Ainda hoje, completando mais de dois anos no doutorado direto, me deparo com as perguntas mais variadas sobre minha condição insana diferencial na pós-graduação. Pensando em como o (des)conhecimento de todos os pormenores do processo pode ajudar a outros coitados pós-graduandos, venho oferecer meu relato.

Sempre almejei a vida acadêmica – gosto não se discute (mamãe que o diga – aliás, penso todo mês na época que cai a bolsa: “Por que não a ouvi?!”… rs). Brincadeiras a parte, desde minha iniciação científica estagiei em um grande centro de pesquisa. No fim de meu ano de iniciação, eu já estava aprovada em um mestrado na área, em um departamento excelente, com financiamento de projeto também muito bom, e… desmotivada!!! Isso mesmo! Nada parecia mais realmente tão encantador depois de “conquistado”, além de terem surgido alguns problemas financeiros e de opinião no meio do caminho…

Foi quando fiz minha primeira grande mudança de planos: mestrado jamais – quero (e preciso) trabalhar! E eis que o destino se encarregou (junto com meu CV enviado a toneladas de e-mails) de gerar uma oportunidade justamente dentro da universidade. Aquilo era o paraíso! Trabalhar de verdade (afinal, a clássica questão do “Mas você só estuda?!” já tinha sinceramente me cansado) no ambiente em que sempre sonhei. Engajada e com boa afinidade, minha chefe um belo dia me chegou com a sugestão: “Você tem perfil para a pós-graduação, gostaria que você retomasse os estudos!”.

Apesar de totalmente enviesada depois de uma frustração, a balança pendia muito. Enfim, um conjunto me fez simpatizar muito com a ideia do tal Doutorado Direto (até porque no início eu achava super chique)… Hoje posso afirmar quais eram e quais se tornaram meus prós e contras.

PRÓS:

– Tenho oportunidade de desenvolver um projeto mais elaborado. Terei tempo para elaborá-lo de uma forma bem melhor do que seria em um mestrado + doutorado com a ideia particionada;

– Muitos financiamentos para participações em congresso beneficiam apenas alunos de doutorado. Se eu estivesse no mestrado não teria conseguido apresentar meus trabalhos nos mais de 10 eventos que já fui, muito menos pleitear estágios no exterior;

– Se assim você desejar, pode poupar um ano ou um pouco mais para sua titulação, quando comparado ao duelo dueto mestrado + doutorado.

CONTRAS:

– Sim, te julgam diferente. Alguns acham que você é uma espécie de “sabotador” da ordem natural das coisas, outros creem que você é um gênio. E no fim, bancas, provas, comissões julgadoras não sabem, de um modo geral, como lidar com esse tipo de aluno;

– Falta experiência. Enquanto a maioria escreve um artigo e uma tese já sabendo certos “macetes”, o aluno de doutorado direto é cobrado como um aluno de doutorado (ou ainda pior) tendo ainda apenas a experiência obtida na faculdade – o que não ajuda muito;

– Ainda existem alguns concursos que atribuem nota a todas as titulações, assim, quem tem mestrado + doutorado ganha mais pontos que o doutorando direto… que aliás…

– É uma categoria que sequer existe para a maioria dos formulários, bolsas e afins… Aliás, na grande maioria das vezes, para as agências de fomento você é um doutorando comum – ou seja, o prazo de sua bolsa costuma ser menor que o tempo de sua pós;

Por fim, são mais anos com um mesmo projeto, um mesmo orientador, um mesmo grupo – o que pode ser bom ou ruim. Com certeza é uma experiência válida, mas que deve ser muito bem conversada, pensada e repensada.

E, escolhendo ou não se tornar aluno de doutorado direto… Bons estudos e boa sorte (que nunca é demais se desejar)!

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Texto escrito por Tati Rodrigues, bióloga e doutoranda em genética pela USP.