Resolvi escrever esse texto após ler alguns editais para concursos em universidades públicas. É um desabafo, uma crítica e um alerta para aqueles que pensam em seguir essa carreira, que demanda tanto da nossa vida.
FASE I – VIDA NA PÓS-GRADUAÇÃO
Você vai se matar de estudar para disciplinas que muitas vezes não serão úteis na sua tese/pesquisa. Você fará provas difíceis de assuntos que não imaginava existir.
Você deverá publicar artigos em congressos e em revistas conceituadas da sua área, como uma espécie de “validação” do seu trabalho.
Você não ganhará nada por isso, além de stress e dor de cabeça é claro. Pressões para terminar o trabalho antes das datas dos congressos além de correções e revisões nada construtivas de trabalhos submetidos são parte do seu cotidiano.
Você será avaliado pela régua das publicações. Como ficar alheio a esses mecanismos quando são eles que definem o futuro do pesquisador?! Sim, você é “obrigado” a entrar nesse jogo. Quanto mais publicações melhor. Sem se esquecer da melhor parte, você deve defender o seu trabalho. Note que a palavra defesa não está aí por acaso.
FASE II – VIDA PÓS-PÓS-GRADUAÇÃO?!
Como se não bastasse todo caminho de dificuldades vivido até aqui, agora você tem um concurso pela frente. Certamente esse é um dos momentos de maior frustração para um egresso da pós-graduação. É a temida hora de visualizar os editais para concursos das universidades públicas, e perceber que você não está preparado.
No edital do concurso existirão tópicos que você viu na época da graduação. Você já não se lembra de muita coisa e certamente vai precisar fazer uma revisão, até aí ok.
Daí você descobre que existem tópicos que você não viu na graduação, não viu no mestrado, não viu no doutorado e até duvida que eles existam de verdade. As ementas dos concursos estão cada vez mais extensas, você poderia fazer 3 doutorados e ainda assim não ser qualificado o suficiente para ocupar a vaga.
Existe um descompasso entre os editais para concursos e os cursos de pós-graduação. Formamos mestres e doutores especialistas em A, B, C e D, enquanto contratamos mestres e doutores especialistas em X,Y,Z,W.
É a vida, enquanto estamos do lado de cá (alunos), o melhor a fazer é estudar, estudar e estudar.
Texto escrito por Márcio Lacerda, doutorando em Engenharia Elétrica na Unicamp.
“Você vai se matar de estudar para disciplinas que muitas vezes não serão úteis na sua tese/pesquisa.”
Já tive a impressão de que alguns programas de pós-graduação limitam as disciplinas em áreas muito específicas nas linhas de pesquisa, como forma de forçar os alunos a produzirem suas dissertações/teses e artigos na mesma área muito específica… Se você desenvolver uma pesquisa diferente, pode ser visto como a ovelha negra do local.
Isso deixa o programa repetitivo, sempre fazendo mais do mesmo, publicando artigos com objetivos e resultados semelhantes em cada linha de pesquisa.