Olá respeitável leitor. Certamente notou que o título vem com uma interrogação. Longe de afirmar algo, venho colocar um problema para o qual não tenho resposta.
Poderíamos falar sobre um espírito de comunidade acadêmica?
Segundo o dicionário Aurélio, uma das definições para o termo “comunidade” é a de “grupo de pessoas que comungam uma mesma crença ou ideal”.
Com certeza há grupos que estão em sintonia para o bem comum, mas também há de ressaltarmos o excesso de individualismo e competitividade presente no mundo acadêmico.
Prefiro, até por incapacidade de abarcar a questão sob um prisma macro, diminuir o campo de análise. Creio que o leitor poderia fazer o mesmo – talvez seja interessante.
Voltemos o olhar para nossos grupos de pesquisas e nossos eventos. Tentemos perceber até que ponto existe não a afetividade, coisa que creio realmente difícil de ser propagada, mas se existe uma real, constante e qualificada múltipla troca de informações e conhecimento, com a intenção de melhorarmos coletivamente a qualidade da produção.
Tendo crer que isto não aconteça. Percebo, pelo contrário, uma situação onde não só estamos desconectados do mundo extra-academia, mas também desconectados dos nossos pares. Parece-me que mais por imposição das necessidades curriculares tal conexão ocorra, e bem menos no dia-a-dia acadêmico, onde com certeza o resultado seria mais profícuo.
Mas podemos diminuir ainda mais o foco. Voltemos nossos olhares para dentro da sala de aula. Tentemos perceber até que ponto nós mesmos nos preocupamos com o colega e não lhe dizemos “f***-se” quando ele nos pede as anotações da aula anterior ou aquela explicação que só nós poderíamos dar – não se sinta tão mal, virtuoso Leitor, eu também assumo que já fiz isso.
Sobre os cretinos que tentam derrubar o colega com intenções de se elevarem, meu silêncio! Estes não merecem nem os segundos gastos na leitura desta frase.
Repito: não quero criar nenhuma generalização. Tenho exemplos medonhos e maravilhosos que poderiam arregimentar qualquer uma das duas posições. Por deferência não os cito – acho que você também os tenha.
Concluo este pequeno texto da mesma forma que comecei: perguntando. Estamos agindo segundo um mesmo ideal?
Queremos que nossa produção acadêmica, entendida aqui no âmbito coletivo, se volte para fora da academia com a intenção de obter melhorias, presenteando nosso tempo com o melhor que o saber especializado pode trazer, ou, estamos preocupados na obtenção de vantagens pessoais, invertendo a pretensão de nossa produção como fim a ser alcançado, entendendo-a como meio para alcançarmos outras coisas?
Comunidade acadêmica. Comunidade… será? Falar de “cada-um-por-si acadêmico” não seria mais condizente com a expressão sinistro-risonha que brota em nossa face quando percebemos o caminhar claudicante da pesquisa de nosso par?
Texto escrito por Cristiano Rodrigues de Souza – Bacharel em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e aluno do curso de Mestrado em História pela mesma Instituição.
Olá Cristiano,
Para tentar diminuir meu incomodo e relação à isso tudo que você disse e que compartilho em grande medida eu busco exemplos “fora da curva”. O Nupes-UFJF, um núcleo de pesquisa aqui na universidade, (http://www.ufjf.br/nupes/) passará a ter um reunião mensal aberta ao público. Não pesquisadores poderão entrar sem previa inscrição e participar! Achei a ideia muito empreendedora. Abraço
Olá pessoal,
Recentemente foi publicado um artigo sobre o impacto da internacionalização e colaboração entre Universidades. O artigo é muito interessante e vem a calhar com este poste.
Abraços.
artigo – The fourth age of research
autor – Jonathan Adams
revista – Nature
Ô Rodrigo!! Cadê as normas da ABNT na indicação da referência? haha
Algo muito discutido e almejado hoje em termos de processos de ensino e aprendizagem na universidade é o uso da interdisciplinaridade (ou até a multidisciplinaridade). Penso que se nós não conseguirmos nos aproximar dos colegas docentes de nossa própria área e também de outras, como vamos colocar em prática numa sala de aula a aproximação entre os saberes, algo bem mais novo que as relações humanas?
Muito obrigada por tocar na ferida de modo tão delicado e reflexivo, Cristiano. Ótimo texto!
Caro Cristiano R. Souza parabéns pelo nome texto… Reflexão\conversa como está apresentada por você é extremamente importante.
Cenários piores te esperam dentro do mundinho dos professores universitários.
Esse texto me fez lembrar de Antoine Prost, que em seu livro 12 lições sobre a História, “alfineta” os historiadores, que preocupados tão somente em suas carreiras e instituições se esquecem de adotar uma postura mais crítica nos debates, colóquios e afins… Isso gera aquele sentimento de: opa, preciso fazer o meu, dane-se o meu colega… Ou então aquela velha “política da boa vizinhança”, onde historiadores aceitam tudo do outro e não há debates críticos construtivos…enfim, a questão não é pacífica…