Eu vejo cupim todos os dias, por todos os lados. Calma eu não vou falar da minha tese! Apesar de ser bióloga, eu não “trabalho com eles” (os cupins reais). Mas ainda assim vejo operários e castas todos os dias.

Um dia em que eu descobri que sou uma “operária da ciência”¹ e muita coisa mudou na minha vida de neófito. Na verdade muitas inquietações se acalmaram. Noutro momento eu ouvi: “toda ciência é social” (segurem as pedras! aguenta que eu já explico) e a pessoa completou com algo: “tanto que os cientistas podem ser alvo de pesquisas de comportamento por antropológos”². E isso também foi consolador… Desde então eu penso nos cupins (que tem seu comportamento estudado por biólogos).

Ora, um contexto atual entre os cientistas é  outra síndrome “publique ou pereça”. Diante disso cada vez mais observo integrações, estabelecimento de parcerias, articulações de grupos  de pesquisa visando uma aumento de produtividade, eficiência e maximização de resultados. Ter parceiros é essencial para um cientista do Século XXI, concordam?

O rendimento de um programa de pós-graduação, departamento e da Universidade acaba sendo condicionado pelas redes que seus membros estabelecem. Profissionais que conseguem se articular, comunicar, ler, produzir e divulgar resultados tem sido mais beneficiados pela seleção artificial da ciência.

Isso não faz da ciência (todas) altamente social? Não estamos todos trabalhando em prol da colônia?

Esse conceito de “operário” não é meu. Rapidamente pra quem não sabe e se sentiu ofendido, Thomas Khun, propôs que a ciência progride por estabelecimento e quebras de paradigmas e para explicá-lo definiu que existem operários da ciência que trabalham em função dos paradigmas. Simplificadamente isso quer dizer que a grande maioria dos cientistas trabalham durante toda sua vida para reforçar um paradigma vigente, e de tempos em tempos um ou outro maluco surge com outro paradigma melhor e mais eficiente para explicar um conjunto de fenômenos. E assim o trabalho feito pelos outros cupins operários fica obsoleto.

Um exemplo: quantas pessoas não trabalharam por anos para reforçar que o Sol girava em torno da Terra? O que hoje é absurdo, já foi objeto de muitas “teses”.  Até que chegou Copérnico e propôs o oposto. Revolucionou a ciência. Como é habitual o novo paradigma e seu(s) autor(es) sempre recebe críticas de seus pares, até que, outros pares (e operários) contribuam para o crescimento e reforço do novo paradigma, nesse caso um dos mais célebres foi Galileu. Perceba que um verdadeiro paradigma leva anos para ser construído e consolidado (o pobre do autor nem sempre vive para ver) e ele conserva em si uma capacidade explicativa muito grande.

Então caro amigo pós-graduando, sofremos todos da síndrome de cupim!

Sabendo que somos cupins, fica mais claro que raramente causaremos uma verdadeira revolução científica?

Não fique bravo ou chateado comigo. Apenas saiba que é besteira pensar que sua pesquisa é a mais importante do universo, utilizar energia para lutar contra sua casta e posar de revolucionário ultrajovem.

Mas saiba também que seu trabalho e esforço é muito importante! Dele depende o reforço de um paradigma vigente ou a contribuição para a quebra de um outro. Você faz parte de um coletivo e sem você o mundo ficaria incompleto não há avanço científico.

Portanto siga(mos) em frente e lembremos que não somos mais ou menos importantes do que ninguém.

ps:  Se alguém ai está trabalhando num novo paradigma, esqueça o que eu disse no último parágrafo. Vá tomar outra xícara de café para revolucionar a ciência, de verdade.

¹Sensu Thomas Kuhn

² Me referi a Bruno Latour e Steve Woolgar com o trabalho “laboratory life: the construction of scientific facts”.