Sempre que digo a uma pessoa que eu faço doutorado, já começo a ter calafrios.
Porque em seguida, inevitavelmente, vem uma pergunta do tipo “ah é? e o que você está pesquisando?”
Pronto.
Não existe tarefa mais árdua do que explicar a uma pessoa leiga no assunto o tema da sua pesquisa.
É claro que a gente tem as hipóteses, os objetivos e, se bobear, até a metodologia na ponta da língua.
Mas traduzir tudo isso de maneira simples, concisa e coesa não é fácil.
Ainda mais quando parece ser impossível fugir dos termos técnicos.
Entretanto, a outra pessoa não espera de você uma aula sobre o assunto.
Às vezes ela nem mesmo quer saber de verdade o que você faz.
Quer apenas ser educada.
Terminada esta etapa, dependendo do grau de especificidade do seu trabalho, vem o segundo ato: convencer a outra pessoa da relevância da sua pesquisa.
Porque nem toda pesquisa é sobre a descoberta da cura do câncer ou sobre uma nova fonte de energia.
Existem pesquisas básicas, sobre enzimas, proteínas ou novos materiais cujos resultados são ansiosamente aguardados no meio acadêmico.
Mas vai explicar isso para a sua tia/vizinha/irmã-da-amiga-da-sua-prima.
Traduzir a linguagem do doutorado para o popular nem sempre é uma tarefa simples, não é?
Depois de algumas tentativas malsucedidas, estou pensando seriamente na possibilidade de ensaiar alguma resposta-pronta-engraçadinha para quando for pego desprevenido nesta situação.
Mas, e você, o que está pesquisando na sua pós-graduação?
Uma coisa muito interessante que aprendi numa matéria de Humanismo e Inovações Tecnológicas é que o seu tema de pós-gradução tem que ser tão simples de explicar que vc conseguiria explicar para uma criança.
O jeito mais interessante é encaixar numa metáfora, isso porque mostra que a gente mesmo domina o assunto da nossa pesquisa e se não é possível fazer a metáfora, é pq a nossa ideia ainda está incompleta.
Acho até que já tenho até uma “cara padrão”, qdo me fazem essa pergunta…abro a boca e falo que trabalho com serpentes e já ouço um “noooosssa!!” e vejo aquela cara de quem pensou:É doida!.
Daí a explicar o que é um transcriptoma, o que são genes expressos, bem não dá. Por isso tento resumir a coisa ao máximo possível dizendo que verifico quais as proteinas que compõem o veneno da espécie de serpente que trabalho. E mesmo assim, muitas vezes ainda tenho que ouvir um: “E o veneno serve pra quê, heim? é importante?”
Haja paciência, as vezes até mudo de assunto…
Trabalho com genetica humana e doenças infecciosas e meus pais até hoje não sabem dizer o que eu relmente faço qdo isso é perguntado a eles. Só dizem: Ela é bióloga / Mas ela trabalha em que? / Na Universidade, faz mestrado. / Hum… – Desisti…oO’
É o mesmo problema pra quem trabalha numa empresa que está criando algo novo ou específico e ou não pode espalhar a notícia ou o produto é igualmente complexo.
Sim, faça a frase pronta, e seja o mais genérico possível.
Ahh, eu to criando uma nova enzima pra pesquisa de laboratório. 😉
Putz…. pior quando a pessoa resolve desevolver o assunto do qual ela num entende nada…. ou vem a pergunta “E o que você encontrou nos resultados?” Hahaha….. Já desisti de tentar explicar… Quando me pergunto o que pesquiso respondo apenas usando as palavras chaves do resumo do trabalho… já dá pra simplificar bastante coisa, não?! Rs!
Nas ciências humanas ou sociais, essa pergunta é bastante complexa. Não estamos dentro de um laboratório fazendo teste com enzimas… estamos tratando de fenômenos ou objetos que fogem de laboratório. Então, imagine explicar a um leigo que você pesquisa, por exemplo, “as relações afetivas nas redes sociais” ou “a fotografia e suas imbricações com as imagens em movimento”. Paulada! Rsrsrs. Coitados de nós comunicólogos.
