É certo que quanto mais aprendemos tanto mais criamos a consciência que ainda falta muito para aprender. O mundo tem informações ilimitadas para nos passar. Mas quais de fato vamos usar?
Hoje fazer uma graduação é essencial para a inserção no mercado de trabalho, dependendo da carreira profissional que você decide trilhar, é necessário cursar o mestrado e/ou doutorado.
É sabido que a cada grau de estudo cursado o nível de profundidade aumenta e aos poucos vão se formando especialistas.
É como um “funil” do conhecimento, na graduação tem-se um ensino generalista; na especialização latu sensu busca-se um conhecimento maior em determinada temática; no mestrado um conhecimento mais aprofundado e, por fim, o doutorado que oportuniza mergulhar em uma área e poder contribuir para o avanço da ciência.
Uma coisa a se pensar é a respeito do que é ensinado nas universidades em nível de pós-graduação stricto sensu. Mesmo seguindo a carreira acadêmica, fico pensando em alguns programas de mestrado e doutorado que ofertam disciplinas passiveis de questionamentos.
Não sei se já aconteceu com você, ir para uma aula no mestrado e/ou doutorado e questionar: qual a aplicabilidade de tal conteúdo na vida profissional? Por que estou estudando isso?
Talvez estejamos comprometendo o tempo tão escasso que temos para estudar coisas que não utilizaremos como profissionais, em vez de aprender algo que tenha uma real valia.
É certo que conhecimento nunca é demais. Porém, é válido lembrar que o nosso cérebro tem uma limitação na capacidade de processamento da informação e na capacidade de memorização.
Se você pretende cursar o mestrado e/ou doutorado, deve gastar em média 6 anos, e depois de tanto tempo, perceberá que estudou muita coisa que não irá colocar em prática e não lhe trouxe uma contribuição significativa para sua vida como profissional.
Diferente do que nos é cobrado enquanto alunos de pós-graduação, os programas stricto sensu caminham com a falta de especificidade e foco.
Parecem não atentarem que a cada nível de estudo é necessário ter um direcionamento, portanto, seria melhor oferecer aos discentes disciplinas mais especificas as suas áreas de estudo.
Texto escrito por Paulo Gustavo da Silva, professor universitário e doutorando em Administração
Esse questionamento vem lá da graduação. Acho que se quem vai para uma aula de mestrado/Doutorado tem um perfil de prof./pesquisador, não se faz mais essa pergunta. Mais se o cara acha que depois de concluir seu curso, vai morrer dando aula, ai vai se perguntar toda hora. Afinal o que seria o mestrado/Doutorado sem as disciplinas?..uma questão de opnião
Pois é… pelo menos na pós em Biologia eu vejo muito sentido em fazer as matérias. Às vezes é sobre uma área distinta da sua pesquisa, mas que pode te dar novas ideias pro seu projeto, pode te fazer pensar em novas colaborações, englobar novas áreas e enriquecer seu projeto…
Fora que na maioria das vezes você quem escolhe o que fazer, quais matérias pegar. Tem só uma obrigatória no meu programa, e ela é de seminários. Pra mim de fato não faz muito sentido, pq estou numa área meio a parte do programa no geral, mas ajuda a ter um senso crítico. ..
Excelente texto!
Lamentavelmente, é o que acontece em boa parte das Universidades. Onde curso mestrado, há duas áreas de concentração em Direito. Dada a escassez de matérias relativas a minha área, possivelmente terei que cursar disciplina da outra área, para poder concluir os créditos. Este caso acaba sendo extremo. Todavia, acontece também dentro da área de concentração, que consegui cursar apenas uma disciplina sobre o tema da minha dissertação. Todas as outras, nem de longe tinham relação.
Olha Raquel Santos.
Hahahahahaha… Acho que já estive numa conversa onde este questionamento era a pauta… Tá certo!! Beijo
Achei a reflexão válida mas não concordo com esssa visão de especificidade. Cada vez mais temos que abrir nossos horizontes e expandir nossos conhecimentos. Mesmo que não usemos tudo que aprendemos, isso nos torna aptos a aprender coisas novas que, um dia, podem ser úteis sim. O papel do Mestrado e do Doutorado não é especialização. Para tal, existem as Pós Lato Sensu. Exemplo claro: muitas pessoas que focaram sua formação em Petróleo estão desempregadas e sem perspectiva de admissão. Quem se graduou e pós-graduou em Química, Engenharias de forma mais abrangente ainda pode buscar colocação no mercado. Abraço.
Prezado Paulo,
Acho muito legítima a sua indagação, mas creio que não se deve generalizar, pois as orientações variam bastante de uma área para outra e mesmo dentro da mesma área, se compararmos diferentes programas de pós-graduação.
Concordo que, por princípio, a proximidade entre as disciplinas cursadas e os objetivos de pesquisa tornam nosso esforço mais produtivo (tanto no sentido da motivação quanto da utilidade mesmo).
