É época de copa e só se fala disso nesses dias. Então por que não aproveitar o clima diferente para fazer uma pausa, aliviar um pouco a carga mental e emocional, assistir um jogo de futebol e – por que não – pensar na vida?
Sim, pensar na vida.
Afinal, o que é o futebol senão o teatro da vida encenado sobre um palco de grama?
Quem acha que futebol é apenas uma distração fútil ou um ópio de alienação das massas ignorantes, está muito enganado.
De maneira totalmente insuspeita e camuflada, o futebol desfila na nossa frente todas as tensões e alegrias da nossa vida e muitas vezes sequer nos damos conta disso.
Mesmo quem não é lá muito fã do esporte, poderá acompanhar o quero dizer.
Enquanto você está aí sentado beliscando alguns petiscos, preste bem atenção no jogo se desenrolando na sua frente.
Apenas no futebol.
Deixe de lado tudo o que rodeia o futebol e preste atenção apenas no jogo em si mesmo. Deixe de lado também o preconceito com esse esporte, caso você não se interesse muito por vinte e dois homens correndo atrás de uma bola durante noventa minutos.
Afinal, ele pode dar muitas explicações sobre a vida e o seu caminho na pós-graduação – afinal, ela é uma parte crucial na nossa vida: de quem já é docente, de quem está defendendo a tese e até mesmo de quem está se preparando para a prova de admissão.
Independente do seu estágio atual, a brincadeira séria que proponho a vocês todos pode provocar algumas reflexões inspiradoras ou provocantes – isso vai depender mais de você!
Então preste bem atenção ao jogo e faça esse exercício de imaginação:
E se o seu percurso na pós fosse um jogo de futebol?
Quando entramos no gramado da vida acadêmica, vestimos a camisa com entusiasmo. Autoconfiantes, dizemos conhecer e respeitar o adversário, mas nem sempre temos a real dimensão das dificuldades que encontraremos dentro de campo.
Nem sempre sabemos ao certo como é o estilo de jogo do adversário. Temos um esquema tático armado e algumas jogadas ensaiadas, mas elas nem sempre são tão eficientes quanto prevíamos.
Às vezes, a marcação cerrada nos impede de avançar em direção ao gol ou à meta – que não por acaso são a mesma palavra em inglês: goal.
A meta era publicar três artigos. Mas às vezes um deles bate na trave e o outro é espalmado para fora por um parecerista implacável como uma muralha. No final das contas, só um artigo acaba emplacando e a preocupação com o resultado magrinho começa a tomar conta.
Assim como no futebol, a pós-graduação é feita de momentos de euforia e aflição, mas também de passes mornos.
Muitos.
A não ser que você tenha uma equipe galáctica de craques habilidosos milimetricamente sincronizados, você passa a maior parte do tempo da pós-graduação com jogadas de armação que nem sempre tem um resultado visível.
Às vezes, elas desembocam em um lance brilhante e você emplaca uma publicação em uma revista internacional. Ou então uma comunicação oral tão cativante que poderia ter sido feita em um estádio ao invés de em um simpósio.
Porém, na maioria dos casos, não é muito claro o que sairá dessas jogadas de armação.
Revisamos bibliografia, fazemos fichamentos e tabulamos dados como quem troca passes e não sabe se vai sair um gol dali. Pode ser que sejamos desarmados inesperadamente.
A dura verdade é: sem esse trabalho duro de meio de campo, é praticamente impossível avançar até a grande área e atingir nossa meta – aliás, eu já comentei aqui que gol e meta são a mesma coisa? Acho que sim…
Mas não se autoflagele de preocupação se o seu trabalho parece não sair do lugar. Assim como o futebol, a pesquisa é um jogo curioso.
Às vezes, você pode jogar mal durante 88 minutos. Mas de repente, quando o tempo já está quase se esgotando e tudo parece perdido, você pode ter um momento de iluminação súbita, sair com aquele drible inspirado e marcar um belo gol na prorrogação.
Tudo bem, não é muito agradável ficar contando com prorrogação – nem na pós nem no futebol. Mesmo assim, é melhor do que entregar o jogo antes da hora.
E antes que a Copa do Mundo termine, vale a pena se perguntar:
Se o seu percurso na pós-graduação fosse um jogo de futebol, você sairia de campo aplaudido ou vaiado?
Você é aquele que deu o suor e não poupou energia para correr o jogo inteiro? Ou você é aquele que ficou parado na pequena área apenas esperando a bola cair no seu pé?
Você é aquele que deu assistência e deu passes bem colocados para seus companheiros? Ou foi aquele fominha que monopolizou a bola, não deixou mais ninguém jogar só para ficar com a glória toda?
Você é aquela zebra desacreditada que caiu no “grupo da morte” mas se classificou antes de todo mundo? Ou você é aquele time campeão cheio de estrelas intergalácticas mas que foi eliminado antes de todo mundo já no segundo jogo?
Afinal, você mereceu a vitória que teve? Ou entrou no campo sem sequer saber as regras do jogo e agora está suando a camisa para terminar no zero a zero?
Reflita sobre tudo isso durante aqueles noventa minutinhos enquanto você ligou a televisão e se desligou da pesquisa.
Bom, dependendo do seu caminho na pós, todas essas questões podem dar o que pensar e você pode perguntar: mas dá tempo de pensar em tudo isso em apenas noventa minutos?
Sim.
No futebol e na pós-graduação, o tempo regulamentar pode ser longo demais ou curto demais. Tudo depende só do placar.
Meu Deus, texto perfeito! Exatamente como vejo esse caos chamado Pós-Graduação..me sinto como jogadora indo bater o último pênalti da final.. quase na defesa da dissertação, mas parece que tudo está rodando à minha volta… parabéns pelo texto!
Ótima perceção! Gostei muito da criatividade de comparação! Parabéns!!!