O plágio não é um assunto novo no meio acadêmico. A partir do momento que começaram a existir publicações, de qualquer espécie, surgiu também a possibilidade de copiá-las. A internet apenas facilitou, e muito, esse processo. Em via de regra, quem pratica o plágio o faz basicamente por três motivos: ignorância, pressão por resultados ou falta de tempo.
Em um universo com bilhões de pessoas, nada impede que duas pessoas tenham a mesma idéia. Na maioria dos casos o que se protege não são as idéias, mas a exteriorização delas. O plágio ocorre quando alguém apresenta um trabalho contendo partes de uma obra que pertença à outra pessoa, sem colocar os créditos para o autor original.
Se na graduação este já é um assunto espinhoso sério, na pós-graduação, então, chega às vias do inaceitável. A pós-graduação é uma oportunidade única de se desenvolver o espírito crítico, de tornar-se um pesquisador/professor independente, e o plágio vai justamente contra tudo isso: é a preguiça de pensar, de construir algo novo, original. Acredito inclusive que se o plágio fosse tratado com maior rigor durante a graduação muitos “vícios” na pós-graduação poderiam ser evitados.
Excluindo-se aqueles caras-de-pau que possuem a coragem de copiar um trabalho inteiro e apresentá-lo como se fosse seu, o que é, diga-se de passagem, um tremendo absurdo, grande parte das cópias na pós-graduação é representada pelas citações e falsas paráfrases. Existem trabalhos que são na verdade o conjunto de vários trechos copiados e colados, como se fosse uma colcha de retalhos.
Mas vamos primeiro diferenciar citação e paráfrase. Uma citação é a transcrição, na íntegra, de um trecho da obra do autor consultado. Já a paráfrase consiste em reescrever com suas palavras as idéias centrais de um texto. É desnecessário dizer que, tanto na citação quanto na paráfrase, o autor do texto original é devidamente referenciado.
Em um texto acadêmico, as citações e as paráfrases são fundamentais para sustentar uma idéia, apoiar uma hipótese ou apenas ilustrar um raciocínio. São premissas utilizadas pelo autor para convencer o leitor sobre suas afirmações. Na pós-graduação, as paráfrases devem ser incentivadas como um excelente exercício mental e de redação, uma vez que desenvolve a habilidade em escrever textos coesos e concisos.
Nas paráfrases dos meus artigos científicos eu geralmente sigo o seguinte roteiro:
1. Leio o texto a ser referenciado como um todo, mais de uma vez se for necessário, até que consiga ter uma noção geral sobre o trabalho.
2. Procuro encaixar no meu texto uma síntese da conclusão do trabalho a ser citado, com as minhas palavras, de forma a concordar/confrontar com a minha discussão.
3. Faço em poucas palavras um resumo da metodologia do trabalho, de modo que a citação desta conclusão e a comparação entre os trabalhos sejam válidos.
4. Coloco a referência ao autor no final da paráfrase.
Além de ser um crime contra o autor do texto original, a cópia é sobretudo um prejuízo para o pós-graduando que poderia ter avançado em determinado campo do conhecimento e não o fez. É também uma questão de ética, e sobre o tipo de profissional que queremos ser. No caso dos pós-graduandos que almejam a docência universitária, por exemplo, como coibir que seus alunos realizem plágio nos trabalhos se você mesmo o fez durante toda a vida acadêmica? Não seria uma hipocrisia?
Gostaria de agradecer ao Cláudio Moreira (@claudiomoreira), que sugeriu o tema deste artigo. Você também pode fazer sugestões, críticas ou comentários.
A questão do plágio no meio científico é tão delicada que a IEEE preparou um documento explicando como identificá-lo, como categorizar o plágio em um dentre cinco níveis possíveis, e que ações devem ser tomadas em cada caso. Vale a pena ler http://www.ieee.org/publications_standards/publications/rights/Section_822.html
Olá, gostaria de estar mais atualizada com as novidades do mundo…
Parabéns pelo texto muito exclarecedor.