Comunicar os resultados da pesquisa à comunidade acadêmica é uma importante etapa da produção científica. É quando o trabalho fica à disposição para avaliação de seus pares (às vezes tão ímpares…), abrindo-se assim o espaço para o debate e o avanço do conhecimento naquele campo da ciência. Quando se trata de ciência, portanto, publicar é preciso.
Entretanto, o acesso à publicação científica é algo curioso. Pense na seguinte situação: uma boa parte das pesquisas publicadas em periódicos é financiada com dinheiro público e realizada por pesquisadores que também são mantidos pela sociedade. No processo de publicação dos artigos, os avaliadores, que muitas vezes trabalham em instituições públicas, fazem a revisão do conteúdo a ser publicado. E após a publicação, as instituições públicas, as mesmas que financiaram as pesquisas, os pesquisadores e os avaliadores, precisam pagar uma generosa quantia pelo acesso aos artigos.
A Capes, por exemplo, oferece acesso aos textos completos de artigos em mais de 21.500 revistas internacionais, nacionais e estrangeiras, e 126 bases de dados com resumos de documentos em todas as áreas do conhecimento, a um custo anual de cerca de 42 milhões de dólares.
Até algum tempo atrás essa situação fazia um pouco de sentido, visto que os periódicos eram impressos e existiam os gastos das editoras com papel, impressão e distribuição. Mas em um universo acadêmico onde quase tudo é on-line, a cobrança pelo acesso aos artigos começa a ser colocada em discussão.
Assim, surgiu no meio acadêmico um movimento denominado Open Access (OA), que tem como objetivo principal o acesso aberto aos cerca de 2,5 milhões de artigos científicos publicados anualmente, em aproximadamente 25 mil títulos de periódicos, deixando o custo da edição e manutenção todo por conta dos autores dos artigos ou de financiamentos externos.
Na contramão desse movimento, o congresso americano recebeu no começo deste ano um projeto de lei (Research Works Act) que basicamente acaba com a resolução do National Institutes of Health (NIH), publicada em 2008, de disponibilizar como acesso livre toda a pesquisa financiada pelo NIH. E, para piorar, o professor da UC Berkeley, Michael Eisen, fez uma denúncia de que uma das autoras do projeto de lei, a congressita Carolyn Maloney, recebeu em 2011 pelo menos 12 contribuições financeiras da editora holandesa Elsevier.
As reações da comunidade científica a denuncia do professor Michael Eisen foram desde gente que xingou muito no Twitter até a disponibilização de quase vinte mil artigos para torrente no PirateBay, passando por vários editoriais nada elogiosos.
Na tentativa de se explicar, a Elsevier acabou piorando a situação, ao tentar justificar a cobrança pelo acesso aos artigos afirmando que a maior parte do trabalho é realizada pelas editoras, esquecendo-se que todo o trabalho de pesquisa, redação e revisão dos trabalhos não é realizado por ela.
O Brasil deu um grande exemplo de iniciativa OA com a implementação do SciELO em 1997, e hoje a maioria das revistas nacionais são de acesso aberto. Entretanto, ainda falta às agências de fomento e aos programas de pós-graduação uma política de incentivo ao Open Access, com o financiamento dos custos de publicação dos artigos em periódicos internacionais, que não são baratos, visto que nem sempre é possível separar dinheiro do projeto (com orçamentos cada vez mais apertados) para custear as publicações da pesquisa.
Realmente não baratos, no mínimo $1000 para publicar um artigo regular em revistas boas, como a PLOS ONE…
O Scielo é bom? É.
Quem está pagando pelas publicações? O pesquisador.
Assim, o produto resultado de pesquisa não é comprado por quem dele necessita, mas, sim, pago pelo seu produtor.
Não seria interessante as fábricas de carros pagarem para que os pudéssemos consumir?
Comprei um artigo, resumo bom conteúdo aquém. Serei ressarcido? Procon neste caso?