Se você não esteve morando em Pasárgada nos últimos meses, já deve ao menos ter ouvido falar sobre a proposta da Profa. Suzana Herculano-Houzel para regulamentar da profissão de cientista, muito semelhante ao modelo utilizado com sucesso em outros países, como a Holanda.
A Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), entidade representativa dos estudantes de Pós-Graduação, além de se posicionar contra a proposta de reconhecimento da atividade científica como trabalho, defende a criação de um “Estatuto de Direitos do Pós-Graduando“, garantindo aos pós-graduandos os direitos que, no Brasil, já são assegurados aos… trabalhadores.
A REGRA É CLARA
Em uma rápida consulta ao artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é possível observar que os elementos caracterizadores da relação de emprego são:
Logo, os pós-graduandos, responsáveis pela maior parte da produção científica brasileira, possuem não apenas um trabalho, mas também um emprego!
Você pode não gostar. Pode não concordar. Pode ter medo das consequências. Pode xingar muito no Twitter. Mas as coisas são como são, e negar um fato não elimina sua existência.
LIMBO ACADÊMICO
O grande equívoco nesta discussão é pensar na Pós-Graduação como um fim, e não como um meio para algo maior. A Pós-Graduação é uma etapa transitória na vida de um cientista. A atividade científica não.
E atualmente a luz no fim do túnel de um curso de doutorado é um limbo acadêmico que pode durar anos, à espera do cada vez mais concorrido concurso público para professor universitário, que se tornou a tábua de salvação para quem quer fazer ciência no Brasil.
Mais do que apenas garantir os diretos hoje negados aos estudantes de Pós-Graduação, a regulamentação da profissão de cientista pode criar a demanda necessária para absorver o crescente número de doutores no país, alavancar a qualidade da ciência por aqui, permitir que cientistas que não possuem afinidade pela docência possam se dedicar apenas à sua vocação e até construir uma carreira como cientista, algo alcançado por poucos privilegiados no Brasil.
DOUTORES RECÉM-FORMADOS
O envolvimento dos estudantes de Pós-Graduação no debate sobre a regulamentação da profissão de cientista é algo natural e esperado, pois afeta diretamente todos os cursos de mestrado, doutorado e pós-dourado no país. A ausência dos doutores, os maiores beneficiados com esa regulamentação, é o que preocupa.
Afinal, nesta discussão pode ser incluída a famosa frase de Walter Savage Landor:
“Aqueles que se sentem satisfeitos sentam-se e nada fazem. Os insatisfeitos são os únicos benfeitores do mundo.“
Todo pós-graduando bolsista recebe ordens do seu orientador, tem uma rotina semanal (na maioria das vezes, diária), recebe bolsa e é uma pessoa física (assinando até um compromisso de pobreza, de que vai continuar pessoa física durante todo o tempo da bolsa).
Confesso que tinha um pouco de receio sobre essa regulamentação, mas se o texto da CLT é esse, não podemos nos contentar com menos do que nos é de direito.
Parabéns pelo post, uma das discussões mais lúcidas e objetivas que li a esse respeito.
Verdade, Paulo.
Eu fico de cara é ver a ANPG contestar a profissionalização pedindo… profissionalização. Não dá pra entender.
Este texto tem grandes verdades…
“Logo, os pós-graduandos, responsáveis pela maior parte da produção científica brasileira, possuem não apenas um trabalho, mas também um emprego!” e dos complicados!!
é preciso pensar sim na “Pós-Graduação como um fim, e não como um meio “, por que isso além de mudar a relação do com essa etapa da vida pode mudar a postura dos “superiores” quanto ao “estudante!
“concurso público para professor universitário, que se tornou a tábua de salvação” até quando?!
parabéns! muito bom..
Concordo com o comentário acima e também gostaria de saber qual o medo da ANPG!!
Concordo que não se deva regulamentar e depois discutir os detalhes como foi publicado na matéria anterior (http:// www. anpg.org.br/gera_noticia.php?codigo=1817&tipo=1), mas ainda que a proposta da professora Suzana seja vaga, ela pode e deve ser aprimorada. Gente o que é isso? Alguém conseguiu chamar a atenção para o problema, ela apresentou uma demanda.
O que se vê (ou prevê), COMO SEMPRE é a tendência a falha na elaboração da política para a questão.Se a proposta não responde a dezenas de questões, é preciso fazer om que ela responda então! Somos uma classe de intelectuais, podemos para contribuir de forma muito positiva para esta proposta.
“Estatuto de Direito dos Pós-Graduandos”… Essa ANPG só pode estar de brincadeira!
A nossa sociedade já tem dificuldade em reconhecer nossa atividade como trabalho, quando surge essa oportunidade vem eles querendo que ela dê direitos de trabalhadores a estudantes…
Não seria mais fácil assumir o que somos, exigir o respeito que merecemos e termos os benefícios que naturalmente viriam destes dois acontecimentos?
Afinal, qual é o medo da ANPG?
Postura lamentável a da ANPG. Além de fazerem críticas ridiculamente frágeis, típicas de quem nunca teve contato com a ciência em um país desenvolvido, ainda tentam nada sutilmente desacreditar a profa. com o mais rasteiro ad hominem. Parabéns por, mais uma vez, com essa mentalidade sindicalista-populusta, garantirem que continuemos amadores e atrasados.
Caros, as relações trabalhistas podem caber muito bem para aqueles que, optantes pelas áreas exatas ou biológicas, possuem rotinas de laboratórios.
Entretanto, existem pós-graduandos que optam pelas Ciências Humanas e/ou sociais. Esses Pós-graduandos não possuem habitualidade e a sua relação com o Orientador não é uma relação de subordinação, uma vez que a pesquisa em Humanas e Sociais supõem contradições inerentes às áreas.
Dito isto, é óbvio que a proposta da Dra. Suzane não comtempla a diversidade da Pós-Graduação. Nas palavras da mesma, os Pós-Graduandos de Humanas ficariam com o “lato Sensu”… É isso mesmo? Esse é um dos medos da ANPG….
Outro medo da ANPG é que os Pós-Graduandos possam ser sumariamente “demitidos” e tenham seus dados apropriados pelo Pesquisador Principal, ou orientador. Além disso, a relação de subordinação demarca o fim da autonomia de pesquisa.
Concordo com o blog quando cita que a pós-graduação é um meio e não um fim em si mesmo. E por isso mesmo defendo outro tipo de regulamentação, que proteja os Pós-graduandos e não os laboratórios.
