É necessário caminhar, caminhar entre as prateleiras das livrarias, bibliotecas, estantes virtuais. É importante escolher, escolher quais autores irão elucidar/compartilhar, construir/desconstruir seus pensamentos, uma conversa entre conhecidos, futuros amigos e quem sabe amantes de gerações muitas vezes distintas, mas se conectam e dialogam pela mesma essência do pensar, “Ler um livro… é conhecer a pessoa e o modo de pensar de alguém que lhe é estranho. É procurar compreendê-lo e, sempre que possível, fazer dele um amigo” (Hermann Hesse).

Essa relação não apagam os debates e as discordâncias/divergências de alguns pontos, não haveria graça ou prazer se tudo que lêssemos com eles estivessem na mais perfeita e passiva (morta) ordem, a pluralidade, o nascimento de novas ideias é imprescindível para que estes laços, atrelamentos se fortaleçam com a dureza de um diamante, mas que saibam/recordem que a todo o momento eles são constituídos de carbonos e podem ganhar outra configuração, eles são mutáveis.

Cada autor que escolhemos para viver os nossos estudos criam/criamos um elo invisível intenso, cada página virada pelos dedos mais delicados imprimem-se naquele instante seu DNA, seu código genético, sua vida. Não adianta mais! Esta troca de energia se estende, aumenta e o Nosso saber pensar curioso nos convida/proporciona a viajar entre os tempos, caminhamos pelo passado, pois queremos saber a história do autor, ficamos em seu século querendo entender como ele pensou nessas possibilidades, perguntamos sobre a sua coragem para escrever/revelar a sua sociedade vigente, sobre o que descobriu ou pensou que descobriu, nos envolvemos tanto que queremos conhecer quais foram os seus professores, mestres, inspirações para poder ser quem foi/é.

O brilho dos olhos de quem volta ao passado com o seu autor/a é percebido como uma fonte de energia, um verdadeiro farol, cujo facho de luz é percebido a longas distâncias. Este “farol” não nasce pronto, ele é tecido a cada linha escrita; Uma grande fogueira, grandes luzes geradas com azeite (de oliva ou de baleia) que direciona a nossa alma de sonhador/graduando/pesquisador/professor para terras, talvez, totalmente desconhecidas ou pelo menos parte dela.

A cada nova conversa, descobrimos cada vez mais sobre ele, podemos adorá-lo ou odiá-lo, como acontece no amor é uma troca contínua, dinâmica como a nossa sociedade, como o próprio homem. Existem livros que não gostamos, mas é importante conversar com eles, se torna mais difícil, muitas vezes intragável, nossa vontade é arremessá-lo o mais longe e inimaginável lugar possível, mas algumas vezes esta leitura não pode simplesmente ser ignorada, esquecida ou desprezada, da mesma maneira para ser que somos precisamos ler a vida nos seus pequenos/grandes detalhes, – “A Filosofia está escrita nesse grande livro, o Universo, que permanece continuamente aberto” (Galileu Galilei) – neste saboroso momento sentir o gosto azedo-amargo de alguns autores é significativo e podemos/devemos ressignificar. Ofereçam juras de amor e algumas xícaras de café, a noite pode passar mais rápido e encontro pode se tornar prazeroso e até mesmo acabarmos entregues à sua pena.

Rosas, nem tudo são rosas mesmo para aquele amor à primeira vista, por mais que gostemos dos ideais, ideias, da história de alguns pensadores, possa a ser que em alguns momentos na obra deles, dos livros deles estejam – quase – inalcançáveis; O que seria isso? Será que nunca nos pegamos: lendo, lendo, lendo, lendo, lendo uma mesma parte/página e aquelas palavras escritas na nossa língua materna parecem que ganham vida e se transforam em outras coisas, ganham novas configurações e o máximo (pelo menos é o que achamos) que conseguimos ganhar é uma L.E.R e uma testa um tanto quente? Nessas horas o que precisamos? Aposto que pensaram em “mais café”, não?