ótimo poster, Parabéns pelo blog! possue um conteudo muito bom, estou sempre aconpanhando. Quando poder visite o meu tb, te um conteúdo legal, bjs
Tenho pesquizado sobre bioinformatica.Leio jornal a procura de emprego todos os dias.
Quando alguem me pergunta: ah eh pos em que? digo: Auditoria em sist d saude dai a pessoa para e olha e perg: Pra q serve…sinceramente
pesquisado*
eu digo seriamente: “você não sabe que é falta de educação fazer esta pergunta?” e saio de perto com um olhar censurador. tem funcionado. quem faz pesquisa acha graça da resposta, ri e muda de assunto. quem não faz a menor idéia do que significa um doutorado, ainda é capaz de te pedir desculpas…
Uma boa opção é dizer que a CIA não permite que as pesquisas financiadas pela NASA sejam debatidas de modo aberto. Pelo menos a pessoa se assusta. 🙂
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk #EuRi
e eu, q faço doutorado em matematica?!?!
nao consigo sequer explicar pros meus colegas o tema da minha pesquisa, qto mais pras pessoas “normais”… kkkkk
mas, respondendo a pergunta do post: tento encontrar estruturas markovianas para sistemas parcialmente hiperbolicos. 😉
Explicar pros leigos é até fácil: a gente pode dizer que está “descobrindo” algo muito importante – um novo método diagnóstico, um paradigma de cadeias complexas, ou que tentamos entender fenômenos modernos ligados à globalização.
O terrível é tentar explicar pros colegas de laboratório, que vêm com as perguntas mais escabrosas, pior que banca de defesa!!!
PS: Na verdade, gostamos mesmo de falar sobre nossa pesquisa. Trabalho com análise imunoproteômica em autoimunidades (vou chegar a um biomarcador, e revolucionar o diagnóstico de febre reumática!).
eu prefiro inventar um tema qualquer na hora, tipo: “meu doutorado eh sobre acasalamento de computadores” ou como um computador por dominar o mundo. Teve uma vez que eu falei que doutorado era uma metodologia para doutorados em computacao… e varias pessoas acreditaram… =P
Vou usar essa do acasalamento de computadores.
Gostei da ideia também! kkkkkkkkkkk
Rá! Essa é fácil! Relação do consumo e publicidade de alimentos. O difícil é explicar o q uma nutricionista faz aí…
Distorção do Campo Imperfeito do Mundo das Idéias.
Pense numa pesquisa em Literatura!!!!
Tem graduado que me pergunta se existe pesquisa em Literatura!!! =P
E se você faz Humanas, então? Eu faço Mestrado em Literatura, e é quase impossível explicar pra qualquer leigo o que eu estudo ou pra que serve, sendo que a grande maioria da população nem imagina o que se estuda em um curso de graduação em Letras, imagina o Mestrado…
O pior é as pessoas acharem que você ainda está preso dentro das “literaturas nacionais”. Porque eu fiz Letras Inglês, as pessoas acham que eu faço Mestrado em Literatura Inglesa (minha concentração é em Teoria Literária).
– Faço mestrado em Literatura?
– Ah, que legal. Em inglês?
– Não, é em português mesmo?
– Ah, então Literatura Brasileira?
– Não, é só Literatura mesmo. Teoria Literária.
– Ah…
No meu caso, responder esta pergunta não é tão complicado pois trabalho com pequisa aplicada, então só digo que tô testando um medicamento e comparando os resultados com administração de células-tronco em animais epilépticos, coisas que qualquer pessoa já ouviu falar…
Trabalho com proveniência sedimentar de rochas metassedimentares no sul de Minas Gerais. Ou: sabe a areia da praia? Então, ela veio de algumas rochas que se desintegraram. Algumas rochas sofrem transformações quando passam por aumento de temperatura e pressão. Então, o meu trabalho é descobrir que rochas geraram a areia da praia antes dela sofrer modificações por aumento de temp. e pressão! Entendeu? Resposta: “Ahnnn que legal!”
Ou então: Mas pra que isso serve?