Além disso, a proposta feita pela Prof. Suzane – que tem o mérito de chamar atenção para o problema da precariedade dos Pós-Graduandos – carece de informação. A carreira de pesquisador já existe. No Estado de São Paulo, por exemplo, são mais de mil pesquisadores profissionais, trabalhando nos diversos laboratórios estatais. Além disso, os auxiliares de laboratório, presentes em quase todas as universidades, correspondem, também, à proposta feita: profissionais graduados a serviço do laboratório.
A diretoria da ANPG tem participado de debates por todo o território nacional e temos verificado que o apoio à proposta de Suzane só se sustenta ante o desconhecimento do conjunto da proposta. simples problematizações deixam os defensores – e a própria Suzane – sem respostas e apelando para o argumento “primeiro regulamente e depois a gente vê isso”…
Enfim, creio que o debate está em curso e acredito, sinceramente, como Pós-Graduando não laboratorial que tenho direito a fazer uma Pós-graduação “Stricto Sensu”; a ter uma relação saudável com meu/minha orientador/a; a contar tempo de serviço mediante contribuição para o Sistema Previdenciário; a obter um contrato de financiamento independente da minha linha de pesquisa; e a ter acesso à Assistência estudantil (Bandejão, Moradia, Meio-Passe) se a ela fizer jus mediante critérios de cada universidade.
TODOS os contrários a proposta da Profa. Suzana (ou que tem “medo” da proposta) são da área de Ciências Humanas e Sociais, da mesma forma que TODOS os que defendem com entusiasmo a proposta é de alguma área experimental. Tá na cara que a maneira como essas “Ciências” são feitas são muito diferentes.
Como a diretoria da ANPG é formada em sua esmagadora maioria por pós-graduandos das áreas das Ciências Humanas, acabaram se posicionando de acordo com os interesses dessa área (interesses e visões próprias, claro).
Gostaria de sugerir à ANPG uma maior representatividade das outras áreas na composição da próxima diretoria.
Ah tá! Só porque os bonitos das Humanas não trabalham eu vou ter que me contentar com esse “Estatuto de Estudantes Especiais” ao invés de ter o meu trabalho suado, de segunda a segunda, em um laboratório reconhecido como um emprego e todos os direitos em consequência desse reconhecimento?
Marcelo, acho que você ainda não conseguiu (ou não quer) entender a questão central muito bem elaborada neste post:
O que é que o tal “Estatuto de Direitos do Pós-Graduando“ vai te ajudar depois que você tiver concluído o Doutorado?
A proposta da Profa. Suzana definitivamente contribui muito!
Exato, Paulo.
Regulamentar a profissão de cientista mudaria a ciência brasileira, romperia velhos hábitos e tiraria muita gente da zona de conforto.
Convenhamos, profissionalizar a Ciência no Brasil é o que de melhor poderia acontecer no país nesse momento.
Concordo com o autor do texto: a pós-graduação é apenas uma etapa, mas e o que vem depois?
Eu sou da área de Ciências Biológicas e me posiciono com bastante cautela com relação a proposta da professora Suzana exatamente pelos motivos expostos acima pelo Marcelo. Para mim, a maior contribuição da professora é de chamar atenção para o problema, mas ainda não fui convencido de que sua proposta é a solução.
Primeiro, o que é um cientista? Isso é fácil de definir a ponto de haver legislação que regulamente tal profissão? O pós-graduando em Filosofia, como fica? Será chamado de cientista também? De qualquer forma, não deixa de ser pós-graduando e contribui para a produção de conhecimento no Brasil.
Levando em consideração que a profissão de Pesquisador já existe, o que por definição engloba todos os que geram conhecimento de forma geral e não apenas científico, qual o motivo para que o anseio não seja de reconhecimento dos pós-graduandos como pesquisadores?
Alem disso, acho que o buraco é mais embaixo. Entendo perfeitamente o problema (já que sofro com ele também) dos pós-graduandos do Brasil e conheço a realidade de que estes que sustentam a produção de conhecimento do pais. Mas será que isso é de fato uma motivação pertinente para a revindicação do reconhecimento destes como profissionais? Ou melhor, faz sentido lutar pelo reconhecimento profissional de estudantes? Porque apenas os pós-graduandos e não também os bolsistas de iniciação cientifica?
Acho que a aceitação quase imediata da proposta da professora Suzana por grande parte dos estudantes de pós-graduação se deu sem quase nenhuma reflexão visto a magnitude do problema que enfrentam.
Me pergunto se este anseio por reconhecimento profissional seria tao ululante caso no Brasil as bolsas de mestrado e doutorado tivessem no mínimo o dobro do valor que possuem hoje e que o recém-graduado ou recém-mestre tivesse a tranquilidade de que encontrariam um emprego na área que tem afinidade. Ou seja, que a pós-graduação servisse para o que deveria servir mesmo, como maneira de qualificação e não como unia opção para sobreviver.
O argumento de que o pós-graduando também tem emprego utilizando essas analogias com o artigo da CLT é muito, MUITO fraco. E sustenta-lo usando o argumento de que “voces podem até não concordar mas é fato e fato não se derruma” é no minimo de um interesse ideológico muito suspeito.
SUBORDINAÇÃO:
Nem toda reação orientando/orientador é subordinada, no sentido de que o orientando em inúmeras situações tem autonomia para pesquisa. O orientador é literalmente o que o nome diz: alguém que orienta o caminho de seu aluno. Dizer que isso é a mesma coisa que ser chefe é no minimo negligente.
HABITUALIDADE:
Nem toda pesquisa e nem toda presença na pós graduação exige habitualidade. O trabalho intelectual é solitário por muitas vezes, o único objetivo irrevogável do pós-graduando é entregar um “produto” depois de alguns meses, então ele está apto a ter um horário bastante flexível.
ONEROSIDADE:
Não existe bolsa pra todo mundo, preciso mesmo explicar mais?
PESSOALIDADE:
dizer que todo pós-graduando é pessoa física É MUITO DIFERENTE de dizer que toda atividade de pessoa física necessariamente é emprego. Vamos ter cuidado com isso aí.
Raphael, pelo tom do seu discurso, você obviamente é de alguma Ciências Sociais ou Humanas.
Nesse caso, você está completamente certo: o que vocês fazem realmente não é trabalho ou emprego, quem dirá Ciência…
Que tal deixar essa discussão para quem trabalha de verdade?
