Estimuladas pelos órgãos do governo responsáveis pelo investimento em pesquisas científicas no Brasil, nossas universidades estão produzindo como nunca nos últimos anos. A partir de 2003, por exemplo, houve uma explosão na publicação de artigos de autores brasileiros. E dinheiro não tem faltado para isso.
Os recursos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação) passaram dos R$ 500 milhões para R$ 2,5 bilhões entre 2003 e 2009. No mesmo período, segundo o jornal Brasil Econômico em reportagem publicada no ano passado, o orçamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) dobrou para R$ 1 bilhão.
Mais investimento levou ao crescimento de 124%, entre 2003 e 2009, no número de artigos publicados no Brasil. O país tem cada vez mais bolsistas e pós-graduados. E isso é bom pois é animador mesmo que tenhamos ampliado nossa produção científica.
A questão está, entretanto, na qualidade do que é feito no Brasil. Há alguns anos observando a pesquisa nacional, o professor do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Hermes-Lima, alerta para a discrepância entre esse volume de produção e as citações que essa mesma produção recebe mundo afora.
Acontece que, no mundo dos pesquisadores, é muito importante ter o trabalho citado. Existem até rankings com os países cuja inteligência é medida pelas citações aos trabalhos feitos em centros de pesquisa de cada nação. É que não basta produzir. É preciso produzir com qualidade, algo que, até para nós, leigos, é óbvio. Quanto mais citado, maior reconhecimento de que o trabalho é bom.
O que ocorreu no Brasil foi que a expansão da produção científica a partir do primeiro governo Lula não veio com a respectiva qualidade que se esperava dela. Ao mesmo tempo começamos a enfraquecer no ranking que mede as citações por documento (CpP), uma das principais referências para se saber se o trabalho científico tem qualidade ou é descartável.
Para concluir que a produção científica brasileira é em média ruim apesar de volumosa o professor analisou parâmetros por área do conhecimento a partir do Scimago/Scopus, um site que analisa dados de desempenho científico reconhecido internacionalmente.
O índice CpP é uma importantíssima ferramenta para se averiguar que países possuem publicações com maior ou menor visibilidade e relevância. O desempenho do Brasil em Matemática, Biologia, Química, Física, Medicina e Bioquímica vem piorando nos últimos sete anos. Setores da comunidade científica brasileira não alinhada ao governo federal acreditam que há uma brutal pressão por parte da CNPq e da Capes para se publicar em larga quantidade. Mas não se cobra qualidade. O resultado disso é que os artigos científicos do Brasil, em média, estão ficando cada vez mais atrás em termos de citações.
No caso da Medicina, (entre países que publicaram pelos menos mil artigos por ano) se em 2002 o Brasil era o 26º colocado no ranking das citações por cada artigo publicado, em 2008 ele caiu para o 36º. No caso da Matemática, a queda foi maior. Em 2002 o país era o 17º no ranking. Há dois anos, entretanto, passamos para a 28º posição em citações.
Em outra análise, se verificou que o Brasil ampliou demais sua quantidade de papers (os artigos científicos) médicos por ano, de 5,6 mil em 2005 para 10,4 mil em 2009, ou seja, quase duplicou a quantidade de trabalhos. Esse aumento rápido da quantidade de papers médicos do Brasil fez com que os artigos fossem menos citados, quando comparados com aqueles dos Estados Unidos e Espanha.
Assim, não basta o Brasil comemorar essa expansão da produção científica quando se percebe uma queda na sua qualidade. O governo parece ter uma política de mero financiamento e não uma política de pesquisa que dê resultados substanciosos ao país. O governo inverteu os valores. Ao invés de estimular a descoberta científica valiosa, incentivamos a publicação do resultado das investigações que de valiosas têm muito pouco, pelo número pequeno de citações que recebem. Agindo assim, a quem estaremos enganando?
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Texto escrito por Rubens Bueno, deputado federal e líder do PPS na Câmara. Fonte: AB Comunicação e Consultoria
Essas estatísticas devem ser vistas com cuidado. Pelo que entendi, esse CpP deve ser dado pelo número de citações dividido pelo número de artigos publicados. Ora, se o número de artigos aumentou tão significantemente nesses anos, basta o número de citações não acompanhar esse crescimento e teremos como resultado a queda do posicionamento do Brasil nesse ranking. Como dito no artigo, é uma média, e como tal, dificilmente mostra a realidade da produção brasileira como um todo. Dizer que houve uma queda da qualidade da produção a partir somente desse indíce é um exagero.
Não ficou bem claro. A qualidade diminuiu ou apenas deixou de aumentar na proporção esperada? É que tanto os números absolutos quanto relativos podem ser úteis. Seria melhor se tivéssemos 1 paper por ano, que é sempre citado? Isso seria 100% de citações…
Acho que muitos pesquisadores que estão publicando agora são novos no assunto, assim como eu sou. Acho que o tempo traz experiência e com isso resultados mais relevantes. Outra coisa, que já tem “nome” tem o trabalho mais bem visto, o que é o caso do pessoal do exterior; citar alguém da Bristol por exemplo é para muitos mais chique.
Acho que esta cedo para dizer que o Brasil esta no caminho errado. Deve-se claro acompanhar o processo. O reconhecimento vem com o tempo.
Olá,
Concordo em partes com o artigo, e em partes com os comentarios acima. Mas é certo que aqui quantidade tem falado mais alto do que qualidade, quando se fala em financiamento, por outro lado, é dificil impor parametros de qualidade para as agencias finaciadoras, já que mesmo para decisões cientificas são os politicos que tomam a ultima palavra. A questão da melhoria da politica de como se faz ciencia por aqui passa pelos setores burocraticos e vai até as instituições em si.
