Sem querer assustar nenhum graduado recém-formado ou prestes a se formar, mas e aí: vai encarar?
Essa pergunta incisiva mostra ainda a necessidade da vocação daquele que escolhe fazer uma pós-graduação, principalmente se for a stricto sensu. Pois aqueles que respondem “sim, vamos encarar” deve ter em mente que nem só de benesses e prazeres vive a conquista por um alto título de mestre ou doutor.
É muito comum sermos iludidos ou buscarmos a qualificação acadêmica, encantados pelos brilhos das luzes do título que cintila em nosso diploma. É claro é um prazer dizer-se mestre ou doutor. Mas nem só de luxo vive o pobre pós-graduando. Pode-se dizer que vive mais de perrengues do que de luxos.
Estes pequenos momentos inusitados e desafiadores ajudam no crescimento não só acadêmico, mas principalmente humano. É pegar a estrada pela primeira vez com muito medo, com pés e mãos tremendo ao volante. É hospedar-se num hotel que o amigo Júlio disse que é barato e bom. Mas, o bom não incluía que ao entrarmos nos sentiríamos numa obra de Aluísio de Azevedo: “O Cortiço”. É pegar aquela chuva na primeira vez que você está naquela cidade para fazer uma apresentação num congresso. É errar o caminho e ser parado pela polícia numa rua sem saída em direção a uma cidade do sul do Brasil.
A lista deles não para por aí. O pior de todos os perrengues é juntar a grana para pagar o mestrado quando se é particular, ou pagar as despesas de deslocamento e moradia. Pior ainda é juntar uns míseros centavos para comprar pelo menos 20% das referências bibliográficas, pois o restante vai à base do empréstimo amigável ou na biblioteca mesmo.
Mas, de vez em quando aparecem uns luxinhos como se hospedar num dos melhores hotéis de Belo Horizonte porque a orientadora que nos acompanha no Congresso conseguiu um preço camarada com a agência de viagens.
Os luxinhos vão aparecendo para mascarar os perrengues. Um presentinho da super-amiga de pós-graduação, o calor da amizade, troca de conhecimentos e sentimentos.
E assim vamos embrenhando nesse fantástico mundo da pós-graduação. Um mundo desafiador e contagiante ao mesmo tempo, pois saímos de lá mais próximos de nós mesmos e conhecedores daquilo que almejamos.
E aí vai encarar? A escolha é de cada um. E nesse mundo tão dinâmico e fluido, há aqueles que preferem encostar o título e a graduação apenas já basta e é uma vitória e tanto! Mas há uma parcela considerável, que se esforça, que vai atrás, que se compensa nesses pequenos luxos, vendo os perrengues apenas como uma parte comum do processo.
Para aqueles que optaram pela pós-graduação é o momento de maior aprofundamento na carreira acadêmica e profissional do estudante, pois na graduação não dá para aprofundar em temas tão complexos que são discutidos e estudados no mestrado ou no doutorado.
E quando se olha para o passado, se vê que perrengue se passou, mas aquilo que queria também se conquistou!
Diante da empreitada de um Doutorado, Danilo, seu texto me fez refletir bastante. Como você bem disse, os perrengues fazem parte, e depois que passam ficam como histórias (às vezes hilárias) para contar. Quanto aos luxos, a gente também aprende a valorizar muito esses pequenos benefícios que pra muita gente fora da pós poderiam até passar despercebidos.
Danilo, a sensação de se alcançar aquilo que queria acaba até apagando algumas lembranças dos perrengues rsrsrs. Parabéns pelo texto!
Danilo, meu amigo, reconheço cada um dos perrengues citados no texto. Inclusive estive em alguns deles, ou será em todos? Rss. Acho que todos eles valeram à pena, e muito! De perrengue em perrengue, um luxinho aqui, outro acolá, daqui a pouco somos doutores e nem vimos o tempo passar. Aliás, tudo passa, ficam as lembranças e as saudades de um tempo em que aprendemos muito sobre a teoria que estudamos e um pouco mais da bela arte de se fazer amigos. Maravilha de texto! Parabéns!