Pois é, eu sou da área de exatas e vejo muita gente que se diz “fazer ciência de verdade”, como você, Gabriel Augusto, apenas fingir que pesquisa. Sim, fingir, porque no fundo apenas reproduz o que o orientador quer. Fazer pesquisa não é trabalhar, no sentido stricto (se é que você sabe a diferença), mas sim uma etapa para o aprimoramento intelectual e científico. E, nesse sentido, todas as áreas do conhecimento – exatas, humanas, biológicas, tecnológicas – fazem parte da produção do conhecimento e são, sem dúvidas, fruto do repensar constante. Assim, caro Gabriel Augusto, todas as áreas do conhecimento, quer dizer, todos os que pesquisam (e não apenas trabalham com “ciência de verdade”) contribuem para o desenvolvimento científico do país. Lastimável ler que há ainda gente com elevado grau acadêmico que finge pensar.
Gostaria que você ficasse apenas um mês no meu laboratório, recebendo ORDENS do meu orientador, fazendo análises químicas inclusive aos domingos e feriados, só para ver se você continuaria a falar tanta abobrinha.
Nesse caso, caro Bruno Arantes, o que posso dizer é que foi você quem aceitou a situação de submissão laboral. Se está tão insatisfeito com sua “pesquisa”, deveria procurar outra área para o exercício de sua formação acadêmica ou mesmo outro orientador.
Raphael,
Só porque há autonomia parcial durante a pesquisa não indica que não há subordinação. Ou você pode fazer QUALQUER projeto que lhe der na cabeça? Sem a aprovação do orientador? Pode até ser que exista esse tipo de orientador, mas a questão é que essa decisão de autonomia é somente dele (orientador)!
Sobre a habitualidade, a freqüência não precisa ser diária para caracterizar um hábito. E mesmo fazendo a pesquisa fora do laboratório (em casa, no campo, etc) ainda assim a atividade pode estar acontecendo sob supervisão. Isso inclusive é abordado no art. 6 da CLT (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm) e essa situação não descaracteriza a relação de emprego.
Sobre a onerosidade, é verdade, não há bolsa para todos, mas isso não invalida os casos em que o pós-graduando é bolsista.
Sobre a pessoalidade: Você confundiu achando que a pessoalidade é uma condição suficiente para caracterizar o emprego. Não é. Ela é uma das condições que precisam ocorrer em conjunto.
Sobre a pessoalidade, não fui eu quem confundi, mas o próprio texto da coluna que sugere isso.
A subordinação, habitualidade e (infelizmente) remuneração do aluno de pós graduação não deve ser nunca ser vista nos mesmos padrões que um emprego CLT. É óbvio que eu sei que existe o trabalho de pós-graduação muito próximo disto, como a pessoa ali em cima mencionou. Mas o ritmo de trabalho e a relação de subordinação do aluno da universidade pública de pós-graduação é muito maleável, e esta maleabilidade nada interfere diretamente na cientificidade ou na qualidade dos trabalhos de pós-graduação. Reclamar direitos ao aluno de pós-graduação é urgente e necessário, mas associar de maneira simples o trabalho na pós-graduação com o emprego assalariado nos moldes do CLT é perigoso. É importantíssimo que na universidade pública exista a produção de ciência e tecnologia e produção de patentes, mas eu acredito que transformar o ambiente acadêmico num ambiente empresarial inclusive na relação trabalhista é reduzir e muito o papel que a universidade tem na sociedade, onde a autonomia parcial deve ser vista não como uma casualidade, mas como um direito. Pra quem acha que isso significa entrar numa pós, receber uma bolsa e vagabundar pela vida inteira, tá muito enganado. A atividade científica também é política e social, mesmo que muitos enfiem na cabeça que não seja. Comprometeria minha atividade científica se eu fosse obrigado a ser apenas “empregado” do meu orientador, visto que eu não poderia pensar por conta própria. Comprometeria minha atividade científica inventarem uma não-eventualidade no meu cotiano de trabalho, visto que escrever uma dissertação não ocorre das 8h às 18hs durante 40 horas semanais, com pausa pro almoço. Eu fico confortável com os prazos que eu estipulo com o meu próprio orientador e que o programa de pós-graduação impõe de início. É uma situação muito mais análoga ao profissional autônomo do que do empregado sob o regime CLT. Da mesma forma que existe esta minha situação individual, existe a situação no outro extremo, que não deve ser desqualificada.
Dentro do ambiente de trabalho acadêmico existem muitas variantes, e reduzir e equalizar o trabalho do pós-graduando ao do emprego em CLT é reducionista. Sou a favor da discussão dos direitos do pós-graduando e da delineação de deveres que sejam coerentes com a grande diversidade de intencionalidades que revestem a atividade científica no Brasil. Sou a favor de centros privados de pesquisa, mas não sou a favor do investimento privado em instituições públicas.
Gabriel Augusto: Vai estudar, rapaz.
Engraçado, se tem medo de que exista um regulamento que até o momento só prejudicou inúmeros projetos por não ter, se assim opor é fácil. A verdade é que até agora não se sabe quantos cientistas são necessários para colocar um projeto em andamento, tão pouco quais são seus direitos e deveres. Acredito que o maior motivo da preocupação de regulamentar é que teremos uma estatística real sobre a classe cientifica e mentir com números fica mais difícil. Sair do conservadorismo e tornar o ambiente cientifico amador em algo profissional deveria ser o desejo de todos.
O que me incomoda nessa história de “Estatuto de Direitos dos Pós-Graduandos” é: por que diabos alguém daria direitos especiais aos pós-graduandos, se a gente “só estuda” e “não trabalha”?
Ou melhor, por que reivindicar direitos a uma classe que não tem sua importância reconhecida pela sociedade, quando na verdade basta ter seu trabalho valorizado e regulamentado que os direitos e benefícios vêm em consequência?
Resumindo tudo em apenas uma frase:
“Eu sou pós-graduando de ciências experimentais e a ANPG não me representa.”
A ANPG não representa nem um décimo da diversidade de pós-graduandos no Brasil. Mas, como agem de forma organizada, gritam alto e correm para desqualificar publicamente quem discorda deles, acabam ganhando no grito discussões importantes, das quais mais áreas da ciência deveriam participar (em parte isso é culpa da omissão política da maioria dos cientistas).
