As universidades brasileiras geralmente são vistas pelos pós-graduandos como o único destino possível para mestres e doutores formados no país. Os concursos públicos se tornaram uma espécie de “luz no fim do túnel” da pós-graduação.

Não são.

Embora a maior parte da ciência no Brasil ainda seja produzida nas universidades, mestres e doutores podem criar empesas de pesquisa, produção, consultoria, ensino, editoração, prestação de serviços, organização de eventos, entre outras.

Mas então por que mestres e doutores raramente consideram estas possibilidades?

EMPREENDER É PRECISO

Entre as causas deste problema está o fato de que como nossos professores são, em sua maioria, funcionários públicos, sem um perfil empreendedor, o ambiente criado por eles em nossos programas de pós-graduação se torna propício para a formação de… funcionários públicos!

Associado a esta cultura está a formação acadêmica dos mestres e doutores, que possuem pouco ou nenhum contato com planos de negócios, pesquisas de mercado, ferramentas de gestão ou de desenvolvimento de novos produtos e serviços.

Mas não culpe seu orientador por isso. Ele provavelmente também foi formado neste mesmo tipo de ambiente universitário e também não deve ter tido muitas oportunidades de desenvolver iniciativas empreendedoras.

E desta forma a pós-graduação cai em um sistema que se retroalimenta permanentemente: nós não temos uma formação voltada para o empreendedorismo porque esse não é o perfil dos nossos professores. E se nós não desenvolvemos uma visão empreendedora, também teremos dificuldade para direcionar a formação dos nossos futuros orientados nesse sentido. E assim por diante.

INOVAR É PRECISO

A inovação é outro “gargalo” da pós-graduação brasileira. Pesquisas inovadoras, que resultem em novos conhecimentos ou em novos produtos e serviços, demandam tempo, e como essencialmente são realizadas na base da “tentativa-e-erro”, podem terminar sem os resultados esperados.

Mas para manter o número de bolsas de estudos e a capacidade de financiamento de seus projetos, os programas de pós-graduação necessitam de um grande número de artigos publicados no curto espaço de tempo entre as avaliações trienais. Logo, os programas de pós-graduação dificilmente irão incentivar a realização de pesquisas que exijam muito tempo para sua conclusão ou que possuam o risco de não ter a publicação de um artigo no final.

Em resumo, aprendemos na pós-graduação a fazer pesquisa com dinheiro (público, na maioria das vezes) e não a fazer dinheiro com pesquisas.

ARRISCAR É PRECISO

Por fim, existe ainda outro ponto importante nesta discussão: a acomodação. Para sair da zona de conforto das universidades e se arriscar em mares desconhecidos é preciso coragem e persistência. Será necessário trocar promessas de estabilidade financeira pelos riscos do mercado; trocar o ambiente acadêmico em que passou os últimos dez a quinze anos por um mundo de novidades.

E isso assusta.

Entretanto, é preciso chamar a atenção para o óbvio: a quantidade de professores universitários que se aposentam ou de universidades criadas não é a mesma da formação de mestres e doutores.

Consequentemente, ou não haverá vagas em universidades públicas para todos trabalharem ou será preciso esperar muito tempo para consegui-las (existe um ditado popular maldoso de que os professores universitários não se aposentam, morrem na cadeira).

E tudo que um profissional que completa sua formação por volta dos trinta anos de idade não precisa é esperar ainda mais tempo para definir seu futuro.