo e trabalho demais (laboratório…). Quero muito uma família, filho, marido, cachorro… dinheiro. Nunca paguei inss, depois desse doc, começa a peregrinação por concursos… Desculpem o desabafo, realmente cansada e desaminada… E esses comentários, como o Marlon descreve, só ajudam a piorar a situação… 🙁
Bom Jani, o que tenho visto com vários amigos, e comigo também, é que em algum momento da pós uma crise de existência muito grande surge( tenho um post pronto sobre isso, que vou publicar em breve) e com ela o desânimo total. Sentar na frente do computador, não conseguir escrever nem uma linha, e de repente você está a horas vendo besteira na internet, sem nenhuma produção intelectual, é mais recorrente que se possa imaginar. No seu caso se entendi bem, parece que está afetando inclusive a vida pessoal o que é bastante grave, ao meu ver. Acho que deve conversar com seus amigos, orientador, tirar umas férias, melhor perder um mês do que 4 anos, caso resolva chutar o balde.
Não sei se ajudei, mas pode ter certeza que tem bastante gente no barco da crise de existência, e os motivos são diversos.
Sou um ETrando… ops.. doutorando… e segundo Luciano Queiroz (2013) rsrsrs “sou cientista” sempre faço isso quando estou em meio aos humanos normais. Só uma sugestão, alguem conhece uma fonte confiável que possa me dar maiores informações sobre o termo: balada? rsrs adiciono: dinheiro Abraços.
-“ah, você faz Mestrado? Mas trabalha onde?
-Sim, meu Mestrado é o meu trabalho.
-Ah…”
“-Não tem tempo?
-Não, tenho que colher minhas amostras, analisar, ir para campo, escrever, etc.
-Mas daí você fica sem tempo porque quer. É só não fazer tudo isso…
-(nota mental: Claro, é só apresentar uma dancinha legal para a banca na defesa que dá na mesma….).”
“-Mas você trabalha com pesquisa? Neurociências? Mas o que isto tem a ver com Psicologia?
-…….”
Ou seja, da próxima vez, é melhor virar Modelo, pois daí todo mundo vai saber o que se faz, bem como reconhecer o esforço empreendido. rsrsrsrs
Só tenho uma amiga que faz pós e uns dois que fizeram especialização. Quanto aos demais, alguns acham que eu sou muito inteligente e outros acham que eu perco tempo estudando. Já me acostumei com as pessoas me perguntando se eu “só estudo” quando eu digo que faço doutorado… De uns tempos para cá respondo “É, só estudo e ainda ganho para isso… tudo com o dinheiro dos seus impostos… ah, e ano que vem vou passar um ano na Europa tudo pago por você, valeu!”. Só me irritei mesmo quando uma criatura que faz uma dessas faculdades de esquina, ao ter um convite para a tal da “balada” recusado, falou que eu ia ficar louca de tanto estudar, que a minha vida estava passando e bla bla bla. Sinceramente, prefiro mil vezes sair para comer um sushi, tomar um café ou pegar um cinema com os outros ETs, do que sair com pessoas que não tem sensibilidade e/ou intelecto para entender as escolhas dos outros e o que é uma pós-graduação.