Onde viram essa história de pós-graduação em humanas só poder ser lato sensu de acordo com a proposta da Profa. Suzana? Tenham mais honestidade intelectual! Pós-graduandos, antes de caírem no discurso conservador da ANPG (baseado em sugestões desonestas como “vocês não sabem a verdade toda” e “a profa. tem uma agenda oculta”), procurem saber, por exemplo, como funciona a academia em países como Alemanha, França e Inglaterra.
Nesses países há pós-graduandos bolsistas e pós-graduandos contratados via fundações e grandes projetos, ou seja, o sistema tem diversidade de áreas e de vínculos. Ambos têm seguro-saúde, só varia o tipo e a cobertura.
Ambos têm um regime de trabalho definido claramente em contrato assinado por ambas as partes. A diferença básica é que os bolsistas não têm que cumprir horário fixo semanal e podem faltar ao trabalho o quanto quiserem, mas por outro lado não têm direitos trabalhistas (férias pagas, 13º, aposentadoria etc.).
Já os contratados têm que cumprir entre 10 e 39 horas/semana (dependendo do contrato) e têm que reportar faltas mais longas do que três dias, mas, na prática, recebem a mesma liberdade dos bolsistas e ainda têm os direitos trabalhistas. Em ambos os casos, a pós-graduação é, de fato, apenas uma fase na formação do cientista.
A diferença é que, no caso dos contratados, eles podem conseguir diferentes tipos de contratos de pesquisador, de acordo com carga horária, tarefas e cada nível de titulação. E os contratos variam de 6 meses ano de duração a vitalícios. Nesses países, os pós-graduandos disputam a tapas esses contratos, restando as bolsas comuns aos menos competitivos (exceto no caso de bolsas famosas que dão prestígio).
E o cientistas pode decidir que basta a graduação ou o mestrado em sua carreira, conseguir um bom contrato de pesquisador e progredir profissional e financeiramente independente de conseguir mais títulos ou não.
A tal “subordinação” da qual alguns tanto reclamam é a mesma que se tem em ambos os casos. E, convenhamos, fugir da “subordinação a um chefe” é uma atitude no mínimo imatura para um jovem adulto. Qual trabalho, que não seja puramente autônomo, e que seja levado a sério, não implica em direitos e deveres e algum grau de subordinação?
Digitar no google “CLT” e comparar com a atividade de um bolsista não é embasar algo legalmente.
Do ponto de vista legal, bolsa não é salário. Bolsa é quase uma “doação” do governo. Da mesma forma que o bolsa família, bolsa escola, bolsa cachaça…etc etc etc
E quanto ao chamado “limbo” do pos graduado depois do doutorado, é uma questão de escolha.
Sou de Belo Horizonte e professor da UFPA e aqui temos concursos frequentes e temos MUITA dificuldade de preencher essas vagas..
Sentar e esperar aparecer um concurso no Rio, SP, MG reclamando do sistema é muito fácil…mas as oportunidades estão por aí…pra quem quer, obviamente.
Eduardo,
A CLT diz respeito a remuneração, não salário. Existe uma grande diferença entre essas duas coisas.
E uma pessoa não estuda 20 anos da sua vida pensando em ir para lugares menos estruturados.
A ideia é sempre melhorar, não o contrário.
Tanto é que MUITOS profissionais da região Norte vêm prestar concursos no Rio, SP, MG.
Gente…. deve ter muito fake respondendo aqui….rsrsrs…. Esse Gabriel Augusto que diz que Ciências Sociais não é Trabalho, nem emprego e nem Ciência nem merece ser levado a sério…rsrsrsr…talvez nem seja Pós-Graduando…. e quem diz que a ANPG carece de representatividade deveria ver a composição da Diretoria…
Aos demais, não esqueçam que os outors países possuem outros orçamentos, outros sistemas, outros históricos de pesquisa, enfim…
Pelo menos existe ombridade em identificar que a proposta carece de desenvolvimento. Sugiro que quem tenha interesse em desenvolver a proposta como um todo a faça e venha pro debate, sem essa agressividade toda…. O 39º CONAP é um entre tantos espaços para convencer e ser convencido. Estão todos convidados…
Só pra constar, no Centro de Ciências da Sáude, onde a Prof. Suzane dá aula, participamos de um debate com mais de 100 Pós-Graduandos e a proposta dela foi bastante questionada.
Marcelo Arias
Mestrando em Mudança Social e Participação Política
Universidade de São Paulo – USP
Presidente: Comunicação e Semiótica
Vice-Presidente: Filosofia
Tesoureira: História
Diretora de Ciência: Educação
Relações Institucionais: Direito
Comunicação: Filosofia
Regional Centro Oeste: Teoria Literária
Regional Nordeste: Administração
Regional São Paulo: Mudança Social
Regional Sudeste: Direito
Políticas Educacionais: História Social
Cultura e Eventos: Saúde coletiva
Direitos dos Pós Graduandos: Administração
Instituições Públicas: Sustentabilidade Sócio-Econômico
Políticas de Juventude: Ciência Política
Relações Internacionais: Educação
Tecnologias da Informação: Direito
Realmente tem uma grande representatividade… DENTRO da área de Ciências Humanas
ô cláudio…. só tem esses diretores aí???? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Coloca o resto, cidadão…. aproveita e diz qual seu programa e universidade….
Realmente Claudio “muito diversa” a composição dessa ANPG… nota-se que essa ANPG não passa de mais um associação comuna que gosta de atrapalhar o progresso do país
Marcelo, pensei que só eu tinha horrorizado com o absurdo estapafúrdio que esse Gabriel Augusto havia falado. Grata por me representar! As pessoas vomitam esses preconceitos bizarros a respeito das ciências sociais e humanas até hoje? Inacreditável. Ê mundinho torto!
Helga Almeida
Doutoranda em Ciência Política – UFMG
Não é preconceito não, colega. É constatação.
Doutorando em Matemática aqui.
Algumas questões rápidas:
1) A diretoria da ANPG não é composta apenas por pessoas da área de humanas e sociais. Deem uma olhada na página da ANPG e perceberão isso facilmente.
2) Na última sexta-feira eu participei de um debate sobre esse tema no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ., Inclusve, é lá que a professora Suzana da aula. Infelizmente ela não conseguiu ir no debate, mas todos os membros da mesa e a grande maioria das pessoas que estavam assistindo e interviram no debate se colocaram contrários à proposta. Inclusive diversos professores lá do CCS. Ou seja, não são apenas aqueles que fazem humanas ou sociais que são contra.
