Se durante a Pós-graduação você ainda não precisou escrever um artigo em inglês, certamente em breve precisará. E, quando esse momento chegar, provavelmente surgirão dificuldades aqui e ali, devido ao simples fato de que escrever em outro idioma não é como escrever em nossa língua materna.
Foi tendo isso em mente que Mariel Marlow, epidemiologista americana com doutorado realizado no Brasil, resolveu fazer um compilado de 10 deslizes bastante comuns que nós brasileiros cometemos quando escrevemos em inglês e, o mais importante, sugerindo maneiras de melhorarmos nossa escrita.
Como ela própria diz em seu texto, publicado em março de 2014 como editorial na revista Clinics, estes 10 deslizes não são exatamente erros, mas sim um inglês “fraco” que pode facilmente ser substituído por termos mais adequados. Afinal, uma coisa é escrever em inglês, e outra é escrever bem em inglês.
Por isso, como aperitivo para o editorial de Mariel, que fortemente recomendo para quem esteja precisando escrever em inglês (isto é, quase todos nós pós-graduandos!), resolvi colocar neste texto uma demonstração com três das 10 dicas que ela oferece:
1. Evitar frases que começam com “It is”
No português, é muito comum começarmos frases com “é muito comum”, e isso normalmente não fere o bom uso do idioma. Por outro lado, na tradução direta para o inglês, “it is very common” tem uma estrutura simples e até infantil, ainda que gramaticalmente esteja correta. Isso vale também para os sempre utilizados “It is important” e “It is interesting”, que podem ser substituídos por uma inversão na frase – por exemplo, ao invés de “It is important to highlight the results of Fulano et al.”, escrever “The results of Fulano et al. are important to highlight…”, e então explicar o motivo de você enfatizar estes resultados.
2. Usar o “the” somente quando se referir a objetos, pessoas ou eventos específicos
O português permite que comecemos frases com os artigos “O”, “Os”, “A” ou “As”, como no caso de “As células foram plaqueadas”. No inglês, entretanto, uma frase começando com “The cells were plated” soa pouco profissional, e o ideal é remover o “the” do início de frases e, nesse caso, escrever “Cells were plated”.
3. Remover o “that”
O texto de Mariel sugere que um jeito rápido de começar a escrever bem em inglês é reescrevendo esta mesma frase removendo o “that”: “Mariel’s text suggests that a quick way…”. Se você ler a frase em voz alta com e sem o “that”, perceberá que ela flui melhor sem ele. Entre as palavras na literatura científica que normalmente não precisam ser acompanhadas do “that” estão: suggest (ou suggested), observe, found (ou was found), show (ou shown), is important e highlight.
Pode ser que a princípio algumas dessas modificações soem um pouco esquisitas, mas se prestarmos atenção na ortografia dos papers, veremos que de fato estão entre os primeiros passos para um texto bem escrito. Assim, dica após dica e com um tantinho de treinamento, vamos aprendendo a redigir bons artigos.
Boa escrita!
Referência:
MARLOW, M. A. Writing scientific articles like a native English speaker: top ten tips for Portuguese speakers. Clinics, 69(3): 153-157. 2014.
Thaís Côrtes
Valeu, valeu, Alessandra!
Carlos Almeida
Cleber Hilário
Jarvis Campos
Cláudia Ferreira Ricardo Campos Junior Ellen Genaro
gostei!
Carina Ulian…..Raíssa Salgueiro…Angelica Alfonso..Denise Theodoro…Tália Missen Tremori…Malu Lourenço….
Onde consigo encontrar o texto integral? Obrigada’
Olá Vanessa, o texto integral está no seguinte link: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3935133/, ou então você pode procurar no Google pelo título “Writing scientific articles like a native English speaker: top ten tips for Portuguese speakers”.
erro no link
Já foi corrigido, Carlos. Qualquer coisa, tente copiar e colar este link: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3935133/
Talvez uma dica que a Prof. Marlow não considerou ou pelo menos não foi postado aqui (estou me baseando apenas neste texto do posgraduando) refere-se à necessidade da leitura para uma boa escrita. Para escrever bem em qualquer idioma devemos ler bastante no idioma que queremos escrever. Pessoalmente, tenho me beneficiado muito disto. Faço doutorado nos EUA (Sociologia) e de tanto ler em inglês, já estou pegando (mais ou menos) a estrutura da escrita acadêmica daqui (falo dos EUA, Canadá, e Inglaterra). Ler ajuda bastante na hora de escrever. Um segundo aspecto que gostaria de mencionar é com relação à pessoa na escrita. Aqui (EUA) é muito comum escrever na primeira pessoa e na voz ativa. No Brasil e em outros países, escreve-se muito na terceira pessoa e na voz passiva. Portanto, quando for escrever em inglês, ao invés de escrever “The data was collected” escolha escrever “I collected the data”. Isto é importante para quem quer escrever sentenças claras e objetivas.
Oi Rodrigo,
Eu concordo com você que o português usa mais a voz passiva do que o inglês, mas descordo que se repõe com a primeira pessoa, “I”. Seu exemplo de “the data was collected” é muito comum e aceitável em um artigo científico em inglês — muito melhor do que “I collected the data”. Como tradutora/revisora, eu vejo que seus conselhos aplicam mais quando a frase ficaria muito enrolado em inglês por causa de regras do sintáxe. Por exemplo, português pode ter uma frase como “mostrou-se um aumento no número de células tumores”, mas a tradução pela letra em inglês fica desnecessariamente passiva (“an increase in the number of cancerous cells was found”). Embora não seja errada (pois mudei o verbo para “encontrar” em vez de “mostrar”), também é possível escrever uma frase um pouco mais direta: There was an increase in the number of cancerous cells. Quando o inglês realmente precisa de algum sujeito, é bom procurar alguma coisa do parágrafo para te ajudar e às vezes mudar o verbo (evitando mostrou-se / observou-se / revelou-se). O objetivo em inglês é evitar um sujeito muito grande e também evitar 2 clausas dependentes. Por exemplo “However, in the assay, an increase in cancerous cells was observed” é chato porque tem duas coisas com vírgulas antes da frase principal. Você pode deixar essa frase mais claro tirando o passívo: “…however, the assay revealed an increase in cancerous cells.” Espero que ajude!
Alguém ai tem algum artigo em gestão para me ajudar por favor?
Dicas pra escrever um artigo em inglês: aprenda a escrever um bom artigo em português primeiro.
Uma das coisas que tenho aprendido enquanto estudo no exterior é que nós usamos verbos passivos de mais. Em inglês acadêmico as frases tem que ser sempre no modo ativo. Além disso, é totalmente aceitável que se use a primeira pessoa.
Lista muito útil. Escrevi um post parecido no meu blog do meu site para meus clientes (eu faço traduções para inglês e revisões de inglês de artigos científicos escritos por brasileiro). Espero que minha lista possa ajudar também: http:// superioringles. com/ingles-de-artigos-cientificos/
Olá, tem como evitar o excesso de voz passiva em textos de revisão bibliográfica, estou em enlouquecendo com “was found” pois não consigo passar para uma maneira mais direta de abordar, quando estou falando de pesquisas antigas que não são minhas.