A Capes realizou seu encontro de avaliação trienal dos programas de pós-graduação, coincidentemente, próximo ao dia dos professores. Momento de avaliação, mesmo para professores, é uma etapa tensa e muito particular. Existem vários pontos a serem avaliados, individualmente em cada programa e/ou entre seus pares. Os pares são todos os programas que compõem aquela subárea área do conhecimento (atualmente a Capes possui 9 grandes áreas e 48 subáreas).
Sendo assim, caro leitor, “a regra é clara”: categoriza-se a produção científica de cada programa quanto ao número de publicação de alto impacto. Neste momento, não importa apenas que a produção dos pesquisadores seja elevada e de qualidade. O número de publicações deve ser maior que a dos outros programas (pares). Após esta sistematização, sempre haverá os programas de excelência (nível 6 e 7) e aqueles que precisam avançar (nível 3 e 4).
Podemos então chegar à simples conclusão que só existem grupos de excelência porque existem grupos com nível 3. O que seria do 1º lugar se não existisse o 2º lugar? Sob esta perspectiva, o questionamento que deve ser colocado é se os critérios de classificação utilizados são suficientes para analisar as particularidades de cada programa. Nas entrevistas sobre a última avaliação trienal, os avaliadores de áreas diferentes apontaram as assimetrias encontradas.
Como aluna de pós-graduação e almejante a pesquisadora, me questiono se avaliar a produção científica tomando como base os artigos científicos em periódicos de alto impacto é suficiente. Presenciamos recentemente escândalos envolvendo pesquisadores brasileiros formando quadrilhas de citações e pesquisas fictícias que receberam aceite em publicação. Será esta régua é confiável?
A inserção no mercado de trabalho do recém-formado, impacto local da pesquisa realizada, inovação tecnológica que envolva resolução de problemas/situações particulares de cada região são algumas atividades que acabam recebendo menor atenção, por não possuírem impacto internacional. O Brasil é um país com dimensões continentais e existe uma franca necessidade do desenvolvimento de novas formas de trabalho. Ou seja: inovar é preciso.
Os pesquisadores ficam reféns das exigências da Capes, afinal nenhum professor quer que o conceito de seu programa diminua. A atuação do pós-graduando fica, também, limitada à proposta do programa. E desta forma o ciclo da inovação é rompido. O que move a ciência são perguntas. Nossa realidade/desigualdades inspira nossos jovens talentos a investigar e inovar em circunstâncias críticas do processo de ensino, ciclo de produção, gestão dentre outras possibilidades. Este talento acaba sendo “podado” e isso quase sempre causa pequenas frustrações.
O grande desafio dos programas de pós-graduação é fazer inovação e ao mesmo tempo conseguir avançar na avaliação da Capes. Em uma primeira análise, pode parecer que são pontos divergentes, mas o princípio norteador da pesquisa, a busca da resposta a uma pergunta, não podem ser abandonado. Devemos ousar nos questionamentos e desprender-se do ponto comum.
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A pior ditadura não é a que aprisiona o homem pela força, mas sim pela fraqueza, fazendo-o refém das próprias necessidades”
Júlia Lícia
Ensinar é romper barreiras para dar espaço ao conhecimento. Neste mês do professor quero saudar a cada leitor, professor, estudante, pós-graduando – Obrigada, pelo empenho e dedicação à causa da educação. Só assim conseguiremos romper os ciclos das desigualdades.
100% apoiado!
Concordo com vc melka.
Olha, fica amarrado quem quer!
Eu não vi algum dos laureados do nobel reclamando de verbas no laboratório, ou mesmo com a pontuação da capes.