3) Aurélio, de uma olhada no áudio do debate que ocorreu em bsb (está disponivel no blog da prof Suzana) e você ouvirá o momento em que ela fala que aqueles que não forem contratados antes como cientistas só poderão fazer a pós Lato Sensu. Depois de ouvir, espero seu comentário sobre “honestidade intelectual”.
4) Acho que a profissionalização só tem sentido se pensarmos ela no pós-doc. Após a graduação, não faz sentido.
5) Acho que temos que evitar o “fla X flu” quando se quer fazer um debate sério. Ou seja: ou você é a favor da proposta da Suzana ou você não está preocupado com a situação dos pós-graduandos, ou “não quer trabalhar”. Problematizar uma proposta (totalmente vaga, pois se baseia apenas em um vídeo que deixa margem a diversas interpretações) não é ruim para o debate. Os gregos já nos ensinaram que o diálogo é a melhor forma de se chegar a uma melhor proposta. Penso que não deveríamos retroceder nisso.
6) Acham a proposta da ANPG ruim? Ótimo! Que tal montarmos um debate sobre isso em sua universidade? Ao contrário da prof Suzana, estamos rodando o país e conversando com pós-graduandos de diversas áreas do conhecimento sobre a nossa situação e as formas de melhorar essa situação.
7) Teremos um prazer imenso de discutirmos isso na sua universidade…
Concordo com o Roberto no que diz respeito a profissionalização ser após o doutoramento. Não vejo sentido inicial de profissionalizar a pós-graduação mediante contrato via CLT, pois podemos entrar num precedente em que bastou um arroxo orçamentário para termos os estudantes (que culturalmente infelizmente são vistos como meros estudantes e não será a profissionalização que irá mudar) demitidos por corte de despezas. Temos que pensar que as bolsas não tem alguns direitos (férias e 13º) mas ao mesmo tempo temos a certeza que independente da política não perderemos estas bolsas. Houve no passado corte em envio de bolsas mas nunca corte de bolsas já concedidas justamente pelo regulamento que nela existe. Posso estar sendo muito temeroso mas creio que contratação para pos-graduação não é o ideal. Lutar por conquistas pontuais, acho que sim, dá, como direito a férias e 13º, de forma similar a lei dos estágios já regulamentados a um bom tempo.
Já os posdocs são responsáveis também por produção científica, até mais exigido do que um estudante, pois ele tem prazos a serem cumpridos com maior urgência. Estes sim poderiam ser amparados pela profissionalização de forma mais efetiva que os estudantes, sem ficarem esperando concurso público para poder produzir. É o que de certa forma impurra muita gente boa para outros países, pois lá ainda há oferta de emprego ou o posdoc é tratado como um contratado.
Mas fico feliz que a discussão está se ampliando e espero que ela chegue justamente a um acordo entre todas as partes, porque por mais que haja a velha richa entre humanas e exatas, onde cada uma tem seu método de trabalho e publicação, todos são cientistas e são obrigados a produzir.
Poxa…. Claudio Vieira …. coloca os demais diretores aí…. kkkkkkkkkkkkk
Impressão minha os comentários se perderam do contexto do post?
Parabéns ao autor do post pela visão em um contexto maior.
Exato Alencar, o Post é muito feliz em oportunizar o debate…. infelizmente alguns partem para o ataque da entidade que nos representa e fogem ao debate…. deslegitimar o interlocutor é a tática de oratória mais vil que a História humana registra…
Também percebi isso, Alencar.
Eu gostaria de ser contratada para fazer pesquisa após o término do doutorado, sem precisar dar aula.
Mas enquanto esse debate girar em torno dos pós-graduandos isso vai andar em círculos…
Marcelo e Roberto, seria possível tirar os pós-graduandos da proposta da Profa. Suzana e manter o resto da regulamentação da profissão de cientista?
Oi Marielly,
Aqui na Holanda funciona por aí. Você pode ser contratada para exercer algum cargo “técnico” ou de apoio à pesquisa, por exemplo, desenvolvedor de software. VOcê ainda pode ser contratado como pesquisador associado antes mesmo de defender o doutorado.
É meio confuso mas, se o seu contrato de doutorado acabou e você ainda nào defendeu, o grupo tem a flexibilidade de extender o contrato. Assim que você defende, seu salário muda e você continua como pesquisador.
Marielly, você tocou no ponto fundamental. Precisa separar a discussão ou realmente não conseguiremos chegar a lugar algum. O debate feito no CCS da UFRJ foi levantado justamente isso. Pensar a profissionalização no pós-doc. A pós-graduação precisamos “resolver” de outra forma e por isso estamos debatendo essa questão da criação de um Estatuto de direitos.
Na verdade quem tocou nesse ponto foi o autor do texto.
Creio que essa era a intenção dele quando escreveu…
Mas e como ficaria a ciência produzida pelos pós-graduandos?
Oi pessoal,
Acho que alguns pontos estão virando fofoca e fugindo da discussão.
Primeiramente, desde quando, quem faz ciência de verdade acha relevante discutir o “tipo de trabalho” que você faz no seu grupo para qualificar como válido ou não?
‘Digo relacionado à essa discussão infantil de experimental x teóricas? A produção de conhecimento é o fruto do doutorado. Independente do caminho que você escolheu. Têm que se lembrar que o produto final de um doutorado é uma TESE. Independente de experimental x humanas x teóricas ou qualquer outro bla bla bla, o produto é o conhecimento. Não há “doutorado somente experimental”. Se você faz um, abre o olho!
Enfim. Outro ponto é que se a proposta da Prof. Suzana não está boa, que ótimo que pessoas discutam sobre.
Mas onde estão argumentos sem achismos?
Se for para tomar passos graduais para dar tempo de o sistema se adaptar, que assim seja.
Até sou a favor da criação do profissional cientista, que já existe de fato, mas que tenha um salário digno de um pesquisador.. 3000 reais por mês não é um salário descente para nós, por exemplo.
E como se defini quem faz ciência ou não? Através da criação da profissão? Ou seja, então apenas quem for contratado por laboratórios ou institutos pode se dizer “cientista”? É uma discussão muito parecida com a que está acontecendo com a proposta de regulamentação da profissão de historiador e que tem recebido bastante crítica: como definir quem pode ou não trabalhar com história? Enfim, não é uma questão simples de ser resolvida. De qualquer forma, precisa criar um mecanismo de absorção dos doutores que pode ser a criação de uma profissão especifica ou através de outros meios. Mas é um debate em aberto.
