O quanto se deve dedicar a uma pós-graduação?
Essa é uma questão com diversas respostas, dependendo de quem a responde.
Um orientador provavelmente dirá: “O máximo possível, sua tese deve gerar pelo menos três artigos, na minha época eu trabalhava sábado e domingo e ainda dormia no laboratório”.
Muito simples falar de uma época quando tudo tinha um caráter inovador, quando a pesquisa base tinha uma grande importância, quando o número de crimes dentro do campus era praticamente zero, quando o número de substancias tóxicas inaladas a cada minuto no laboratório era mínima. Obviamente há diversos “tipos” de orientadores e diversos níveis de exigência, mas a resposta aqui apresentada é um ponto de vista compreensível. Eles também são intimados a produzir cientificamente.
Enfim… Se fizermos a mesma pergunta a um familiar que sente sua falta diariamente, a resposta seria: “Pra quê tudo isso? Você não aparece mais nas confraternizações, nunca nos visita, o que você fez já é o suficiente, não fique até tarde no laboratório. Termina isso logo e vem para casa”. E para aqueles familiares que moram em outra cidade: “Você trabalha todos os dias, venha para casa, passe um mês aqui, não vá embora, você já fez o suficiente”. Novamente, muito simples. É a voz da emoção, da saudade e até mesmo da “inocência” que está falando.
Contudo, quando se faz essa pergunta a um pós-graduando… complicado! O aluno geralmente pensa na resposta do orientador e na resposta dos familiares… complicado! Por experiência própria e daqueles que observo, a tendência geralmente é abandonarmos a vida particular e passar a ter uma vida dedicada exclusivamente a pós graduação. O aluno chega as sete horas da manhã e muitas vezes dorme no laboratório para realizar algum procedimento demorado. Perde confraternizações, visitas, conversas e mesmo horas de sono para se dedicar exclusivamente a pesquisa. Vive para a ciência e em função da ciência. Acho realmente tudo isso muito louvável!
Agora, gostaria de levantar aqui o seguinte questionamento: É realmente válido deixar seu filho ser criado por outra pessoa para que você trabalhe? Ouvir pelo telefone que ele acabou de balbuciar as primeiras palavras e você não estava perto? Que um parente seu faleceu e você não teve tempo de visita-lo enquanto ainda saudável? Que você envelheceu, que o mundo ao seu redor mudou e você permanece por seis anos (mestrado e doutorado) dentro de um laboratório e não percebeu? Que aos “trinta e poucos” você vive de bolsa, não tem carteira assinada, não constituiu uma família e não se dedicou a sua família?
Realmente não acho que devamos abandonar a pesquisa, afinal, gostamos do que fazemos! Entretanto é preciso apenas que comecemos a viver para pesquisar e não viver apenas pesquisando. É preciso que saibamos dosar o quanto se dedicar a pesquisa e o quanto se dedicar a si mesmo.
É importante entender que para produzirmos uma boa pesquisa é necessário que estejamos saudáveis e emocionalmente estáveis. Assim é mais fácil! Precisamos viver no contexto mais amplo da palavra. Por fim, acredito que devamos aproveitar a nossa existência e tornar-nos “imortais” pelas citações de nossa pesquisa e também pelos exemplos de nossas realizações pessoais.
Texto escrito por Ayrles Fernanda Brandão da Silva – Bacharel em Ciências Biológicas e Doutoranda em Biotecnologia na UFC
Realmente! E para conseguirmos isso precisamos ser mais objetivos, mais eficientes, termos mais conhecimento de base e menos hipóteses com pouca fundamentação. Vamos torcer para que esse tempo chegue logo 🙂
Realmente é necessário um equilíbrio emocional para produzirmos em uma pesquisa. Por isso um bom planejamento para equilibrar família, trabalho, lazer é importante não somente para um pós-graduando mas para qualquer pessoa em qualquer meio profissional. Minha visão é de que a pressão faz parte muita mais em uma pós-graduação do que em qualquer outro meio profissional … existe uma necessidade dos orientadores fazer essa pressão, mas pressão se tem em qualquer meio o diferencial é lidarmos com eles a nossa maneira … por exemplo, quando estava pagando as disciplinas necessárias para minha pós-graduação eu me perguntei se tudo aquilo valia a pena e então decidi ir no meu ritmo. Importante é respeitarmos nossas limitações e aproveitar para nós conhecermos. Porque uma pós-graduação te possibilita além do conhecimento intelectual um autoconhecimento!!!
Voces choram demais. A pos graduacao e o periodo onde o estudante deve ganhar conhecimento suficiente para ficar apto a conduzir ciencia independentemente. Para alunos fracos, como e o caso geral no Brasil, e claro que isso demanda muito mais esforco.Se o aluno nao tem o devido conhecimento, ele nao deve virar professor de maneira alguma. Tres artigos no doutorado, isso e piada. Olhe quantos artigos publica um aluno nos EUA ou Alemanha. Existem muitas profissoes onde nao e necessario tanto conhecimento e competencia. Por que voces nao procuram um emprego deste?
Muito interessante seu texto, Ayrles. É realmente complicado (e, ao mesmo tempo, muito importante) buscar um equilíbrio durante a pós-graduação. E também acredito que momentos de descanso são necessários para um melhor desempenho nos momentos de trabalho =)
Incrivelmente pertinente essa reflexão, Ayrles. Na pós-graduação, é muito comum ver pessoas que se dedicam demais ou que se dedicam pouco, mas nunca achamos que nos dedicamos o suficiente.
No grupo de pesquisa do qual faço parte, temos uma postura bem rígida quanto a isso: estudar no fim de semana só em último caso e nada de jornadas de mais de 10horas de estudo. Se você tem que estudar mais de 10horas, dormir no laboratório, perder muitas noites de sono e faltar compromissos familiares e com os amigos, é porque não está se organizando bem ou está sobrecarregado e precisa de ajuda. Não adianta ter um mestrado e um doutorado maravilhosos e não ter uma vida pra viver.
Espero que essa reflexão abra os olhos cansados de alguns pós-graduandos.
Beijos e parabéns pelo texto.