Olá.
Descobri o blog há pouco tempo e achei-o interessante, acompanho pelo feed. Mas o que eu gostaria de dizer é que eu ainda sou graduando e gostaria de fazer uma iniciação científica. Porém, me sinto despreparado. O meu curso é de Linguística, e minha dúvida é:
É normal essa insegurança? Eu posso começar uma iniciação científica sem saber muita coisa sobre o assunto (mesmo me interessando por ele, obviamente) e então desenvolver esse conhecimento?
Abraço,
Gabriel.
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Caro Gabriel,
Tenho boas e más notícias para você. Comecemos então pelas más: sabe essa sensação de despreparo, de que você não sabe nada e que não tem segurança sobre assunto algum?
Pois então, ela não irá desaparecer após a sua formatura. Nem após um eventual mestrado ou doutorado. Provavelmente essa sensação terrível irá te acompanhar durante toda a sua vida profissional.
A boa notícia é que você não está sozinho. Eu estou no doutorado e me sinto da mesma forma em relação ao tema da minha tese. Enquanto leem este texto, aposto que muitos pós-graduandos, leitores deste site, estarão balançando a cabeça com um sorriso de concordância.
Tive um professor durante a graduação que, veja só, estava para se aposentar e me garantiu que iria encerrar sua carreira acadêmica com essa sensação de não saber nada.
Por isso, tranquilize-se: essa insegurança é muitíssimo normal e comum. Estranho mesmo seria se você não a tivesse.
Durante a graduação, eu trabalhei em apenas uma linha de pesquisa. Quando comecei o mestrado, em outra instituição, meu novo orientador me propôs outra linha, da qual nunca havia sequer estudado como disciplina. Aí bateu essa mesma sensação que você descreve.
E sabe o que eu descobri?
Não existe nada mais motivador do que um assunto completamente novo para a gente. Ele atiça nossa curiosidade. Essa insegurança nos faz dedicarmos com maior afinco.
Aposto que se eu estivesse ainda na mesma linha de pesquisa da graduação até hoje, estaria desmotivado e cansado do mesmo assunto.
Tanto é que agora no doutorado escolhi outro tema, completamente diferente das minhas duas linhas de pesquisa anteriores.
Dá trabalho? Claro que dá.
Você terá que partir do zero, aprender o básico, depois terá que aprofundar seus conhecimentos a ponto de conseguir discutir seus resultados. E isso você não consegue da noite para o dia.
Não vou mentir para você, se você fosse trabalhar com um assunto que você já domina, seria muito mais fácil. E você economizaria muitas horas de leitura, estudo e dedicação.
Mas qual seria a graça?
Será que a sua motivação seria a mesma?
Será que o seu crescimento profissional seria o mesmo?
Minha aposta é que não.
Já que você nos disse que tem interesse pelo tema, então ignore essa sensação de insegurança, que é inteiramente normal, e mergulhe de cabeça.
Dedique-se com afinco.
Minha sugestão é que você comece com a leitura de livros básicos, bem didáticos. Depois passe para os chamados livros clássicos, que são referência no assunto.
Em seguida, é hora de passar para os periódicos científicos na sua área. E converse muito sobre o tema.
Discuta suas dúvidas com seus colegas, com seu orientador e, principalmente, fale sobre o que você aprendeu com pessoas que pesquisam outra coisa.
Você não tem ideia do quanto uma pessoa de fora, com outra visão sobre o assunto, pode contribuir com o seu trabalho.
Olá Gabriel,
É normal sentir-se despreparado. Tb estou na graduação e sempre quis fazer IC. Mas eu tenho uma história: sou graduada em jornalismo e agora faço biblioteconomia. Como fiz jornalismo numa universidade particular, lá praticamente inexistia incentivo à pesquisa. Então se a sua universidade for particular, dependendo ela talvez tb tenha esse tipo de dificuldade.