Enfim, é bom que se tenha os olhos abertos para não esquecer essa relação qualidade/quantidade.
Contra os argumentos desse artigo em relação a qualidade da pesquisa nas pós-graduações, vejo que o artigo publicado aqui no Pós-graduando “Publicar ou Perecer: uma provocação” é excelente. Não que eu esteja afirmando que a pesquisa é de qualidade ou não, mas sim que os critérios para identificar tal qualidade devem ser melhores discutidos e refletidos.
Infelizmente as agências de fomento priorizaram a quantidade sobre a qualidade.
Sendo otimista, vejo no aumento do número de artigos e de pesquisadores publicando uma chance de se aumentar também, proporcionalmente, o número de trabalhos verdadeiramente qualificados.
Agora, se vocês tivessem a oportunidade de conhecer e trabalhar com o prof. Marcelo Hermes, não dariam a mínima para o que ele fala.
Não concordo totalmente com o texto. Não há como questionar o expressivo aumento de financiamento e investimento para a pesquisa científica nos últimos anos. Qualquer aluno que trabalhe um pouco com estatística sabe que a partir do momento que você precisa analisar uma amostra do todo, você passa perder muita informação. É o caso da avaliação de produtividade: imaginem que é impossível para o CNPq/ CAPES medir a qualidade de produtividade de cada pesquisador para lhe conceder uma bolsa-produtividade. Seria necessária uma equipe gigante, avaliando toda a produção técnica do sujeito, e dando opinião. Quantidade de artigos publicados é um parâmetro utilizados, que é fácil de ser mensurado, e que muitas vezes diz sobre a qualidade do pesquisador (embora saibamos que nem sempre é assim…) Concordo que não é o melhor índice e que estimula a fragmentação de resultados em busca de maior quantidade de papers publicados, mas isso já é outra discussão.
Não gostei, não concordo com o ponto de vista e acho extremamente questionável a opinião de um político que critica o aumento de investimento na pesquisa e se diz a favor de uma melhora, ora… ele quer cortar o investimento para melhorar? Essa pressão por publicações é mundial, caso contrário não haveria o movimento do slow science disseminando-se pelo mundo. Ninguém tira da minha cabeça de que é necessário cada vez mais investimento, não somente em pesquisa, mas principalmente em educação básica e fundamental de qualidade, sem redução dos investimentos em pesquisa.
É um equívoco mensurar a qualidade dos pesquisadores utilizando apenas o parâmetro da quantidade: muitos publicam sem nem saber vários dos temas abordados no artigo. E o fazem porque isso gera pra eles uma posição superior na carreira acadêmica, independente do resultado que o artigo deles trará para a produção científica. Descobertas não ocorrem tão rapidamente e a busca pelo aumento na produção não reflete, no Brasil, eficiência.
Falta de preparo! Se aumenta o número de publicações o mínimo que se exige é que tenham qualidade. Justificar que não houve redução e sim um não acompanhamento de expansão é ridículo, é como pensar se um pintor pinta uma casa por dia e esta pintura é com extrema qualidade, mas agora passou a pintar 10 casas, no entanto apenas uma continua com qualidade, o restante não atinge o esperado. Qual a justificativa?? Continua com apenas 1 então e que se prepare para ter capacidade de pintar 10.
Com todo respeito ao autor deste artigo, não vejo muita diferença em termos de qualidade, na minha área, Biotecnologia, em comparação com publicações americanas e/ou europeias. Acontece que o Brasil está se destacando apenas nos últimos anos, enquanto estados unidos possuem um ciência consolidada a séculos. Precisamos melhorar a cada dia sim, mas dizer que a produção científica brasileira é ruim, com base apenas nestes dados é um erro. Compare os conteúdos dos artigos por áreas e verá que a qualidade do Brasil não baixa, em algumas áreas é até superior.
É pura verdade sim! Quantidade em detrimento de qualidade é a política que se adotou no governo Lula. Quem quiser que minta para si dizendo o contrário. Quem faz pós-graduação sabe que juntando-se arroz com feijão mulatinho, dá um “paper” e com mais ou menos sal dá outro. Afinal a síndrome de Lattes assolou o caldeirão de beldades e vaidades acadêmicas. Imaginem que colegas meus encerraram um programa de doutoramento com mais de onze publicações. Dividam isso por 24 meses e dará um “paper” a cada dois meses porque se deve imaginar que outros dois anos se leva pagando disciplinas, fazendo-se revisão bibliográfica e construindo o aparato experimental. Um doutor formado nos EUA publica em média três “papers” que logo são citados por pesquisadores daqui mas a recíproca não é verdadeira. Agente só aprende quando tem consciência de que não sabe e só acerta quando tem consciência de que está errado. Ponto final!
Concordo integralmente…isso tem ficado cada vez mais evidente, assim como a prática de co-autoria espúria para conseguir financiamento.
Responda rápido: qual pesquisa brasileira impactou sua vida nos últimos quinze anos? Nenhuma, com certeza! Universidades públicas, como são públicas, investem muito para pouco retorno, pois têm uma estrutura burocrática inchada, frequentemente estouram o orçamento, além da influência do marxismo, que faz com que somente as pessoas com tal posicionamento político subam na hierarquia. A solução seria criar universidades privadas nos moldes ddas americanas, sem dinheiro público e com doações, assim evitamos desperdício de recursos!