Mas veja, por exemplo, o caso de linhas de pesquisa mais recentes ou interdisciplinares, que ainda precisam se legitimar: se não formarem um contingente expressivo de profissionais naquela habilitação como poderão continuar? O que justificará a sua independência em relação às outras de onde ela surgiu? Essa formação básica depende de disciplinas específicas que se distanciam do objeto de cada pesquisa particular, porque nenhuma pesquisa envolve vários assuntos.
Isso parece uma contradição diante de todo aquele discurso da crescente especialização do saber, mas tem a ver com o processo nada linear de desenvolvimento das ciências e com as condições políticas e institucionais que viabilizam a existência dos programas de pós-graduação. Como dizia um professor que tive no mestrado, “ao contrário do que a gente gostaria, a vida acadêmica não é monográfica”. Ou seja, as nossas chances de inserção profissional são maiores à medida que dominamos uma gama maior de ferramentas.
Se no Brasil tivéssemos de fato a profissão de pesquisador (como existem de fato as de arquiteto, engenheiro, médico, economista) talvez isso fosse diferente. Como plano de carreira, o que existe são professores que, para sua própria desgraça, tem aptidão para a pesquisa se alternam entre dois trabalhos diferentes e igualmente importantes.
O que me parece um problema é que isso limita o rendimento individual em cada uma dessas atividades e cria a demanda por formação ampla que está na origem do problema que você identificou. Não sei se você concorda comigo, mas prefiro colocar a coisa nestes termos.
Um abraço!
Acontece sempre e eu sempre relaxo. Quem faz os currículos quer atender a uma faixa bem larga de interesses. Então…
Muito bom o texto, contudo faço uma resalva para estimular o debate. IMHO muitos cursos Lato Sensu perdem tempo demais com aulas (sendo focadas ou não na área específica). Mais tempo em laboratórios e/ou no exercício de resolver problemas científicos é muito mais produtivo. Ainda IMHO os cursos de capacitação, especialização e extensão é que tem esse papel de instrumentalizar para o exercício profissional.
Embora sempre pensemos em questão de aplicação prática do conhecimento, devemos refletir sobre alguns aspectos. Por mais que pensemos que o ideal seria efetuar estudos que contribuíssem para nossa vida profissional, o que ocorre é que na verdade nenhum conhecimento é em vão. Entretanto, uns são mais ajustados às necessidades da vida profissional e outros não. Se em alguma área se puder fazer a junção do conteúdo das disciplinas e cadeiras com as questões profissionais práticas, OK, mas devemos entender que, primordialmente, cursos stricto sensu (Mestrados e Doutorados) têm ou primam por ter enfoque mais teórico, científico e filosófico. Se auxiliarem em questões práticas profissionais, melhor ainda, mas este não é seu intuito. Cursos de mestrado e doutorado visam formar professores e pesquisadores, inserindo uma mentalidade analítica e científica, além de metodologias, para resolução de questões e problemas muitas vezes teóricos com vistas ao desenvolvimento e avanço científico de uma área do conhecimento. Essa mentalidade científica e analítica de problemas, objetos e questões, mais do que as disciplinas ou conteúdo em si, talvez seja a contribuição mais significativa destes cursos para o mundo profissional, ambiente onde deparamos muitas vezes com problemas e, por isso mesmo, tendo essa mentalidade e recursos metodológicos de resolução, isso pode ser bastante benéfico.
Por outro lado, àqueles que desejam aplicar conhecimento prático no mundo profissional, o ideal, ou mais indicado, seria cursarem cursos de prós graduação lato sensu, ou seja, especializações, que por definição são cursos, aí sim, voltados à resolução e aplicação prática de novas ideias e conceitos. Acrescento que o modelo de especialização conhecido como “MBA”, tipicamente americano, baseia-se numa prática de troca de ideias e experiências entre executivos-alunos, muitas vezes através de estudos de casos, onde os erros e acertos, e mesmo essa troca de experiência nas salas de aula, são vistos como mais efetivos do que construções teóricas mirabolantes.
Todo conhecimento é importante e depende da expectativa e do interesse que temos em seu uso e do entendimento de seus propósitos. O ideal é termos isso bem claro para podermos tomar decisões sobre qual tipo de curso fazer; qual o nosso propósito… Se quisermos conhecimentos para aplicação profissional, seria bom conhecer bem a área de atuação e suas necessidades e valores para sabermos que tipo de conhecimento ela preza ou valoriza. Muitas áreas profissionais valorizam até mesmo mestrados e doutorados, tanto quanto as especializações (cursos preferidos pelas empresas na hora de selecionar candidatos). Em contrapartida, se o que queremos é ingressar no mundo acadêmico e no magistério, viver e respirar ciência, os cursos de mestrado e doutorado são o caminho mais indicado, pra não dizer obrigatório. Essa é minha opinião. Parabéns pela excelente tópico da matéria, pelas questões suscitadas. Abraços a todos.