Quando comecei biblioteconomia numa univ. federal, já sabia desde o início que queria fazer pesquisa e só estava esperando alguma oportunidade de bolsa aparecer. E apareceu logo na segunda fase do curso. Entrei de cabeça – mesmo sem saber nada e não ter experiência em pesquisa – e agora tenho um artigo encaminhado com a professora que foi a minha orientadora. Foi uma experiência muito boa, gostei mesmo.
Você pode sim começar uma IC sem saber nada sobre o assunto: este também foi o meu caso. Não importa se você não sabe nada: o que importa é que você seja auto-motivado e uma pessoa curiosa, que ande com as próprias pernas e saiba se virar sozinho, quase que autodidata (mas nem tanto). Se o seu orientador for mesmo bom, vai te passar um monte de leituras e te inteirar do assunto. O resto, você alcança sozinho. Não dependa de professores, pra nada. Neste caso de pesquisa, eles é que estarão te usando como apoio e não o contrário… rs
Fiz IC em 2008-2009 e agora estou em outro projeto de pesquisa para 2010-2011. A primeira IC me serviu como base para eu saber como se faz pesquisa acadêmica, quais são os moldes, etc. Até gostava do assunto que estudava mas eu percebi depois de um tempo que não era *exatemente* aquilo que eu queria estudar. Não faria um TCC sobre o tema, por exemplo, nem nenhum outro trabalho mais relevante.
Esta minha pesquisa de 2010-2011 que farei até o ano que vem, é sobre um tema pelo qual sou muito fascinada e estou extremamente empolgada para estudar e conclui-la tudo bem.
Se você pretende mesmo seguir carreira acadêmica, eu sugiro que você faça uma IC o quanto antes. E não adianta: 1. tem que ser intrometido mesmo, converse com os professores; 2. tem que mostrar-se interessado; 3. tem que ser curioso, auto-motivado e um tanto quanto independente; 4. tem que saber chamar atenção de orientador muito relapso;
Pra mim é isso.
Abraços e boa sorte.
Oi Dora.
Obrigado pelo relato.
Que bacana seria se mais leitores compartilhassem suas experiências desta forma…
Abraços e inté.
Apenas aproveitando o tópico…
Quem nunca teve oportunidade de trabalhar em pesquisa… Consegue fazer um bom mestrado?
David,
O raciocínio é mesmo.
Se você estiver motivado e dedicar-se com afinco, não há nada que você não possa fazer na sua vida profissional.
As palavras-chave aqui são comprometimento e dedicação.
Abraço e boa sorte nas suas escolhas.
Quais as perpectivas do Pos-doutorado no exterior? É um atraso para entrada no mercado de trabalho ou independente do caminho a ser seguido, traz experiências de vida que superariam esse atraso?
Muito bom esse tópico viu!!! Comecei a trabalhar com pesquisa e decidi fazer mestrado só quando ja estava do final da graduação…e a sensação foi exatamente essa: “será que dou conta??” SIM, a gente sempre dá conta quando se dedica =)
E também sai da faculdade achando que não sabia nada e aos poucos você percebe que não é bem assim, e que todo mundo tem a mesma sensação!!!
E o fator MOTIVAÇÃO é realmente o mais importante. Mudar de cidade e de faculdade então, é uma gás a mais!! Na minha opinião, se for possível fazer isso, acho que faz muita diferença sair do “conforto de casa” e dos colegas e professores que você já conhece e ir atrás de novos desafios!!!
=)
Gostei muito do texto! É exatamente desta forma que estou me sentindo agora. Terminei a minha graduação a qual trabalhei e defindi a monografia em um tema e agora estou indo fazer mestrado em outro instituição com um tema bem diferente. Estou com medo do desconhecido? Claro! Tema novo como o texto mesmo citou representa novos desafios, novas dificuldades, porém atrelado a isto vem novas descobertas, novas motivações e claro, novas oportunidades!
Que chato seria se a vida fosse feita só de escolhas seguras ou certas. Penso que é extremamente válido arriscar algo novo, se entregar mesmo pois novos horizontes surgem somente a partir do momento em que geramos condições para que isto ocorra.
Antes de mais nada, queria dar os parabéns ao posgraduando. Vocês estão de parabéns!
