Durante a pós-graduação poucos alunos encontram oportunidade para refletir sobre as diferenças entre ser um pesquisador e ser um cientista. Aliás, poucos são os que entendem que existe uma grande diferença entre as duas profissões.
E os programas de pós-graduação, que deveriam promover essa conscientização nas disciplinas e orientações de seus cursos, infelizmente têm formado mais pesquisadores do que cientistas, o que no fundo é uma pena, visto que existem profissionais com grande potencial para se tornarem cientistas de sucesso, mas que na verdade estão trabalhando apenas como pesquisadores.
A grande diferença entre um pesquisador e um cientista
Basicamente, pesquisador é aquele profissional que faz pesquisa. O pesquisador quer saber a resposta de uma pergunta, faz uma pesquisa e elabora uma resposta. Não precisa ser cientista para fazer isso. Já o cientista, faz uma pesquisa e do resultado, das conclusões obtidas, discute dentro de um corpo teórico maior, procurando avançar em um determinado campo do conhecimento.
O pesquisador executa, cuida do método, cumpre o planejado, tem um bom cronograma, busca os objetivos, é organizado e comedido e com um esforço apenas razoável constrói um perfil de competente. Em compensação torna-se mais burocrático, menos criativo. Mas é o que constrói os resultados.
O cientista difere do pesquisador pela aptidão de ver os problemas relevantes e fazer boas perguntas. Além da intuição aguçada e sensibilidade refinada, o cientista naturalmente é cético e crítico. Requer-se um esforço sobrecomum e uma mente sempre aberta para novas abordagens e experiências.
O professor György Böhm, em um de seus textos, utilizou uma orquestra como exemplo das diferenças entre pesquisadores e cientistas: os músicos são responsáveis pelos sons e o regente pelo efeito harmônico do conjunto. Mas nem todos os músicos ou todos os regentes são capazes de compor e criar ideias musicais de qualidade. São os compositores que fazem isso.
As boas perguntas
Os cientistas veem problemas de outra forma e, com uma sensibilidade diferente, acentuam o cerne do problema com facilidade aplicando-lhe as perguntas básicas: O quê? Por quê? Quem? Como? Onde? Quais as implicações disso?
Aliás, as boas perguntas fazem toda a diferença. Nas revistas de ciência podemos observar uma grande quantidade de trabalhos em que os autores não produzem boas perguntas ou boas ideias. Muitos trabalhos são repetitivos não pela necessidade de comprovação, mas pela falta de novas ideias e abordagens, cumprindo assim apenas o mínimo de publicações anuais.
Mas, e você, agora que já parou para pensar nas diferenças entre as duas profissões, quer ser um pesquisador ou um cientista?
Todos gostaríamos de ser cientistas, porém a burocracia e os órgão de fomento nos cobra números e nos vê como tal.
Infelizmente o que a Jaqueline relatou é verdade no Brasil, precisamos de maiores incentivos e facilidades burocráticas em relação a ciência.
Passe a referência do texto do György Böhm pros leitores.
Vale lembrar que a própria ciência é burocrática. Os cientistas (ou pesquisadores) são muito inflexíveis em relação a novidades.
Gostei muito do texto e a pergunta realmente me instigou.
Gostaria de colaborar com algumas considerações. Entendo que há profissionais eminentemente
técnicos, que “seguem a cartilha”. Já outros que desenvolvem seu trabalho
intelectual além dos limites da técnica, reconhecidamente criativos. Neste
sentido concordo com o texto. Contudo, não creio que se possa atribuir especificamente
ao primeiro a denominação “Pesquisador”, e ao segundo a denominação “Cientista”.
Não vejo a pesquisa e a ciência como profissões distintas. Acredito que devemos
sempre empregar a reflexão crítica e criativa na pesquisa. Talvez
este seja apenas um preciosismo semântico, mas ainda sim, acho um tanto
perigosa a atribuição de conceitos categóricos para estas expressões. Ainda sob
outro ponto de vista, posso estar equivocado, mas não creio que existam formações
acadêmicas específicas para “pesquisador” e para “cientista”. Se houver, a
qualificação de pesquisador conduz à atuação profissional puramente técnica? Ou
seja, como “pesquisador” estou limitado ao tecnicismo, criatividade não é minha “responsabilidade”?