Acho que essa visão está equivocada. Eu não vejo uma necessidade de dizer quem pode ser cientista ou não. Até por que, pela definição, isso não depende de onde você trabalha.
O que se discute é o fato de que as pessoas que trabalham pela ciência, como doutorandos e pós-doutorandos, tenham acesso aos direitos de um trabalhador.
O texto da ANPG parece uma piada. Hoje o orientador manda e desmanda, inclusive escolhe quem entra ou não na pós (as “entrevistas” servem pra quê?). Sem contar o assédio moral que sofremos, hoje nos mandam fazer algo, amanhã esquecem e brigam conosco porque fizemos. Ou pior, insinuações sobre a qualidade do trabalho feito para outras pessoas/professores.
É necessário regulamentar para termos direito e quando necessário até processar esses orientadores por assédio moral. Sem contar que não temos férias, 13° e tudo é para ontem!
Para quem não sabe o que é assédio moral, aqui tem uma explicação: Apenas dois exemplos que o caracterizam:
*Procura inferiorizar, amedrontar, menosprezar, difamar, ironizar, dar risinhos;
*Faz brincadeiras de mau gosto;
http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/assediomoral2.htm
A minha visão sobre o assunto, como pós graduando na área de Ciências Contábeis é bem simples:
Existe total necessidade de estabelecer a carreira de pesquisador científico no Brasil sim.
Por quais motivos:
1º O desenvolvimento de políticas públicas para ampliação do quadro de pesquisadores no país, Investimentos em bolsas – que seriam salários, viagens ao exterior, incentivos a pesquisa e ao desenvolvimento de programas em regiões mais carentes ficariam muito mais fáceis com estruturas contratuais, que incentivassem e criassem um vinculo do pós graduando a universidade – dado que na minha área, por exemplo, o mercado paga-se extremamente mais, com menos esforço do que uma dedicação exclusiva, o que cria um barreria gigante.
2º Quebra-se o estigma de que a pós graduação strictu-sensu seja somente “algo adicional”, mas sim a base da carreira acadêmica de um professor-pesquisador. Considerando que agora o Governo Federal incorporou a necessidade do doutorado em todas as universidades federais para os novos concursos públicos, teremos duas situações um pouco complicadas (pelo menos para a área de Contabilidade)
a) Não tem nem mestres o suficiente para cada curso no país.
b) doutores… Ai a coisa aperta mesmo.
Ou seja, acredito que não seja somente na minha área esse problema, mas não formamos o numero minimo de mestres e doutores para as universidades que já temos, imagine se o governo forçar uma expansão do ensino publico superior? Com os modelos atuais de investimentos na pós graduação, não dá.
Viver com 1.500 reais de bolsa CAPES DS na capital paulista… É um tanto complicado…
3º A valorização do profissional de pesquisa e desenvolvimento. Num pais onde não há nenhuma valorização do conhecimento e da pesquisa (afinal, quem é valorizado é jogador de futebol, funkeira, e mulher fruta), seria o início para a valorização de um pesquisador. Comparados com países vizinhos, o Brasil não valoriza suas olimpíadas de Ensino médio, principalmente em Matemática e Física, nem bons exemplos de como a educação e o conhecimento podem salvar mais e dar futuro que o esporte. Se continuarmos nesse modelo, continuaremos sempre a ser o país do futuro, e esse futuro nunca chegará a ser um presente.
Rá! encontrei DUAS pessoas de exatas! Isso não representa a classe diante das outras cadeiras, e o pior é que talvez nunca tenha a quantidade necessária! O problema é que na exatas não sobra tempo para ir aos debates. Quando eu estava no mestrado, o então orientador, não me deixava participar de nada político, nem dos encontros da ANPG. Vocês não entendem porque não vivem esse cordão umbilical, que somos submetidos mesmo sem querer! É extremamente difícil conseguir convencer o orientador que vc é independe e maior de 18 anos, tem vida social e pessoal. Eles querem que você respire e viva, exclusivamente, para a sua pesquisa (e em alguns casos para ajuda-lo). Meu marido, que agora termina o doutorado, trabalha de segunda a segunda no campo experimental abrindo trincheira (para quem não sabe: buracos, neste caso o solo é duro!) coletando amostras para fazer análises, orientando alunos de IC e publicando. Vê se ele vai ter tempo de ir a uma reunião, que não seja dentro da sua pesquisa, com o prazo de bolsa terminando! Na exatas quando vc termina de escrever o projeto, tem que por em prática e depois vem mais escrita! Por isso, não sobra tempo para mais nada!
Eu penso que essa onda de regulamentação de profissões disso e daquilo, nada contribui de fato para o aperfeiçoamento da profissão. Apenas cria barreiras para novos futuros profissionais. Está no Congresso a um bom tempo a proposta de regulamentação da profissão de informática (Projeto de Lei 1561). A esse respeito a Sociedade Brasileira de Computação se posicionou contra. Ver no site: www. sbc.org.br/index.php?option=com_jdownloads&Itemid=195&task=view.download&catid=71&cid=45 o parecer a respeito. Entendeu que a Regulamentação apenas criaria reserva de mercado e barreiras a livre iniciativa e criatividade tão necessárias no mundo das invenções e descoberta.
Agora a questão das Relações Trabalhista, quando alguém desenvolve um trabalho remunerado, havendo essa característica, deve ser tratado pela CLT.
A questão das Pesquisas Científicas está mais para o problema de financiamento. Quem financia? O Estado ou os interesses privados? Isso que deveria ser discutido. O resto é historinha…
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Saudações a todos!
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Pessoal, se não me equivoco, esta proposição sugeriria também o fim do mestrado, impactando, portanto, o sistema educacional existente no âmbito das pós-graduações, ou não? De qualquer forma, como ficariam aqueles que estiverem prestes a ingressar num mestrado, aqueles que estiverem cursando-o e os que já o tiverem concluído…? As pessoas que, à época da implementação desta proposta, caso a mesma seja de fato aprovada, tiverem apenas mestrado, por exemplo, não correriam sério risco de entrarem numa espécie de limbo profissional-acadêmico…? Ou seja, não correremos o risco de que apenas os possuidores de diploma de doutorado sejam contratados, o que deixaria milhares de graduados, mestres e mesmo doutorandos (matriculados à época da dita implementação) absolutamente desprovidos de oportunidades de seguirem pesquisando…?
