Semana passada uma entrevista do Prof. Marcelo Hermes, da UnB e do blog Ciência Brasil, para o Jornal da Ciência sacudiu o debate sobre a pós-graduação na blogosfera. Intitulada “Professor da UnB critica a formação de doutores no Brasil”, a entrevista despertou as mais diversas reações. Se você ainda não leu a entrevista, clique aqui.
Polêmicas à parte, fico satisfeito em acompanhar um debate sobre a pós-graduação. Sem discussão, não há avanço.
Existe muita gente boa e compromissada cursando pós-graduação por aí. Pessoas brilhantes, produtivas e que sabem onde querem chegar. E existe muito pára-quedista, que aproveitou o embalo da graduação, ou que não conseguiu nada melhor para fazer. Uma bolsa de pós-graduação não deixa ninguém rico, mas com certeza, para quem está desempregado e mora com os pais, já é um bom dinheiro. Minha opinião sobre isso? Seleção natural. Dificilmente esses doutores que não sabem escrever um artigo, como muitos relataram aqui, conseguirão passar em um concurso em uma universidade séria.
Minha preocupação é com outro ponto importante levantado pelo Prof. Marcelo: qualidade.
Sou da opinião que menos doutores com uma melhor formação são mais importantes para o país do que o inverso.
Pesquisas originais e inovadoras levam tempo. Muito tempo. Para sair de uma pesquisa básica e completamente original e chegar ao produto final, passaram-se anos. E como fica a produção científica do professor/pesquisador nesse período? Pois é. E aí começam os problemas para conseguir financiamentos para a pesquisa, bolsas, a queda do conceito do programa de pós-graduação, etc.
Os pós-graduandos que almejam um concurso público, também serão avaliados pela mesma régua da quantidade. Em um espaço curto de tempo como uma pós-graduação, não dá pra ficar inventando moda.
Por isso, tenho visto por aí pouca pesquisa original. Muda-se um ponto de vista, uma nova abordagem, acrescenta-se um ou dois tratamentos, e pronto. Virou um círculo vicioso, em que o sistema está mais preocupado em alimentar o próprio sistema, do que a sociedade que o financia.
E é nesse desespero por publicações que estão sendo formados os futuros doutores do país.
Uma pena.
A crítica, realmente faz sentido! Por isso, nesses quatros anos de Doutorado quero desenvolver algo original e útil para sociedade, sair desse ciclo vicioso que existe.
Uma boa ideia para uma nova matéria para o blog é discutir em que medida se consegue ser original na época do google.
É bem difícil ver gente desqualificada ganhando títulos. Elas me lembram o Bozó, do grande Chico Anysio, que adorava dizer: “Eu trabalho na Globo.” Eles vão fazer o mesmo, “Eu sou doutor.” E no fim só fazem barulho como um tambor, mas estão de todo vazios.
A política de pós graduação no Brasil, graças à falta de incentivo para a entrada de jovens cientistas nas instituições de pesquisa e do estímulo aos Centros de Excelência, permite a formação de feudos, nos quais os cientistas orientadores muitas vezes se estabelecem de uma forma autoritária, reforçando a estrutura de política voltada para a quantidade, medida pelo peso do Curriculum Vitae, e por indicações muitas vezes sem mérito.
Gostei da matéria. Fui pesquisador por mais de 30 anos e estou aposentado agora. Na minha instituição os pesquisadores tem sido avaliados pela quantidade de trabalhos que geram e não pela qualidade. Há que se repensar o que é apresentado em congressos. Pelo que entendo, não existem filtros finos para avaliação de trabalhos enviados. Parece que, a quantidade garante o sucesso de encontros, avaliados pelo numero de participantes…
Sou doutoranda, com produção científica considerável, com mais de 5 publicações em revistas científicas com fator de impacto acima de 6.0, mas curiosamente, fui prestar um concurso para professor substituto em uma universidade estadual no interior de SP e a nota do meu currículo foi menor que 4,0 (de um total de 10.0). Admito que perdi um pouco o rumo do que realmente vale a pena, fazer uma pós-graduação produtiva científicamente, ou publicar no gibi da Mônica. Temo que o espaço do cientista esteja sendo engolido, inclusive, em algumas (que se dizem) Universidade pública…