A respeito da dúvida do Gabriel, concordo com exatamente tudo dito pelo posgraduando. A insegurança estará sempre, independente do nosso título, presente. Não tem mistério, carreira acadêmica exige bastante leitura, labor, pesquisa, ousadia. Sem isso, realmente, você estaciona e não sai do lugar.
Nesse período de descobertas na Iniciação Científica, eu acho que o aluno tem mesmo é que arriscar. Procura saber um pouco da área de atuação e a perspectiva teórica do orientador e, se vir alguma coisa interessante, arrisque! Se não gostar, não tenha medo de pular fora e tentar recomeçar; o que não pode é permanecer em uma pesquisa desagradável só por alguns míseros pontinhos no Lattes. Se se identificar, seja ousado, cobre do orientador, leia periódicos, procure as referências, leia, leia e leia um pouquinho mais.
Vá a eventos não somente como ouvinte, mas tente também produzir, nem que seja pôster. Te dá, aos poucos, maturidade e, com o reconhecimento, alivia a insegurança.
Durante minha graduação, passei por 3 IC. Hoje, no mestrado, vejo que esse período foi extremamente importante na minha carreira. Foi o momento de descobertas e amadurecimento. No fim, quando a gente olha pra trás, vê que, se tivéssemos dado um passo pra trás, por conta da insegurança, hoje não estaríamos onde estamos.
Vá sem medo de ser feliz!
Ps.: Linguística é uma área linda. Tamo junto! 😛
Abraço a todos!
Vale lembrar que a Iniciação Científica, como o próprio nome indica, tem a função de introduzir os graduandos na prática da pesquisa. Portanto, é natural que os bolsisas não tenham nenhuma experiência nisso quando começam.
Minha sugestão é procurar um professor que leve a sério sua atividade de pesquisa, e tenha rigor metodológico. O tema não é tão importante, porque como já foi mencionado aqui todo mundo costuma trabalhar com vários temas durante a carreira, até acabar se estabelecendo mais firmemente em um ou outro. O importante é entender o espírito da pesquisa; a partir daí, o resto flui com mais facilidade.
Este texto deu uma motivação a mais para mim… Estou na segunda (e mais espinhosa) metade do mestrado, e já tenho uma breve noção de que não quero continuar na mesma linha de pesquisa para o doutorado. A questão é: como passar para outra linha de pesquisa?
A maioria das pessoas que conheço permanecem no mesmo tema, no mesmo programa e com o mesmo orientador…
Vamos ver, se no ano que vem eu tiver boas notícias, eu posto aqui. 🙂
Nossa!
Estava com uma duvida similar a do leitor.
Porem eu fui bolsista de IC por dois anos em uma linha. E não me dei muito bem com o assunto, adorava ler e falar sobre ele. Mas tive varios problemas,
e estava desmotivada.
então meu relatorio de estagio exigiu outra coisa, e estou muito feliz com a troca. Inclusive acredito que tentarei seguir esse tema para o meu mestrado 🙂
Estou com muita dificuldade em responder uma pergunta, preciso pesquisar e aprofundar ainda mais ,muitas vezes sentimos inseguros e julgamos incapazes de fazer pesquisa pq isso acontece ?
Relaxa Gabriel estou passando todos passam por isso. Eu fui IC dois anos trabalhando em uma linha de pesquisa, e agora no mestrado estou em outra linha completamente diferente, no começo me senti MUITO perdida, mas agora as ideias estão começando a clarear, porém como já foi dito aqui isso nos MOTIVA. Respira fundo cara e mergulha de cabeça se é isso que você quer, e se der MEDO finge que tem CORAGEM e vai mesmo assim.
Um abraço.
Olá, se você tem bons orientadores, vai em frente amigo !! A insegurança tem um lado positivo, pois nunca sabemos tudo, e isso faz com que você busque saber cada vez mais.. sempre !! E conviver com isso te torna uma pessoa humilde !! Seus orientadores vão te mostrar o que estudar no momento certo e o que fazer.. vai em frente, boa sorte !!