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Abraços a todos!
Urge fazermos um abaixo assnado on line. Acho q choverão assinaturas. Pq muitos pós não mostram a cara por falta de coragem. (mestrado-UNAERP)
Belo debate! Meu nome é Luana Bonone! sou mestranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e atualmente presido a ANPG – Associação Nacional de Pós-Graduandos.
Caros, não tenho dúvida da importância da proposta da professora Suzana no sentido de aprestar o debate sobre a situação do pôs-graduando e do cientista no Brasil. A minha posição contraria (e não da ANPG, visto que o debate será no CONAP em outubro) à proposta apresentada tem dois fundamentos principais:
1) a própria professora Suzana deixa claro que não se trata de uma proposta de regulamentação da pôs-graduação, e sim da profissão de cientista. Entretanto, a proposta acaba com o mestrado (espelhando-se mecanicamente em modelos internacionais) e torna o processo de entrada no doutorado o QI institucionalizado, pois apenas o chefe de pesquisa ou pesquisador sendo de um laboratório poderá indicar quem deve fazer doutorado. Cabe dizer que o doutorando não deixa de trabalhar no laboratório durante o período de sua pesquisa (que podendo ter nada a ver com a sua atividade laboratorial);
2) a proposta é utilizar a verba das atuais bolsas de pós-graduação (cerca de 100 mil em todo o pais) para contatar profissionais por laboratórios e grupos de pesquisa melhor remunerados e com diretos trabalhistas. Como se trata da mesma verba, isso significa transformar 100 mil vagas de bolsistas e mais 100 mil vagas decano bolsistas dos mestrados e doutorados brasileiros em cerca de 20, 30 mil vagas de cientistas em laboratórios e grupos de pesquisa.
Bom, o problema disso é que, em não sendo uma proposta de regulamentação da situação do pós-graduando, tem poder de acabar com o atual sistema de pós-graduação brasileira (como expandir e interiorizar a pós-graduação neste contexto?). Se teremos cerca de 30 mil cientistas contratados (em uma perspectiva otimista), certamente só haverá contratação no cento-sul. Quem fará pesquisa nas outras regiões do pais? Voluntários? Considerando, ainda, que nem todos os cientistas contratados estarão aptos a fazer doutorado, teremos quantos pós-graduandos no pais. Cerca de 10, 15 mil? Me parece uma redução muito drástica e com prováveis consequências graves para o sistema de produção científica nacional.
Portanto, a ANPG não tem medo da proposta da professora Suzana, mas eu tenho discordância da solução apresentada pelas consequências que vislumbro. A proposta de Direitos dos Pós-Graduandos a ser debatida, na minha concepção, deve considerar o caráter híbrido que marca a atividade dos pós-graduandos: somos profissionais graduados que decidiram estender o período de formação em busca de uma titulação acadêmica que nos prepare para termos autonomia plena na produção científica. É claro que nesse período de formação temos orientação, então a autonomia não é plena, mas tenho alguma segurança em defender que somos estudantes e profissionais ao mesmo tempo. Temos uma função híbrida na sociedade e o por isso acredito que não devamos escolher se somos estudantes ou profissionais e sim reivindicar direitos para as duas coisas. Há direitos que não são trabalhistas, como taxa de bancada e auxílio tese, mas que cabem e são muito importantes para. Boa condição de pesquisa. E há direitos de profissionais que deveríamos gozar, como férias e previdência. Isso pode ser regulamentado pelo contrato de bolsa. E os não bolsistas devem poder continuar sendo pôs-graduandos, até porque há muitos desses que possuem outra profissão, que não a de cientistas (é o caso de médicos residentes, que também são pôs-graduandos, por exemplo, ou de um engenheiro que resolva fazer mestrado ou doutorado, mas que não precisa estar fora do mercado de trabalho para isso).
A ANPG já teve, no período recente, um presidente engenheiro, um presidente agrônomo e congrega pôs-graduandos de várias áreas em sua diretoria (são 31 diretores no total, e não os 17 listados acima). Há uma predominância da humanas, como na maioria dos movimentos de representação. A explicação disso daria um artigo, mas penso não ser este o debate central. Além do CCs da UFRj, debatemos o tema no instituto de química USP, no fórum de pôs-graduandos em saúde, enfim, em diversos espaços das mais variadas áreas, e em todos os lugares temos chegado a conclusões parecidas. Mas a decisão do que do movimento de pôs-graduandos defenderá será tomada em outubro, em ouro preto, com a participação das APGs (Associacoes de Pôs-Graduandos) de universidades de todo o pais.
O post traz reflexos interessantes, mas me pareceu reduzido. A contradições do debate, das propostas em curso devem aparecer, para que o debate seja saudável. Procuramos problematizar a propositada professora Suzana (eu e o Roberto publicamos um texto a respeito) e estamos justamente procurando elaborar uma proposta mais avançada, que atenda as diversas questões levantadas.
Sobe a possibilidade de uma profissionalizacaodca profissão de cientista fora da pôs-graduação, considero um debate importante. Eu chamaria de profissão de pesquisador, e não cientista, por concepção. Mas já existe a contratação de pesquisadores nós institutos de pesquisa, universidades… Penso que a questão que está por traz, na verdade, é sobe a necessidade do doutor que quer fazer pesquisa na universidade ser obrigado a dar aula. Isso passa pela discussão sobre como promover a indissociabilidade entre ensino, PesquisasEconômica extensão na universidade e me parece um debate bastante válido.
Entretanto, como a proposta levantada, em nome de defender melhores condições, na prática ataca a condicaodde pôs-graduando, em primeiro lugar defenderemos os direitos desses, que são represados pela ANPG, em seguida podemos entrar no debate sobre adprofissao de pesquisador, que me parece bastante válida, mas não pode ser feita apenas com comparação mecânica com outros países. É preciso considerar a história de constituição do nosso sistema de pôs-graduação e o papel que joga no pais para que cheguemos a uma proposta coerente, sem jogar a criança fora junto com a água suja do banho.
Bom, estamos a disposição para o debate presencial onde formos chamados e convidamos todos vocês a participarem do conap da ANPG, de 25 a 27 de outubro em ouro preto.
Por fim, estou a disposição para esmiuçar nossa opinião em uma entrevista ou texto ao site posgraduando.com, caso seja do interesse de seus editores.
