A dependência do meio acadêmico em relação a critérios baseados na integridade da pesquisa para atestar sua veracidade é extremamente crítica. O sistema que atesta o rigor na execução do método científico ainda funciona na base da confiança: se um estudo provém de uma instituição renomada, foi publicado por um jornal de grande credibilidade ou realizados por pesquisadores de renome, tende a ser visto como mais confiável e a receber maior respaldo do meio em geral. Porém, escândalos recentes envolvendo pesquisadores renomados e trabalhos publicados em periódicos de prestígio demonstram que a integridade da pesquisa não é um critério 100% confiável.
Quem garante a qualidade das pesquisas?
A palavra integridade vem do latim integer, que significa “completo”. O problema em basear o sistema de confiabilidade acadêmica na integridade da pesquisa é que para isso ser eficaz torna-se necessário que se possa confiar em todo o processo do fazer científico, ou seja: não se pode confiar em certas partes do processo – como a integridade da avaliação do periódico – mas desconfiar de outras, como o rigor da realização de experimentos. No passado, tentou-se métodos de garantia desta integridade, como metodologias comumente aceitas, revisão por pares, transparência na disponibilização de dados de pesquisa e métodos de verificação de resultados, mas todos estes procedimentos parecem não estar mais funcionando no contexto da Ciência atual.
Parece ocorrer um acentuado declínio na integridade científica em todos os componentes da pesquisa e suas etapas: falta de rigor na execução do método científico, produção de estudos falsos, manipulação de resultados, revisão por pares fraudulenta, falsa autoria, periódicos com métodos duvidosos e até mesmo conferências falsas ou irregulares. Este preocupante cenário de aumento da ocorrência de má conduta científica pode ser explicado tanto pela cultura do publicar ou perecer quanto pela facilidade atual em se descobrir fraudes.
A cultura do publicar ou perecer contribui para que haja aumento de estudos realizados sem os cuidados necessários ou para que sejam realizadas pequenas fraudes de autoria (como o autoplágio) por parte dos pesquisadores, além de criar espaço para a multiplicação de meios duvidosos para escoar a produção, como eventos e periódicos predadores (que aprovam qualquer trabalho mediante pagamento de taxas). Por outro lado, a tecnologia e a facilidade que ela permite de pesquisar informações e cruzar dados viabiliza que casos de má conduta científica sejam mais facilmente identificados.
Soluções e Riscos
Mas há soluções viáveis para este cenário a médio prazo. Algumas soluções seriam: – Estabelecer um código de ética com punições severas em casos de não cumprimento (incluindo penalidades financeiras); – Reservar fundos de pesquisa para financiar replicação de estudos que validem experimentos; – Exigir transparência de dados usados em pesquisas com a disponibilização completa dos dados para facilitar a replicação dos estudos; – Exigir respostas formais e em tempo hábil às indagações motivadas por falha em replicar os resultados de experimentos; – Requerer que periódicos ofereçam espaço para publicar a replicação de estudos; – Criar um órgão de supervisão do trabalho dos pareceristas para incluir a certificação e pagamento do trabalho de revisão por pares
A adoção de medidas como estas, no entanto, iria requerer o comprometimento de várias instâncias do processo de produção e difusão científica e que todos trabalhassem de modo colaborativo. Isso sem contar que medidas como esta teriam que ser adotadas em escala internacional para obter resultados efetivos e não excludentes. Dada a complexidade da questão, pode-se afirmar que a crise de confiabilidade acadêmica parece ainda estar longe de ser atacada por uma solução eficaz e abrangente, logo, verificar a real confiabilidade das fontes e seus resultados fica por conta e risco dos próprios pesquisadores.
Para saber se uma fonte de pesquisa é realmente isenta de qualquer tipo de caso de má conduta científica é preciso realizar uma investigação por conta própria sobre os realizadores do estudo, a hipótese em questão e seu ineditismo, o recorte da pesquisa ou grupo de controle, a fonte do financiamento para tal estudo, a instituição à qual o mesmo está filiado e a credibilidade do periódico onde foi publicado. Tantas verificações são necessárias para que você não cite ou baseie pesquisas próprias em fontes duvidosas, vindo a comprometer a qualidade do seu trabalho e sua própria credibilidade. Este trabalho de verificação pode parecer cansativo e talvez até exagerado, mas certamente evitará problemas futuros.
Com esse texto vieram alguns nomes em minha cabeça. Esqueceu de citar os pesquisadores que pegam carona nas publicações, principalmente qualis 1A. As vezes o pesquisador empresta apenas um aparelho e sai na publicação elevando assim o número de publicações da instituição. Belo engodo.
Alguém já ouviu falar de um caso em que um cargo de professor titular foi preenchido antes de o edital do concurso ser publicado? Creio que sim. E de professores entrando em depressão dentro de minúsculos departamentos porque o “chefe” do dia resolveu persegui-los? E de docentes que deixam sua paixão por este ou aquele partido político falar mais alto que qualquer coisa? A ética tem passado bem longe de alguns centros. Não me espanto com nada.
Procure saber o que ocorreu na Universidade Federal de Rondônia após a cassação do Reitor.
O que aconteceu?Aproveita e conta.
Recentemente passei duas situações de absoluto desrespeito em relação a uma tentativa de concorrer a um pós-doc(que para variar perdi) e observei que as pessoas que me deixaram na mão sequer passaram qualquer constrangimento por agirem tão mal.Aliás,uma delas deixou claro que a exclusão já estava combinada,tipo nome em lista negra. E depois ainda querem que eu acredite que num memorial, ou num romance,por exemplo, se ficcionalizar algumas situações experienciadas é anti-ético.Mas não é mais anti-ético assinar como orientador de um trabalho que não se orientou em nada?Não é mais anti-ético excluir um colega com desculpas caluniosas sobre ele para manter a patota unida?Enfim,a lista deve ser extensa de situações que vão sendo observadas pelos corredores universitários que parecem estar formando juízes sem toga e com salários bem inferiores ,em vez de formarem pessoas realmente críticas e direcionadas para o desenvolvimento pleno de cidadãos.
“Requerer que periódicos ofereçam espaço para publicar a replicação de estudos;”
Algo neste sentido já está sendo feito: The ReScience Journal
Vale ressaltar que existem aquelas pessoas que se autodenominam “pesquisadores”, “produtores de ciência” e levam nome em publicações onde tiveram mínima participação (as vezes nem há participação), acho que essa deveria ser uma conduta bastante analisada por periódicos e quaisquer meios de divulgação cientifica….