Disse o poeta Pablo Neruda: escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio, você coloca ideias. É, falou tudo, simples, no meio inserir as ideias. Eis a questão! Ei, quantas você já teclou o delete ou backspace hoje, ontem, ou na última vez em que abriu seu arquivo de dissertação ou tese? Pensou aí, obviamente ninguém realiza um controle minucioso deste.
Mas, este exercício objetiva apenas, remorar algo comum no processo de escrita na vida dos pós-graduandos. Apagar, é, apagar é preciso, com delete ou backspace, simplesmente o deletar está imerso no processo. Por que apagamos tanto, escrevemos, (re)escrevemos? Uma resposta plausível, pois, estamos pesquisando.
Pesquisar é movimento, idas e vindas, altos e baixos, interpretações, análises, leituras, e, é claro, escrita, muita escrita. E, faz parte do processo de escrita os “erros” e acertos. Ninguém nasce um “super-pesquisador” com “super-poderes” de escrita. Mas, sim, há um longo processo de apropriação do conhecimento e técnicas de pesquisa, isto é, tornamo-nos pesquisadores justamente no mundo da pesquisa, e, por conseguinte, avançamos como escritores.
Assim, o ato de apagar não deve ser estigmatizado durante o processo de escrita. Em contrapartida, o compreender de forma positiva propicia maiores avanços na escrita da dissertação ou tese.
Pois, apagar pode revelar a compreensão dos limites da sua escrita em uma etapa anterior, que hoje foi possível perceber, já que houve acréscimo, domínio de outra leitura do objeto de pesquisa. Apaga-se com intuito de rever, escrever algo melhor, mais fundamentado.
Do início ao final do processo de escrita o apagar inevitavelmente fará parte, terá seu espaço, seja por sua iniciativa própria durante a escrita individual, ou após a leitura de seu orientador(a), ou as sugestões realizadas pela banca.
Nada mais razoável, haja vista que você está tornando-se um pesquisador(a), o que revela um trajeto, crescimento intelectual, que muitas vezes, é materializado na sua escrita.
É comum, ouvirmos de professores e colegas a frase: como eu escrevi aquilo e foi publicado, isto é normal, não possuí nada de errado, avançamos da graduação, mestrado, doutorado…
Quanto mais conhecimento no objeto de pesquisa, maior possibilidade de enxergar os “erros”, limites, ou seja, só se aprende a escrever, escrevendo, e, logo, apagando.
O dito em relação ao processo de apagar pode se resumir a simples caracteres, palavras, parágrafos, páginas, ou até mesmo capítulos dos textos de dissertações e teses, muitas vezes, isso pode acontecer, devido a inúmeros motivos. E, é claro, refletir sobre este ato é importante.
O intuito não foi realizar uma leitura romântica do apagar no processo de escrita. Por favor, não apague tudo o que escreveu até agora. Inclusive, sofra antes de apagar, reflita. Enfim, delete, mas, com moderação, apague o necessário para a construção de um texto melhor.
Voltando ao nosso título, ou você apaga o caractere à esquerda do cursor com backspace, ou, à direita do cursor com a tecla delete, enfim, estas duas teclas costumam “colar” nos pós-graduandos na hora da escrita.
Assim, com os deletes e backspaces utilizados durante o processo de escrita deste texto, finalizo com reticências, pois escrever é um processo, e, apagar faz parte…
Boa reflexão Carla!! Super importante refletir e refletir… sobre o que estamos escrevendo e sobre o que estamos (ou estão) apagando, isso nos faz crescer e maturar na ciência! abraços.
excelente texto. E obrigada!
Legal sua reflexão mesmo, Carla! O delete e o backspace não são tão românticos quanto aquelas cenas de cinema em que o escritor arranca a folha da máquina de escrever e joga no lixo, mas no fundo representam a mesma coisa: o processo criativo e a autocrítica a todo vapor =) valeu por ajudar a ver o retrocesso do “apagar” como sendo na verdade um progresso!
Nossa, estou grata por esse texto ter chegado até mim num momento tão oportuno, tendo produzido um efeito lenitivo para mim. Me ajudou a perceber que estou perfeitamente em meu estado normal. Ótimos esclarecimentos! Parabéns!
Nesse assunto, gosto muito de uma frase atribuída a Hemmingway: “Escreva bêbado, edite sóbrio”