Como cientista, estou autorizado a ser criativo? Neste sentido, parece que todo
cientista é pesquisador (conhece a técnica), mas nem todo pesquisador é
cientista. Acho inadequado estabelecer esta segmentação epistemológica. Não
creio que a criatividade seja obtida por meio de qualificação acadêmica, nem
tão pouco entendo que seja um dom especial. Não acredito na visão de que há
pessoas criativas e outras não. Todos nós somos, por natureza, potencialmente
criativos. É pelo interesse, determinação e pelas circunstâncias da vida que alguns
materializam a criatividade e outros não. Por estas razões entendo que não é
adequada a distinção conceitual proposta. Trago estas ponderações para provocar
a reflexão crítica deste assunto. Indico também um texto que complementa este
argumento http://www.praticadapesquisa.com.br/2011/12/sera-que-as-ideias-acabaram.html
Obrigado ao autor do texto pela oportunidade de pensar sobre
este assunto e parabenizo a equipe do http://www.posgraduando.com pelo ótimo trabalho.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
Quanto à semântica, não há dúvida: você encontrará em qualquer dicionário que pesquisador é aquele que faz pesquisa.
Aqueles profissionais que fazem recenseamento, pesquisas de opinião, pesquisas de mercado, pesquisas de intenção de voto, pesquisas sobre uso de produtos, são pesquisadores. Pesquisador é aquele que tem uma pergunta e encontra uma resposta.
Mas não é preciso ser cientista para isso.
Um cientista faz pesquisa e do resultado, das conclusões obtidas, ele discute dentro de um corpo teórico maior.
Em resumo, todo cientista também exerce a função de pesquisador (e talvez seja esse o motivo da confusão), mas nem todo pesquisador é cientista.
Quanto à questão sobre a formação de pesquisadores e cientistas, creio que o problema esteja exatamente aí.
Pesquisa e método científico nós aprendemos, em via de regra, nos cursos de graduação. Ou melhor, nos bons cursos de graduação, já que educação virou uma mercadoria. Mas os cursos de pós-graduação, que são os responsáveis pela formação dos cientistas, tem formado profissionais acostumados (ou acomodados) em responder apenas questões simples, que irão terminar na publicação de um artigo, e só.
Na maioria das vezes não existe reflexão sobre teorias, sobre contribuições ou implicações daquele resultado em um contexto maior.
A diferença não reside na capacidade ou criatividade destes profissionais, mas no tipo de pesquisa que executam e com o que fazem a partir dela.
Acho que esse pessoal que não vê diferença entre pesquisador e cientista pode até não admitir, mas no fundo descobriu agora que na verdade é um pesquisador e não um cientista, e não gostou de saber que ser pesquisador não é essa coca-cola toda. De pesquisadores o Brasil está cheio. Agora cientistas mesmo, são poucos…
A despeito de achar que é um caso mais gramatical que conceitual, uma pena que no Brasil, o “pesquisadores” ganham melhores salários que os cientistas. Conceitos precisam ser revistos, MESMO.
Concordo com o Prof. Alejandro Arrabal e vou ser um pouco mais enfatico do que ele.
Nao vejo direfenca alguma entre os 2 profissionais. Trata- se apenas de semantica.
Tenham boas ideias, facam boa pesquisa e se considerem cientistas. NADA ALEM DISSO.
Nelson Wolosker
Claro, para fazer pesquisa para o IBOPE uma pessoa tem que ter o mesmo preparo e o mesmo estudo que uma pessoa que está pesquisando um novo medicamento. Afinal, é tudo pesquisa, o trabalho é o mesmo, né? Só que não. A verdade é uma só: acostumou-se no Brasil a chamar cientista de pesquisador do mesmo modo que médico é chamado de doutor. E porque todo mundo chama assim, acham que é o certo, mas não é.
Concordo contigo. Se “todo mundo chama” ou “se tem edital de concurso para isso” então deve ser o correto. E quem acha que uma questão de semântica ou de conceito não tem importância, não sei o que faz em uma pós-graduação. Não dá pra respeitar um profissional que trabalha com conhecimento e não sabe ao menos se definir como é.
Fazia tempo que não lia tanta besteira escrita com um verniz de intelectualidade pomposa. Normalmente tenho lido besteiras sem verniz. Neste sentido, só posso felicitá-los por embrulhar besteiras em papel celofane. Estou disseminando entre meus pares, não pelo acerto das colocações, mas por sua cretinice.
Nossa, Cláudio. Seu comentário realmente agregou muito à discussão. Parabéns pelos argumentos.
