O futuro de um doutor no Brasil é, em via de regra, tornar-se professor universitário ou pesquisador em um raro centro de pesquisa. Há empreendedorismo na pós-graduação?
Uma minoria consegue ser contratada no setor de pesquisa e desenvolvimento de alguma empresa de grande porte.
Ter seu próprio negócio, então, é algo fora de cogitação na maioria esmagadora dos casos.
A ideia predominante é prestar concursos públicos até conseguir um lugarzinho sob as asas desta “mãe” que é o governo brasileiro.
Não era para ser assim.
Um doutor pode muito bem ter sua própria empresa de consultoria ou de pesquisa.
Conheço doutores que descobriram um nicho de mercado muito promissor: testar produtos e/ou realizar ajustes de tecnologia para grandes empresas.
Com essa onda de redução de custos, algumas etapas finais do processo de pesquisa e desenvolvimento, quando as patentes já estão garantidas para a empresa, estão sendo repassadas a empresas terceirizadas.
E uma grande fatia desse mercado continua inexplorada.
Existe também a possibilidade de criar seus próprios produtos ou serviços.
Certa vez um pesquisador espanhol me disse que nós, brasileiros, somos bons em fazer pesquisa com dinheiro e não em fazer dinheiro com pesquisa.
E é verdade.
Somos muito bons em ajustar tecnologias já existentes.
Tanto é que a geração de patentes tornou-se uma exigência da Capes, quando na verdade deveria ser algo natural em um programa de pós-graduação.
Mas por que nossos doutores se arriscam tão pouco na iniciativa privada?
Por uma série de fatores.
Acredito que o mais importante deles seja cultural: poucos são os cursos de graduação e/ou pós-graduação que incentivam o empreendedorismo.
A maioria dos cursos forma profissionais para serem empregados ou funcionários públicos.
E também há uma razão para isso: se nossos professores universitários não possuem esse perfil empreendedor, como eles poderiam passar essa visão a seus alunos?
É um círculo vicioso.
Essa pressão por publicações também tem sua parcela de contribuição.
Desenvolver produtos/serviços originais e/ou inovadores leva tempo.
Uma pesquisa básica leva anos até chegar ao produto para o consumidor final.
E como fica a publicação deste pesquisador durante esse tempo todo? Pois é.
A essa altura, alguns devem estar perguntando-se: mas e dinheiro para as pesquisas?
Ora, existem tantas oportunidades por aí: financiamentos, parcerias, sócio investidores, dentre outros.
Basta uma ideia boa e muita perseverança.
Quantas empresas começaram em um fundo de quintal e hoje são líderes de mercado?
O risco da iniciativa privada é maior do que o conforto e a tranquilidade de um emprego público? Sem dúvidas. Entretanto, em caso de sucesso, os ganhos são extraordinariamente maiores.
Afinal, como tudo na vida, quanto maiores os riscos, maiores os prêmios.
Tão poucos são os doutores no Brasil, quando comparados à “população mortal”, e diante de tanta qualificação não se desenvolve o perfil empreendedor neles. Sofremos de um grande mal, que é ter o conhecimento, mas não saber empregá-lo para o desenvolvimento da sociedade. Muitos querem descobrir a salvação dos problemas do mundo, mas poucos se dão conta dos problemas que estão ao redor de si mesmo.
Oi , gostaria de saber o autor desse texto. Obrigada
Concordo !
Caro Pós-Graduando, mais uma vez parabéns pela pertinência dos assuntos abordados na página! Não poderia concordar mais com vocês!
Eu terminei meu doutorado em Odontologia Legal na FOUSP em novembro de 2013, e antes disso tinha me demitido de um emprego com carteira assinada (coisa rara para dentistas) para poder cursar doutorado sanduíche no exterior. Desde que voltei e defendi minha tese, (e mesmo antes disso, quando já tinha mestrado), nunca consegui uma oportunidade de vínculo formal com universidade, nem o meu antigo emprego. As particulares, não me contrataram pois basicamente só entra quem eles querem na hora que eles querem. As públicas, prestei concursos e por ser um profissional jovem sempre fui encarado como uma promessa e não uma realidade como profissional qualificado (tenho 29 anos e me dedico à matéria desde que me graduei). Me restam ainda os muito concorridos concursos para perito criminal ou odontolegista nas policias técnicas, e cá entre nós… ter pós-graduação só ajuda se você consegue passar pela primeira fase (concorrendo com milhares de pessoas, o que não é muito o foco de quem faz mestrado e doutorado). Eu exerço a docência como “freelancer˜, em cursos de especialização em Odontologia Legal, basicamente.
Mas eu não me deixo abater! Eu parti pra iniciativa privada recentemente, exatamente como o texto aponta. Eu iniciei aqui em Santos uma equipe multidisciplinar para prestar serviços periciais altamente especializados, como os que eu aprendi em minha pós. Somos a Equipe Brasileira de Antropologia Forense e Odontologia Legal (EBRAFOL). Estamos estruturados em forma de organização governamental, sem fins lucrativos, e se tudo der certo, vamos tentar trabalhar com parcerias público-privadas se obtermos o status de OSCIP junto ao Ministério da Justiça. Se vai dar certo, ou não, eu não sei, mas o que eu sei é que eu me recuso a ficar no chamado “limbo após a defesa de doutorado”, inclusive abordado neste site, e assim me lancei no Terceiro Setor. Só gostaria de deixar aqui este testemunho, para mostrar aos colegas pós-graduandos que se as asas do governo não nos reconfortarem, hemos de criar nossas próprias asas e tentar voar por conta própria.
Um abraço e parabéns pelo site novamente!
Prezado, boa-tarde!
Sensacional a matéria, porém fico me questionando Doutores da área acadêmica! Como empreender nesta área (fora da engenharia). Consultoria Educacional é o meu ramo, mas ainda vivo em um país em que a cultura não é investir na educação.
Preciso encontrar o caminho.
Abraços