Precisamos é continuar “fadigando” o pensamento, insistir na leitura e estudo, conversar com outros autores e amigos e viver, Johann Goethe “me disse” uma vez: “Muitos não sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler. Trabalhei nisso 80 anos e não posso dizer que o tenha conseguido.” Nós sabemos o quanto de suor derramamos/derramaremos para praticar esta fadiga.

Com o passar das páginas e da vida o que era “inalcançável” as/nas primeiras leituras se transformam e se ressignificam em estruturas, pontes, vigas fortes e flexíveis, nos sentimos tão íntimos e confortáveis que naquele trabalho, o desprendimento de energia para aquela leitura se torna cada vez menor (menos), vale grifar que “menor (menos)” não é necessariamente “maior ou mais”, mas “maior ou menor” também não é necessariamente melhor, a cada nova obra descodificada, a cada intimidade conquistada o labirinto se modifica a “nossa vontade” e agora somos nós que o construímos, os arquitetos do lugar.

É verdade, essa relação de amor e carinho, discursões, dedicação, conflitos, de relacionamento não é que chegue ao fim, mas elas precisam ser modificadas, “trocadas”. Lembram-se das “vigas”, “estruturas”, “pontes” que construímos com esses autores? Chega um momento que precisamos usá-las: É difícil admitir, dói, mas chega um momento/instante de uma necessidade nos estudos que precisamos subir nessas estruturas e conhecer novos autores. Certo medo aparece, são novos relacionamentos são desconhecidas, novas vidas, novas histórias, novos pensamentos, novas ideias, não sabemos como “começar a conversa”, não sabemos “o que os agrada”, sentimos falta da intimidade, desejamos voltar para os braços dos parágrafos dos nossos antigos amigos/velhos amantes, já nos conhecíamos!

Nossos conflitos já sabíamos quais eram, as sinapses já se descarregavam naturalmente, era muito mais “fácil” e prazeroso lê-los. Mas chega a hora, novos nomes, “estranhos” nos são apresentamos pelos professores-amigos, amigos-professores, nos indicam e chamam a nossa atenção para a necessidade de continuar caminhando entre eles, entre as prateleiras da vida. No início ficamos tímidos, uma nova fadiga, uma nova fórmula, um novo: Trabalho = Força x Deslocamento (Paul Feyerabend iria gostar dessa brincadeira com o a “Fórmula do Trabalho”) há de ser inventado.
Nem tudo são lágrimas ou puro suor, a oportunidade de conhecer essas novas pessoas/pensadores nos elucida e ajuda a compreender ainda mais nossos estudos, nossa vida. Há um convite para admirar, construir (ou desconstruir) outras (ou as mesmas) terras com olhares diferentes, outros faróis, outras histórias, outros séculos, outros amores, outros futuros. Uma entrega de outras cores para a nossa paleta, ensinam novas notas para compormos as melodias, oferecem outras palavras para rimarmos com os nossos pensamentos, aumenta o desejo da curiosidade…

Através da história da vida e amigo-professor pude ouvir a ideia de Paul Feyerabend dizendo: “A proliferação de teorias é benéfica para a ciência, ao passo que a uniformidade lhe debilita o poder crítico. A uniformidade, além disso, ameaça o livre desenvolvimento do indivíduo.” em troca nos mais dedicação e responsabilidade com que estamos realizando/dando forma e o mais sublime e especial de toda essa história/vida é: Nós nunca esquecemos de nossos primeiros autores/amores, e sim, voltamos para eles sempre que desejarmos, mesmo que tenhamos que oferecer um “café” e conseguimos compreendê-los ainda mais…

Agradecimentos:
Paul Feyerabend
Jacques Derrida
Arthur Schopenhauer
Márcia Barreto
Marco Barreto
Matheus Barreto
Paulo Freire
Antônio Luiz Bahia
Paulo Mesquita
Luiz Alberto Sepúlveda Tourinho
Marcus Brandão
Walter Garrido
Luciano Bomfim
Anton Makarenko
Galileu Galilei
Leonardo da Vinci
Jean Jacques Rousseau
Alain Coulon
Arnaud soares de lima júnior
Lorena Bárbara
Manoel de Barros
Vinícius de Moraes
E tantos outros amores…

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Texto escrito por Biba Renata, professora de Educação Física e estudante de Pedagogia.