Seria simples se eu começasse esse texto com a pergunta óbvia: “por que você faz pós-graduação?“. Mas em vez disso, após refletir um bocado, acho que a pergunta certa seria: “aonde você quer chegar com a pós-graduação?“.
Calma, eu explico.
Na minha concepção a pós-graduação é um degrau, um passo de uma longa escada que nós caminhamos há… sei lá quanto tempo! No meu caso, foi mais de uma década investida na escola, algum tempo no cursinho, cinco anos de faculdade, um ano de estágio, dois anos de mestrado e agora entro no degrau do doutorado. Mas para onde essa escada está me levando?
Eu sei essa resposta.
Por que eu já pensei muito nisso, mas e você? Sabe para onde ela está te levando? Qual a sua motivação?
O sonhado concurso, o cargo de pesquisador sênior da faculdade X, o trabalho naquela multinacional, o pós-doutorado em Hannover ou até mesmo, pela satisfação pessoal de nunca mais parar de estudar. Todos são sonhos válidos e fucking awesome.
Mas o que me deixa extremamente #chateado (e é por isso que estou escrevendo esse texto) é quando escuto de um colega de pós-graduação frases do tipo: “Estou aqui porque não achei emprego” ou “Estou aqui SÓ pela bolsa”.
Mano, na boa, sério que você está aqui pela bolsa? Essa é a sua motivação? É isso que faz você levantar todo dia de manhã? Você sabe que daqui uns 2 anos você vai estar novamente desempregado, né?
Parece absurdo, mas eu já escutei isso (pra car4#!0). Por isso eu acho que a pós-graduação tem que começar a ser levada mais a sério. Essa é a verdade. É cansativo conviver com pensamentos desse tipo, que muitas vezes acabam empobrecendo esse degrau dessa escada tão importante (pelo menos para alguns de nós).
O que eu quero dizer é que se a sua motivação na segunda-feira é chegar logo no sábado, velho, então tem alguma coisa errada. Você não pode viver numa tortura diária, isso não está certo. E você sabe que lá no fundo, eu to falando a verdade.
Mas já que você tá aqui… Tente pelo menos aproveitar a pós-graduação!
Aprenda aquela técnica nova, aprenda a escrever, aprenda a estudar, aprenda a ensinar, aprenda a ser orientado e a orientar, aprenda a viver com os demônios encarnados no seu experimento, aprenda a saltar os obstáculos, aprenda a desfrutar do bandex (ou não), aprenda a rir com a pós-graduação (de preferência no posgraduando.com), aprenda a conviver com seus colegas de bancada e aprenda a compreender melhor quem você é, e principalmente para aonde você quer ir!
Afinal de contas, a pós-graduação pode ser apenas um degrau (de uma longa escada), mas temos que aproveitar o melhor tempo possível da nossa estada nesse degrau! Porque isso é pra poucos! E mano, se você tá nesse degrau, pode ter certeza que tirou o lugar de alguém, então o mínimo que você pode fazer é enjoy the moment, mother fucker!
É isso. Desculpem pelo texto sério. As piadas voltam semana que vêm! =)
Daniel, muito pertinente seu texto!!! Nesse início de ano, fiz minhas reflexões e redefini as minhas rotas, defini onde quero chegar com a pós-graduação. E concordo plenamente que a escolha de fazer uma pós deve ser encarada com seriedade, se a pessoa está lá só pela bolsa, na primeira dificuldade quer ir embora. Ou arrastar-se numa tortura diária. Por experiência própria, o fato de estar extremamente motivada com o meu projeto foi o que me fez ficar nesse primeiro ano de doutorado que passou, porque problemas eu tive de sobra! Felizmente, 2014 aponta para bonanças acadêmicas! Parabéns pelo texto e aguardando pelo retorno do humor 🙂
Tomei o lugar de alguem? Nao. Conquistei um lugar, resultado de muito estudo. E pela minha humilde percepcao, pos-graduacao eh algo além do desfile de jaleco e postagens nas redes sociais de “publiquei um artigo”, “sofrendo no fim de semana com experimentos”, “virando madrugada estudando”: amigo, nao faz mais q sua obrigacao, ok?. Pos-graduacao eh disciplina, eh entrega, eh auto-conhecimento. Eh organizar a sua vida pra nao viver em funcao da pos-graduacao, muito pelo contrario. Eh ter tempo para vida social, lazer, academia/esportes, artesanato. Eh ter uma rotina q se permita ser quebrada, pois vc sabe exatamente “onde o sapato aperta” com seu orientador. Mas acima de tudo, eh aproveitar cada pequena vitória, e nao fazer delas coroas, mas sim gás pra sua motivacao. Eh nao encerrar o conhecimento dentro de si, mas conquistar outros e inspirar mais gente para a pesquisa. Enfim, pra mim eh isso. Ótimo texto o seu!!!
O que me motiva? A possibilidade de produzir conhecimento, mudar para melhor a vidas das pessoas, fazer a dierença na vida de alguém. Eu sou uma das pessoas mais empolgadas que conheço na pós-graduação. Estou no meio do doutorado, eu não teve um dia que não me levantei feliz de ir ao laboratório, vibro a cada experimento que dá certo e cada coisa nova que descubro lendo artigos.
Porém, a falta de retorno financeiro é extremamente desmotivante e me levaria a dizer a qualquer um: “corre! Não entra nessa m%$# de iniciação científica porque se você gostar, isso vai ferrar com sua vida!” Todas as pessoas plenamente satisfeitas com pesquisa que conheço, moram na casa dos pais ou recebem grana extra deles todo mês, têm carros e dinheiro pra festas nos finais de semana. Eu? sou filha de pais pobres do interior de Minas que batalharam muito pra pagar colégio, deram graças a Deus quando passei numa federal e não me sustentaram mais desde então. Fazendo doutorado, dividia um apartamento minúsculo em BH e suava pra sobrar um dinheirinho pra um cinema (ainda bem que pago meia, senão nem isso). Ainda resolvi pedir a bolsa sanduíche e agora, passo aperto nos EUA morando numa cidade de 17mil habitantes com o custo de vida baixíssimo, enquanto aqueles sustentados pelos pais, chamam o programa do governo de Turismo sem Fronteiras.
Enfim, os momentos que passo no laboratório são ótimos e me sinto muito feliz lá, mas todo o resto, me faz chegar a seguinte conclusão: pesquisa é pra quem tem dinheiro…
Muito legal seu texto Daniel! Acabei de entrar no doutorado – Geografia na FCT/UNESP e fiz essas indagações a mim mesmo quando fui entrar no mestrado, lá nos idos de 2011. Por que pós? Claro, no meu caso, ou é pós ou é sala de aula, escolhi a pós. Não só isso: enquanto cursei o mestrado fiquei sem bolsa e dei aulas na rede pública e amei! (ou seja a questão acima saiu falha porque fiz os dois ao mesmo tempo!) Agora, em 2013, surgiu a oportunidade do doutorado e pensei: é isso que eu quero! Só a sensação de estar estudando um tema que amo, de poder escrever e discutir sobre ele me deixa fascinado! Percebo que são poucas as pessoas que realmente gostam do que fazem e sou e estou feliz por ter escolhido cursar a pós-graduação. Lógico, isso exige grandes sacríficos mas para quem gosta, nada é impossível não é? Concordo com você quando disse que falta levar a sério a pós, afinal eu encaro como uma realização pessoal muito grande.
Abraços e ótimo texto!! 🙂
O que me motiva? A possibilidade de fazer a diferença, não ser apenas um ser comum na Pós-Graduação. Que exista um Legado, que possibilite ser lembrado, ops: “citado”!