Saudações,
Luana Bonone
Mestranda em comunicação e Semiótica pela PUc-SP
Presidenta daANPG
(11) 954900695 (celular TIM)
http://Www.anpg.org.br
Quem não tem medo, mostra a cara 😉
Perdão pelos erros de digitação, estou em uma máquina pouco adequada a textos longos. Se tiverem dúvidas sobe o que escrevi ou quiserem continuar o debate, podem escrever também para o meu email pessoal: [email protected]
Saudações!
ó céus a UJS apareceu agora eu tenho certeza de que nada se resolve……………….aparelhando e desmobilizando desde mil novecentos e bolinha!
Primeiramente temos que acabar com essas comparações com a Holanda ou outro país desenvolvido, nosso país tem caracteristicas unicas e peculiares inerentes a cultura, formação e caracteristicas demográficas. Segundo, trabalhamos muito (pelo menos eu) e a bolsa que nos é concedida não é de graça, o pensamento comum de muitas pessoas é …ganha bolsa para estudar…. Atuamos de forma profissional utilizando nossos recursos academicos para fomentar a estrutura e a mecânica para a ciência no país. É certo que em mais tempo ou menos tempo haverá um debate e as mudanças são previsiveis, mas tem que haver o cuidado das ações para não politizar e fazer dessa discussão reduto de ideias que visam desestruturar e não contribuir positivamente com a ciência e com a pós-graduação.
Com relação as mazelas da carreira científica no País, creio que um dos principais problemas desta área e que me parece que não foi citado ainda, é o seguinte: a informalidade e o excesso de “poder” que os professores pesquisadores/orientadores (tratados praticamente como “Deus”) possuem ou parecem possuir….vamos aos fatos:
– Qual são as regras/leis jurídicas que delimitam os autores das publicações científicas? Os professores colocam e tiram, sem a menor cerimônia e transparência de critérios, autores da publicações científicas (que é o fruto do trabalho), quantas pessoas trabalharam pesado de graça e não viram seus nomes incluídos nas publicações, enquanto aquele puxa-saco ou “conhecido” do professor participa sem fazer nada….quais são as regras, marcos regulatórios, diretrizes jurídicas desta atividade profissional?
– Quem é o responsável pelos dados, a instituição, o aluno detentor da tese, o orientador (que usa o domínio dos dados para subjugar, ameaçar ou retaliar alunos dissidentes ou que não aceitam passivamente suas atitudes totalitárias). O que a lei fala sobre isso? Qual é a segurança jurídica para um aluno não ser explorado e ameaçado pelo seu orientador?
– E as parcerias? Algumas pessoas trabalham muito, outras nem tanto, enquanto outros não fazem nada, porém a informalidade da área não permite que diretrizes jurídicas norteiem o mérito da participação nas publicações, mais uma vez sob o jugo do orientador…ou o semi-Deus que você tem que babar ovo e agir como um cordeirinho para garantir sua participação e olhe lá….
Nesta lógica informal perversa das publicações e propriedade intelectual, o lado fraco sempre se dá mal, leia-se, mais uma vez, o pobre do estudante de pós-graduação, praticamente um “escravo” do orientador sob a ameaça permanente de não participar das publicações cuja contribuição é comprovada….
O QUE A LEI FALA SOBRE ISTO? QUAIS SÃO AS REGULAMENTAÇÕES JURÍDICAS SOBRE ESTAS QUESTÕES?
Ou o orientador tem o poder jurídico e legislador também, podendo retaliar, ameaçar e punir os “escravos” a revelia, ah havia me esquecido que é ele é um semi-Deus….
Se apenas a única pessoa que criou este blog é contra a proposta da Regulamentação da profissão de cientista no Brasil, ela deveria recolher-se à sua insignificância e não responder por uma fatia gigantesca da população de estudantes no país, como a de pós-graduandos. É um absurdo este blog pseudo-esclarecido apoiar a estagnação da Ciência neste país.
Não aguento mais esse limbo… 🙁
Que legal!!!!
O grande problema enfrentado pelo pós graduando no Brasil é que não existe demanda para tanta gente. Um país que não investe em desenvolvimento, tecnologia e educação fica sempre dependente da iniciativa privada, que convenhamos, é ridícula por aqui quando comparamos com outros países. Profissionalizar o pós graduando não resolve todos os problemas, apenas parte deles e com certeza surgirão outros, como já foi exposto por outros colegas acima.
Essa Suzana é uma daquelas que quer estar na mídia a todo custo. Ela não gosta de lecionar e todos sabem disso na UFRJ. Por ela, ficaria no laboratório como “cientista” o tempo inteiro. Sua proposta não visa melhorar efetivamente as condições dos Pós Graduandos no país. Muito pelo contrário.
Para começar, ela não consegue definir exatamente o que é um “cientista”. Para alguém que milita na área há anos, seu raciocínio infelizmente é muito curto. A proposta deveria usar o termo “pesquisador”em vez de “cientista”, para começar. Lá fora (EUA, Europa) há posições para pesquisadores, não se ouve falar de “cientistas”, termo que remete a uma pessoa o tempo inteiro enfiada no laboratório, sem vida privada e cercado de apetrechos por todos os lados.
Eu acho esse debate muito importante. Também tenho uma inclinação favorável à regulamentação da profissão. Mas eu acho que o termo – cientista – poderia vir a ser substituído por pesquisador. Acredito que não seja o caminho a discussão de quem trabalha mais, se é Humanas ou se é Exatas. Perdoem-me, mas os comentários aqui que tratam sobre isso beiram ao ridículo e são incompatíveis com o nível de escolaridade de seus respectivos autores. Os egressos da pós-graduação tendem a ter certa dificuldade para se colocarem no mercado de trabalho. E o limbo existe para todas as áreas. Portanto, a discussão deve se concentrar nas nossas intercessões, não nas nossas diferenças. Sou Doutoranda da área de Ciências Humanas. Já sou servidora pública há quase 7 anos. Ocupo um cargo de nível superior. Contudo, gostaria de ter a opção de trabalhar com pesquisa sem me atrelar à carreira do magistério superior. Imagine o quão maravilhoso seria ter opções!? Penso que essa tríade que se apoia a universidade hoje – ensino, pesquisa e extensão – está vencida (ou a caminho de). Na atualidade, existe um profissional – o professor – que tem que dar conta de ensinar, pesquisar, promover extensão e, em alguns casos, integrar gestão administrativa. Enfim, acho que há muito o que se debater.