Seu orientador exige que a vidraria do laboratório estejam tão limpas a ponto de poder tomar café ou fazer miojo nelas?

Pois saiba que isso é absolutamente normal em qualquer laboratório. Principalmente nos biológicos e nos químicos, em que a vidraria deve estar livre de quaisquer contaminantes.

Entretanto, nem sempre aquela pipeta ou balão volumétrico de 25 ml vão poder ser limpos de maneira convencional, por que não há escova que entre dentro daquele objeto diabólico! Como proceder então?

Apresento a seguir as soluções não somente para essas vidrarias adoráveis de qualquer um que está lavando, mas para aquela vidraria suja de “elementos desconhecidos pelo homem” também.

Soluções (básicas e ácidas) dos problemas

Nem sempre esfregar a vidraria irá deixá-la limpa. Isso por que algumas coisas grudam no vidro mais do que namorada(o) ciumenta(o). Nos laboratórios de química, quando se sintetiza um produto (principalmente polímeros), este pode aderir no vidro e não há palha de aço que o retire.

Para isso há algumas técnicas para limpá-lo.

Geralmente utiliza-se a lei da solubilidade, em que semelhante dissolve semelhante. Há uma lista de solventes que podem ser testados até que a sujeira saia.

Começa-se com solventes mais brandos, como álcool etílico (conhecido como cachaça etanol), álcool isopropílico, metanol indo para os mais “fortes” como acetona, éter etílico, diclorometano, clorofórmio, tetrahidrofurano (THF), etc.

Para limpar polímeros, quando o laboratorista está sem paciência, ele já começa com diclorometano, clorofórmio ou THF. Se não sair com esses, ele entra em desespero.

Esses solventes são usados geralmente para retirar material orgânico de vidrarias.

Alquimia

Metais sofrem corrosão em soluções ácidas ou básicas. Laboratórios que sintetizam nanopartículas metálicas possuem vidrarias que são usadas para trolarem calouros de iniciação científica. Essas vidrarias são balões de síntese que foram usadas para fazer nanopartículas de ouro ou prata que depois da síntese fica uma camada de metal impregnado no vidro, e então dão para o calouro lavar. Ele fica uma manhã inteira esfregando e a sujeira não sai…

Ele pode usar álcool, acetona, clorofórmio, ácido clorídrico, sulfúrico, qualquer coisa, mas não sai.

É que para essas sujeiras, de metais em vidraria, usa-se uma solução especial, chamada de água régia. Essa solução descoberta pelos alquimistas é uma mistura de ácido clorídrico e nítrico em uma proporção de 3:1, respectivamente.

Água régia tem uma coloração avermelhada e solta vapores nocivos, exigindo seu manuseio em exaustores.

Ela também é um dos poucos solventes que dissolve o ouro, muito usada para limpar vidrarias que irão ser utilizadas em síntese de nanopartículas de ouro.

O método de limpeza usando essa solução é deixando a vidraria mergulhada ou de molho por um período que pode variar de 15 minutos ou até algumas horas. Depende muito do estado da vidraria.

Outras soluções para limpar vidradrias

Outros solventes e soluções podem ser empregadas para a limpeza de vidrarias.

Alguns laboratórios usam Solução Sulfocrômica, que é uma mistura de ácido sulfúrico, dicromato de potássio e água. Essa solução é extremamente oxidante. Ela tem cor laranja ou vermelha e quando ela estiver verde ela não funciona mais, sendo necessário o seu descarte (em local adequado).

É utilizada para retirar gorduras e outros resíduos de difícil remoção. Basta deixar a pipeta ou balões volumétricos mergulhados nela por algum tempo e depois lavar com água e sabão para retirar o ácido.

Para síntese ou manuseio de materiais cerâmicos, uma solução bem diluída de ácido fluorídrico é usada para dissolver sílica, quartzo entre outros resíduos cerâmicos que podem estar na vidraria.

Cadinhos usados em análises térmicas (DSC e TGA) são lavadas em ácido fluorídrico para retirar resíduos de vidro, por exemplo. Quando analisam alguma liga metálica, é usada água régia para dissolver resíduos do metal.

Importante!

Alguns solventes exigem cuidado no manuseio. O metanol (que pode te cegar), acetona, éter etílico (que soltam vapores tóxicos), água régia (que pode dissolver sua alma), solução sulfocrômica (extremamente oxidante, cuidado em NÂO misturar com substâncias de carácter redutor, pode reagir e explodir) devem ser manuseados em capelas e exaustores usando luvas. Muito cuidado. O ácido fluorídrico pode dissolver sua mão também.

Ainda não sai!

Se a sujeira não sair com nenhuma dessas técnicas, chame um padre ou um pastor para exorcizar a vidraria.

Texto enviado por Elton Torres Zanoni