Para aqueles que acabaram de ganhar uma bolsa de mestrado/doutorado sanduíche, aviso que vocês não serão mais atormentados pela tradicional pergunta que assola a existência de um futuro cientista: “Você só estuda?”.

Prepare-se para trocar o “Você só estuda?” pelo “Quando você volta da viagem?”

Sim, agora o questionamento será mais profundo, afinal terás experiência no exterior; algo que irá transcender e também te surpreender sobre o quê as pessoas do mundo normal (i.e., pessoas que não são da academia, como eu carinhosamente as chamo) entendem por ser um cientista nos tempos modernos.

Será uma pergunta mais elaborada e distinta daquela que foi tecida acima e que exigirá muito de você, mais do que qualquer exame de proficiência prestado para agradar o seu orientador do exterior, o qual ficou pelo menos 2 meses mandando e-mails quase que diariamente para você e seu orientador brasileiro perguntando (e não entendendo…) o que é um doutorado sanduíche.

Claro que essa pergunta irá emergir de contextos afetuosos de seus amigos do mundo normal (provavelmente pelo Facebook ou MSN), os quais desesperadamente sentem a sua falta e querem saber se “Você ainda está VIAJANDO” ou ainda, uma variação seria: “Quando você volta da VIAGEM”.

Afinal, já que vamos viajar, por que não entramos em contato com algum centro de pesquisa em alguma praia paradisíaca em Cancun ou alguma cidade badalada como Mallorca ou Ibiza na Espanha. (Inclusive se alguém conhecer algum cientista na área de Neurociência nesses lugares, por favor, me passem o CV).

Claro que podemos ir para algum centro de pesquisa em cidades ditas glamorosas, como Paris ou Londres, mas, infelizmente, com os valores atuais das bolsas sanduíche, no caso de Londres, você ficará, realmente só nos sanduiches.

Claro que alguns podem considerar que o verbo viajar implica em “estar fora de sua terra natal” e por isso, já que não estamos no Brasil, estaríamos em viagem.

Hummm… Talvez não, já que não podemos viajar por mais de 90 dias, no caso da Europa, com o nosso passaporte brasileiro. Portanto, preparem-se para esses novos e profundos tipos de questionamentos.

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Texto escrito por Hugo Cogo – Doutorando da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – Departamento de Psiquiatria

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