– Pesquiso literaturas africanas…
Com cara de espanto, me perguntam:
– E vc fala a língua deles?
Quando eu estou com paciência, eu explico. Na maioria das vezes, digo apenas: “falo”.
Somente digo: A definição de Universo em três exemplos.
Putz…! Essa é a pergunta mais terrível para nós da área de Economia Agrícola…
Eu estudo a interelação e variação dos preços de ingredientes em dietas de ovinos, rs. Já ouvi de tudo:
– Para que serve estudar o preço de dietas de animais ???
– Você é economista ou é engenheira agrícola ?
Daí eu tenho que responder:
Mestrado não é gradução eu sou graduada em Agronogócio, Economia Agrícola é minha linha de pesquisa.
E pior os leigos, nem mesmo se interessam depois que tentamos traduzir o fazemos em uma linguagem mais coloquial.
Com os colegas de academia a coisa pode ser pior, por exemplo:
– Mas o que isto tem haver com a nossa área …. ?
É fica difícil né.
Bom, em Física a diversão já começa desde a graduação!
Lhe perguntam:
-O que você estuda?
-Física!
-Puxa que legal, adoro me exercitar, também! Vou te apresentar um amigo que tem academia…
-Não, não… É a das contas!
-Nossa (cara de espanto/terror/”você é louco”)… É muito difícil, nunca gostei…
E mudam de assunto!
Bom o melhor é que agora a coisa fica mais resumida pois, ninguém espera que uma pessoa de óculos com cara de nerd e fora de forma esteja fazendo pós em Ed. física… Portanto fica tudo resumido ao fim da conversa e mudam de assunto ou simplesmente fogem!
Hehe, é engraçado mas triste ao mesmo tempo!
eu não vou falar, vai que vcs roubam, afinal, a minha ideia de tese de doutorado é a melhor do mundo… =)
Hahaha, é bem isso mesmo!!!
Resposta decorada: “Várias coisas. Estou tentando descobrir porque uma alga marinha flutua de dia e afunda de noite. Estou investigando o poder antibiótico dela. Estou tentando descobrir a composição química dela. Ih! [suspiro] Várias coisas.”
É complicado. O texto descreve bem a dificuldade de explicar o que a gente faz. Eu, por exemplo, trabalho com uma proteína de alga unicelular. Para o mundo, que diferença fazem as algas unicelulares ou a proteína com a qual trabalho? haha
Mas eu tento explicar e usar exemplos… Mas… Como explicar para quem não é de biológicas o que é uma proteína? Como explicar que estou “tirando” o gene desse proteína? Até explicar um simples PCR é um martírio quando leigos perguntam o que você faz. E não é só no doutorado. Eu to no mestrado e já sofro com isso rsrs
Eu vou no mais simples: falo curto e grosso pra desinteressar o assunto. “Estudo assuntos muito leves, como Depressão e Suicídio. Mas eu detesto falar disso em mesa de bar”.
Acho que de todos eu devo ser um dos mais sofridos… Falar que é matemático já é um problema (= doido); Matemático que faz mestrado em Engenharia então é quase um doente.
Explicar o que Modelagem Matemática então, sem chance, nem tento.
ja viu dentista explicando isso? pois é….uma desgraça só (y)
Desenvolvo tecnicas artísticas para serem usadas como ferramentas para coletar dados no campo das ciências sociais.
Uma situação que se repetiu muitas vezes foi em relação a “como explicar que eu vou virar doutora mesmo não sendo médica”. Muita gente, principalmente as pessoas mais simples, não entendiam…
Mas duas coisas aconteciam muito e eram muito desagradáveis, porque você realmente quer responder de forma educada e depois tem que esconder a cara-de-tacho…. Primeiro, a tal da piada pronta.
Eu estudei Avaliação Psicológica, Depressão e Suicídio.
Pronto, mal terminava a frase e já vinha piadinha do tipo “olha hein… fica depressiva não” ou ainda “a parte do suicídio não pode ser prática hein” e assim vai..
E segundo, achar que você vai ter a “cura”, a resposta pro problema da irmã-da-sua-sobrinha que acha que sofre de depressão “porque respondeu o teste que veio na revista Capricho do ano passado (na sala de espera do dentista) e deixou todo mundo preocupado”.