De fato, fiquei maravilhado em saber a diferença ntre o pesquisador e o cientista. Isso demonstra quea cada instante estsmos mais e mais aprendendo, pois o saber sempre está ao osso lado de aprendizado. Eu como aluno de Pedagogoia preciso a cada insante aprender mesmo e de verdade, pois estou em uma carreira que diz respeito a educação. Gostei em saber disso.
ah, então o pesquisador não usa ciência?
hmmmm….tá bom…
então, quando a gente vê nos editais “concurso pra pesquisador da fiocruz”… então a fiocruz não tá nem aí pra ciência?
… querendo extrapolar essa diferença conceitual eu estou pesqsuisando ou sendo cientista?
O pesquisador na maioria das vezes o usa o método científico e gera conhecimento também.
A diferença está no tipo de resultados que cada um busca e no que fazem com os resultados que encontram.
Quanto aos editais de concursos, temos no Brasil editais para professores que na verdade serão pesquisadores, para agrônomos que irão desempenhar atividades que poderiam ser realizadas por técnicos agrícolas, etc.
Se a gente for começar a listar o que existe de errado nesse país, vai faltar espaço nessa página.
Mas essa é uma questão tão fácil de se resolver: basta consultar um dicionário.
Pesquisador: adj. e s.m. Que ou quem procura, pesquisa.
Cientista: s.m. e f. O que se dedica à ciência; especialista numa ciência.
Quem faz pesquisa é pesquisador e quem faz ciência é cientista. Simples.
Esse mimimi todo é porque dói no ego dos pesquisadores alguém dizer a verdade: que as pesquisas deles são simples, e que apesar de usarem o método científico, eles não fazem ciência.
Achei a diferenciação entre Cientista e Pesquisador apresentado no texto algo bem vaga, algo no campo das idéias, apenas… Um cientista e um pesquisador fazem no cerne o mesmo trabalho, se um pode dar ao luxo de divagar e extrapolar a criatividade científica, muito bom, mas isso não torna o pesquisador metódico, e usual um não cientista.
Acho que o foco dessa discussão seria a relação qualidade vs quantidade de produção científica. Por isso, acredito que não cabe ao nosso bom e velho dicionário a função de dar um ponto final a discussão. Nós cientista e/ou pesquisadores (como queiram) temos o dever de contribuir para o progresso da ciência e, logo, da sociedade. Portanto, a crítica feita aqui, no meu ponto de vista, é interna, pessoal. A ciência é feita com base em pesquisas (científicas) e seus resultados são produtos de questões também científicas. Por isso, acredito que o resultado de qualquer pesquisa científica é um elemento a mais, assim como, as diferentes combinações de elementos químicos em busca da cura de alguma doença. Talvez isso não seja tão claro em alguns campos do conhecimento científico como nas ciências humanas dada a complexidade do seu objeto e daí nos questionarmos sobre o que estamos produzindo…em vez de criticar a quantidade em relação a qualidade da produção científica, prefiro acreditar que foi só mais uma combinação de elementos mal sucedida.
Alguém já viu um edital para cientistas? No Brasil, com certeza não. Isso porque a profissão “CIENTISTA” não é reconhecida formalmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Independente do rótulo “cientista VS pesquisador”, o que temos de concreto é que a ciência no Brasil é feita por pós-graduandos e por professores universitários nas horas vagas.
Diante de toda essa discussão. Afinal, qual a diferença real entre cientista e pesquisador? Já que ambos em “teoria” possuem a mesma formação. No Brasil valoriza – se muito pouco a pesquisa. A diferença que vejo entre os dois profissionais recai exatamente na função que exercem. Cientista faz pesquisa em tempo integral, é pago para só fazer pesquisas e descobertas, enquanto o pobre pesquisador tem que lecionar, orientar e fazer pesquisas nas “horas vagas” como bem colocou um colega.
Existe a profissao de cientista como tal para assim escolhé-la e começar vivir daquilo?
Acredito que todos temos qualidades de pesquisador e de cientista en diferentes proporçoes.
Interessante o tema. Hoje em dia, tenho uma noção um pouco melhor da diferença entre um e o outro. Pelo menos na minha área (Ciência da Computação), é difícil conhecer pessoas no Brasil com esse perfil de cientista.
Na área de Ciência da Computação, um exemplo de cientista é o russo Vladimir Vapnik, um dos criadores de uma técnica conhecida como Máquinas de Vetores de Suporte (Support Vector Machines – SVM). Ele criou essa técnica junto com Alexey Ya. Chervonenkis em 1964, mas não parou por aí. Ele continuou estudando o problema e aprimorando a técnica por mais de 30 anos. Hoje em dia, essa é uma das principais técnicas na área de Machine Learning.
Abraços!
