As pesquisas científicas nem sempre são exatamente o que estão no nosso imaginário popular.

Meu primeiro contato com a pesquisa científica ocorreu logo no primeiro ano de graduação.

Fiz minha matrícula em um curso de graduação com duas esperanças: de que nunca mais teria aquelas matérias do ensino médio; e que nessa vida pós-vestibular só teria que me preocupar com matérias profissionalizantes.

Bom, é desnecessário dizer que no primeiro ano de graduação eu só tinha mesmo eram as disciplinas básicas (praticamente as mesmas do ensino médio), e que no meio de tantas químicas, físicas e integrais, precisava de algo mais aplicado, alguma experiência na área da minha futura profissão, para não perder aquela empolgação inicial.

Por esse motivo, procurei refúgio na iniciação científica.

Até então, a minha ideia de pesquisa científica estava relacionada exclusivamente com descobertas e inovações.

Cientistas em laboratórios fazendo invenções dignas do professor Pardal.

Não que eu imaginasse que iria inventar a roda. Nada disso.

Mas imaginava que com trabalho e dedicação, talvez um dia poderia ter uma frase ou um conceito que se referisse a uma descoberta minha em um daqueles livros em que estudava.

Meu primeiro experimento consistiu em testar um produto já relativamente conhecido em uma determinada situação específica, e descrever seu comportamento.

Foi um balde de água fria.

O produto já havia sido inventado, todo mundo já sabia pra quê servia.

Por que diabos eu teria que testar o seu comportamento naquela situação hipotética?

Com muita paciência, explicaram-me que nem toda pesquisa científica era feita de descobertas inovadoras, que na verdade a grande maioria das pesquisas científicas na minha área consistia em diferentes abordagens que poderiam fornecer novas visões às tecnologias e produtos existentes.

E que muitos trabalhos acadêmicos eram mais técnicos do que propriamente científicos.

Era necessário aplicar as descobertas já existentes na prática do dia-a-dia.

E me convenceram. Passei então os cinco anos da graduação e os dois anos do mestrado fazendo ajustes de tecnologias.

Mas chegou o doutorado, e eu me cansei desta história de “pesquisa mais técnica do que científica”.

Até porque no doutorado se espera que a sua tese seja original e inovadora.

E com isso, que a sua pesquisa represente um avanço em determinado campo do conhecimento.

Não que todo mundo que faz doutorado esteja preocupado com isso.

Fazer uma pesquisa original e inovadora exige muito estudo e dedicação.

Tem gente que prefere o caminho mais fácil, fazer no doutorado apenas mais do mesmo, uma continuação do que foi realizado na vida acadêmica até então.

Entretanto, encontrei nesse desafio de fazer algo diferente e inovador, com os recursos e com a infraestrutura que tenho à disposição (e que não são muitos, diga-se de passagem), a motivação para continuar estudando por mais três anos.

E o mais curioso de tudo é que agora, várias etapas acadêmicas depois, eu esteja resgatando exatamente aquele pensamento ingênuo sobre pesquisas originais e inovadoras abandonado lá no primeiro ano de graduação.

E a propósito, agora eu quero, de novo, uma frase sobre uma descoberta minha em um daqueles livros que eu lia na faculdade.