Certa vez estava eu iniciando num novo emprego (Uma pequena escola de informática – sou instrutor), e notei que todos tratavam o patrão de Dr.Fulano (ele sempre trajava branco quando vinha do seu trabalho em hospital de saúde); Quando na primeira oportunidade que houve, o coordenador o apresentou-me : – Maurício, este é o dono Dr.Fulano..Segue-se aqueles – Prazer ;-Prazer e tal….Resolvi perguntar : O senhor é doutor em quê? Bem, acho que esta pergunta selou minha dispensa, os presentes se voltaram pra ouvir a resposta e ele visivelmente constrangido desviava o olhar em diversas direções, seu semblante era de quem estava em cólicas, enfim ouvimos:EU NÃO SOU DOUTOR…Sou técnico em radiologia médica…- AH tá!…No dia seguinte fui demitido.
Nas artes então….
A maioria das pessoas nem sabe que existe curso superior em Música (quando digo que sou formada na área, quase todos perguntam “mas…vc tem que aprender a tocar todos os instrumentos?”).
O triste e ver que seus próprios colegas de sala não conseguem entender seu tema!
Bom, pra quem quiser se aventurar, pesquiso composição musical aplicada a música cênica experimental.
Bem… eu já nao não tenho paciência pra explicar o que se estuda no curso de letras, imagine uma pesquisa de pós.
Faço doutorado em ciência da computação. Minha pesquisa consiste em propor um aprimoramento matemática para uma metaheurística para selecionar variáveis em modelos de calibração multivariada. Como explicar isso de uma maneira simples para uma pessoa leiga?
Eu ainda estou fazendo pesquisa na graduação e já passo por essas dificuldades. O projeto do mestrado em contabilidade será sobre o capital intelectual inerente as atividades econômicas das empresas, que eu começo ano que vem. Durante a graduação já foi dificil explicar que eu trabalhava com ativos intangíveis e para que eles servem, eu sempre respondi que estava pesquisando como fazer as empresas ganharem mais dinheiro com menos esforço, sempre acabava ali o assunto.
É por isso que (Ainda bem) estão surgindo mais e mais eventos de ciência em bares, cafés e outros espaços não convencionais. Uma das bandeiras levantadas nesses eventos (como o pint of science, Happy Science Hour, chopp com ciência dentre outros) é a comunicação para público leigo. Isso sim me parece popularização da ciência. É uma pena que nem todos os pesquisadores querem se colocar nesse movimento de pensar sobre como comunicar sua pesquisa para público leigo.
As pessoas mal entendem que sou formada em oceanografia e menos ainda quando digo que trabalho com microplásticos kkkkk
Minha pesquisa é um misto entre botânica, climatologia e pedologia. Meu objetivo é reconstruir a cobertura dos biomas do brasil baseado nas caracteristicas abióticas de cada bioma e testar algumas hipóteses clássicas sobre o assunto. Bom, não me parece difícil traduzir para o leigo. Falo que busco descrever como foi o Brasil na ultima glaciação e como poderá ser com as mudanças climáticas atuais. As pessoas entendem. Ou fingem, talvez…
Fiz mestrado e agora to no doutorado em biologia celular e molecular. Trabalho com caracterização bioquímica de enzimas e expressão de recombinantes. Eu já tentei explicar a parte básica da minha pesquisa. Resultado: todos boiaram…menos os colegas de turma/lab. Família então, nem se fala…
Da última vez que um leigo me perguntou, respondi: Vc quer mesmo que eu te responda? Pareceu falta de educação da minha parte mas o outro lado levou na esportiva e rimos muito, pois de fato era/é muito complicado.
Como num dos comentários, ainda bem que existem iniciativas de se criar uma ponte entre a pesquisa e a sociedade em geral, pois na maioria das vezes, os objetivos da pesquisa é alguma aplicação bem útil para a população e acho que cabe também a nós se esforçar para fazê-los entender, nem que seja um pouquinho, sobre essa linguagem esquisita mas que faz sentido.