Achei o texto com um tom muito depreciativo da profissão de pesquisador. Por exemplo na passagem “O cientista difere do pesquisador pela aptidão de ver os problemas relevantes e fazer boas perguntas.” Pesquisadores também fazem questionamentos muito pertinentes e buscam entender o problema, na maioria das vezes muito mais a fundo do que o cientista, pela definição apresentada no texto. Na minha compreensão, o que existe são bons e maus profissionais. Na área científica, temos o grupo dos acomodados, os quais publicam sempre trabalhos semelhantes e/ou fragmentos de artigos , e o grupo de profissionais que realmente fazem ciência, seja ela básica ou aplicada. Essa distinção de profissões é totalmente desnecessária.
Concordo com o VInicius Lenz.
Deveria ter como dar like aqui…
Concordo com o texto. Existe sim essa diferença entre os dois. Recomendo o livro do prof. Gilson Volpato. Muito bom! Nele ele aborda bem a diferença entre os dois. O cientista é capaz de, depois de uma simples pesquisa observando o comportamento de alguma população qualquer, ampliar e elaborar um modelo para situações mais complexas. O pesquisador responde apenas a pergunta inicial e coloca um ponto final. Um exemplo disso é a ciência de John Nash, que observando o comportamento de pombos, tentava descrever algo mais complexo, e não somente o próprio comportamento de pombos.
também penso na mesma linha que você. acredito que Newton, john nash, Einstein são verdadeiros exemplos de cientistas.
REFLEXÃO: “RECONHECIMENTO – QUAL É O SEU RÓTULO?”
Caros colegas, li todos os comentários e cheguei a uma reflexão de que a vivência gera experiência para tal fato. Vejo o futuro profissional habilitado sem habilidades. Quero chegar na metodologia, nas interfaces, o resumo, a introdução, as características definidoras, o desenvolvimento e por fim a conclusão de uma bibliografia baseada em rótulos. Nada menos. Qual foi as dificuldades encontradas?
Gregor Mendel nasceu em 1822, em Heinzendorf, na Áustria. Era filho de pequenos fazendeiros e, apesar de bom aluno, teve de superar dificuldades financeiras para conseguir estudar. Em 1843, ingressou como noviço no mosteiro de agostiniano da cidade de Brünn, hoje Brno, na atual República Tcheca.
Após ter sido ordenado monge, em 1847, Mendel ingressou na Universidade de Viena, onde estudou matemática e ciências por dois anos. Ele queria ser professor de ciências naturais, mas foi mal sucedido nos exames.
De volta a Brünn, onde passou o resto da vida. Mendel continuou interessado em ciências. Fez estudos meteorológicos, estudou a vida das abelhas e cultivou plantas, tendo produzido novas variedades de maças e peras. Entre 1856 e 1865, realizou uma série de experimentos com ervilhas, com o objetivo de entender como as características hereditárias eram transmitidas de pais para filhos.
Em 8 de março de 1865, Mendel apresentou um trabalho à Sociedade de História Natural de Brünn, no qual enunciava as suas leis de hereditariedade, deduzidas das experiências com as ervilhas. Publicado em 1866, com data de 1865, esse trabalho permaneceu praticamente desconhecido do mundo científico até o início do século XX. Pelo que se sabe, poucos leram a publicação, e os que leram não conseguiram compreender sua enorme importância para a Biologia. As leis de Mendel foram redescobertas apenas em 1900, por três pesquisadores que trabalhavam independentemente.
Mendel morreu em Brünn, em 1884. Os últimos anos de sua vida foram amargos e cheios de desapontamento. Os trabalhos administrativos do mosteiro o impediam de se dedicar exclusivamente à ciência, e o monge se sentia frustrado por não ter obtido qualquer reconhecimento público pela sua importante descoberta. Hoje Mendel é tido como uma das figuras mais importantes no mundo científico, sendo considerado o “pai” da Genética. No mosteiro onde viveu existe um monumento em sua homenagem, e os jardins onde foram realizados os célebres experimentos com ervilhas até hoje são conservados.
O mundo é assim: prove a verdade ou ao contrário, saberei quem é. “Rótulo”. Qual a importância? “Reconhecimento”.
Sinto discordar, mas acho que está sendo confundido o pesquisador com o técnico em pesquisa. Não conheço no meio acadêmico pesquisador que não seja “cientista” como fala o texto. Em dissertações e teses há o momento da “pesquisa” e o momento da reflexão e interpretação dos resultados, da discussão na academia para que o conhecimento sobre o tema avance e sejam estabelecidos novos limites para o conhecimento científico. Acho importante a reflexão, mas equivocada a conclusão.